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afonsonunes

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Era só o que faltava, o país inteiro a ficar sem assunto e deixarem o homem tranquilo, assim, sem mais nem menos. Não, o escarcéu tem de continuar, o país tem de se indignar, seja lá qual for o assunto que os especialistas vão desencantar, ou desenterrar, conforme se trate de uma novidade, ou de uma reposição de recurso.
Assim, neste marasmo igual ao dia cinzento que tivemos hoje, é que isto não pode ficar por muito mais horas. Só não digo minutos porque há sempre aquela onda de choque a perturbar os mais sensíveis que, momentaneamente, mudam o seu olhar perspicaz e semi-acusador para quem consideram culpado desta pausa sonolenta.
Mas, pausa ou intervalo, não se pode confundir com o fim, nem que seja numa fita de cinema, quanto mais numa novela de alta definição, de alta competição e de alta amarração. Sim, porque isto traz muita gente amarrada logo, não se pode, de ontem para hoje, escrever ‘fim’ no meio da página, ainda antes do ponto final.
As pausas ou intervalos servem, precisamente, para reunir as forças indispensáveis, para depois as canalizar no sentido que determinar a reflexão que, entretanto, individual ou colectivamente, se tiver feito. Convém que tudo isso não demore mais que alguns minutos, senão a folga prolongada que se dá, é contraproducente para o recomeço do escarcéu. 
É por isso que isto não pode ficar assim, senão, há logo quem pense que a novela terminou de forma inesperada e abrupta, quando toda a gente está habituada aos finais felizes, que metem foguetes e filarmónicas, casamentos de todos os que namoravam, copos com fartura, para esquecer as agruras passadas.
Aqui, as coisas não se passam assim, porque há muitos namoros, mas ninguém se casa com ninguém. Até é frequente haver uns beijinhos fugidios que logo a seguir se transformam nuns empurrões nada meigos, com o maior escarcéu à mistura. Mas, cá para o meu gosto, assim é que está bem.
Essa do quanto mais me bates mais gosto de ti, não se aplica mesmo nada a esta marmelada de novelas que metem gente demais, retirando-lhes aqueles desejos que só se têm com alguma privacidade e isso é coisa impossível durante pequenas pausas e no meio de grandes escarcéus.
Portanto, venha de lá o próximo episódio que, se tudo tiver sido bem planeado, com competência e profissionalismo, já deve estar pronto a ir para o ar nos próximos minutos porque, quem se atrasa, está a dar trunfos à concorrência. Que, como se tem visto, é muito forte e não dá baldas a ninguém. Nem que seja ao mais pintado.
Para quem ainda não tenha reparado, isto interfere com o estado das pessoas. Pessoas que têm direito à novela, todos os dias, à hora certa. Se não for assim, isso constituirá um atentado aos usos e costumes dos cidadãos que não querem saber se há, ou não, quem seja culpado por essa falta tão grave.
Depois, é fácil verificar que isso tudo junto, constitui mesmo um atentado ao estado de direito das famílias, que até se tornam desavindas neste estado de escarcéu, sem o qual já não há bons chefes de família. Alguém dirá que já não fazem falta nenhuma, porque já temos chefes que cheguem para nos moer o juízo.
Sobre isso nem abro a boca, mas garanto que isto não pode ficar assim.