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afonsonunes

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Estranha forma de vida esta, a que chegamos, em que querem que vejamos verdades onde só vemos mentiras.

A hipocrisia está instalada na sociedade e cada qual tenta servir-se dela para levar a água ao seu moinho.

Não interessa que a água vá suja, que vá sujar ou inundar o moinho, que o moinho produza farinha ou farelo, porque alguém irá consumir essa treta que dali saia.

E esse alguém não conta nem faz parte das preocupações desses moleiros que nos tramam com as suas guerras poeirentas e ruidosas.

Porque esses mentirosos profissionais, os montes de hipocrisia falante, só vêem objectivos e metas, só sonham com números e euros, só acordam com os gritos daqueles que atropelam.

Mesmo assim, seguem viagem, pois as pessoas não são nada, para além de sustentáculos do seu poder ou obstáculos a esse mesmo poder, consoante sejam os carneiros do seu rebanho ou os lobos da sua oposição.

Que diferença vai do carneiro até ao lobo…

No meio, os cães já nem ladram.

(Estas palavras juntaram-se em 2003).

 

27 Jun, 2008

Vai um tintinho?

 

 
 
Um pouco mais de quarenta por cento dos portugueses pensam que sim.
Cerca de trinta por cento pensam que não, mas talvez.
À volta de vinte e poucos por cento pensam que não, mas não mesmo.
Os que pensam que não, mas talvez, andam num dilema permanente, por causa da coerência, mas, acima de tudo, por causa da consciência.
Às vezes apetecia-lhes pensar que sim, mas envergonham-se de não terem pensamento diferente dos seus maiores adversários.
Daí que lhes surja o talvez como tábua de salvação.
Os que pensam que não, mas não mesmo, estão sempre em desacordo com os que pensam que sim. Mas, também estão sempre em desacordo com os que pensam que não, mas talvez, embora quando querem fazer uma birra maior aos do sim, se ponham ao lado do talvez, para fazerem o berreiro de que não prescindem.
Os que pensam que não, mas talvez, também não gostam mesmo nada dos adeptos do não, não mesmo, mas juntam-se a eles na hora de reclamar a mama.
Sim, porque quem não chora não mama. E, pensam eles, quantos mais forem os que choram, mais leitinho vai aparecer.
E os que pensam que sim, sorriem. Sorriem, e às vezes até riem com gosto, porque todos os que pensam que não, não se entendem. Porquê? Porque uns querem leite, enquanto outros preferem chocolate.
Porém, os que pensam que sim, dizem que são portugueses de barba rija, logo, quem tem sede que beba um tintinho.
 E logo acrescentam:
“A mama é exclusivamente para bébés.”
25 Jun, 2008

Só neste país

 

 

Se um automobilista rodando a cento e cinquenta à hora atropela mortalmente alguém dentro de uma localidade, logo haverá quem se insurja veementemente com o desabafo, “só neste país…”, porque ninguém faz nada para acabar com esta vergonha…

Se o mesmo automobilista, à mesma velocidade, no mesmo local, não atropelar ninguém, mas for multado por excesso de velocidade, logo haverá quem se lamente tristemente, “só neste país…”, isto é caça à multa, é o estado, ou o governo, a roubar os cidadãos, a arranjar dinheiro para…

Isto é apenas um exemplo dos inúmeros que se podiam dar, para o mesmo tipo de comentários que se ouvem a toda a hora, em qualquer lado, a propósito das mais variadas situações.

Este país aguenta tudo o que certos cidadãos lhe colocam em cima, convictos de que são um exemplo de perfeição e um modelo de bom comportamento cívico e moral. Até podem ser qualquer coisa parecido com isso mas, o que não são de certeza, é pessoas equilibradas dentro de uma sociedade com regras, onde as atitudes não devem ser doentiamente tendenciosas.

“Só neste país”, é uma frase que dá para tudo, para o bom e para o mau. Mas, é muito difícil essa frase exprimir um sentimento correcto, já que nenhum país do mundo é tão mau, no seu todo, como de igual modo nenhum será tão bom, que justifique esse exagero de apreciação e qualificação.

Também seria um exagero de expressão dizer que “só neste país” é que há viciados no mau uso da língua, mas que neste país há muitas línguas a precisar de uma boa escovadela, lá isso é verdade.

Este país só teria a ganhar.

