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afonsonunes

afonsonunes

31 Mar, 2009

Força para onde?

 

 
 
 
Segundo as leis da física, é muito mais fácil e cómodo fazer força para baixo, que para cima. Talvez tenha sido por isso, que alguém se lembrou de inventar a roldana, a qual permite inverter o sentido da força braçal dispendida.
A verdade é que, tanto a roldana como a força braçal, foram perdendo importância, por causa da força criativa da mente, que foi trazendo máquinas e mais máquinas para descanso dos martirizados braços.
Apesar disso, continua a haver mentes inconformadas, daí que não esqueçam essa coisa da força para cima e da força para baixo. E lá continua a haver gente que gosta de puxar para cima e gente que gosta de puxar para baixo.
E, curiosamente, vai havendo aplausos para todos. Desportivamente.

 

 

 

 

 

 

 

Durante o Inverno, as formigas não serão pisadas pelo dono da quinta, nem farão continência a qualquer outro dono de qualquer coisa. Elas não saem do buraco e eles, todos eles, não entram num buraquinho daqueles.

Porque será que eles não conseguem recrutar estas formigas, de modo que fiquem ao seu serviço como voluntárias?
Tão trabalhadoras, tão silenciosas, tão disciplinadas, sem salário, sem férias, sem reclamar. Haverá gente assim? 

 

 

 

 

 

Dia negro na família
Um problema na nossa família é uma coisa muito séria, diria mesmo que pode ser um drama de todo o tamanho, ou um acontecimento definitivamente demolidor. Mas, se o problema for na família dos outros, então isso, o mais que pode é espicaçar-nos o instinto para lhe acrescentarmos mais uns problemazinhos, de modo a ganharmos o estatuto de velhinha que está sentada na soleira da porta de casa, fiando ao sol de inverno, na remota aldeia do interior raiano.
Como a cena se passa na zona da raia, até convém passar a fronteira, para saber o que nos dizem do lado de lá, sobre o que nós fazemos do lado de cá. Sim, porque nós somos todos uns nabos que só confiamos na sensata palavra dos nossos vizinhos, ainda que seja sobre assuntos da nossa família mais próxima.
Malaquias, homem sério e modesto trabalhador, passa as horas de folga a caminho do país vizinho a fazer as compritas banais do dia-a-dia, como encher o depósito da motorizada, comprar uns chispes, uma couve-galega, uma onça de tabaco, uma caixa de fósforos e, às vezes, umas gambitas e uma lata de cerveja. Diz que assim ganha muito dinheiro.
Porém, há dias, o homem vinha de lá completamente transtornado, tanto que nem meteu as gambas e a cerveja no frigorífico, porque ao chegar a casa dirigiu-se logo à mulher, indignadíssimo, perguntando-lhe quando é que ela se tinha metido na cama enquanto ele fora às compras. Claro que a mulher ficou a olhar para ele, sem saber se estava a ser acusada de preguiçosa ou de andar a dormir fora de horas.
Oh mulher, disseram-me que te meteste na cama com um homem, enquanto eu fui descansadinho às compras. Estás parvo ou quê? Respondeu ela vermelha que nem um pimento.
Isto, já de si parece um drama, mas a verdade é que, depois de uma acesa troca de informações, indispensáveis a uma conclusão razoável do conflito, Malaquias ficou entalado entre a nega da mulher e a certeza que lhe garantira o denunciante, que ele até nem conhecia de lado nenhum, e que receava bem não voltar ver.
A mulher bem lhe lembrou se ele acreditava mais na palavra de um desconhecido, do lado de lá da fronteira, do que da palavra dela, companheira de largos anos já decorridos na companhia um do outro. Malaquias pareceu reagir favoravelmente a este argumento.
Mas, no dia seguinte, o Tó da tasca da aldeia perguntou-lhe se ele já dissera à mulher que ia divorciar-se. Eu? Sim, tu, Malaquias. Então não estás farto de saber aquilo que toda a gente da aldeia já sabe?
Ficou abananado, o bom do Malaquias. Mais ainda, quando entrou uma velhota de nariz arrebitado, que lhe atirou à cara, se ele ainda estava em casa com a mulher. Uma coisa destas nunca aconteceu nesta terra, Malaquias. Vê bem. Pensa bem. O povo já não pode olhar para a tua mulher.
O homem dirigiu-se para a porta da tasca sem dizer palavra. Reflectiu um pouco. Depois, serenamente, voltou-se e perguntou, quem é que tinha uma só prova de que isso era verdade. Toda a gente fala nisso. Queres melhor prova? A velhota estava azeda e o taberneiro acenava com a cabeça.
Malaquias virou-lhes as costas. Voz de burro não chega ao Céu, pensou, tal como a voz do povo, nem sempre é voz de Deus. E foi para casa ao encontro da mulher, que devia estar a precisar do seu apoio.      
 

