20 Dez, 2009
'Tabilidades'
Esta palavra não existe senão na minha imaginação e é a designação que eu encontrei para um conjunto de outras palavras que andam a demonstrar a minha inabilidade para lidar com coisas que não compreendo. Mas compreendo perfeitamente o motivo porque tenho essa inabilidade.
A primeira das tabilidades que me ocorre é a estabilidade. Não sei se alguém já notou que andam uns tantos destabilizadores a falar nela, dizendo que lhe querem muito, que não é por eles que ela fugirá, não se sabe para onde, e que tudo farão para que ela não nos deixe nos próximos tempos.
Um desses intervenientes, talvez o mais importante prometedor dessa estabilidade, todos os dias arranja um pretexto, uma espécie de voz de um deus menor, que dá uma no cravo e outra na ferradura dessa tal de estabilidade. Não chego a perceber se ele está a querer estabilizar ou destabilizar a questão. Deve ser defeito da minha compreensão que, por vezes, é muito lenta.
Tenho a sensação de que todos querem estabilidade, mas todos se vão preparando já para a instabilidade. E esta é a segunda tabilidade que, ou muito me engano, ou não joga mesmo nada com a primeira. Cá no meu fraco entender, eles não devem saber o que querem ou, se sabem, andam a jogar às escondidas com o pessoal.
Talvez se trate de um negócio de cuja rentabilidade, (3ª.) ainda não estejam completamente seguros, aguardando estudos muito precisos para se decidirem em definitivo. Há quem fale em contabilidade (4ª.) estratégica de várias hipóteses, favorecendo partes diferentes do conflito.
O problema é que a falta de respeitabilidade (5ª.) de qualquer deles vai ficando a nu, por não serem capazes de nos demonstrarem que estão de boa fé no que dizem e no que pensam de cada um dos seus oponentes, andando todos de tapete debaixo do braço para estenderem ao primeiro que se precipite. Isto também se aplica aos sacristães que incentivam ou travam, consoante a missa da sua devoção.
A teoria com mais sustentabilidade (6ª.) é aquela que diz que um, quer deitar o outro abaixo, porque há um acordo secreto entre eles, ou seja, ambos têm conveniência nessa jogada. Aquele que começa a perder, vem depois a ganhar. E aquele que agora deita abaixo, acabará por se manter de pé, pela mão do seu aparente opositor de agora.
Chama-se a isto, prestabilidade (7ª.) no momento próprio, ainda que tenha de se deitar poeira para os olhos do pagode. Pagode que aceita essas coisas de bom grado, porque não há nada mais bonito que ser generoso para com aqueles de quem se gosta. Porque quem não gosta de ninguém, arrisca-se a que ninguém goste dele, mesmo que ande em grupo ou em bando.
Portabilidade (8ª.) é coisa a que eles estão bem amarrados, de modo que a vida lhes corra de vento em popa, mesmo no meio das tempestades que eles próprios criam para quebrar a monotonia. O destino deles é conduzir o nosso destino, quer queiramos quer não.
Ao longo dos últimos dias tudo isto tem vindo a mostrar uma aceitabilidade (9ª.) indesmentível, até dentro das hostes dos comandos maiores dos supostos oponentes, embora a face visível do icebergue ainda esteja envolta em nevoeiro, não muito cerrado, diga-se.
O grau de prestabilidade (10ª.) de cada um deles é ilimitado, embora me pareça que tudo não passa de fogo de vista que talvez acabe em foguetes de lágrimas para um deles, senão para os dois, em episódios completamente separados no tempo.
Para lá das dez apresentadas, haveria outras tabilidades e outros protagonistas, normalmente encostados, costas com costas, á espera que as coisas se tornem mais claras depois das luzes apagadas. Certo, certo, é que o rei de Espanha não perde tempo com conversas de ‘chacha’.
E não se pense que sou monárquico, mas os bons exemplos existem em todos os regimes.