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afonsonunes

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A senhora Leite está desconfiada que o senhor Sócrates a anda a enganar com os negócios que ela gostava de poder controlar e, sobretudo, anda desconfiada que o senhor Sócrates se transforme em director geral da TVI, mandando para o Benfica o senhor Moniz, que até esteve bem perto de lhe fazer a vontade.
O senhor Feio está desconfiado que o senhor Sócrates altere a linha editorial da TVI, quando mandar embora o senhor Moniz. O senhor Sócrates está desconfiado que o senhor Feio quer proteger o senhor Moniz, para garantir que este continue a dizer mal do seu inimigo de estimação.
A senhora Leite tem a certeza absoluta que o senhor Sócrates sabia do negócio, mas o senhor Granadeiro e o senhor Sócrates pretendem demonstrar que ela anda apenas desconfiada, ao afirmarem que nada disseram um ao outro. Daqui se conclui que estão todos a desconfiar uns dos outros. Não, isso de mentir é feio, para mais quando está uma senhora metida na tramóia.
Aliás, não sei porquê, mas a senhora está a demonstrar uma grande tendência para as desconfianças, já que me tem surpreendido muitas vezes, por não saber coisas que até eu sei. Sim, eu, que não percebo nada de nada. Mas ela, a senhora Leite, tem obrigação de saber tudo, vá lá, quase tudo, senão fica aquém do senhor Sócrates que, esse sim, sabe mesmo tudo.
Mas, voltando ao negócio das desconfianças, o senhor Silva, também está desconfiado que não há transparência, mais, nem tão pouco ética, coisas que, para ele e para a senhora Leite, são muito mais importantes que as coisas do senhor Loureiro e seus compadres do BPN.
O senhor Pereira deu a entender que dois vetos dizem muito mais que todas as desconfianças do senhor Silva, em matéria de transparência, e muito mais que todas as certezas absolutas. Fico sem saber se o senhor Pereira e a senhora Leite não estariam ambos a confundir-se com os desejos de maiorias absolutas.
Sinceramente, também eu estou desconfiado que o senhor Sócrates, receando ficar sem emprego lá para Outubro, já esteja a querer coligar-se com o senhor Moniz e com a senhora Guedes na TVI, porque o senhor Granadeiro, também já deve ter a garantia de que não vai ficar de fora, ao ser substituído na PT. E, para que tudo corra pelo melhor, na TVI, é necessário que a Prisa vá a correr para Espanha, que lá é que ela está bem.
Portanto, seus desconfiados e suas desconfiadas, se julgam que a guerra entre o senhor Moniz e o senhor Sócrates está perto do fim, vejam como ambos já estão do mesmo lado. O senhor Sócrates fazendo-se desentendido para que negócio vá em frente, e o senhor Moniz, concordando plenamente que o negócio não pare.
Depois de tudo esclarecido, como quer o senhor Silva, agora mais que nunca, para que a senhora Leite não ande mais desconfiada com o senhor Sócrates, só fica por saber, ainda, qual o lugar que os senhores Moniz, Granadeiro e Sócrates, vão desempenhar na cadeia de comando da TVI.
Certa é, com certeza, a linha editorial, que vai continuar, sempre em frente, contra o governo. Portanto, mais que desconfianças, já há algumas certezas.
25 Jun, 2009

'Suíno-cultura'

 