 

Como o nível do debate político anda muito por baixo, também podemos baixar o nível das nossas palavras, tal como já o fez muita gente que anda nestas andanças, por gosto ou por profissão. É por isso que utilizo a palavra pá, que é um termo de difícil caracterização, embora de uso bastante corrente.

Se falarmos de pá e vassoura estamos a pensar em limpeza, coisa que nunca é demais realçar, sobretudo quando há falta dela. Dirão que isto, afinal, não é política, como seria suposto deduzir-se do título desta escrita. Penso que, se há coisa que mais precise de limpeza, é exactamente certa política que se atravessa diante dos nossos olhos.
Nesse caso, antes da pá, tem de entrar em acção a vassoura, que faz aqueles montinhos, maiores ou menores, que depois passam a ser recolhidos pela pá. O problema está em fazer os montinhos. ‘Oh pá, isso é muito difícil’. Simplesmente, porque ninguém se acha em condições de ir parar aos montinhos, que são uma das fases da limpeza, onde não entram os aspiradores.
‘Isto é intolerável, pá’. Diria um sujeito que eu cá sei, quando se visse na eminência de fazer parte de um montinho. Eu responderia com toda a calma, sem qualquer tipo de constrangimento que, ‘isso é chato, pá’, mas quem anda à chuva molha-se e, que eu saiba, para a língua ainda não existe guarda-chuva.
‘É a vida, pá’, e eu não compreendo lá muito bem porque razão se fala tanto de montinhos, dos quais nem sequer se conhece a composição, mas sabe-se que quanto mais se mexe neles mais mal cheira, deixando a convicção de que já há gente que corre graves riscos de ter de engolir aquilo que já tresanda de podre e de fedorento.
‘Pois é, pá’, o pagode até gosta de ouvir umas patranhas de vez em quando, para animar a malta que anda chateada de não acontecer nada que não cheire a perfume barato, mas perfume, que não é nada que se compare com essa coisa dos montinhos, que depois a pá recolhe, para não falar em outros montes que vão para outros lados.
‘Com caraças, pá’, já não há mais nada para dizer, nem para ouvir, que não vá dar sempre à idade da pedra. Mas é daquela pedra que é parecida com os calhaus que um dia apareceram à face da terra, a dizer que o tempo estava de trovoada. E vai daí, ainda não deixaram de produzir faíscas, a imitar relâmpagos que, embora de vez em quando sosseguem por uns tempitos, volta não volta, lá vêem novamente com a trovoada e com as faíscas. Que nem sequer mudam de cor e nunca mais chegam a ser relâmpagos a sério. ‘Eh pá’, assim não dá para a gente acreditar no ribombar do trovão, se um dia for a sério.
‘Chiça, pá’, tempo chato p’ra caraças. A gente até gosta de saber quem é que anda a fabricar chatices que dão origem às trovoadas e às faíscas dos tipos da idade da pedra, que nunca saem da mesma caverna. Mas, também, não abusem de nós, sem darem uma espreitadela pelo buraco de entrada, e verem se realmente há trovoada ou não.
´Pois é, pá’, se vocês não sabem nada cá de fora, não se deitem a fazer faíscas aí dentro, senão correm o risco de destruir a caverna, com alguma explosão dos vossos próprios gases.
Vamos lá ver quem é que, no fim, diz: ‘porreiro pá’. Mas, para já, ‘assim não vale, pá’.
 
