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afonsonunes

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19 Fev, 2011

A fábrica

 

Cada vez é mais evidente a existência no país de uma fábrica de acontecimentos e, principalmente, de incidentes, cuja finalidade está bem à vista de quem se recusa terminantemente a não fazer parte dessa mão-de-obra cerebral, ignorante ou de má fé que, consciente ou inconscientemente, se agarra a chavões ou a expedientes para manter a laboração.   

Mas, o pior não é o facto dessa fábrica se manter em laboração permanente. O problema está no produto final que dela sai e na aceitação que o consumidor lhe dedica. O fabricante, todo o fabricante, não sobrevive se o seu produto não obtiver a confiança de quem o compra. E essa confiança pode ser adquirida de muitas formas, mesmo as mais desonestas.

Ora, uma das grandes linhas de montagem da grande fábrica é, precisamente, a produção de desconfiança, visando a desacreditação da concorrência. Nos tempos que correm é muito fácil arranjar matéria-prima suficiente para que a fábrica encha os olhos e os ouvidos dos que não notam que estão a ser intoxicados pelos fumos e pelos resíduos que saem das chaminés.

Há até quem inspire profundamente no meio desse poderoso veneno, como se já não pudesse viver sem essa droga que lhe proporciona uma calma relaxante, resultante de um bálsamo imaginário, que o faz esquecer outros males durante o período de tempo que antecede a ressaca da amargura e do rancor. 

Convém dizer que o detestado inimigo também liberta muita poluição, facilitando a propagação da actividade desleal e corrosiva, provocadora de muita da sua aceitação. Mas, é muito grande a diferença de métodos e da matéria-prima utilizada. A fábrica tem uma dimensão que chega a ser asfixiante, tendo em conta os meios que tem ao seu dispor.

Consegue fabricar intrigas a um ritmo alucinante, até porque dispõe de verdadeiros batalhões de mão-de-obra gratuita, apesar de altamente profissionalizada, em concorrência com mão-de-obra barata e muito mal organizada do inimigo. Com a agravante de, também esta estar alinhada com muitas das investidas dos batalhões do outro lado, ávidos por trocar o fato-macaco pela gravata e uma caneta.

Consegue fabricar dúvidas que acaba por pretender vender como certezas, com a única garantia de que tudo o que fabrica tem a qualidade do seu selo de marca. Ora essa, para os menos distraídos, é a pior garantia, em todos os aspectos, que se pode aceitar como sinal de confiança, principalmente, por consumidores escaldados por anos e anos de banhadas que, como o gato, até já tem medo de água fria.    

Consegue fabricar fantasmas em vários tons, para serem devidamente validados com óculos parecidos com os do cinema em não sei quantas dimensões, mas específicos para cada uma das clientelas das linhas de produção. Sim, porque na fábrica há linhas de produção próprias para cada cor, não fosse uma qualquer anomalia provocar desmaios na coloração.

Consegue fabricar máscaras revestidas de hipocrisia para mostrar ao país que tudo o que a gente vê é ilusão óptica, do tipo de fogos-fátuos de cemitérios onde nunca houve mortos, para lá dos vivos que eles querem ver lá enterrados à viva força. Daí que se anuncie, dia sim, dia não, o tão desejado funeral do tão odiado nado morto.   

Consegue fabricar palhaços que se especializaram na construção de gracinhas baseadas nas suas próprias intrigas, quantas vezes esfarrapadas, tal como o são as suas dúvidas, as suas graçolas com os tons das suas fantasias, engalanadas com o fulgor ou o horror das suas máscaras hipócritas acima dos reluzentes fatos de palhaços ricos.

A esta super fábrica, do tipo de produção multi-usos, plena de poderes, onde até nem falta o poder de linchar quem lhe faz sombra, falta simplesmente a coragem de carregar no botão. Porque a linha de produção montada para o efeito, ainda não está suficientemente burilada para decidir isso sem hesitação.

Mas, para o efeito, está já em funções, uma outra linha de produção destinada à investigação avançada de correcções e inovações para a infalibilidade da super fábrica. Tudo indica que não está longe o anúncio da nova era em que nós próprios passaremos a ser fabricados.   

 

 

 

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