Sempre tive esta mania de ser muito transigente com todos os que não sabem fazer mais que chafurdar e lançar grunhidos para cima das pessoas, quando o instinto lhes diz que, sendo assim, toda a gente vai acreditar que são heróis e libertadores, atacando uma postura que está muito acima do nível da pocilga.
Muito claramente, quero dizer que estou a pensar nuns, para mim, ‘suíno-malabaristas’ que se pronunciam sobre política e políticos, colocando-se no patamar de deuses, de braços estendidos em direcção à terra, como se abençoassem ou excomungassem, quem muito bem lhes desse na real gana.
Deuses ou pobres diabos, para mim tanto faz, porque quem pensa que tem o privilégio de sujar os outros, com a excelência dos seus ‘suíno-pensamentos’, não passa de um charlatão de feira de vaidades que, na sua especialidade, nem chega aos calcanhares de vulgares vendedores de ilusões nos mercados municipais ao ar livre, ou à beira das estradas.
Todos sabemos daqueles que até os ouvem com agrado. Provavelmente, porque fazem como eles. Naturalíssimo. Mas, há aqueles que pensam como eu. Naturalíssimo também. Com uma diferença, também ela mais que natural. A malcriadice da maneira como aqueles se rebolam no chiqueiro, contra a naturalidade como estes aceitam críticas, tal como rejeitam rebolar-se sob a desculpa de que têm opiniões.
Mas, tem toda a lógica perguntar, por onde é que eles andam. É fácil encontrá-los, apesar de não serem muitos. Em jornais, em televisões, em rádios, em partidos, normalmente em secções em que pretenderão ser uma espécie de guardiões com super poderes.
Não sou um defensor de nada, nem de ninguém, que não esteja de harmonia com a minha maneira de pensar. E, confesso que não é fácil sentir-me satisfeito com o que penso ou digo, só porque simpatizo ou antipatizo com pessoas ou situações.
Contudo, como já referi antes, até transijo bastante com o massacre sistemático e prolongado, mesmo de quem não gosto, porque sei que isso dá um gozo mórbido, com muito sadismo à mistura, ou pretende agradar a quem garante uma situação de estabilidade no meio da mobilidade reinante.
As ideias combatem-se com outras ideias, que se julga ou pressupõe sejam melhores que aquelas que se pretende substituir, senão corre-se o risco de deixar cair a máscara que encobre o vazio de rostos indefinidos e inconsequentes.
 Como comecei por falar de ‘suino-cultura’, passando pelas respectivas pias, julgo que devo terminar a falar de grunhidos que, de algum modo, terão ditado esta atitude mais próxima da vianda que se vai lançando nas tais pias suínas.
Entre muitos dos citados ruídos que se ouvem, destaco um que me espevitou os tímpanos. A comparação de um governante português, ao ministro da propaganda de Saddam Hussein. Penso que não há propaganda partidária mais ‘suinária’, que a deste comentador  e, certamente, sucedâneo do ditador do velho Iraque. Para mais, alinhado com as posições do seu partido, em relação à guerra que ali nasceu, que ainda estamos a suportar e que ele, agora, de modo tão inteligente e limpo ainda recorda.
Aí vai outra que não é novidade entre tantas. Um colunista do DN oferece-nos a comparação de outro governante português, à mosca da televisão. É claro que a televisão tem muitas moscas. Entre elas, muitas moscas varejeiras, altamente virulentas, que deixam larvas onde poisam, estas, estranhamente bem aceites por esse oblíquo observador. O que é de estranhar, é o facto do colunista ainda não ter percebido que, ele próprio, para muita gente, é assim uma espécie de mosquito de jornal, quase invisível, sempre a tentar picar a mosca.   
Por hoje, não quero lembrar mais ‘suíno-dependentes’, nem mais ruídos adjacentes. Só espero que não queiram que seja apenas eu, a não grunhir, sempre que sinta necessidade de comunicar com aqueles que não percebem outro idioma.

 