27 Mar, 2009

Tem de ser verdade

 

 
Então não é que se descobriu agora que o homem comprou uma casa a pronto pagamento? Se outras provas não houvesse, esta é decisiva para justificar o uso de luvas, depois de pagar o valor do imóvel com dinheirinho contado na hora. Toda a gente sabe que o dinheiro é uma coisa suja, que anda de mão em mão, como as pombinhas da ‘catrina’.
Portanto, está devidamente provado que, com as luvas calçadas, pagou a casa a pronto. Não é preciso ser grande investigador, ou detective, como o Sherlock Holmes, símbolo dos bons, ou melhor, dos excelentes investigadores criminais ingleses, que já deram vários bigodes aos discretos investigadores portugueses, no dizer de uns excelentes investigadores de investigadores.
Não há nada como ser bom e nós, portugueses, temos uma plêiade de autênticos artistas da antecipação, quando decorrem investigações que metam investigadores portugueses e ingleses. É assim uma espécie de guerra norte-sul, quando se trata de julgar qualquer conflito entre nortenhos e sulistas, pelos distintos julgadores prematuros.
Mas, agora, não quero julgar nada nem ninguém, porque também comprei uma casa a pronto pagamento e estou cheinho de tremeliques, com receio de que descubram essa minha trafulhice. E, ainda por cima, já não me lembro se usei luvas quando passei o cheque, embora não seja tão sujeito a contaminações como o dinheiro contado nota a nota. Nessa altura, o cheque ainda não estava tão careca como agora. Coisas dos tempos.
Pois é verdade. Quem comprou uma casa a pronto pagamento vai ter de se haver com prolongadas e penosas investigações que, inevitavelmente, levarão o seu tempo, o tempo da justiça que, só não será muito mais demorada, porque quase toda a gente comprou a casa a crédito e, algumas delas, para não dizer muitas, já foram devolvidas por causa da taxa euribor. Ser sério, sério, é comprar a crédito.
Neste momento, o país está cheio de gente que tem pena daquele homem que comprou uma casa a pronto pagamento, pois sabe perfeitamente que ele caiu numa armadilha montada pelos promotores de vendas a crédito, como retaliação pela mania das grandezas, daquele homem que tem de andar sempre de luvas enfiadas, porque cumprimenta gente que não costuma lavar as mãos.
Em contrapartida, há quem pense que ele anda sempre de luvas, porque tem as mãos sujas e, assim, não deve contaminar as mãos que tem de apertar a toda a hora, em reuniões de cumprimentos sem fim. É a eterna guerra das luvas, umas baratinhas, outras de valor muito elevado. Algumas atingem mesmo verbas exorbitantes, que não estão ao alcance de algibeiras portuguesas. É por isso que aparecem os ingleses, cheios de libras atafulhadas por todos os bolsos.
Nunca percebi estas polémicas à volta de luvas, pois no Inverno, vá que não vá. Está frio que se farta. Mas no Verão, com o nosso calor tórrido, alguém pode pensar em luvas? Sinceramente, só aquelas pessoas que já nasceram de luvas enfiadas nas mãos. Algumas delas, também andam sempre de gorro enterrado até às orelhas, o que as leva a ouvir só o que lhes interessa.
Como se sabe, os gorros são as luvas que andam na cabeça de muita gente. 
   

