Li há dias num semanário de província, uma tirada costumeira de um contador de episódios familiares ao nível da sua prosa. Começava por elogiar a competência da filha mais velha numa carreira profissional desempenhada exemplarmente no país vizinho. Prosseguia depois, dizendo que o nosso país estava entregue a um governo do qual o primeiro-ministro, apesar de tudo, ainda era o menos mau, no meio de tantos ministros palermas.
Bom, de palermice, cada um toma a que quer, para si e para distribuir pelos outros. Mas, muito mais interessante que os palermas e as palermices, era o fim da tirada, em que concluía que, como isto anda, mal por mal, que venham os espanhóis tomar conta disto.
Logo me lembrei que o cronista até era capaz de ter alguma razão, no que toca à sua situação concreta. Por associação de ideias, ocorreu-me a falta que fazia cá um tal Garzon, que muito contribuiu para que a Espanha seja um país muito mais limpo do que fora nos tempos que o precederam.
É claro que nós por cá, conhecemos bem o Baltazar dos Reis Magos, mas Garzon, ainda não é tão conhecido como Maria, não a do presépio, mas aquela que gostaria de fazer em Portugal, o que Garzon tem feito em Espanha.
Até eu gostaria de saber porque razão Maria ainda não consegue mais que marcar passo em muitos dos trabalhos que tem entre mãos. No entanto, como todos os portugueses, também tenho as minhas ideias, não necessariamente concordantes, como é óbvio.
Garzon já leva muito tempo de avanço a Maria, logo, o trabalho lá, está muito mais adiantado e o caminho quase limpo, de modo a progredir com muito mais facilidade. Maria está praticamente no início de uma vereda rodeada de silvados, tendo como piso uma infinidade de pedregulhos que a obrigam a tropeçar a cada metro que avança.
Não precisamos de palermas, ou patetas, ou pró espanhóis, que nem sequer se lembram que podiam cair na alçada da agenda de Garzon, já que Maria ainda não teve tempo sequer, de saber onde é que eles estão, para depois ir lá buscá-los. Ou, no mínimo, ir lá perguntar-lhes o motivo porque sendo tão inteligentes, ainda não conseguiram sair da palermice mental, que lhes atrofia a capacidade de trocar de funções com os palermas que tanto detestam.
Garzon lá e Maria cá, estão de olho em todos aqueles que gostavam de trocar de país, mas não têm a coragem de dar o passo definitivo. Falam, falam, mas lá vão comendo o melhor que podem, desejando sempre que não lhes cortem as papinhas que tanto medo têm de perder.
Tenho a convicção de que Maria já foi a Espanha, tal como Garzon já veio a Portugal. No entanto, nem um nem o outro, querem trocar de país, certos de que as tarefas que têm pela frente, ele lá, ela cá, estão longe de lhes dar tranquilidade. Mas eles até já conversaram sobre tudo isso.
Portanto, ambos sabem perfeitamente, que as aves de rapina sobrevoam a fronteira a todo o momento, à procura do melhor contrabando da ocasião. Mas, atentos aos contrabandistas de hoje, lá, estará Garzon, e cá, estará Maria.