É verdade que a minha vida mudou completamente desde que me disseram que era excelente manter sempre os braços no ar, com aquela atitude de quem sabe perfeitamente que os braços servem, essencialmente, para mostrar aquilo que sabemos fazer e, pelo contrário, demonstrar que há coisas que não sabemos, nem nunca poderemos fazer, sem os braços na devida e elevada posição.
Sim, a posição dos braços não é conversa fiada de quem sabe o que é trabalho, de quem nunca soube o que isso é, ou de quem gosta muito de ver trabalhar os outros e, melhor ainda, de quem manda trabalhar os seus mandados.
Sempre que posso, gosto muito de andar na rua, assim do tipo de fiscal à paisana, sem bloco de notas e sem televisão atrás, parecendo aquilo que não sou, porque na realidade apenas sou um curioso e, algumas vezes, um modesto trabalhador, que também gosta de ter os seus momentos de sorna.
Agora, já há uma coisa de que me não esqueço. Sim, como muito bem já aprendi, os braços têm de estar sempre para cima. E não me venham cá dizer, com aquele ar de sabedoria que eu conheço de ginjeira que, para trabalhar, também é preciso baixar os braços de vez em quando.
Trabalhar de braços para baixo é crime de lesa pátria, que só determinados malandros devidamente identificados costumam praticar, sem que as autoridades incompetentes lhes apliquem a respectiva tarifa dos braços caídos, que só podem trabalhar com eles no ar, do tipo de votação dos tempos que já lá vão.
Portanto, nos meus momentos de rua, nunca vejo gente que tenha o descaramento de baixar os braços. Acima de tudo, aprecio o sentido disciplinado e cumpridor de uns avisos profusamente distribuídos pelas ruas que eu percorro, entusiasmado com tanto sentido patriótico, com a plena noção de que, realmente, o país está mudado.
Atenção, braços sempre no ar, nem que se veja no chão uma nota de toldar a vista. Deixá-la estar até que um desses párias da sociedade, habituado às facilidades de ter os bolsos cheios à custa de baixar e levantar os braços, mesmo que diga que isso é trabalho, não resista a baixar-se, de alto a baixo, transgredindo todas as regras dos braços sempre no ar.
É na verdade que estão mesmo todas as virtudes. Por isso, não tenho dificuldade em reconhecer que, afinal, não era assim tão difícil meter o país dentro dos carris, ainda que sejam os carris que os comboios regionais reformados foram deixando meio escondidos pela vegetação que já os ocultava.
Só espero que ninguém se lembre de baixar os braços a cortar essa vegetação daninha, pois isso seria um regresso ao passado, que tanta complicação nos trouxe. O futuro espera por nós, mas de braços bem levantados em direcção à nossa salvação.
Por mim, sinto que a minha vida já mudou imenso, por causa dos meus braços. 
23 Jun, 2009

Gado ou gente

 

É difícil avaliar quando uma determinada situação é mais deprimente que outra, se ambas forem igualmente vergonhosas para quem se considera civilizado e tem o seu pedaço de dignidade ainda activo.
Vem isto a propósito de como se deslocam os elementos das claques dos clubes de futebol para os estádios onde actuam esses clubes e onde nos envergonham as respectivas claques.
Essas deslocações fazem-me lembrar os bardos que acolhem os rebanhos de ovelhas e de cabras durante a noite. Só que os bardos estão fixos e servem para o gado dormir, se acaso não for incomodado por uma alcateia de lobos famintos. Os furibundos adeptos são rodeados de agentes da autoridade super protegidos por viseiras e armados de bastões compridos, mais parecendo o exército de D. Afonso Henriques na era das conquistas aos mouros.
Vão, portanto, metidos num autêntico bardo móvel, fechado logo que saem dos autocarros até serem metidos nos seus lugares privativos no estádio. A autoridade parece que chama ao bardo, caixa de segurança, mas o termo não é apropriado, visto que essa caixa de segura não tem nada.
Aliás, as autoridades acompanham os autocarros das claques desde as cidades de origem, por vezes durante muitas centenas de quilómetros, para tentarem evitar os distúrbios e as pilhagens em todos os locais onde fazem paragens.
O regresso é, forçosamente, marcado pelo delírio da vitória ou pelo desespero da derrota que, em qualquer dos casos, aumenta em larga escala o vandalismo, a raiva e a selvajaria.
As autoridades, que tantas vezes são tão severas a reprimir cidadãos individuais ou de pequenos grupos, não tentam sequer meter as claques na ordem, talvez porque receiem, e com alguma razão, pela sua integridade física. E, assim os vândalos, têm toda a liberdade para darem largas aos seus heroísmos, aos seus rancores e às suas frustrações.
Mas, sendo tão amantes da sua espécie de liberdade, aceitam serem tratados como gado miúdo enjaulado no bardo ou na caixa da polícia, só porque são muitos e, assim, podem berrar como hordas de selvagens e intimidar as autoridades que os acompanham.
É, na verdade deprimente, mas eles não pensam nisso. Aliás, muito mais deprimente é o facto de não serem respeitados os direitos de quem não tem nada a ver com espectáculos indecorosos, com agressões que provocam ferimentos e medos, que levam quem pagou o seu bilhete, a fugir do estádio sem ver o jogo que queria ver. É claro que os desordeiros não pensam nisso.
Depois, é ver o rol de acusações que surgem de todos aqueles que podiam e deviam ter evitado todos esses males porque, para eles, a culpa é sempre dos outros.
Esquecem que eles são os pastores responsáveis pelos bardos onde albergam o gado miúdo, que muitas vezes se transforma em autênticas alcateias de lobos, que deviam estar bem longe da cidade, metidos na selva, onde nem os cães de fila lhes pudessem seguir o rasto pelo cheiro.
Como isso não acontece, parece que os cidadãos pacíficos já pensaram pedir a quem de direito, que os cães de certas raças, que atacam e matam gente indefesa, sejam postos à disposição das autoridades que formam os redis, ou bardos, ou caixas de insegurança, para que possam, definitivamente, dominar as feras selvagens e irracionais, com outras feras ainda mais sangrentas.
É evidente que ninguém autorizaria uma barbaridade dessas mas, uma vez que também é uma barbaridade deixar as coisas como estão, ponham os clubes na ordem, acabando pura e simplesmente com as claques organizadas, que apenas organizam a violência e espalham o terror por onde passam.
Quem quer ir ao futebol, que compre o seu bilhete nas bilheteiras e vá. Há muitos anos atrás não havia claques em bando ou em rebanho. Havia adeptos individuais que iam à festa de um desafio de futebol, pois era esse o espírito com que saíam de casa, com bandeiras e roupas coloridas, sempre alegres e respeitadores, sem polícias atrás e à frente, livres de escolherem as ruas por onde queriam passar. Neste caso, era bom voltar ao antigamente, não era?
Também os diversos incendiários da bola precisam de regras, a começar pelos dirigentes dos clubes e todos os falantes ou escrivões que não se cansam de inventar lérias para vender o seu produto, normalmente, rasca.
Finalmente, é urgente que os órgãos directivos e de poder, deixem de se movimentar como lóbis, receando que a força do futebol os esmague e os atire borda fora.
Ao contrário, eles, presidentes daquelas coisas todas, com os governantes à cabeça, devem ter força, vontade e determinação para correr com todos aqueles que não merecem mais que um forte pontapé no rabo, obrigando-os a ir jogar descalços para uma qualquer lixeira vulgar.
 Depois, em paz, já podemos ir ao estádio.
  