 

23 Jun, 2008

Palhaçar

 

 
 
Anda por aí muita gente a palhaçar… Perdão, este verbo não me soa bem. Será que ele não existe? Se não existe, devia existir, pois evitaríamos dizer duas palavras para o substituir: fazer palhaçadas.
Depois dizem que temos a língua comprida. Nem podia ser de outra maneira, por causa destas e de outras esquisitices gramaticais, que nos obrigam a estendê-la cada vez mais.
Porém, também já nada se resolve sobre esse assunto, pois isso de rever a gramática é muito mais complicado do que rever a Constituição da República, devido a todos aqueles que gostam da má língua. Mas isso agora não vem a propósito.
O mundo precisa de muitos e bons palhaços, porque o moral das tropas anda muito por baixo.
Falando de palhaços logo se pensa em circo. É aí que temos o gosto de os ver de tempos a tempos, especialmente nas quadras festivas. É pouco, muito pouco para quem tanto precisa de rir e sair do ambiente macambúzio que nos dão as televisões, sempre a martelar nos mesmos temas, propostos pelos mesmos chatos de todas as noites. 
É claro que também há quem lhes chame palhaços, o que não é correcto, além de não ser justo. O seu a seu dono, apesar de estar cada vez mais na moda, o mau hábito de tentar ter graça à custa dos disparates que se atiram para o ar. É o que acontece com esses chatos.
É que o riso que os chatos nos provocam não tem nada a ver com o riso que vem dos palhaços.
Era bom poder substituir todos os chatos por palhaços, para que o moral das tropas pudesse subir até ao rosto.
Nós, que somos as tropas, apenas nos vemos envolvidas em guerras que não nos dizem respeito, em teatros de operações que têm cenários virtuais em excesso.
Por isso, com toda a humildade e em posição de sentido, pedimos aos senhores oficiais, e até a alguns sargentos, que troquem esses teatros de operações por circos de boa qualidade, com um bom elenco de palhaços, cómicos a sério, porque as tropas precisam de rir, antes que desatem a chorar.
 
 
 
20 Jun, 2008

Desenganem-se

 

A criminalidade está a provocar uma onda de reacções que pode levar muito boa gente a pensar que se trata de um fenómeno de uma determinada conjuntura política, bastando algumas medidas simples e fáceis para a reduzir ou até eliminar.
Fala-se muito na qualidade e quantidade de polícias, nas penas mais leves ou mais pesadas para os delinquentes, mas, sobretudo, fala-se de tal modo que se cria um clima de medo muitas vezes mais preocupante que a própria criminalidade.
É uma realidade que ela existe, tal como é uma certeza que ela vai continuar a existir e, muito provavelmente, vai aumentar, independentemente dos ministros e dos governos, a quem compete fazer esforços para a combater, dando os meios necessários a quem está no terreno. Mas, não se peça o milagre da sua erradicação, só porque isso dá votos ou simpatia. Desenganem-se os semeadores de ilusões. Desenganem-se os que acreditam neles.
Não pode estar um polícia à porta de cada um dos estabelecimentos assaltados, ou junto de cada pessoa vítima de assalto, muito menos se pode varrer os criminosos á metralhadora, ou brindá-los com prisão perpétua ou a pena de morte, como alguns pretenderiam. Mas podia substituir-se o desvario da repetição noticiosa dos crimes até à exaustão, ao longo de muitos dias, pelo aconselhamento e esclarecimento dos incautos, como forma de não serem ingenuamente surpreendidos em muitos casos. 
16 Jun, 2008

A língua

 

 

 

Nós, humanos, cada vez mais ouvimos gente a falar de um modo que constitui autênticas manifestações de violência e agressão, através de pequenos rancores, que não passam de pequenas ou grandes raivas e ódios que facilmente descem da mente até à boca, de onde irradiam em todas as direcções.

Felizmente há pessoas que dá gosto ouvir falar, tal o interesse dos temas que abordam e a simpatia que lhes sabem misturar através de um tom de voz ameno e de um sorriso permanente nos lábios.

A estas pessoas apetece dizer que não se calem, que falem muito, que não se cansem de dizer aquilo que nunca nos cansaremos de ouvir.

Que digam tudo o que nos leva a viver, antes que chegue o momento de morrer.

Há quem passe a vida a falar de fantasmas, porque nunca gostou da vida que não soube ou não pôde construir. E há quem, durante uma vida inteira, nunca se tenha apercebido que chegará o momento de pagar todos os erros e maldades que a morte julgará em última instância, sem apelo nem agravo.

Então, não restará tempo para falar da vida inútil ou da vida de excessos, porque a língua se prenderá definitivamente.

 

 

 

05 Jun, 2008

Governar bem

 

 

Certamente ninguém acredita que não haja uma maneira de governar bem. Mesmo que seja difícil encontrar o modo de o fazer, não cabe na cabeça de qualquer cidadão, por mais abúlico ou mais activista que seja em relação à política, que não tenha lá dentro de si, um evidente ou remoto convencimento de que os governos só não governam bem porque não lhes interessa.

