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afonsonunes

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31 Ago, 2009

'Offshorões'

 

Parece, ou está provado, que os insaciáveis amigos do vil papel, não têm emenda e continuam a insistir na sua exportação paradisíaca, apesar das borrascas que o ameaçam, na sua viagem transcontinental, até atingir o ansiado destino. São lutadores incansáveis que só conhecem números grandes, comparáveis à grandeza das suas ambições e da sua tendência para a malandrice.
Enquanto as coisas correm bem, está tudo bem, como diria o meu banco de jardim preferido. Quando as coisas correm mal, venha de lá o estado, a evitar-lhes o estado de sítio da causa das suas trafulhices e da sua esperteza elitista e supra nacionalista.
Nessas ocasiões não lhes faltam bons advogados e os melhores defensores em certa opinião pública que, passando a bola para cima do Zé pagante, exige que não sejam os paradisíacos a perder um cêntimo sequer, do produto da roubalheira que fizeram ao estado, ao longo de todos os tempos.
A roubalheira foi feita ao estado, mas foram os pagantes cumpridores para com o estado, que acabaram por compensar aquilo que eles deixaram de fazer entrar nos seus cofres. Os autores da roubalheira andam ainda agitados nessa luta de recuperação, mas já estão a aumentar a quantidade de viagens ao paraíso, para compensar as perdas do passado.
Curioso é quando eles armam em desgraçadinhos que perderam tudo, e que dizem ter ficado na miséria. Mas, a grande verdade é que continuam a ‘offshorar’ cada vez mais e a gozar as delícias do paraíso, como se a crise fosse apenas cá em baixo, na terra, onde eles não vivem há muito tempo.    
Não vivem cá, ao pé de nós, seus simples proteccionistas, atentos, venerandos e obrigados, mas vêm até nós, sempre que os paraísos se transformam em cemitérios das suas vis papeladas que deviam valer balúrdios, mas acabam por se transformar em barquinhos de papel vogando ao vento a caminho de ilhas desertas e inatingíveis.
É nessas visitas esporádicas que nos fazem que, através do estado, seu protector incondicional, nos deixam a nós, depenados, quais passarinhos assaltados nas suas vulneráveis gaiolas, pelas hordas de passarões, armados em aves de rapina. Sim, porque rapinar é a sua especialidade, exercício feito com um estado de espírito de servir e da maior dedicação ao país que vigarizam com todas as unhas dos pés e das mãos.
Depois de tanto ‘offshorar’ e de tanto nos obrigar a deitar contas à vida, para que o nosso estado, que só tem bombeiros sem mangueira de jeito, não fique reduzido a terra queimada, onde os paradisíacos senhores voltam a soltar as suas línguas de fogo, em direcção à terra prometida.
Vamos ficar a pau, para que o estado não lhes dê de mão beijada, aquilo que tanto nos custa a entregar-lhe de mão fechada.
28 Ago, 2009

Ele há cada um

 