 

Podia começar assim um belo poema sobre diversos temas, incluindo o tão sublimado amor de que o nosso querido satélite tantas vezes é inspirador.
Mas essa evocação não é inédita, pois a sabedoria popular até lhe acrescentou o gracioso complemento – redonda que nem um tamanco... É caso para dizer que a lua anda muito mal calçada, ou então, os olhos daqueles que a vêem, andam mais obtusos que um triângulo tão chato como os comentadores políticos.
Pois, eu sei, não são todos iguais, mas também há quem diga que sim. Adiante, que isso já nem merece discussão e a lua, que nem sempre é redonda, põe muitas cabeças à roda, mesmo sem lhes acenar com o tamanco.
Aliás, bem sabemos como a lua é serena e pacífica, em contraste com a violência crescente que ela observa lá do alto caminho em que se movimenta. Dada a sua posição estratégica, bem podia ser nomeada coordenadora geral da luta contra as vítimas dos malfeitores que vivem cá em baixo, em perfeita paz de espírito com quem devia dar-lhes perseguição.
Não tenho dúvidas que o termo ‘coordenadora’ desencadeia desde logo um monte de suspeições, por causa da concentração de poderes. A lua seria desde logo acusada de poder favorecer os que nascem com uma determinada parte do corpo virada para ela.
Ora isso não passaria de uma aberração, pois é sabido que a lua não tem inclinações dessas e, mesmo que as tivesse, não podia vir lá de cima aos trambolhões, sabendo que depois teria muita dificuldade em voltar ao seu percurso celeste, correndo o risco de ficar por cá e passar definitivamente a andar na lua.
Sim, porque descer é fácil, mas subir no meio de tanta algazarra, de tantos desconfiados, não levanta o moral, nem o nível de ascensão. Os desconfiados são autênticas lapas que se agarram ao que podem para sobreviver.
Pobre lua, se eles lhe deitassem a mão, com aquela obsessão de lhe tirarem o brilho a qualquer preço, querendo ser eles, os desconfiados, a fazer o papel do sol, tentando que ela retransmitisse apenas os raios e os coriscos que eles lançariam sobre ela. Seria uma guerra permanente entre o romantismo do luar e o ciúme da conquista do poder da luz, supremo desejo de qualquer desconfiado da própria sombra, tão escura como as noites de lua nova, em que apenas as estrelas lá de cima parecem ganhar mais brilho.
Sim, porque entre as estrelas do céu e a lua, há um pacto de colaboração extremamente importante para todos nós. Enquanto a lua nos ilumina, as estrelas descansam e recarregam baterias. Quando a lua passa a sua luminosidade para mínimos, ou se apaga periodicamente, as suas vizinhas estrelas abrem os olhos e enchem a noite de uma luz amena e difusa semelhante à média luz de um enorme salão de baile.
Daí que cá em baixo, haja sempre salões cheios de estrelas, normalmente sem brilho, mas extremamente sorridentes, tentando irradiar simpatias que nunca tiveram o condão de possuir, ou lançando chispas de pretensa graça, que não disfarçam ódios e raivas que julgam encobertas, quando já estão fartas de roer as unhas de inveja, por não serem capazes de seduzir uma lua que lhes cerca o pensamento com a luz do êxito que eles tanto ambicionam roubar.
É caso para dizer: oh lua que vais tão alta!... Pois, tão alta e com tanto poder... E eles, os desconfiados, desconfiam de tudo e de todos, mas não desconfiam que o poder raramente vai para quem o não merece. E, quando vai, quantas são as vezes em que acaba mal, embora com alguma demora, é certo.
Esquecem os desconfiados que não há poder ilimitado. Bem podem berrar por uma parte do poder dos outros, por causa das temíveis, para eles, concentrações, querendo fazer crer que tudo e todos são perigosos, se eles, os desconfiados, não estiverem nos processos de decisão.
Esquecem que são estrelas cadentes num universo muito complexo, onde nem a lua nem as estrelas, se podem vangloriar de dar luz ao mundo. As estrelas têm a sua própria luz, mas é parcialmente abafada pela luz da lua, quando na plenitude das suas capacidades.
Por sua vez, estrelas e lua estão debaixo da alçada do sol, aquelas porque não vencem a luta com o dia, esta porque nunca se deixaria ver sem a ajuda do sol que a alimenta durante o dia e a noite.
Cá em baixo passa-se o mesmo, por muito que os desconfiados inventem receios sobre a concentração de poderes. Quem usar mal o poder que obteve, estará sempre sujeito às regras que lhe são impostas por quem lho entregou, sejam os outros que estão acima, seja o outro que está ainda mais acima.
Em última instância, ainda há a outra, a consciência, antes do julgamento definitivo.
 
