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afonsonunes

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06 Out, 2008

Os Taca-tuca

 

 
 
Os Taca-tuca estão a inundar os meios de comunicação social e ameaçam tornar-se tão insuportáveis como certos meninos mal criados que já não respeitam nada nem ninguém.
 
Em tempos idos, nos chamados tempos da outra senhora, usavam o tratamento de excelência quando se dirigiam a certas personalidades da vida nacional, suponho que como sinal de respeito pelos serviços que prestavam à comunidade e, ou, pelo cargo superior que desempenhavam.
 
Não estou certo que isso se devia a ordens superiores, mas não me admiraria nada. Toda a gente sabe que os tempos são outros.
 
As excelências que outrora usavam sempre fato e gravata, andam hoje de colarinho bem aberto e em mangas de camisa, como qualquer plebeu de vão de escada, ou mesmo como os ilustres trabalhadores dos mais variados estratos sociais. Isto quer dizer que o vestuário se democratizou e a linguagem acompanhou a moda.
 
Hoje, o você está na berra, tanto de baixo para cima, como de cima para baixo, dando sequência a uma certa preocupação das classes mais elevadas pretenderem baixar artificialmente o seu nível social, enquanto as classes mais baixas, pretendem dar a entender que não são assim tão baixas.
 
Os Taca-tuca estão um pouco mais avançados. Já não há excelências para ninguém e até o você está muito limitado. O tu-cá-tu-lá, ou seja, a antiga linguagem dos caldeireiros, já está generalizada, principalmente, quando falam dos mais altos representantes do estado.
 
Quando apanham um ministro pela frente, até parece que andaram com ele na escola, com a particularidade de deixarem bem claro que o ministro andava então, na primeira classe e eles na quarta classe. Ainda falo em classes, porque me trazem à ideia os desclassificados que há em todas as classes sociais.
 
Ser desclassificado não é defeito, mas é uma condição, na qual se não pode perder de vista a qualificação daquele com quem se fala. Não para o tratar por excelência, ou por tu, ou por você, mas para reconhecer a diferença entre um desclassificado, muito ou pouco ignorante, e um qualificado, sempre acima da ignorância.
 
Os Taca-tuca não são capazes de transmitir informação sem meterem nela o bedelho da sua imaginação, onde predomina a ânsia da polémica, sem a qual não há notícia que valha a pena. Daí que, ao recolherem essa informação, lhes não saia da ideia o tuca-tuca das perguntas parvas ou perniciosas, mas no mínimo repletas de um veneno disfarçado de petulância, muitas vezes transmitido em taca-taca, na esperança de um deslize de quem fala com eles.
 
Se tal acontecer, vai ser uma festa, se o visado ocupar um cargo importante e for, simultaneamente, de uma cor que não agrada ao caça asneiras ou ao seu superior hierárquico. Mas, o normal, será conseguirem dar sempre uma versão conveniente, mesmo quando o original é inconveniente.
 
De um determinado tema, conseguem sempre retirar um anti-tema. Do todo que não lhes agrada, haverá sempre uma parte a que podem dar a volta no sentido que lhes convém. 
 
Os Taca-tuca são os arautos do atraso daqueles que os vêem e os ouvem sem pestanejar. Ao contrário, podiam ser arautos do desenvolvimento e da cultura, Podiam mostrar bons exemplos, a começar nas suas próprias boas maneiras, contribuindo para a educação de quem não teve oportunidade de as aprender na devida altura. Podiam contribuir para que a verdade não fosse tão atropelada a toda a hora, a começar por eles próprios. Podiam ser tudo, mas ao contrário do que são agora.
 
Então, sim, podíamos nós, os que ouvimos e vemos os Taca-tuca, olhar para eles sem fazer uma careta esquisita.
 
 

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