‘O mundo não será o mesmo depois da crise.’ Quem anda minimamente a par das notícias sabe quem disse isto, mais ou menos o mesmo que outras ilustres personalidades mundiais já têm dito. E até eu, que não sou ilustre, nem nada que se pareça, era capaz de dizer o mesmo. Mas, aquele, é português e é líder europeu.
Ora aí é que está o problema. Ao dizer semelhante barbaridade, vê-se logo que não vive cá, nem vem cá tantas vezes quantas as necessárias, para saber o que vai por cá. Então ele não sabe o que dizem os políticos de cá? Então ele não sabe quem é o culpado de toda esta crise? Basta ouvir os ilustres que vemos, lemos e ouvimos a toda a hora.
Se não sabe devia saber, pois ela tem um só nome, que é responsável pelo desemprego, pela crise económica, etc. e tal, tanto mais que quem o diz mais alto e bom som, é a sua fiel servidora de outros tempos, e que é uma refinada especialista na matéria. Portanto, não venha com essa de que andava um pouco distraído, o que até é natural no meio daquela confusão bruxeliana.
Mas, não é só ela a garantir que o culpado de tudo isto está bem identificado. Nesse aspecto, há um consenso dos seus parceiros de tese, o que leva a que tenhamos de dar-lhes um capital de credibilidade indiscutível. E também deve levar a que esse responsável por tamanha calamidade mundial, seja levado aos tribunais competentes, para prestar contas por todo o mal que fez, cá dentro e lá fora.
Suponho que não será difícil conseguir que se faça justiça, com tantas e tão prestigiadas testemunhas de acusação, a que se juntarão, certamente, muitos e bons advogados, que ajudarão nessa tarefa, que nem parece uma causa muito difícil. A menos que o senhor bastonário entre na contenda.
Além disso, ele, o tal, deve ser também responsabilizado pelos danos causados a todos os infelizes que já se viram envolvidos nestes escândalos nacionais e internacionais, a começar por um tal banqueiro americano, pois está visto que foram vítimas inocentes de um tresloucado português, que já fez com que se mobilizasse o mundo inteiro, para a solução dos problemas que ele criou. Ele, é o tal de cá,
Portanto, não se admite que um português, mesmo vivendo lá fora, venha dizer que o mundo nunca mais voltará a ser o que era antes desta crise. Que ele não sabe, nem imagina, que foi aqui nascida e criada. Aliás, a resposta já está dada pelos entendidos e entendidas, que não têm dúvidas de que só é preciso fazer uma coisa. Apenas uma simples coisinha, para acabar com a crise e com todos os problemas que cá temos. Tirem-no dali e tudo voltará a ser como dantes.
Voltaremos a ser um país sem assaltos a bancos e a residências, com um polícia à porta de cada eleitor; um país sem aqueles bairros problemáticos que só apareceram com ele; um país sem esta calamidade do desemprego, que ele podia e devia ter evitado, dando emprego a todos os boys amigos e inimigos; um país onde todos os empresários sejam sérios e invistam no desenvolvimento deste país, como já havia sido feito antes dele e da crise dele; e ainda um país sem as dívidas que ele podia e devia ter pago do seu bolso que, como é sabido, é inesgotável.
Como se engana quem pensa que o mundo não voltará a ser o mesmo. Vai voltar a ser, sim senhor, pois quem o diz é quem sabe. Por mim, podem crer que eu também sei perfeitamente. Principalmente, o nosso mundo, este cantinho à beira mar plantado, que voltará a ser o paraíso por tantos sonhado, o paraíso da felicidade, da riqueza e do progresso que já tivemos, embora não me lembre bem quando.
A gente ouve coisas que, enfim. Ele há cada um...
 
26 Ago, 2009

Vivam os solteiros

 

Começa a ser complicada esta coisa das uniões entre pessoas, seja lá qual for a forma como elas as pretendam materializar. A vontade já não conta muito, porque há quem pense que, por mandar em muita coisa, também pode mandar uni-las segundo a lei que tem enfiada na ilustre cabeça de comando.
Dantes, o padre mandava casar e as pessoas casavam. Agora, o padre manda casar e as pessoas juntam-se ou, para chatear o padre, ajuntam-se. Sim, lá se vão juntando duas a duas, sem ter de passar pela complicação de reuniões que nunca mais acabam, de sermões que lhes tiram o sono e de papeladas que nunca mais acabam e custam dinheiro.
Do lado do padre estão os casados, do lado dos ajuntados estão os descomplicados. Do lado do padre estão os unidos pelo santo sacramento do matrimónio que, em princípio, é para toda a vida mas, cada vez mais, é para menos dias. Do lado dos juntos, estão os unidos que se querem desunir, se necessário, tão depressa como se uniram, sem terem de gastar dinheiro com o padre e com o advogado.
Do lado do padre estão a Maria e o Aníbal, porque dele receberam a bênção que os fez felizes e acham que até nem gastaram muito dinheiro com o casamento, atendendo a que foi realmente para toda a vida. Daí que sejam contra os ajuntamentos, mesmo que sejam dos outros, mesmo que seja aquilo que os outros querem.
O José e a Fernanda esqueceram o que lhes queria dizer o padre e, de facto, fizeram uma união em que apenas tiveram em conta as suas vontades. É evidente que o padre não gostou. Ninguém pode afirmar que foi apenas uma questão de perder freguesia. Mas, facto é que os amigos do padre também não gostaram nada da coisa.
E, ainda agora, andam lá com essa atravessada, porque uns querem união sem casamento e outros querem união só com casamento. Vai daí, a converseta já subiu de tom e de nível, pois o padre já se calou e passou a falar o bispo que, por sua vez, já passou a palavra para cima.   
Tanto para cima que, sem se saber como, a Maria e o Aníbal, casados e bem casados, manifestaram o seu desagrado aos ajuntados Fernanda e José, que até se chatearam com o desagrado daqueles. Até parece que não tinham mais nada para dizer uns aos outros, senão andarem para aí a falar da vida e da união de cada um.
Cá para mim, isto das uniões é um falso problema. É que se vê a cada momento que, de facto, cada união é um caso. Também se pode dizer que cada união é um facto. Ora se assim é, não compreendo porque se não unem todos em boa união, como eu ouvia dizer há muitos anos. Sim, o que era preciso era haver união. Mai nada…
Mas, se assim não querem, então sigam a minha doutrina, que não é radical, não é demagógica, nem custa dinheiro a ninguém. Simplesmente, não se casem, nem se ajuntem, desde que não se esqueçam da prole. Fiquem solteiros para toda a vida.
 
