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afonsonunes

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Antes de mais impõe-se que corrija ligeiramente o título para, é com ele que podem contar. Não sei se aqui, a ordem das palavras é arbitrária mas, se não for, paciência. Não será por aí que virá grande mal ao mundo, pois isto não é nariz de santo. De qualquer forma, pode-se contar de muitas maneiras.
É com ele que podem contar até três, até dez, até vinte, e por aí adiante, porque a cantilena passa depois a ser sempre a mesma, como bem me lembro dos primeiros dias de aprendizagem no colectivo.
Quando vi a primeira vez, aquela informação de que, é com ele que podem contar, pensei que ela já não me interessava, visto que já lá vão bastantes anos desde que aprendi a contar, por sinal, com um professor que sabia da coisa. Mas, fez-me espécie estarem a oferecer os préstimos para uma coisa que já toda a gente sabe, excepto os muito pequeninos que, mesmo esses, já nascem a saber quase tudo.
Porém, com o meu aguçado poder de discernimento, lá concluí que, afinal, se podia contar com ele para muitas outras coisas. Por exemplo, se a gente estiver chateada com o preço da bica ou do maço de cigarros, podemos contar com ele para fazer com que acabem esses e outros atentados ao custo de vida do cidadão comum.
Verifiquei depois que a oferta dele também abrangia a nossa insatisfação laboral com os problemas que nos levantam os patrões e os chefes que nos fazem, quase sempre, a vida negra. Ora aí estava um assunto que logo me fez pensar que isso significava um progresso extraordinário, saber que podíamos contar com ele, para acabar com muitas arrelias e dores de cabeça.
Mais esperançado fiquei ainda quando, inadvertidamente, me lembrei que talvez até pudesse deixar de pagar as cotas para o sindicato, que nem sempre se podia contar com ele, porque o governo não lhe passa grande cartão. Depois, lembrei-me que ele e o sindicato, sempre eram dois com quem eu podia contar, podendo convencer melhor o governo a ter tino nos meus interesses. E as cotas, olha, que nunca o diabo leve mais.
Não, mas aquilo que eu ouvi, e li, era bem claro: é com ele que podem contar. Ninguém me diz que, se eu quiser contar com ele e com mais alguém, posso estar a querer este mundo e o outro. E, quem tudo quer… Portanto, resolvi não arriscar, dispondo-me completamente a contar apenas com ele, mas continuando a pagar as cotas pois, se eles quiserem, que se entendam, de modo a defenderem o melhor possível os meus interesses.
Ainda estou para ver se também posso contar com ele para me aliviar o peso dos impostos, que já me dão água pela barba, aproveitando para lhe pedir que exija de imediato que todos os que pagam passem a receber, e todos os que recebem passem a pagar. Eu já li, que podemos contar com ele para isso e muito mais. Daí que esteja muito confiante.
Tal como estou plenamente convencido que ele vai acabar com os grandes lucros da banca, embora tenha as minhas dúvidas de que vá chegar alguma coisita à minha conta. Conta que, de tão pequena que é, não posso contar muito com ela. Mas é com ele que eu conto, porque para ter mais algum, tenho de contar com alguém. E esse alguém, só pode ser ele.
Tenho ouvido tanta coisa sobre os feitos do governo, que cheguei a convencer-me que toda esta garantia de que é com ele (não o governo) que podemos contar, fosse assim uma espécie de engano propositado a ver se a gente ia na onda. Ou no engodo, se a gente fosse como o peixe, que morre pela boca.
É com ele que podem contar. E eu também, obviamente. Não sei ainda bem para quê, mas temos de ter muita paciência. Saber esperar é uma virtude. Ou um defeito?