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afonsonunes

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Pois, foi tudo tão rápido que ninguém teve tempo de se refugiar nos abrigos. Nem tivemos dois segundos para prestar atenção, pois a explosão foi imediata, a seguir à chamada da dita. A surpresa só não foi total porque há sempre quem leve muito a sério os sinais que nos chegam dos astros, enquanto outros lhes voltam as costas.

Obviamente que o pedido de atenção não serviu para nada, mas o estrondo, o pum, acordou o pessoal que tem andado a dormir. E também o pessoal que, estando acordado, confiava cegamente que não havia pólvora suficiente para lhes queimar as pestanas, uma vez que, primeiro, estavam todos aqueles que têm ocupado a primeira fila.

Esqueceram-se de que estavam, mas já não estão, havendo agora que aguentar com o que der e vier, pois o tempo de assobiar para o lado já lá vai. E, estou plenamente convencido de que isto foi apenas uma pequena explosão de aviso, do tipo de, não se assustem, que a seguir, vai ser bem pior.

Convém mesmo estarem preparados para uma situação de rebentamento pelas costuras de uma qualquer bomba de que resultará uma situação rebentada. Tudo indica que depois desta situação se concretizar, como parece inevitável segundo os horóscopos mais credíveis, não adiantamos nada em ter esperança na segunda parte da profecia.

Diz esta que, depois do rebentamento, ainda vamos a tempo de ignorar o que explodiu e apanharmos todos os cacos para, com eles, todos coladinhos com saliva, construirmos um país novo, assente na teoria de que, do velho se faz novo, desde que a pintura final tenha a cor que mais nos agrada.  

A situação era de pré-explosão mas já não é. Pela simples razão de que, entretanto, já atingimos a situação de explosão, com barulho e tudo, mas que irá aumentar à medida que se for verificando que os cacos, na maior parte dos casos, ficaram muito estilhaçados, mal valendo a pena gastar cuspo com eles.

Depois de bem avaliada esta explosão há, para mim, uma situação que nada tem a ver com destruição. Antes pelo contrário. Havia uma bíblia com trinta e quatro páginas onde estava tudo tim-tim, por tim-tim, minuciosamente explicadinho até dois mil e catorze. Por obra e graça da sabedoria, essa bíblia foi desmultiplicada.

A situação pós-explosiva transformou essa bíblia em papelinhos que fizeram um almanaque de cento e vinte e nove páginas, o que demonstra à evidência que o poder do falatório consegue transformar o que é claro e conciso, numa baralhação de palavras que mais parecem um rastilho que indicia nunca mais chegar à bomba.

Assim, depois de ter-mos uma situação de pré-explosão, corremos o risco de entrarmos na situação permanente de pós-explicação do que se quer fazer, a qual permite sempre a alguém ir pisando o rastilho, de forma que se caia na velha situação de se pensar depressa demais e esquecer ainda mais depressa.

Estamos numa fase de expectativa. Estamos em cima de uma carga explosiva. Estamos à beira de uma onda corrosiva. Estamos cercados por arautos da mensagem abusiva. Estamos amarrados por meio de fita adesiva. Estamos em cima da hora para a conversa decisiva. Estamos em risco de uma situação implosiva. Mas não estamos com ideia subversiva.    

Certeza, certeza, é que, com o Pum explosivo, já nos arrombaram os cofres pessoais, aproveitando o facto de a maré estar de feição.