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afonsonunes

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Li aí em qualquer lado que Portugal não é um país de corruptos. A ser verdade o que li, a afirmação é de uma ilustre personalidade da justiça. E digo a ser verdade, porque todos os dias leio as coisas mais estapafúrdicas que depois vêm a ser desmentidas, verdade se diga também, que os desmentidos, por vezes, se assemelham às notícias.

É capaz de ser verdadeira aquela afirmação, mas se perguntarmos ao Zé pagode se concorda com ela, é certo e sabido que a resposta é, sim senhor, pois no país quase não se fala noutra coisa. Porque os corruptos querem fazer crer, ou já fizeram crer, que a crise se deve inteiramente aos corruptos que, no seu entender, são sempre os outros.

Contudo, se formos perguntar ao mesmo Zé pagode se admite já ter participado em actos de corrupção, a resposta será sempre, não senhor. Conclui-se, portanto, que Portugal não é um país de corruptos.

Perante esta incongruência do é e não é, ao mesmo tempo, talvez o problema ficasse resolvido dizendo simplesmente que Portugal não é um país. Quando muito, Portugal são dois países: o país dos corruptos e o país dos não corruptos. Agora, cada um que meta a mão na consciência e, com os olhos pregados num espelho cristalino, se interrogue de que lado está ele e o outro que tem na frente. A resposta tem de ser tão cristalina como o espelho.

Também se diz a toda a hora que Portugal não é um país de mentirosos. O que ficou dito para os corruptos pode ser adaptado aos mentirosos. Mas temos de acrescentar que uns e outros, frente ao espelho, não resistem à tentação de mentir a si próprios, fazendo com que o país core de vergonha por alguns dos cidadãos que tem.

Isso não constitui novidade nenhuma, pois a toda a hora ouvimos e lemos lamentos de transtornados, afirmando que têm vergonha de ser portugueses. Até já se lêem por aí exortações à saída para a rua de armas na mão e toca a matar estes e aqueles, políticos pois então, como se estivesse prestes a abrir a caça às bruxas, principalmente, a certos bruxos.

Não é que não haja esses e outros desejos, mas que eles circulem impunemente, já me parece que não é próprio de um país, porque isto, digo eu, ainda não é um país de bandidos, nem de banditismo, mas que, como dizem nuestros hermanos em relação às bruxas, que os há, há. Isto se acreditarmos, como já disse, no que lemos e ouvimos diariamente.

Parece que Portugal sempre teve esta tendência para não ser um país de todos os portugueses, porque sempre teve e ainda tem, os seus velhos do Restelo em todo o território nacional e até em paragens bem distantes daqui. Talvez seja a nostalgia, a saudade, a tristeza, a melancolia, sei lá. Também já tenho ouvido falar em inveja, em dor de cotovelo e até em dor de corno.

Mesmo tendo em conta que isso são estados de alma que não vão além disso, porque apenas se evaporam da boca para fora. Tal só acontece porque muitos portugueses lá de cima, alguns mesmo lá muito de cima, tudo fazem para que subsista este clima de guerra permanente, em que apenas se preocupam em roubar espingardas aos adversários.

Contudo, isto não é um país de corruptos, nem um país de mentirosos, nem um país de bandidos, nem tão pouco é um país de guerrilheiros. Mas, é verdade que tem cá um pouco de tudo isso. Porém, andam misturados com muita gente séria e pacífica que, essa sim, é o verdadeiro país que se chama Portugal.