20 Nov, 2009
Vamos lá acalmar isto
Estranho muito que se diga que é preciso acalmar isto, quando os principais intervenientes se desdobram em garantias de que está tudo calmo, pedindo simplesmente que os deixem continuar a fazer tudo, como têm feito até aqui. Realmente, eles têm tido toda a calma do mundo, sob o olhar tranquilo, com palavras de muita confiança, por parte de quem agora diz que é preciso acalmar isto.
Pena é que não sejam eles a dizer abertamente que é preciso acabar com esta calma nervosa e hipócrita em que todos os dias há aplausos aos que criam todo este ambiente, quando essa calma põe nervoso o país inteiro e destrói de modo insensível e brutal os mais elementares direitos de cidadãos, só porque interesses mesquinhos os consideram criminosos, antes mesmo de serem ouvidos e acusados.
Mas, mais aberrante ainda, é que esses pré julgadores se arroguem em vítimas de quem os critica, porque se julgam senhores intocáveis e soberanos, mas também porque se queixam a todo o momento de que não os deixam trabalhar livremente. Como se não tivessem toda a liberdade do mundo para fazerem impunemente as muitas injustiças que falam por si.
Contra todas as vozes que diariamente se colocam ao lado dos autores desta deplorável situação, cito apenas três nomes de individualidades que não se comparam com tanta incongruência, má fé, ignorância até, em muitos casos. Mário Soares, Ramalho Eanes, Marinho Pinto e José Miguel Júdice são apenas quatro casos, de áreas políticas diferentes, que não entram nessa história de que tudo vai bem, ou que é apenas preciso acalmar isto.
Quem já viu as suas vidas completamente desmanteladas por erros clamorosos, quem já viu que após anos de serem considerados criminosos da pior espécie, tudo não passou de erros de palmatória, quem já viu que nem sequer lhes pediram desculpa pelos danos causados, quem já viu que lhes foram recusados processos contra os responsáveis, não pode olhar para tudo isto com um sorriso de consolação nos lábios, só porque lhe dizem que isto é normal, e que tudo isto vai acalmar.
Há quem fale em espionagem política e há quem pense em terrorismo de gente com responsabilidades nesta triste e lamentável situação. Há quem se ofenda com expressões desta natureza, esquecendo as expressões que usa a todo o momento, sem ver o alcance que elas têm, mesmo juridicamente, só porque julgam que têm, e têm tido mesmo, toda a impunidade que, embora mal, só é concedida a quem fala alto de mais.
Julgo que insultar, berrar, por exemplo, não pode ser considerado falar. Não há estado de direito, sem direitos de todos os cidadãos. Onde quer que alguém contribua decisivamente para que alguém viva num clima de terror provocado por outros, então há mesmo terrorismo, por mais que não se goste do termo.
Enquanto a liberdade de expressão estiver dependente daqueles que a querem só para si, recorrendo a todos os truques para que isso aconteça, tentando impedir que aqueles a quem atacam, não possam sequer abrir a boca, nem mesmo para se defender, então, está criado o ambiente favorável a que se procurem por todos meios, informações ou tricas, que os possam levar a massacrar os seus adversários.
A brincar ou sério, com sentido de humor ou sem ele, não levem tanto a peito a espionagem política porque há insultos bem piores que estas trocas de mimos entre o, toma lá, dá cá, da política, em que os mimos não devem estar limitados a um só lado da barricada.
Depois, o tempo das virgens pudicas, que alguns julgam que são, é tempo que já lá vai, para não dizer que foi chão que deu uvas.