24 Ago, 2009

Mais pobre, coitado

 

De vez em quando fico de orelha arrebitada com umas lérias que oiço a pessoas que eu julgava que sabem o que dizem. E, principalmente, que têm um certo cuidado ao falar de assuntos sensíveis, como são a pobreza e a riqueza, com todos os seus protagonistas, por vezes tão mal, ou tão bem tratados.
Já sabemos que os pobres estão cada vez mais pobres e os ricos estão cada vez mais ricos, embora esta crise, que só persiste para alguns, tenha deixado alguns ricos com uns milhões a menos nos seus balúrdios. Pena é que esses milhões não tivessem transitado directamente para os bolsos dos que viram reduzidos, ainda mais, os seus magros recursos.
Ora, o arrebitar da minha orelha, deveu-se à descoberta sensacional de alguém que garantiu ser possível que um determinado rico fique mais pobre. Isto, mais ou menos, veio na primeira página de um conceituado jornal. E, que eu saiba, tão sensacional descoberta foi engolida de uma só vez, sem ser minimamente saboreada.
Esse rico, coitado, que terá começado a sê-lo ao ganhar um milhão com uma única assinatura, terá perdido parte da sua fortuna enquanto desempenhou um cargo elevadíssimo. Cargo que só abandonou a muito custo, para não prejudicar a imagem do seu tutelar amigo.
Sinceramente, não li o conteúdo da notícia. Pois, eu sei, devia ter lido, para escrever com conhecimento de causa. Aqui, segui o mau exemplo de muitos que conheço. Mas, há um princípio que manda que eu só leia, aquilo que vale a pena. E ali, no título, estava tudo o que me arrebitara a orelha.
O título era bem claro. O homem, ao abandonar o lugar importantíssimo, ficara mais pobre. Segundo o meu singular discernimento, só um pobre pode ficar mais pobre pois, um rico, como é o caso desse infeliz pode, quando muito, ficar menos rico. Também um rico pode ficar pobre de um momento para o outro, ao perder toda a sua fortuna. Obviamente que não era o caso.
Seria o mesmo que dizer que um pobre a quem saem largos milhões de uma assentada nesses jogos loucos que criam excêntricos todas as semanas, ficara menos pobre, embora com a vida a nadar em dinheiro. Sim, ele pode voltar a ser pobre, desde que consiga derreter toda essa massinha. Mas, não fica menos rico.
Parece que o tal senhor muito importante, ficou apenas menos rico, pois essa de ficar mais pobre é benevolência de quem gosta de vender dramas de palácio, a quem tem histórias de casas pequenas e humildes a servir apenas para criar cenários loucos, onde os pigmeus se põem em bicos dos pés para ver e aplaudir os palacianos.
É verdade que há quem goste de ser pigmeu perante certos palacianos que adula e, ao mesmo tempo, tenta ser carrasco de outros palacianos que detesta. É verdade que, tal como eles, para eles, a notícia também tem sempre duas faces. Por vezes, a face do título e a face do texto.
E à falta de melhores argumentos, é a língua que comanda a gramática e não a gramática que comanda a língua. É caso para dizer que, com esses, a língua e a gramática ficam mais pobres. Quanto aos pobres que contribuem para isso, coitados.
21 Ago, 2009