21 Jun, 2009

Ai se eu pudesse...

 

Bem sei que toda a gente gosta muito de ter poder. Ainda que sejam pequenos poderes, daqueles que nem aquece nem arrefece ver o resultado de usá-los. Mas, nesta coisa de poderes é, quase sempre, maior o desejo que o proveito.
Para muita gente, não há nada que valha o prazer de um desejo, ainda que até pareça irrealizável. Também eu tenho o desejo de querer aquilo que sei que nunca terei.
Mas nem por isso deixo de desejar ter o poder de apresentar umas tantas providências cautelares. Sim, como esta de um sócio do Benfica contra as eleições antecipadas. Aliás, como tantas outras que todos os dias são anunciadas. Que até podem ser muito legais e mais legítimas ainda. Como tantas outras legalidades que nos chateiam.
Sinceramente, na minha profunda ignorância, julgava que só se podiam apresentar providências cautelares contra o governo. Afinal, olha, elas também se podem apresentar contra alguns dos donos da bola. Ainda bem que fiquei a saber, pois tenho cá um desejo enorme de apresentar uma providência cautelar contra este abuso de uns ganharem tudo e outros não ganharem nada.
Mas esta, não é contra o Benfica, não. No entanto, também tenho um desejo enorme de o contemplar com uma, pela vergonha de fazer andar tanta gente de cara à banda.
Mas, cá para mim, andam por aí muitos ‘acauteladores’ que mais pretendem meter risco, que prevenir risco, que mais pretendem meter confusão na decisão, que salvaguardar uma decisão justa que, decididamente, não querem mesmo.
Simplesmente, eu gostava de acautelar, em primeiro lugar, a dignidade de muita gente que não a tem. Depois, gostava de acautelar o bom senso, que muitas vezes é substituído por sectarismos que causam náuseas, porque se vê a léguas de distância, os motivos que estão atrás do reposteiro.
Se eu pudesse, apresentava uma providência cautelar contra todos aqueles que cegam, ante o pressentimento de muitos milhões à vista, ou de alguma visibilidade que lhes permita sonhar com esses milhões, mesmo que completamente fora do horizonte das suas algibeiras. Só que, sonhar com eles, já dá muita felicidade.
Por vezes, os milhões são imaginários, mas a cegueira é real. Ai se eu pudesse apresentar uma providência cautelar contra essa espécie de cegueira, que está na origem de tanta escuridão que se transmite a muitos olhos alheios.
Tantas providências cautelares que tenho em mente. Tantas quantas aquelas que tenho um desejo enorme de apresentar. Mas, bem sei que ninguém olharia sequer para elas. Ai, se eu pudesse…
 