Esta coisa da pressão tem muito que se lhe diga e faz-me alguma confusão, ao pensar em quem é que a pode fazer, e quem é que tem de estar calado, aguentando tudo o que os outros queiram dizer, para não estar a fazer pressão a seu favor. É uma teoria que tem vindo a subir de tom, nos meios que mais envenenam o país, com a sua pressão nos media.

Comecemos pela ‘sindicalite’, que é uma doença que tem muita aceitação mediática, com vista a manter-nos atentos, não à pressão que eles fazem, mas às supostas ou imaginárias pressões, vindas de outros lados, que não lhes saem da cabeça.
O que vemos e ouvimos diariamente, são pressões em todas as direcções, no sentido de levar os decisores privados, públicos e, sobretudo, governamentais, a não exercerem os seus direitos e os seus deveres, exigindo que falem, que se expliquem, censurando depois o que dizem, com o argumento de que mentem, pressionam, fazem propaganda contrária aos interesses dos ‘pressionantes’ e, dizem eles, apenas tentam enganar toda a gente.
Eles avisam, eles ameaçam, eles boicotam, eles incitam ao não cumprimento de leis da república, eles têm o privilégio de poder ser inconvenientes, sempre pressionando.
Passemos à ‘partidarite’, que está de tal maneira enraizada nos portugueses, que até mesmo aqueles que se dizem imunes à sua acção corrosiva, não resistem a insistir em factos ou não factos, tendentes a fazer a defesa da sua mentira encapotada. Tudo o que dizem ou fazem, é exercer pressão sobre quem os ouve, para vender a sua doença.
Todos os partidos dizem ter muita força no país, todos falam em nome dos portugueses, todos sabem o que é melhor para todos nós. Só que nós, não conseguimos ouvir nem perceber tão úteis intenções, talvez porque eles não consigam exprimir-se em termos de gente com bom senso. Ou talvez nós não tenhamos o dom de ouvir tão culta linguagem.
Finalmente, temos a ‘clubite’, na qual o clube se assemelha muito a um partido. Tanto um como o outro, quando está em grande, é uma maravilha, não falta dinheiro, não há tristezas, mas há muita pressão para que tudo se mantenha assim, até ao findar da vida.
É uma doença contagiosa e altamente sujeita a riscos de toda a ordem. A violência verbal é o menor dos males que pode atingir os doentes mais moderados, mas a violência física já matou em muitos estádios. Agora, já há quem nos aconselhe a não sair de casa, se não gostarmos do que lá se vê.
Depois, a clubite é uma doença que discrimina. Toda a gente pode criticar tudo e todos no país, excepto se as críticas forem de jogadores ou dirigentes de clubes, para os árbitros ou seus dirigentes. Gente privilegiada esta, que tem mais honra que os mais altos representantes dos portugueses, pois a estes todos podemos criticar.        
Estas são três doenças graves, com gravíssimas consequências para o normal funcionamento da democracia. Digo, desde já, que não penso sequer que sindicatos, partidos e clubes não deviam existir. Muito menos pretendo desprestigiar, nessas instituições, tudo o que nelas funciona bem, e que é de utilidade insubstituível para o país e para os portugueses.
Digo, finalmente, que as doenças referidas, apenas dizem respeito aos doentes. Mas, acrescento que eles, esses doentes, estragam a democracia e a qualidade de vida do país. E, já agora, se tanto querem a verdade em tudo, então, primeiro, parem com a mentira. Senão, além de pressionados, também acabamos envenenados.
 

Para isto ser o resultado de um jogo de basquetebol era preciso que ambas as equipas fossem muito boas, diria mesmo excelentes, pois conseguir duzentos e vinte nove cestos num só jogo, seria obra. Obra de grandes artistas que quase nem teriam tempo de ir tanta vez de um cesto ao outro, quanto mais de falhar alguma tentativa.