A lógica da batata

 

A minha prima Ambrosina parece andar um tanto distraída nos últimos tempos, tudo porque, diz ela, não consegue deixar de pensar na melhor maneira de passar a perna à melhor inimiga, a Carolina, depois desta ter andado a divulgar umas passagens da sua vida que, não tendo nada de mal, também não tem nada do contrário.
Ora, diz a minha prima, se a Carolina sabe essas coisas, é porque anda a mandar escutar a vida dela, provavelmente, através da chaminé da cozinha, que é o local onde passa mais tempo, quando está em casa. Já se tinha lembrado das escutas telefónicas, mas não é possível, porque o seu telemóvel até é só de brincar.
Isto é uma dedução lógica, pois se ela sabe, é porque escuta. Se ela escuta, alguém fala. Se alguém fala, alguém ouve. E se alguém ouve, alguém vai falar. Chama-se a isto a lógica da batata.
Mas, também diz a lógica da batata que, quem tem medo de andar a ser escutado, perdão, quem tem receio de andar a ser escutado, melhor, se alguém desconfia que anda a ser escutado, é porque tem medo, ou tem receio, ou desconfia que possam descobrir qualquer marosca que anda a ser feita às escondidas.
A lógica da batata poderia levar-nos muito mais longe, e a minha prima Ambrosina está farta de saber que a sua melhor inimiga, a Carolina, aproveita todas as baldas para se encavalitar no sino da igreja e desatar a badalar, para que toda a gente fique a saber que ela tem asneira para botar.
Mas, bota daqui, bota dali, o roufenho sino da igreja fica confundido, pois até ele tem dúvidas sobre as contradições entre o que diz a Ambrosina e o que sopra a Carolina. Tudo porque o sino ingénuo não sabe que a Ambrosina é minha prima, logo, digna de todo o crédito do mundo.
É absolutamente inequívoco que quem for capaz de seguir a lógica da batata, está ao abrigo de qualquer equívoco que desmereça a sensatez de alguém, como a minha prima Ambrosina, que já demonstrou em outras ocasiões, que não teme confrontações, mesmo que elas venham da Madeira, quanto mais de qualquer chafarica do continente.
Ainda há dias me perguntou se a lógica da batata também devia aplicar-se aos conselheiros dela, sendo eu, um deles. Reagi de imediato, com toda a veemência, pois ela devia saber à distância, que a minha pessoa, não é conselheira de mais ninguém, senão dela. Ainda que ela não me dê um tusto em troca. Mas, também já lhe disse que, em contrapartida, eu aprecio muito a maneira tesa e sem meias palavras, como ela segue à risca os meus conselhos. Ora isso não há dinheiro que pague.
Manda a lógica da batata que eu pense que uma mulher assim, devia estar a mandar. Principalmente a mandar na Carolina, que mais não fosse, porque seria um prémio de consolação pelo facto de ser a sua melhor inimiga. Certamente, ela já sentiu que a outra, a sua pior inimiga, está roída de inveja por não lhe ser dado o consolo mínimo.
A minha prima Ambrosina adora as suas inimigas, porque sabe que a ouvem com toda a atenção. Se a ouvem, é porque a escutam. Se a escutam é porque gostam dela. Se gostam dela, batem-lhe o mais que podem com a língua. Porque sempre ouviram dizer que, quanto mais me bates, mais gosto de ti.
São assim as inimigas da minha prima Ambrosina, da melhor à pior, porque as conversas e as escutas que todas elas adoram, são o seu único passatempo, embora nem sempre respeitem a lógica da batata.
 