20 Jun, 2009

Te cuida

 

Muita festa, muitos foguetes verbais, daqueles que não têm canas para apanhar. Mesmo assim, houve muita gente à procura delas. Das canas, claro. Mas, bem vistas as coisas, se houve foguetes, foi de lágrimas, porque os outros, os das canas que os festeiros não conseguiram apanhar, foram para os seus parceiros de luta.
É um facto que a maioria absoluta morreu ontem, embora tenha o funeral adiado para daqui a uns meses. Isto porque o cadáver ainda não está de posse do cangalheiro e, sem cadáver, não pode haver funeral. Isto, para desgosto de quem já pediu a certidão de óbito, só porque lhe cheira a cera de velório.
Em contrapartida, acaba de nascer uma minoria absoluta que, tudo o indica, vai ser de pão com rosa, ou de pão com laranja. Tudo vai depender dos próximos episódios de continuação das lengalengas. É uma questão de mais verdades que mentiras, ou de mais mentiras que verdades.
Nesse aspecto, as mentiras e as verdades andam por aí à procura de quem as queira apanhar, convictos que elas estão completamente separadas por um muro, para mim, o muro da vergonha, para outros, o muro das grandezas que a imaginação continua a querer ressuscitar de entre os mortos.
A maioria absoluta que agora, tudo o indica, vai dar lugar à minoria absoluta, cometeu o erro de encanar a perna à rã, provavelmente, à espera que o pão com laranja, não passasse de pão seco pois, normalmente, quando as laranjeiras criam nova flor, as laranjas velhas caem podres, no chão.
Afinal, viu-se agora, o pão seco resultou das rosas que murcharam. Porém, em seu lugar, não cresceram laranjas para juntar ao pão, antes se vendo crescer blocos e foices que, em termos de acompanhamento de pão, ainda não se sabe bem como vai ser. Mas, digo eu, talvez estejam garantidas umas sandes de qualquer coisa.
Dos blocos já veio o aviso prévio, para que as laranjas se cuidem, o que pode ser entendido como uma indicação de que as rosas podem respirar um pouco, uma vez que já estão murchas, logo, inofensivas. Laranjas activas e ofensivas deixarão, pois, de ser aliadas de blocos e foices, que vão aliviar a pressão sobre as rosas. Ou não?
Temos pois em perspectiva uma minoria absoluta, a grande arma contra a maioria absoluta que, certamente, só era má, porque era rosácea, pois virá a ser muito desejada pelos citrinoss, quando estiverem em risco de caírem no chão, como ainda estará na memória de quem não a tem muito curta.
A verdade é que as nossas maiorias ou minorias, absolutas ou não, citrinas ou rosáceas, desde os primórdios da nossa democracia, nunca atinaram com o caminho mais indicado em direcção ao benefício do povo. Antes deram sempre primazia aos interesses daqueles que, chamando corrupto a tudo quanto mexe, lá conseguiram sempre esconder os verdadeiros corruptos. Que já estão mais ou menos à vista. Apesar de certas cegueiras.
E, apesar de tudo o que parece mudar, lá vai continuar tudo na mesma, pois, se as rosas murcham com o tempo, as laranjas apodrecem ao cair da laranjeira. Por isso, te cuida. 
 