Mas isso era, se fosse aquilo. Mas não é, porque aquele resultado aconteceu num jogo bem menos limpo que o basquetebol, onde aparecem umas escaramuças de vez em quando, é verdade, mas nada que brigue com a estrutura moral dos jogadores, nem com os seus deveres profissionais perante os clubes a que pertencem. É que ali, no basquetebol, a bola é redonda e aquele resultado só foi possível porque foi jogado com bola quadrada, num hemi poli desportivo.
Não se pode exigir um bom jogo, se os jogadores não atinarem com a bola, que nem sequer é oval, já de si difícil de agarrar, quanto mais quadrada, e perseguida por artistas que nem todos têm o mesmo sentido de posicionamento nos seus lugares, de modo a defenderem-se dos ataques adversários, e contra atacarem com coesão e companheirismo, única forma de combaterem com eficácia a união da defesa contrária.
Quando há um resultado assim, começamos logo a pensar em golos metidos na própria baliza, peço perdão, no próprio cesto, e até em lançamentos de costas, para aqueles jogadores que não são capazes de jogar frontalmente, isto é, voltados para o aro onde deviam encestar.
Depois de todo esse esforço contra natura, perdão, contra a sua equipa, é uma tremenda frustração verificar que perderam uma boa oportunidade de não andarem disfarçados com camisolas que dizem servir mas que, em boa verdade, tudo fazem para ver se conseguem derrotar. E é também uma grande frustração, verificar que, afinal, foram eles que saíram derrotados.
É caso para dizer que não há duas sem três, pois já haviam perdido os dois últimos encontros. Agora pode dizer-se que perderam os três, e vamos lá ver se a coisa fica por aqui, pois parece que a lição não tem maneira de ser aprendida, por mais aulas que resultem em furos, e por mais aulas de substituição que sejam decretadas.
É capaz de ser uma questão de insucesso desportivo de equipas mal preparadas, com técnicos de trazer por casa, que não são capazes de fazer o trabalho dito de casa, indo depois para o jogo, a fazer de conta que os adversários não sabem fazer contas, porque se esqueceram da calculadora em casa.
Neste desporto, que consegue resultados de cento e dezasseis contra cento e treze, é tudo muito complicado. Fala-se muito de arbitragem, principalmente, de verdade na arbitragem. Sim, verdade de que o próprio árbitro se reclama grande defensor, mas depois não apita quando há cestos a mais em posição irregular, perdão, de costas para o aro, onde as suas bolas não deviam entrar.
Isto é assim em todos os jogos. Há sempre quem diga que os resultados são falseados.
 
24 Mar, 2009

O senhor Abana

Este senhor existe hoje em muitos países do mundo inteiro, em consequência da eleição do novo presidente dos US of América que, sem dúvida, pôs quase todo o mundo a abanar. Não de medo, certamente, mas de esperança no fim das ‘brusharias’, e na convicção de que o poder do povo se aproxime do poder do palácio.