19 Ago, 2009

Troca comigo

 

Este mês de Agosto está o máximo. Mal de mim se não desse o meu contributo para que este clima que nos faz inchar de risota e nos faz verter lágrimas de felicidade, não fosse mesmo o prazer supremo de quem gosta de gozar um mês de Agosto à portuguesa, com muitas gargalhadas sonoras de outros, que vieram de fora até cá, encher o papinho.
Portanto, no mês de Agosto, é tudo ao gosto de cada um, para que não haja monotonia à volta das mesas das sardinhadas e do franguinho de churrasco, nas festas populares e nos arraiais, onde o tinto e a cerveja fazem soltar a língua e elevar as vozes, mesmo daqueles que não são populares. Vozes que se purificam e se elevam até ao mais alto nível do debate.
 Ao nível do melhor e maior debate, que é aquele que vai lançar-se nos meandros de um mês de Setembro cujo nível se adivinha ainda mais elevado que aquele que já sentimos agora, neste Agosto que já anda louco. Meses animados, talvez pelo simples motivo de que são meses de Verão, onde tudo é quente, ocasional e fortuito. Para alguns, chega mesmo a ser escaldante.
É por isso que se troca muita coisa no Verão. Trocam-se mimos, afectos e muito palavreado. Troca-se o que se tem, por aquilo que se deseja vir a ter, sem pensar naquilo que pode não vir sequer. Quando são muitos a querer a mesma coisa, alguém vai ficar a chupar no dedo, metido na boca babada, de tanta baboseira ter feito e dito.
Lá para o final do Verão, é certo, mais que certo, segundo a minha perspectiva estival, que vai haver um rol de trocas de ocasião, que muito vão dar que falar. Muito mais do que já se fala agora, pois isto não passa de simples animação de rua, onde ainda não há arruaceiros. Mas, eles vão aparecer.
Se cada português, masculino ou feminino, fizer questão de protagonizar uma troca este Verão, e eu acredito que isso vai acontecer, lá para o final de Setembro teremos um país completamente trocado.
Espero e desejo que não se confunda o que se vai trocar. Não vão nessa de trocar notas por moedas, ou trocar miúdos por grossos, senão o país vai ficar mais atafulhado do que já está. É que o espaço para meter a tralha não aumenta, por causa da Espanha e do mar. Depois, com boas ou más trocas, nós, não podemos ficar pendurados por aí.
Contudo, a troca sensacional que eu prevejo, e que é o meu contributo para o Verão feliz que estamos a viver, será a troca da sede do governo, de S. Bento para Belém. Eu sei que o programa já está elaborado. Por enquanto, não posso dizer quem o elaborou. Mas, posso garantir que já houve consenso entre ele e ela.
Tal troca tem evidentes vantagens para ambas as partes. Em primeiro lugar, deixa de haver aquela constante espionagem para descobrir quem é que diz ou faz qualquer coisa. Em segundo lugar, ela conduz mal, e o trânsito em Lisboa está um caos. Em terceiro lugar, poupa-se muito dinheiro nos assessores, embora eles já estejam a acumular a título particular. Em quarto lugar, ele sonha com uma acumulação. Em quinto lugar… e por aí adiante.
É bem de ver que ninguém vai desmentir esta troca. Era só o que faltava. A mim, até me dava um certo jeito, pois era capaz de me valer algum prémio, por exemplo, o prémio de melhor troca do ano. Fico à espera. Quem sabe…    
 
17 Ago, 2009

Só sei...

 

