28 Out, 2009
Jesus e a galinha
Primeiro vamos à galinha, pois sobre ela há muito para contar, sobretudo porque há pelo menos três espécies de galinhas. Aquela galinha que nos dá a saborosa canjinha, que tanto alento dá aos doentes e tanto delicia os verdadeiros apreciadores. Aquela galinha que a gente tem, quando não acerta em nada do que faz e nem com as tradicionais figas nos larga, mesmo retorcendo os dedos todos das duas mãos. Ou, pelo contrário, a outra galinha que nos enche a mente com a convicção de que somos uns felizardos, porque os deuses nos protegem à vista desarmada em determinadas ocasiões.
Quanto a Jesus da Bíblia, quem sou eu para falar dessas coisas, principalmente, depois de tanta gente sabedora, instruída, crente e descrente, tanto ter opinado sobre valores terrenos e celestes, numa profusão de ideias realmente bastante esclarecedora.
Daí que me tenha voltado para outro Jesus, aquele que, fora da capela da Luz, quebrou a galinha que deixava penas em todo o estádio, desde tempos, que até o tempo já esqueceu. Jesus, realmente, só apareceu na Luz há uns escassos meses, não me constando que já tenha tido tempo de entrar na capela de lá.
Mas, mesmo assim, já catequizou multidões e, na hora da sua missa, aquilo é uma romaria com todos, como se diz do cozido à portuguesa. Sem dúvida, já fez o milagre da transformação dos assobios em golos de encher o papo aos mais sedentos. E, por consequência, finalmente, os sucessivos anúncios de êxitos do comandante, que nunca mais chegavam, começaram a sair do túnel de todas as esperanças.
Toda a gente se recorda certamente de anos consecutivos em que uns se queixavam do galo, ou da galinha, que impediam sistematicamente de errar o alvo do poste ou da barra, do pontapé na relva ou nas pernas dos parceiros do lado, ao que parece, porque Jesus estava dentro da capela da Luz e não via nada do que se passava no relvado.
Agora, toda a gente vê que Jesus anda nesse mesmo relvado, faz gestos com as mãos, para todos os discípulos, a toda a hora, lembrando-lhes que quer quatro, quer cinco, ou até seis, não tolerando sequer que não entendam o que ele quer dizer na sua claríssima linguagem gestual.
Porém, Jesus não eliminou pura e simplesmente a velha galinha traiçoeira e agoirenta. Ele soube reconverter a galinha, tornando-a num poço de virtudes, capaz de transformar cada pena caída em pénalti transformado, cada tiro com o poste ou a barra como alvo, a desviar-se um pouco para o lado, sempre no sentido do lado de dentro da baliza da vítima.
Que ninguém diga que isto não é um autêntico milagre de Jesus todo poderoso, homem que conseguiu iluminar a Luz, até há pouco tempo eternamente condenada à escuridão total. Portanto, aquilo não era Luz, nem era nada, antes da providencial aparição de Jesus aos fiéis lá do sítio, agora verdadeiros crentes dentro da sua catedral de fé e de vitórias.
Quanto aos infiéis, nem querem acreditar que a suculenta galinha que os protegia, também se transformou em galo velho e azarento que já não canta coisa que se entenda, levando-os a pensar que tudo o que era canja suave e aveludada, tem agora o aspecto de uma grossa sopa de cozido, que é indigesta que se farta.
Realmente um mal nunca vem só. Já não bastava Jesus ter mudado de campo, como ainda se aproveitou da galinha reciclada, para mostrar que a minha canja, é muito melhor que a tua.