 

Parece que o país anda a dormir mal. Ou talvez eu esteja a julgar o país pelo que se passa comigo próprio. É verdade que ando a dormir pouco, por isso é que julgo que ando a dormir mal. Mas, não é bem a mesma coisa, embora muitas vezes seja mesmo.
O mal do país é dormir muito e isso tem como consequência sonhar demais. Vistas as coisas por outro prisma, por exemplo, pelo lado dos dorminhocos, dormir muito é uma maravilha. Há lá maior bem, que passar o dia no ripanço de umas boas sonecas, intervaladas com umas cervejinhas frescas e uns nacos de qualquer coisa a acompanhar. Se todos estes intervalos forem acompanhados de uma boa conversa, então, aí temos o paraíso.
Depois, não há nada melhor que sonhar alto, ainda que de vez em quando se acorde estremunhado e a esfregar os olhos até ficarem vermelhos. Não faz mal porque isso passa depressa e, entretanto, houve alguma felicidade, hoje em dia quase só possível no mundo dos sonhos. Como facilmente se depreende, continuo a referir-me aos dorminhocos, como é óbvio.
Pois, também há quem passe a vida, melhor, os dias e as noites, a sonhar com ladrões. Ia a dizer que isso é mau mas, quem sabe, cada um é feliz à sua maneira e não sou eu que quero, nem tenho o direito de querer, mudar os sonhos de cada um.
No que me toca, há noites em que durmo realmente pouco, não porque esteja a sonhar, ainda que acordado, que é uma das muitas maneiras de sonhar, mas porque tenho esta doença que me tira o sono, ao ter de inventar umas tantas coisas para esta tarefa de conversar com o computador.
Bom conversador este, que me dá toda a prioridade na conversa, que não me interrompe, que não me critica, que ouve sempre com muita atenção, tudo o que eu tenho para lhe dizer. Mas avisa-me sempre que escrevo aquilo que, lá na infalível memória dele, não tem lugar, nem consta sequer do seu palavreado.
Quero crer que há muita gente como eu, que perde o sono pelos mesmos motivos mas, vou mais longe, também quero crer que nem todos os computadores são tão respeitados como o meu. Estou convicto que muitos deles, não se livrarão de umas marretadas nas teclas, com dedos nervosos e agressivos, como se estivessem a vingar-se de quem têm no pensamento, no acto da conversa computorizada.
É fácil imaginar que estes computadores não vão ultrapassar o prazo de garantia, para mais irritação dos seus utilizadores. Tão pouco estes utilizadores, vão ter um sono tranquilo e, provavelmente, sonhos felizes, difíceis de adquirir em noites de tormenta imaginativa, ou em dias em que a escuridão aparece logo de manhã, mesmo a seguir ao raiar da alvorada.
Por hoje, parece que já cumpri a minha tarefa. Por isso, vou dormir tranquilo, o que nem sempre acontece.  
Daí que só pense e deseje, boa noite e bons sonhos.
18 Jun, 2009

Moniz da Costa

 

Parece que o maior do mundo está em vias de ir para eleições. Se assim é, estou ansioso por conhecer os candidatos, pois não cabe na minha cabeça a ideia de que haja eleições e não haja candidatos. Claro que, para mim, só são candidatos, ou candidatas, aquelas pessoas que tenham hipótese de trabalhar com fé em Jesus.
Não se pense que basta dizer que desta vez as rezas já estão feitas para se ganhar o céu das ligas, das taças e das copas. A gente já ouviu essas rezas em espanhol e em português, todos muito sabidos mas que, por causa da luz, ficaram todos cegos com as faíscas que provocaram curto-circuitos arrasadores.
Portanto, candidatos a sério, têm que ser à prova de rezas que sejam mais eficazes que os modestos fiéis a quem Deus parece definitivamente não querer ouvir, como tem acontecido, de maneira bem evidente, nos muitos anos para trás.
Há nomes que não encaixam no mundo da bola, tal como há rezas que não passam mensagens de fé. Certamente que toda a gente se lembra dos muitos Pintos que têm singrado nesta religião dos relvados. Por analogia com os pintos que gostam de esgravatar na erva à procura dos vermes de que tanto gostam.
Depois há os Costas, sim os Costas, que não se importam de andar de costas direitas para se governarem à grande e à francesa (isso era dantes, não é?). Agora, dobram a mola como os Vieiras, por exemplo, que trabalham de sol a sol, com pouco mais que o ordenado mínimo.
Esta má-língua só serve para dizer que os candidatos ao maior do mundo, não podem ser os menores do país, por muito que rezem a Jesus por um futuro melhor. É preciso rezar, sim senhor, mas tem de se ter um nome compatível com as rezas.
Ora ainda agora ouvi dizer que havia um sujeito que eu não conheço de lado nenhum, um tal Moniz da Costa, que talvez se vá candidatar. Não compreendo o talvez, pois tem desde já todo o meu apoio, e afirmo que essa hesitação não se deve a ter dúvidas de que vai ganhar.
Para mim, o facto de ser Moniz, já é um rótulo de qualidade garantida, oriundo da mouraria rica e bem-falante, que deslumbra o país o de lés a lés. Mesmo o país que não gosta de mouros e de vieiras.
Porém, ser Costa, é um privilégio que o maior do mundo não pode deixar fugir, sob pena de ficar mais uma década ou duas, a ver os navios que passam ao largo. Ora, o maior do mundo não pode perder tempo com essas coisas de passatempos de terceira idade.
Desta vez, o maior do mundo talvez tenha um candidato que, sendo Costa, vai entrar sempre em campo, como papa, com Jesus ali ao lado, sinal de que os tempos de mala pata ficaram definitivamente para trás.
Moniz Costa será o candidato da fé em Jesus crucificado, antes de ter tempo para retirar o poder papal ao Pinto, que também é Costa, por sinal, um homem que não gosta de vieiras, mesmo feitas por grandes mestres de culinária.       
Sinceramente, gostava de ver esse duelo de gigantes, entre o Moniz e o Pinto, ambos Costas, sabendo que, nos filmes, os maus nunca se abatem uns aos outros.
18 Jun, 2009