Mas, é evidente que nem todos os Abanas se vão converter ao movimento, ou fazer um esforço mínimo que seja, a favor do povo que sempre ignoraram. Querem simplesmente aderir à ‘abanamania’, que eles pressentem, mas receiam, pensando que mais vale abanar o rabo à volta de uma moda, que ser acusado de ter ficado de rabo sentado, à espera que a moda passe.
Os Abanas optimistas, aqueles que acreditam em mudanças, provavelmente, esperam que o novo poder da América se espalhe até eles, por magia de um contágio milagroso, tão eficaz quanto aquele contágio financeiro que constipou o mundo. Correm o risco de se abanarem demais e demasiado cedo, antes de verem se os antigripais que vão ser testados lá, produzem efeitos animadores.
O senhor Abana será hoje o típico político correcto de todo o planeta, que está sempre em cima do acontecimento mediático, que felicita e divulga de imediato o texto das suas felicitações, tentando juntar às potenciais e conhecidas qualidades do felicitado, as suas próprias qualidades que julga ter, oferecendo a sua frutuosa colaboração.
A verdade é que, quando tomou posse o presidente agora retirado sem glória, também recebeu felicitações de muitos dos Abanas do presente, com os desejos de sempre. Também eu espero que desta vez seja tudo diferente, lá, cá e no resto do planeta, porque isso representaria um grande passo para o progresso da humanidade.
Se não houver guerras com base em sofismas, se for estimulado o primado do diálogo e do respeito mútuos, com repúdio pelo ódio e pelos interesses unilaterais, então tudo poderá vir a ser bem diferente. Mas, é preciso não esquecer que os interesses estão lá, porque os interesseiros são os mesmos de sempre.
Outros presidentes, como o agora eleito, levantaram a sua voz pelos mesmos ideais, contra os mesmos interesses. Todos sabemos o que lhes aconteceu, antes de terem tido tempo de realizarem os seus sonhos. Nem pensar que esses tristes acontecimentos se repitam, mas há sempre a possibilidade de outros acontecimentos, mesmo muito diferentes, matarem muitas das ilusões que enchem os ares de todo o mundo, a começar pela disposição e intenções, que estão no ar saudável e confiante que respira o seu autor.
É preciso que os senhores Abanas, sempre solícitos, venerandos e obrigados, vão aprendendo aquela linguagem, que não é nova, e não se fiquem apenas pela sua cómoda ‘abanamania’. É preciso que, depois de aprenderem as palavras-chave dessa linguagem, a ponham em prática no âmbito das suas atribuições, abolindo definitivamente a linguagem de tertúlia que sempre praticaram.
God save world, with help of president of USA. (Sorry, só sei português e muito mal amanhado).  

 

23 Mar, 2009

Braços de ferro

Quase todos os dias me chegam aos ouvidos notícias que dão conta da existência de braços de ferro, embora a idade com o nome deste metal pesado, já tenha passado à história. Não porque ele já tenha caído em desuso mas porque, presentemente, há vários materiais de substituição, com evidentes vantagens e benefícios.

Numa época em que já há corações de plástico, mal se compreenderia que ainda continuássemos a ter braços de ferro que, além de serem demasiado pesados, se tornam bastante caros, devido à energia que é preciso gastar para os moldar. Basta recordar a velha forja do ferreiro que se esfalfava a malhar em ferro frio sobre a bigorna que só conhecia o martelo ruidoso.
Tal como já não se vêem pernas de pau, mas piratas ainda há, também não se admite que ainda haja quem sustente braços de ferro, só porque não quer perder aquelas velhas tradições de marretas teimosas, que tanto nos moíam o juízo.
Por vezes, pergunto a mim próprio qual o motivo porque esses simpatizantes e aderentes ao braço de ferro, ainda não repararam que o alumínio, por exemplo, tem uma textura completamente diferente, podendo proporcionar um conforto muito superior ao ferro, desde logo, pela sua cor e brilho, muito mais agradáveis.
Mesmo assim, ter um braço de alumínio ainda fica a perder de vista em relação a ter um braço de plástico, que até pode ter a cor que se desejar. E, bem vistas as coisas, não me custa a acreditar que o mercado tenha outros produtos mais caros, para clientes igualmente mais caros. A única desvantagem destas carestias, é que se perderia aquela imagem que a gente tem de um bom braço de ferro.
Parece que não tardará a aparição de lutas entre braços de ferro e braços de plástico e aí, bem nos podemos preparar para ver muitos braços de gesso, aumentando ainda mais as desigualdades braçais, embora com a vantagem de os braços de ferro não se prolongarem no tempo, só porque o ferro pode torcer mas não quebra, enquanto o plástico pode quebrar mas não torce.
Pessoalmente, estou convencido que acabará por chegar o tempo em que ninguém poderá impor braços de ferro a ninguém, porque nós, que felizmente ainda só temos braços de carne e osso, temos o dever de mandar todos os braços de ferro para o sucateiro mais próximo da nossa residência, antes que ganhem ferrugem. Mas isso só acontecerá quando nós formos capazes de cumprir as leis que fazemos, através de quem tivermos mandatado para tal.
Quanto aos braços de plástico, sou de opinião que eles devem continuar a existir, mas apenas naqueles brinquedos para crianças, como bonecos e bonecas de todos os tamanhos e feitios, desde que possam ser mordidos por gengivas com dentes, ou sem dentes, sem o perigo de provocar hemorragias. Tudo como manda a lei.
Portanto, daqui faço um apelo veemente a quem ainda goste de braços de ferro, que se reconverta, que se recicle, senão ainda acaba na sucata dos arredores.
22 Mar, 2009

