A noite do martelo
Apostava tudo o que tenho em como o mestre André não estará no Porto nesta noite da martelada. E não será por falta de assinatura de uma dispensa do patrão milionário Abram, que também não arriscaria um passeio pela noite de hoje na Ribeira.
Não sei se o ano passado, neste dia, o mestre André foi o mais assediado de todos os martelados da noite de S. João, até porque nem sequer sei se ele se meteu nessas andanças, devido à sua inexperiência nesse jogo de cabeça.
Mas, este ano, de certeza, teria memo a cabeça a prémio e, não sei não, se os martelos não seriam muito mais pesados que os habituais. A menos que fosse convidado e acompanhante do seu ex-patrão, Jorge Costa, que o defenderia com a sua mão protectora.
Um bom negócio para dois, sem dúvida, que bem mereceria um S. João como deve ser, não fossem os riscos dos exaltados bocas-de-fogo, que não querem saber senão dos negócios que valem pontos que, hoje em dia, é o que está a dar.
Porém, já ouvi dizer que aquilo é como uma monarquia. Há sempre soluções de sucessão logo, nada impede que os martelinhos funcionem na perfeição, com o Vítor e seu patrão, para sossego dos assustados, a coçarem na cabeça de vez em quando.
Está tudo nos conformes, ou não fosse a noite do martelo na Invicta. Martelos que não param um segundo, manejados com aquela meiguice que é característica das gentes sorridentes e generosas da grande nação nortenha.
Já a outra nação, a que foi do mestre André, tem momentos que inspiram algum receio por parte de quem não é súbdito nem habitual nos seus festejos, por vezes ornados com umas marteladas que são mesmo a doer.
No resto do país, as marteladas são outras, segundo um vocabulário mais a atirar para o nacional e que têm a ver com os tradicionais bailaricos que servem de balões de ensaio para um final de noite, princípio de manhã, com muito amor e carinho.
Quando a sardinha assada e os seus diluentes já estiverem consumidos, depois do desgaste energético de uma noite em claro, mas que nem por isso será menos produtiva em termos de desgaste vigoroso nas manobras a dois, com o martelo a servir de broca imparável.
É por isso que a noite que aí vem, a noite de S. João é, e sempre foi, a noite do martelo.