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afonsonunes

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24 Set, 2010

O grande líder

Quando vejo ou oiço um líder a fazer muitas perguntas, a lançar permanentes dúvidas sobre os seus opositores, ou a desconfiar de tudo e de todos, pergunto a mim próprio se será essa a melhor postura para quem quer tornar-se mesmo num grande líder, com um posicionamento acima de outros líderes que percorrem os mesmos caminhos.

Parece-me que um líder, mesmo não sendo muito grande, tem a obrigação de saber do que fala, fazendo-o com toda a clareza, mostrando que está dentro dos assuntos que comenta ou pretende implantar, dentro de uma linha de pensamento que convença os seus ouvintes das vantagens que o distinguem de quem pretende destronar.

Ora o que se vai ouvindo a toda a hora de todos os dias, são aquelas frases bombásticas de que é preciso mudar isto e aquilo, mas depois ficamos sempre sem saber como é que isso se faz na prática e quais os resultados que se vão obter com essas mudanças. Fica sempre qualquer coisa escondida que nos deixa de pé atrás.

Sei perfeitamente o que quer dizer quem afirma que é preciso mudar de política. Já não sei qual é a política que se pretende em troca, pois o mais que se acrescenta é que tem de se mudar para uma política disto e daquilo. Ora muito obrigado, mas eu pretendia que me fosse dito quais as medidas concretas a operar para se conseguir essa mudança.

Também oiço por aí um líder perguntar a outro o que pensa ele fazer para resolver os problemas da crise. Sinceramente, há coisas que um líder não devia dizer, sob pena de estar a dar a ideia de que não tem a mínima sobre a matéria. Provavelmente estará à espera que lhe digam aquilo que ele irá rejeitar imediatamente a seguir, sem ter pensado um segundo.

Depois há aquele líder que passa a vida a rebuscar notícias, boas ou nem tanto, para apresentar como exemplos de como outros líderes não andam de olhos abertos de modo a verem tanto como ele. Ao menos esse líder tem a vantagem de fazer o seu trabalho de casa, útil ou inútil, discutível ou corajoso, mas faz, mostra trabalho.

Há ainda um tipo de líder que, não podendo dar nada a ninguém, promete tudo a todos, mas logo de seguida atira-se a outros líderes porque eles só procuram gastar o que se não tem, comprometendo o futuro dos seus filhos e netos. Provavelmente, já estão em causa os votos das próximas gerações, além do receio justificado de que, chegado ao poder nessa ocasião, não encontrará nada nos cofres para a satisfação das suas necessidades políticas básicas.   

É bem de ver que existem outros exemplos de líderes, ou exemplares se quiserem, liderando muitos ou poucos apoiantes mas, como todos, sempre puxando a brasa à sua sardinha e, se possível, a todo o cardume que vai na sua cauda ou, mais correctamente, à sardinhada toda que está no grande assador, onde há mais sardinhas que brasas.

São assim todos os líderes, pessoas inteligentes, muito cultas, muito delicadas, cheias de genica e iniciativa, ao ponto de nos deixarem de boca aberta a olhar para elas mas, muito mais ainda, ao ouvir o que nos dizem, o que nos prometem, sempre menos do que nos fazem, porque, dizem eles, são homens e mulheres de palavra.  

Mas há uma coisa que me deixa sempre muito intrigado. Não dou nada por um líder que passa os dias a inventar perguntas para fazer ao seu opositor. Cá para mim, um grande líder não faz perguntas. Não precisa de fazer perguntas. Se é líder e é grande, tem de dar respostas, boas respostas, para mostrar que sabe da coisa a quem nele confia.