Será tudo uma questão de interesses, e não haveria maneira mais simples, que os governos abdicarem dos seus próprios interesses, com os quais todos os opositores estão em desacordo. Os governos devem, portanto, aceitar de bom grado os interesses dos outros, como forma de não serem acusados de arrogantes, autoritários e outros epítetos bem mais estimulantes.

Assim, qualquer governo pode governar bem, se as suas propostas e as suas decisões tiverem em conta os seguintes requisitos indispensáveis:

A soberana vontade do partido que o apoia;

A sensata sabedoria do maior partido da oposição;

A justeza do bom senso do segundo maior partido da oposição;

A esclarecida lucidez do terceiro maior partido da oposição;

A clareza mental do quarto maior partido da oposição;

A especificidade opinativa do quinto maior partido da oposição.

E fiquemos por aqui para não tornar os problemas complicados, porque até aqui tudo é simples, fácil, límpido e transparente.

Será assim tão difícil agradar a todos? Será assim tão difícil governar bem?

É óbvio que não!...

 

 

 

04 Jun, 2008

Os piores do mundo

 

 

Todos os dias somos brindados pela comunicação social com estatísticas de proveniências diversas sobre a nossa cotação nos mais diversos domínios da nossa existência como país.

A avaliar pela realidade divulgada, da qual não se duvida, somos do piorio como povo, tanto entre os nossos parceiros europeus, como nos rankings mundiais de qualquer coisa. De qualquer coisa que nos é fornecida.

Desde o “analfabrutismo” até ao tamanho do pénis, passando pelo medo que os governantes nos “trafulhem”, parece que não temos concorrência, e isso provoca um sentimento de menoridade. Talvez até um complexo de inferioridade.

Afinal, podiam dizer que somos dos povos mais acolhedores, que temos desportistas de elite que países grandes não têm, que temos o sol e as praias mais convidativas do “mundo e arredores”, ou os vinhos mais resistentes às “provas da ASAE”.

Mas quem é que podia dizer coisas destas? Claro, que só podiam ser as pessoas que dizem coisas daquelas. Não é que trocassem umas pelas outras. Nada disso. Nunca se deve ocultar a verdade, tal como nunca se  deve ocultar outras verdades, que repõem equilíbrios de análise e evitam visões distorcidas de apreciações isentas e sérias.

Tudo isso tem a ver com profissionais a sério, que são muito poucos, e “desenrascas” que pouco mais sabem que ler o que lhes metem à frente dos olhos. Mas são esses que fazem perguntas estúpidas a gente competente e conhecedora, e tiram depois conclusões de levar as mãos à cabeça.

Ora aí está uma estatística interessante que nos falta, para avaliarmos a nossa posição em termos de ranking da qualidade da informação. Sim, porque não parece que o “analfabrutismo” seja apenas de quem ouve, vê ou lê.

 

03 Jun, 2008

Esquerda direita

 

 
Uns dizem que são de esquerda, outros dizem que são de direita. É claro que eles sabem bem do que falam. Contudo, se forem  normais, todos têm uma face esquerda e uma face direita, um pé direito e um pé esquerdo, etc. Até os futebolistas que jogam à esquerda marcam grandes golos com o pé direito, enquanto os políticos de direita armam a todo o momento em defensores dos pobre-zinhos. Mas os políticos de esquerda também piscam muito o olho aos rica-lhaços.
Nada de anormal, se considerarmos que a vida é o centro de todas as loucuras. Até os militares ensinam aos recrutas que devem virar à esquerda ou à direita, consoante a voz de comando, durante a instrução. Fora dela, não sei.
Mas sei perfeitamente que até na vida civil, ouvimos vozes de comando que não passam de autênticas piadas de caserna, até porque muitas vezes vêm de cabos e sargentos que nunca tiveram divisas nos ombros. Fico sem saber se terão alguma coisa na cabeça.
 

 

Está na moda dizer mal dos políticos. Está na moda bater verbalmente nos governantes. Está na moda dizer que está tudo mal. Sobretudo, está na moda usar uma linguagem suja quando falam uns com os outros, ou uns dos outros, e quando simples cidadãos se referem a todos, em geral, ou individualmente.
Sempre ouvi dizer que o respeitinho é uma coisa muito bonita. Pois é. Mas já não se usa.
Todos os políticos são cidadãos. Seja qual for a sua função, na oposição ou no governo. Foi o voto popular que determinou essa diferença entre eles. Ser mais votado ou menos votado, não dá direito ao insulto.
Quanto aos que votam, ou nem sequer votam, não se percebe o desespero, a raiva até, com que mimam tudo, todos, e até o próprio país. Os que votaram mal, da próxima vez, pensem mais e votem melhor. Os que nem sequer votaram e dizem que não vale a pena votar, porque os políticos são todos iguais, então, arranjem maneira de se candidatar, para porem as coisas ao seu gosto, se conseguirem convencer alguém do seu bom senso.