Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

afonsonunes

afonsonunes

 

Alguém me disse que estava farto de ver seringas na televisão, a propósito de qualquer notícia sobre saúde, num festival de espeta e tira, que faz com que muita gente desvie a cara para o lado. Concordo que isso não é um espectáculo divertido, nem tão pouco útil, ao ponto de já se não poder com agulhas, que é o que parece aquele espetanço ininterrupto e continuado.
Depois, acompanhando o engraçado dos adeptos da ‘vácina’ podemos atribuir-lhes a medalha de mérito da injecção de humor, que significa toda a programação que nos oferecem, com seringas ou sem elas. Até já me lembrei do seringador, do qual tenho uma vaga ideia, onde predomina a chatice do tempo. Devo estar enganado.
Esta questão das seringas também me fez lembrar as conversas entre o presidente e o procurador, que agora se encontram com tanta frequência, que me leva a pensar que era melhor passarem a trabalhar juntos, com a vantagem de dificultar perdas de tempo nas viagens onde o trânsito é doloroso.
É também nesses percursos difíceis que se está mais sujeito a contrariedades de toda a ordem, caso das fugas para fora do percurso estipulado. Contudo, nem o presidente nem o procurador se incomodam com essas fugas, alegando que, seguir sempre o mesmo trajecto, se torna monótono e perigoso, por causa dos assaltos que, dizem ambos, ainda são mais perigosos que as fugas, por causa das armas daqueles.
Não percebo o motivo destas comparações, ainda por cima, colocando ambos de acordo sobre matérias tão sensíveis, mesmo tendo em conta que elas devem ocupar uma larga fatia das conversas entre ambos, a julgar pela frequência e duração das mesmas. Tenho a sensação de que devem ser coisas muito indigestas.
Também estranho muito que um outro presidente venha dizer que a comunicação social é que mete o nariz onde não é chamada. Não foi bem assim, mas faz de conta. Ora, parece-me que os presidentes e os procuradores é que deviam fazer com que os narizes que andam a espreitá-los, digo eu, não conseguissem meter-se onde não deviam caber.
Tudo isto já parecem histórias de seringador, onde cada um seringa sem rei nem roque, como se as línguas fossem seringas que espetam, espetam e voltam a espetar, como se fossem pertença daquelas batas brancas que, nos telejornais, passam minutos seguidos no espetanço em braços que vão dos mais humildes aos mais ilustres.
Claro que os seringadores não passam minutos. Passam horas, dias e anos a espetar-nos o juízo, como se a gente estivesse habituada a tratar-se de todos os males com a cura das agulhas redentoras do longínquo oriente.
Coisas do nosso tempo, coisas dos direitos e dos tortos, dirão alguns mais calmos e serenos, no meio desta vida, cheia de sentido e de humor, mesmo com as seringas e os seringadores na sua missão útil e imprescindível para quem gosta e para quem precisa.
Lembrei-me agora de uma notícia que li no Seringador. Há vinte anos que não se realiza a Feira dos Burros em Perrães, acontecimento que tinha lugar na véspera de Nossa Senhora das Febres. Curioso o nome desta santa, por nos indicar que já então havia febres.
Curiosa, esta notícia do Seringador. Mais curioso é o prejuízo da economia nacional na perda de uma feira tão importante. Mas, mais importante ainda, foram os muitos burros que ficaram sem controlo no país, de há vinte anos para cá.