Assim não, prima

 

Já é a terceira vez que tenho de chamar a minha prima Ambrosina a estas andanças, que ela diz que detesta mas, volta não volta, lá faz a sua perninha de marotice. Já o disse anteriormente, por duas vezes, e repito agora, que a minha prima é um espanto de mulher. Diz assim umas coisas que, normalmente, há quem se evite de dizer. Depois, em contrapartida, lá sai uma argolada que a faz meter as mãos na boca e roer as unhas até sentir o gosto a sangue quente.
Então, não é que me pediu agora para lhe arranjar uma maneira de a ajudar a ir para Inglaterra, porque se lembrou de que tinha de ir lá esclarecer umas coisas que andam aí muito na berra. Fiz-lhe ver que isso era muito caro para a bolsa dela pois, provavelmente, a avaliar pelo que se tem passado, poderia ter de ficar por lá uns quatro ou cinco anos.
Além disso, informei-a de que já lá estava uma portuguesa, pelo menos, a tentar fazer o mesmo, e que até agora… nicles. Não senhor… Nada disso… Respondeu-me ela com grande alvoroço. Eu sei que ela já sabe quase tudo. Por isso é que eu tenho de ir com urgência, descobrir o resto, senão ela acaba por se antecipar e descobre o que eu penso que é mentira. Ora, o que eu quero é descobrir a verdade.
Como é fácil de imaginar, fiquei para morrer com esta revelação. Mas, havia mais. Ao fazer-lhe uma previsão dos gastos diários, a pedido dela ouvi, com mais espanto ainda, que também tinha de levar a mãe, precisamente, a minha tia Felicidade. Mas, porquê? Oh primo, então achavas bem que a tua prima fosse para Inglaterra sem a tua tia? O que não se diria em Portugal…
Tentei fazer-lhe ver que ninguém diria nada, até porque a minha prima Ambrosina não é assim tão conhecida, senão na aldeia onde vive com a minha tia, Felicidade de seu nome. Não sei porquê, mas este nome nunca me soou lá muito bem. Acho que tem letras a mais.
Não, querido primo, ripostou ela, eu e a minha mãezinha, tua tia, ainda somos do bom tempo. Uma senhora sozinha, em Lisboa ou em Londres, daria logo azo a maus pensamentos e, sabe-se lá, até podiam chamar-me cabrinha. Há gente tão mal intencionada. Mas, o que eu queria, primo, era que me adiantasses a massinha suficiente para a estadia, pois para as viagens a gente arranja por outro lado.
Por outro lado, priminha, qual lado? Vamos lá ver se me estás a querer meter numa embrulhada qualquer. Sabes bem que eu não sou dessas coisas. Além disso, eu não ganho para despesas dessas. Sabes que eu até ganho pouco, tendo em conta as chatices que tenho. É melhor desistires dessa ideia, prima.
Isso nunca, meu querido primo. Nem eu, nem a tua querida tia, vez alguma, deixaríamos que essa tal, que anda por lá sozinha, viesse para cá dizer coisas que nunca viu. Isso nunca. A verdade tem de ser descoberta, mas é por mim, Ambrosina, tua prima que nunca dirá mal de ti, nem cá, nem na Inglaterra.
Que havia eu de fazer? Família é sempre família, seja em Lisboa, seja em Londres

 

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