Misericórdia

 

Quem havia de dizer que misericórdia podia, antigamente, ser o nome de um punhal que tirava a vida a um cavaleiro derrotado. Talvez porque esse punhal tinha por função dar o golpe final, o golpe de misericórdia, ao apeado pela força das armas. Esta não me passava pela cabeça, por mais que a palavra misericórdia me tenha já dado que pensar muitas vezes, mas por motivos bem diferentes.
Misericórdia é o que pedem, em última instância, todos aqueles a quem a vida e os homens recusaram tudo. Pedem socorro desesperadamente, pedem compaixão e piedade pela desgraça que se abateu sobre as suas vidas. Nem sempre encontram resposta para as suas necessidades. Nem sempre o seu grito de misericórdia encontra eco no lugar devido ou, no mínimo, o mais esperado.
Misericórdia é nome de instituição de caridade. De onde se espera sempre comiseração pela desgraça alheia. Onde cada vez mais se acolhe quem menos requisitos reúne para o seu acolhimento. Quase sempre em prejuízo de quem não encontra a alternativa que outros podiam e deviam procurar, para dar lugar aos verdadeiros gritos de misericórdia.
Já lá vai o tempo em que a misericórdia era feita por religiosos e religiosas, sem vencimento, pelo prazer e devoção de fazer o bem, praticando a caridade desinteressada, tratando toda a gente com carinho e a melhor atenção, em instituições tão sóbrias como os pobres que acolhiam.
Já lá vai o tempo em que não era necessário o estado pagar a assistência da misericórdia, sem que os assistidos tivessem de pagar bem para serem recebidos, sem que os não pagantes ficassem em intermináveis filas de espera, que quase só vão diminuindo pelos nomes riscados depois da sua morte.
A misericórdia não se praticará em todo o lado da mesma maneira, mas hoje é muito mais fácil e realista falar de negócio, de interesses múltiplos, de uma casta de misericordiosos que não querem reforma, que se tornaram vitalícios, que não sabem, nem querem saber, o que se passa nas camas, para lá das portas dos seus gabinetes.
Criaram grandes empresas, com muita gente armazenada, sujeita a alimentação que não tem em conta a saúde de cada um, que não garante a mínima assistência a pessoas em risco, que não garante sequer uma vigilância razoável, principalmente, durante a noite, em que toda a gente, com saúde ou sem ela, fica entregue a si própria.
Há tantas histórias tristes que nunca serão contadas, porque os seus protagonistas apenas desabafam com quem sabem que não lhes comprometem o futuro. Não podem gritar por misericórdia, porque nem Deus os ouvirá, quanto mais os misericordiosos que têm outra espécie de misericórdia no pensamento.
Tanta gente que pagou antes, que paga depois, e que o estado volta a pagar, se vê na triste situação de esperar pacientemente pelo fim dos seus dias, quantas vezes com a revolta entranhada, abafada pelo silêncio que levarão para o túmulo. 
Misericórdia, meu Deus!
 
 
 
 
 

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