28 Dez, 2009
Galinhas chocas
A gema é uma das duas partes do ovo. Se o país fosse mesmo esse ovo, com clara e com gema, certamente que teríamos um ovo particularmente pequeno e completamente estragado, dada a incompatibilidade química dessas duas partes tão antagónicas. Como todos sabemos, é extremamente mal cheiroso o ovo podre, quando lhe partimos a casca.
O lema adoptado pela clara, é pretender diminuir a preponderância da gema na pró criação, dando a maior relevância ao facto de a envolver no seu interior, tomando essa posição estratégica como uma subordinação, em lugar de a considerar como uma protecção. O lema da gema é pensar no momento em que vai rebentar com a casca depois de ter comido a clara.
O tema do ovo e do país pareceu-me oportuno, ou não fosse hoje conhecida mais uma fissura na casca do dito, a propósito de um código contributivo de um peditório, que não contribui nada para a função da clara e da gema desavindas. É que neste momento eu nem sequer sei se o ovo já estava galado ou não, o que me parece muito importante.
Este dilema da preponderância da clara sobre a gema, leva-me a pensar com muita profundidade, no motivo porque a galada foi parar na gema que está dentro da clara, ainda por cima sendo branca, ficando a destoar na gema que é amarela. Faço ideia da guerra que se desenvolverá ao longo de todo o período de gestação dentro do ovo.
O problema que se subentende deste desenvolvimento oval é, sem dúvida, um problema político, no qual não há galo nem galinha que possam resolver por eles próprios, as galadas que vão dar vida aos ovinhos que rebolam por todo o país, este sim, um ovo como deve ser, pelo menos na aparência exterior, já que lá dentro, é o que se sabe e já se disse.
O esquema é muito simples e consiste em insistir em ter dois galos numa capoeira ou, o que vai dar no mesmo, em permitir que o ovo tenha duas cores lá dentro. Por acaso, aqui, até é o amarelo e o branco, mas há daltónicos que afirmam a pés juntos que são o rosa e o laranja. Não concordo com esta classificação, porque isto já são cores adulteradas e, no meu modesto entender, feitas a martelo, do vermelho, com outras, para amenizar.
O sistema, na minha madura opinião, já passou de oval para quadrado, quando originalmente até era redondo, no tempo em que só havia mesmo bolas redondas. É como na política do tempo em que só havia amadores. Agora estamos no tempo em que o profissionalismo se exacerbou de tal forma que já não há sistemas que resistam.
A gema do ovo bem pode reclamar a paz necessária a um frutuoso partir da casca, que a branca, ou a clara, dominadora, envolvente, pensando até em ser asfixiante e esmagadora, ditará o lema que, querendo parecer proteccionista e benevolente, acabará sempre por querer ser uma continuada lição de mestre-escola competente e sabedor.
O tema gera muita controvérsia porque até na culinária há uma enorme confusão, com ovos estrelados, ovos mexidos, claras batidas em castelo, e tantas outras formas de lhe meter o garfo, mas sempre com o dilema de escolher entre a clara e a gema. Juntas, quando mal pacificadas, é que se tornam num problema que acabará sempre mal digerido.
O esquema político, anda normalmente associado aos ovos de Belém e de São Bento, vá lá saber-se porquê, pois as duas espécies vêm de galinhas de Lisboa, embora apareça um ou outro franganote de outros pontos do país, mas esses, normalmente, nem põem ovos. Só os partem, o que já não é pouco.
O sistema é que está perfeito. Uns põem os ovos, outros chocam-nos. Porque está à vista, não faltam no país, muitas e boas galinhas chocas.