Não vale a pena estar a tentar descobrir aquilo que já é conhecido há muitos, muitos anos, querendo imitar quem sabe tudo, mas que nunca soube ensinar nada de útil a ninguém, para lá da sua profunda ignorância, disfarçada de petulante e loquaz armação aos tordos.
Sei que há quem não saiba o que são tordos, mas também sei que nem por isso deixa de haver armação. Daqui se deduz que já sei alguma coisa, logo, deixo de poder afirmar que nada sei. Esta conclusão, retira-me imediatamente do círculo dos pensadores que só sabem que nada sabem.
Não estou muito preocupado com isso, pois o saber de alguns, é igual à ignorância de outros, se atendermos à excessiva preocupação que demonstram em querer convencer os seus interlocutores de que sabem mais que eles.
Para esses, justificava-se o pensamento de que, só sei que sei mais que tu, isto para não ir mais longe, até junto daqueles que pensam que, só sei que já sei tudo. Só é pena que sejam poucos mais que eles, a chegar a essa enganadora conclusão.
Nesta época de férias, bem precisávamos de uma boa dose de serenidade e bom senso para enfrentar as agruras de mais um ano, que só será fácil para todos aqueles que nos enchem os ouvidos com as suas patacoadas, tão ridículas, quanto cheias de venenos que tentam injectar através das suas línguas armadas em seringas mais ou menos coloridas, tipo cada cor, seu paladar. Mas as picas são quase todas iguais.
Da maior parte daquilo que eles dizem, ou picam, só sei que nada sabem, se excluir aquilo que eles sabem que não é verdade. Tudo por causa do veredicto popular que aí vem. Até lá, uns estarão de férias, outros estarão a estragar-nos as férias.
Ao contrário daquilo que eles pensam, quem anda a armar em estúpido, não são aqueles que os ouvem, ainda que muitas vezes lhes batam palmas, ou lhes lancem um sorriso que, muitas vezes, não passa de um risinho que é mais de escárnio, que daquela aprovação que eles tanto têm como certa.
Só sei que ninguém vive apenas daquilo que pensa, sobretudo quando as raízes do pensamento se desviam para áreas mais ou menos pantanosas, onde não recolhem o sustento indispensável à sua sanidade mental.
Ainda não sei, mas espero vir a saber em breve, o motivo porque anda tanta gente a enganar-se a si própria, com a ilusão de que a mentira é um dos garantes do futuro, seja lá de quem for.
Só sei que a mentira se assemelha, em muitos aspectos, aos palhaços que tentam divertir-nos. Além de que a mentira pode ser uma terrível palhaçada podendo, também ela, imitar o palhaço do circo. É verdade. Se há o palhaço rico e o palhaço pobre, também há a mentira de rico e a mentira para o pobre.
Só sei que nada sei. Mas, neste mês de férias e de mentiras, já sei distinguir as mentiras dos palhaços. Dos palhaços ricos que não deram férias à língua, das mentiras para enganar os pobres, principalmente, aqueles pobres que ainda não ouvem lá muito bem.
Só sei… Pois, já ouvi isto, e até sei onde e a quem.
 

 

Concordo plenamente com quem diz que ninguém é de ninguém, embora a toda a hora se depare com quem se julga no direito de ter os seus, o que indicia, desde logo, que alguém tem de ser de alguém. Alguém tem de ter dono, e o dono é aquele que diz que tem ali os seus, às suas ordens, provavelmente, julga ele, para todo o serviço.
Ora, como é evidente, estamos a falar de pessoas, que até terão ideias próprias e não terão passado escritura de posse, seja lá a quem for. Isso não impede que os donos, que se arvoram em pessoas que não se vergam a ninguém, imaginem lá na sua, que outras pessoas, os seus, se vergam à sua vontade.
É bem conhecido o caso de um deputado socialista que diz que a ele ninguém o verga. Deve ser o deputado mais estimado de toda a oposição, exactamente, porque, com os seus, cria problemas ao partido e ao governo. Também deve ser o deputado que tem tanto de independência, como os seus, têm de dependência em relação a ele.
Ora, se bem interpreto, quem é capaz de exigir que os seus sejam beneficiários de tratamento especial, só porque são os seus, então isso cheira-me a uma espécie de chantagem sobre quem tem de tomar decisões no partido. Se não for isso, será, no mínimo, aquele jeito de quem vive permanentemente à procura da melhor cunha para segurar os seus.
Mais recentemente, no maior partido da oposição, tornou-se evidente que também há os dela, e há os que ela não quer. Aparentemente, terá tentado fazer uma complexa operação de limpeza, varrendo, não um, como no partido rival mas, muito mais difícil, um número ainda não bem definido de varridos.
Os inconformados da rejeição e os seus amigos e companheiros de outras guerras, que são os que já estiveram com ela, parece que dão mais valor a quem foi borda fora, que àqueles a quem coube a honrosa escolha de permanecer. Obviamente, os dela. Por outro lado, também há quem pense que essa estranha e inesperada operação de limpeza, a não ter corrido lá muito bem, ficou a dever-se apenas à inferior qualidade da vassoura.  
Contudo, muito mais preocupante, são as notícias que correm, anunciando que em Belém, também já há sinais de que há os dele e os do outro. A ser assim, serei levado a pensar que ele não prescinde de tudo aquilo que lhe compete, exigindo o maior rigor, na interpretação das suas competências. Pelo contrário, parece-me haver um desejo incontido de meter o nariz em tudo, ainda que isso seja da competência do outro.
Os dele aparecem assim como intocáveis, nos quais não se pode sequer pousar o olhar, ainda que eles estejam a dar-nos o maior espectáculo do mundo. Os do outro, são sempre olhados como os perturbadores desse espectáculo, que nem sempre interessa que tenha espectadores ou assistentes.
É por isso que, em primeiro lugar, estarão sempre os dele, quer no seu indiscutível critério, quer no conceito de meio mundo, que é o universo dos seus.
Em segundo lugar estarão, não só os dela, mas também os que ela rejeitou, pois entre estes, ficaram também alguns dos dele que, estando em primeiro lugar, também não abdicam do segundo.
Depois, ainda há quem fique estupefacto por haver indícios de que o outro também quer ter os seus. Mesmo que os tenha, ou queira ter, nunca irá além do terceiro lugar. 
 
