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afonsonunes

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Nas feiras, nos mercados ou à beira da estrada, comprar um, ou comprar uma dúzia, não é a mesma coisa. Seja lá qual for a mercadoria em questão. Do que se trata na realidade é do preço de quantidade. Que pode ainda vir a ser melhorado se o comprador for mais arguto que o vendedor, regateando habilidosamente.

Acabamos de assistir a um negócio em que estavam envolvidas doze unidades. Duas dessas unidades eram os negociadores e as restantes dez eram as unidades transaccionadas. A finalidade do negócio era a composição de uma equipa, em que os dois negociadores eram candidatos a capitães da dita.

A concretização do negócio, tal como fora previamente anunciado, até foi fácil e rápida, uma vez escolhida a liderança, que assentou no princípio de que manda mais quem parece que não manda nada. É assim uma espécie de haver um que pensa, o terceiro, e o outro que transmite às dez unidades o que devem fazer, que é o primeiro.

Temos assim uma equipa com doze, uma dúzia de unidades, relativamente baratinha pois, ao que dizem os entendidos, tem grandes qualidades técnicas e estratégicas, tem enormes conhecimentos sobre as equipas com quem vai competir, embora lhe faltem pontas de lança, os que marcam, logo, os que poderiam ser mais caros.

Dizem-me agora que o presidente do clube, os adjuntos e os suplentes vão colmatar essa deficiência. Aí tenho de colocar as minhas reticências. Então, tem lá alguma lógica que não seja o capitão da equipa a tomar as decisões e a transmiti-las a todas as unidades? Se assim não for, para que se teve tanto trabalho a eleger o capitão?

Até porque eu não acredito que os adjuntos e os suplentes sejam menos de umas dúzias que, mesmo com o tal desconto de quantidade, vão ter o seu preço. Ora, se o preço for superior ao das doze unidades, também é natural que o peso das suas decisões ponha em causa a eventual leveza das decisões do capitão. Mesmo com um presidente muitíssimo atento.

Assim, prova-se que nem sempre a sabedoria popular deixa de pôr em causa a justeza dos seus ditos. ‘À dúzia é mais barato’, eventualmente, pode tornar tudo mais caro sobretudo, se nas trocas se meterem muitas dúzias. Além disso, pode perder-se um capitão de equipa que, começando vencedor, pode acabar como o grande derrotado dessa equipa.

Acresce ainda que uma equipa com dois candidatos a capitão tem o inconveniente de ter duas vozes de comando. Nesse caso, conta menos a hierarquia que o tom de voz dos decisores. Conta mais a tarimba que a hesitação provocada pela obrigação de não poder falhar. Porque se algo falhar, nunca será a tarimba a pagar a factura.

Contudo, nunca se pode esquecer que no clube há a décima terceira unidade que, para os mais supersticiosos, pode dar azar. Sim, porque eles pensam que os presidentes por vezes só atrapalham. Por exemplo, quando tenham que meter o bedelho entre o capitão da equipa eleito e o candidato que mais pensa e mais alto fala.

A tarimba entre o primeiro e o terceiro, eis a questão. O segundo não conta porque tem de estar muito atento aos números, não podendo, até porque não está preparado para isso, meter-se nas habilidades de saber ou não saber tirar partido do seu jeitinho para exigências mais ou menos complicadas para a equipa.

Mas, o terceiro tem todo o jeito do mundo para tirar partido das suas qualidades negociais, com a vantagem da sua imprescindibilidade dentro da equipa. Quando assim é, a tarimba é que conta. É assim uma espécie de pegar ou largar de quem tem a faca e o queijo na mão. E o capitão da equipa tem de se acomodar, se quer ganhar jogos.

Disputou-se hoje o primeiro jogo a doer. Era apenas uma dor que não provocava incapacidade. Mas era uma dor moral. E o capitão da equipa teve a primeira derrota, no primeiro jogo da época. Precisamente, porque não ouviu o terceiro, arrecadando este a primeira vitória, que serve apenas como um aviso.

Um aviso sério. Quando dois precisam um do outro, não pode haver teimosos. O presidente do clube tem de estar atento e evitar braços de ferro. Estas vitórias não se compram à dúzia. Nem as derrotas podem ser simples borlas. O barato, por vezes sai caro.