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afonsonunes

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25 Jun, 2011

Os novos optimistas

Acabou de se estrear em exames preliminares e disse que não podiam ter corrido melhor para Portugal. Atendendo a que esses exames vêm exactamente algumas horas depois de ter sido confirmado o examinando, só há uma conclusão a tirar. Portugal estava bem preparado para se submeter a exame.

Tanto mais que o examinando não se cansou de se considerar grego em devido e oportuno tempo, defendendo agora no exame a teoria de que ele, grego, nem pensar. Bem-aventurados os que dão a mão à palmatória sobretudo, depois de saberem que o professor já não tem régua para fustigar as suas mãozinhas.

Afinal, a um inveterado optimista sucede um optimista antecipado, pois ainda antes de saber ao certo o que vai fazer, já sabe que vai sair tudo bem. Mas, a avaliação do país actual, que não é ainda o dele, avaliação feita e aprovada com distinção, ao que nos diz o examinando, revela que o país vai no bom sentido. Dizem eles.

O que me parece pouco justificado, é o tom optimista de agora contra o tom catastrofista de tempos bem recentes. Afinal, gostaria de saber qual o estado real, deste estado falido e em bancarrota de há dias e o estado viável, muito longe de se ver grego, que não vai falhar. Há coisas que não consigo entender.

É o caso da subida vertiginosa dos juros. Quando tudo me levava a crer que estes novos portadores de confiança, estes amigos e aconselhados do FMI e seus parceiros, iam fazer baixar drasticamente o preço do dinheiro, eis que já quase duplicou desde que se soube que lhes competia a eles pagar os calotes do país.

É o caso da prova de confiança do mister adjunto Europa, português do mundo, português dos desafios perdidos, grande amigo do outro português agora reformado à pressa, que sucumbiu aos elogios dele e de quem manda nele. Chego a pensar que os actuais elogios ao sucessor, não auguram nada de bom para o destino que nos espera.

É o caso da bolsa de valores onde ‘o PSI20 vive o maior ciclo de quedas semanais em três anos.’ Isto é dinheiro e é confiança no futuro para os investidores. Isto quer dizer que o novo ciclo é uma maravilha. Tal como o MAI, onde ‘em tempo de guerra não se limpam armas’. Mas substituem-se espingardas por bastões, ou seja, governadores por secretários.

É o caso da evidente incapacidade de aceitar o saber perder, como aconteceu com a derrota na assembleia com a teimosia Nobre. A reacção não abona em nada o seu sentido de aceitar o que não propõe. A Madeira e os Açores levaram o troco através dos seus representantes. Por mim, tudo bem, porque eu gosto da Assunção. Mas não gosto de vinganças.

É o caso de nenhum partido ter aceitado colaboração com o PS em soluções governativas e agora quererem envolvê-lo na responsabilidade de fiscalizar a execução dos acordos com a troika. Como é sabido, a execução dessa tarefa compete à assembleia e só por pura hipocrisia ou por querer arranjar um bode expiatório, se lembram desse disparate.  

É o caso de já se ouvir falar de pressões sobre a justiça, os submarinos em questão, quando era de esperar que as pressões fossem coisas do passado. Tal como a demissão na forja do PGR. Tal como as preocupações de um dos parceiros, sobre a lista de boys do outro parceiro, que jurou por todos os santinhos que isso ia acabar. Não se sabe é quando.  

É uma maravilha. A reunião lá fora correu muito bem. Porém, cá dentro, parece que as coisas por enquanto ainda estão a correr melhor. Tal como lá fora, cá dentro ainda não se fez nada, justificadamente, diga-se, mas então que comecem a falar quando começarem a fazer qualquer coisita que a gente veja.

É por isso que eu, sempre muito incrédulo no que diz e vaticina a maioria dos nossos comentadores e críticos, desta vez até concordo com alguns, que dizem que é preciso abrir os melões para saber se eles são bons ou não prestam. E, por enquanto, ainda não vi sequer os melões, quanto mais algum que já estivesse aberto.

Neste início de ciclo já me foi possível tirar uma conclusão que me parece óbvia. S. Bento é um lugar onde nasce optimismo, tal como jorra água das fontes no inverno. A comparação não é despropositada, uma vez que os inquilinos de S. Bento já nos provaram que todos têm sido exímios a meter água, uns por culpa própria, outros porque lhes põem um funil na boca.  

Portanto, é preciso muito cuidadinho, pois com água até cá acima, há sempre o perigo de alguém se engasgar.