02 Ago, 2009

Igual para todos

 

Mas, o quê? Que eu saiba, absolutamente nada. Nem o ar que se respira, pois ele apenas é igual para aqueles que estão no mesmo espaço, no mesmo momento. Depois, lá está o ar condicionado, a barraca em lugar da casa, e tantas outras condições, a estabelecer as diferenças e, quantas vezes, a ditar o ar que lhes dá.
Contudo, há quem insista em reclamar tudo igual para todos, como se quisesse para si, tudo igual ao que muitos têm. Certamente que não se reclama a dor e o sacrifício que atinge tanta gente. É verdade que apenas se reclama que, também esses, tenham a vida fácil que muitos outros têm.
Daí que, para que a haja a justiça social que tal reclamação implica, tenha de haver repartição total, entre todos, do que é bom e do que é mau. Ora, logo aqui, começa a surgir o grande problema dessa teoria. O que é bom para uns, pode ser mau para outros, o que impossibilita a distribuição igualitária tão reclamada.
Até porque teria de se começar por exigir que o trabalhito de que uns tanto gostam, e outros tanto detestam, fosse obrigatório e igual para toda a gente. Para que fosse igual, teria de haver uma tabela de equivalência de tarefas. Para que fosse obrigatório, implicava haver os que obrigavam e os que eram obrigados. Ora assim, adeus igualdade.
Para que tudo fosse igual para todos, toda a gente teria de ter o mesmo nível de inteligência, o mesmo nível de conhecimentos e o mesmo nível de capacidades, para que não houvesse essa história de uns ganharem muito e outros ganharem pouco, ou nada. Teria, pois, de se acabar com o lema, para trabalho igual, salário igual, substituindo-o por, trabalho todo igual, salário todo igual.
Para alguns teóricos da retórica, que teriam de deixar de o ser, será fácil encontrar resposta para estas dificuldades, já que eles não conhecem mesmo nenhuma dificuldade, ao nível do uso e abuso da sua palavrosa ocupação. Tanto mais que não lhes faltam alvos para a sua aplicação e desenvolvimento continuado.
Considerando que teriam de ser iguaizinhos aos outros, cairiam inevitavelmente no papel das suas vítimas normais de agora, ou, na melhor das hipóteses, teriam de aguentar a seu lado, com iguais teorias e retóricas de resposta, aqueles que estavam habituados a seringar diariamente.
Nesta altura de caça ao voto, a época é de reclamação, de proclamação e de exigência de toda a espécie de igualdades, mas todos e todas se distanciam dos restantes, repudiando ser iguais seja lá a quem for. Não admira, porque nem eu, que não tenho nada a ver com aquilo, queria sequer ser parecido com eles e com elas.
Portanto, essa coisa de sermos todos iguais, ou do sonho de o podermos vir a ser, que os ilusionistas não brinquem muito com coisas sérias pois, às vezes, o diabo tece-as e, por um golpe do destino, podemos vir a tornar-nos iguais a quem não queremos mesmo nada. 
Por enquanto, e até que me convençam de que estou enganado, não quero ser igual a ninguém. Quero apenas ser igual a mim próprio.
01 Ago, 2009

