Dos Açores veio a verdade
E a verdade revelou-se através do mais alto representante do povo açoriano, sem papas na língua, dizendo que quem já ganhou a eleições foi o FMI que, por acaso, para os mais distraídos, até nem anda a fazer campanha eleitoral para as ganhar. E nem precisa dela para nada, vencedor incontestado como, pelos vistos, já é.
Como diz o outro, ‘penso eu de que’, já não interessa quem fica em segundo ou terceiro lugar nessas mesmas eleições, atendendo a que, depois delas, se acaba essa guerra suja de quem bota mais abaixo, pois o FMI, o grande vencedor, não tem que temer moções de censura, nem vetos, nem tem que andar mendigar os votos de ninguém para governar.
Também não tem que se preocupar com discursos de verdade ou de mentira, seja nas sessões solenes ou nas sessões ordinárias, onde tanto se tem misturado o sentido do popular com o popularucho, sempre no sentido populista de mais uns votos, seja lá qual for o preço a pagar por um país exaurido por tantas e tão insaciáveis sanguessugas.
Depois, uma coisa é certa. Podem bater no FMI como têm batido no Sócrates. O resultado será o mesmo, ou seja, nenhum deles ligará nenhuma, tanto ao que dizem os ignorantes, como ao que auguram os intelectuais, se movidos por aquela sofreguidão de verem no horizonte interesses que até podem ser uma miragem científica do intelecto.
Pressinto que a guerra partidária dos políticos passará a ser uma espécie de guerra de capoeira. Sem outro interesse que não seja saber qual é o galo que não se cansa de tentar, conseguindo ou não, galar mais galinhas. Não lhe caberá jamais ter voz activa nas rações ou nas condições de vida dentro da capoeira.
E, ai deles, se isto acaba num aviário de pintainhos aos milhares, com vida de duração controlada e limitada, precisamente por causa das rações, em que nenhum deles chega a galo feito. Obviamente que não voltará a haver mais poleiros, porque o poder não estará no aviário, mas muito longe dele. No FMI, claro!
Mas, não foi por causa do aviário que o FMI veio cá ganhar as eleições antes da data fixada para irmos às urnas. Ele veio, porque temos cá uns sujeitos que andam nisto há muitos anos, a tentar galar-se uns aos outros, chegando a confundir-nos com galinhas que se baixam logo que os sentem por perto.
Agora estão obcecados com esta questão da culpa. Culpa que é de todos e não apenas de um, por mais que dê jeito simplificar. Não adianta arranjar e montar piruetas para um lado, ignorando as circunstâncias que levaram à sua concretização. Não adianta esconder o comprometimento de outros com piruetas bem mais execráveis.
Quem governa não faz o que lhe dá na real gana, muito menos quando está sujeito aos caprichos de oposições incoerentes que votam igual com objectivos contraditórios. Só se pode responsabilizar um governo se forem dele as decisões que afectam a vida do país. Ora, não foi isso que aconteceu muitas vezes.
O país não é constituído por trinta por cento de estúpidos e quarenta por cento de inteligentes que, até vão trocando de posições. Quando isso acontece, parece que o mundo vai virar do inferno para o céu, mas a ilusão tem demonstrado à evidência como as mentes são demasiado criativas, nem sempre no bom sentido.
Porém, agora sim, tudo vai mudar, por culpa de todos. Porque todos deixaram que o FMI ganhasse as eleições. E o FMI só vem por causa dos milhões que não se pedem a quem os roubou, mesmo que com rótulos de ganhos, em bancos, em empresas, em tantas poucas vergonhas.
A pior delas, talvez, a cegueira de quem não quer ver a realidade e vê apenas um argueiro que tem atravessado em cada olho.