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afonsonunes

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Até parece que é impossível a alguém ter estes três atributos cumulativamente, tal a onda de burburinho que se levantou em volta de um desabafo de um homem profundamente convencido de que a verdade e a mentira têm diferenças tão visíveis que só as não vê quem não quer abrir os olhos e olhar para a sua frente.

Ser beirão não é sinónimo de honesto, tão pouco de crente, tal como ser alfacinha ou tripeiro não quer dizer que sejam fenómenos de esperteza ou trafulhice. Todas as generalizações são, além de um perigo, uma profunda mania dos regionalismos bacocos e, muitas vezes, complexados, que não pretendem mais que dissimular esses complexos.

Diz-nos a experiência que os habitantes de cada região do país, tal como acontece com habitantes de cada país, têm algumas características genéricas especiais que os distinguem, mas daí a concluir-se que uns são melhores ou piores que os outros vai uma grande distância, como facilmente se conclui sem necessidade de uma lupa.

Agora, ser beirão de uma geração em que a melhor universidade foi a vida dura e difícil desde os primeiros dias de existência daqueles que, como o granito, se tornam inevitavelmente bem rijos e morenos, não é a mesma coisa que ser nado e criado no ar condicionado, tratado basicamente a copinhos de leite, bebidos antes de adormecer ao som de histórias de príncipes e princesas.       

Ser honesto é hoje uma complicação danada, porque a honestidade não é uma coisa rija como o granito, nem mole como o leite ou a pastilha elástica, tão pouco se vai colher à montanha ou ao mar, nem se tira ou se põe em cima da cabeça como um barrete de qualquer forma, cor ou tamanho. Ser honesto, em qualquer ponto do país, é um estado de alma que vem do berço, embalado pelo pai e pela mãe, que o souberam fazer ao longo do tempo.

Ser crente, é acreditar-se em tudo o que se diz e se faz, é ter a consciência de que podem estar mil olhos em cima de nós, em todos os momentos da vida que, de boa fé, nunca encontrarão um único motivo para nos fazer mudar de percurso, sem uma demonstração inequívoca de que estamos no mau caminho. Porque o equívoco pode estar do lado de quem nos quer desencaminhar.

Para ser honesto e ser crente, cada um dentro das suas convicções, não é necessário ser minhoto ou algarvio, nem o facto de se ser beirão ou ribatejano, demonstra maior capacidade de dominar as feras e até fazer algumas boas pegas. O que é necessário é ser homem de barba rija e pulso de ferro, contra os truculentos que vêm do copinho de leite e do iogurte, venham eles de onde vierem a mascar nervosamente na pastilha.

Mas, quando vierem à liça, que tragam a força da razão e não a cobardia das dúvidas e das desconfianças, querendo impô-las às convicções dos outros, sem se sentirem obrigados a demonstrar seja o que for. Ainda não perceberam que as suas desconfianças, enquanto não se transformarem em certezas, não podem valer mais que as convicções de quem tem razão e autoridade para tomar decisões.

Funciona assim, ou devia funcionar assim, a verdadeira hierarquia, onde manda quem pode e obedece quem deve, sem prejuízo de se demonstrar com factos, e não com desconfianças, quem está dentro das suas atribuições. Quem desconfia, tem obrigação de procurar respostas e não de fazer perguntas, que só põem em evidência quem não sabe nada de nada.

E, quem não sabe nada de concreto, mais lhe vale estar calado até saber do que fala, principalmente, se estiver a incorrer em algum delito hierárquico, para não falar em outros delitos contra direitos básicos de outros cidadãos. Sim, porque não são só e apenas os desconfiados que têm todos os direitos do mundo e são mais credíveis que ninguém.

Demonstre-se, pois, com factos, com provas e com verdades, que o beirão não é honesto e que aquilo em que ele acredita está errado e porquê. Já agora, que os desconfiados provem também que são mais honestos que o beirão, já que tanto crêem que sabem mais que ele.