É verdade, pois

 

Ainda não há muitas horas acabava eu de ser convidado para substituir o PM, e já alguém cheio de boas intenções levantava a polémica de que fora ele próprio a dirigir-me o convite e a assegurar que tinha toda a legitimidade para introduzir a minha pessoa em tão elevadas responsabilidades pessoais e colectivas.
Ora isto não se faz, pois o PM não gosta de quem anda a divulgar as coisas que ele pensa, provavelmente, muito antes de ele as pensar. Depois, toda a gente sabe que ele não alinha em baixezas dessas, como é o caso de me escolher a mim, para o substituir, embora eu seja uma pessoa até bastante baixa.
Também não se compreende o motivo porque o PM havia de me convidar através da sua ilustre pessoa. Há gente que gosta muito de inventar coisas acerca do PM, só porque ele é uma pessoa muito simpática. Não compreendem que ele tem os seus convidadores privativos que, no meio destas polémicas, se sentem extremamente embaraçados.
É fácil imaginar a quantidade de câmaras, microfones, telemóveis e não sei que mais, que caíram em cima dos convidadores, exigindo-lhes a confirmação ou o desmentido de que não foram eles que me dirigiram o convite ou, pelo menos, o pré convite. Até houve empurrões e tudo. Eu é que não queria estar na pele desses sacrificados convidadores.
O que é facto é que ninguém se cala com a história do convite. Até o meu telemóvel ficou bloqueado com tantas perguntas, mesmo que eu não tenha ainda tido a coragem de o ligar. Se tal acontecesse, a primeira coisa que eu teria de dizer era se ia aceitar o tal convite misterioso e polémico.
Não tenho dúvidas de que, se eu atendesse o telemóvel, mesmo que dissesse que não aceitava nada, iriam exigir que declarasse solenemente o que faria ao meu antecessor, logo a seguir ao acto de posse. Parece que não compreendem que eu teria, no mínimo, de ter cinco minutos para pensar no assunto.
Sinceramente, não gosto de gente precipitada e demasiado ansiosa. Parece que não têm pachorra para nada. Depois andam a toda a hora a chamar a atenção para o facto de haver quem não lhes dê a devida atenção. Não é o meu caso, pois eu apenas quero poupar-lhes o esforço de terem de me aturar em tantas entrevistas e, ainda por cima, grandes entrevistas.
Acabo de ouvir bater-me à porta. Estou tramado. Se forem muitos a empurrá-la ao mesmo tempo, não vai resistir, e lá vou ser abalroado dentro da minha própria casa, por uma multidão a disparar flashes, a perder microfones e a desarrumar-me a casa toda. E eu sem poder escapar, mesmo dentro do guarda-fatos.
Afinal, o silêncio voltou. Já posso respirar fundo, porque vou ter mais uns minutos para reflectir. Em primeiro lugar, se vou confirmar ou desmentir o convite da polémica; em segundo lugar, se vou aceitar, ou não, esse convite para substituir o PM; em terceiro lugar, o que vou fazer dele, depois de o ter substituído. Aquele reboliço que descrevi, é só por causa de saberem a música que vou mandar tocar depois da posse.    
Caramba, quando penso no reboliço que vai por esse país inteiro, e que ainda vai ser maior, fico mesmo estupefacto. Então eu, com toda a naturalidade e simplicidade, sou escolhido, e bem escolhido, para substituir o Primo Mário, PM, na direcção da filarmónica mas, incompreensivelmente, anda tanta gente às cabeçadas, com medo das escolhas do Zé.
Não percebo porque não fazem o mesmo no país. Eu adoro escolhas, principalmente, enquanto for eu o escolhido. Há muita gente que ficaria feliz se pudesse escolher à vontade, como o PM, mas não era eu o escolhido. É verdade, pois.