31 Ago, 2009
'Offshorões'
Parece, ou está provado, que os insaciáveis amigos do vil papel, não têm emenda e continuam a insistir na sua exportação paradisíaca, apesar das borrascas que o ameaçam, na sua viagem transcontinental, até atingir o ansiado destino. São lutadores incansáveis que só conhecem números grandes, comparáveis à grandeza das suas ambições e da sua tendência para a malandrice.
Enquanto as coisas correm bem, está tudo bem, como diria o meu banco de jardim preferido. Quando as coisas correm mal, venha de lá o estado, a evitar-lhes o estado de sítio da causa das suas trafulhices e da sua esperteza elitista e supra nacionalista.
Nessas ocasiões não lhes faltam bons advogados e os melhores defensores em certa opinião pública que, passando a bola para cima do Zé pagante, exige que não sejam os paradisíacos a perder um cêntimo sequer, do produto da roubalheira que fizeram ao estado, ao longo de todos os tempos.
A roubalheira foi feita ao estado, mas foram os pagantes cumpridores para com o estado, que acabaram por compensar aquilo que eles deixaram de fazer entrar nos seus cofres. Os autores da roubalheira andam ainda agitados nessa luta de recuperação, mas já estão a aumentar a quantidade de viagens ao paraíso, para compensar as perdas do passado.
Curioso é quando eles armam em desgraçadinhos que perderam tudo, e que dizem ter ficado na miséria. Mas, a grande verdade é que continuam a ‘offshorar’ cada vez mais e a gozar as delícias do paraíso, como se a crise fosse apenas cá em baixo, na terra, onde eles não vivem há muito tempo.
Não vivem cá, ao pé de nós, seus simples proteccionistas, atentos, venerandos e obrigados, mas vêm até nós, sempre que os paraísos se transformam em cemitérios das suas vis papeladas que deviam valer balúrdios, mas acabam por se transformar em barquinhos de papel vogando ao vento a caminho de ilhas desertas e inatingíveis.
É nessas visitas esporádicas que nos fazem que, através do estado, seu protector incondicional, nos deixam a nós, depenados, quais passarinhos assaltados nas suas vulneráveis gaiolas, pelas hordas de passarões, armados em aves de rapina. Sim, porque rapinar é a sua especialidade, exercício feito com um estado de espírito de servir e da maior dedicação ao país que vigarizam com todas as unhas dos pés e das mãos.
Depois de tanto ‘offshorar’ e de tanto nos obrigar a deitar contas à vida, para que o nosso estado, que só tem bombeiros sem mangueira de jeito, não fique reduzido a terra queimada, onde os paradisíacos senhores voltam a soltar as suas línguas de fogo, em direcção à terra prometida.
Vamos ficar a pau, para que o estado não lhes dê de mão beijada, aquilo que tanto nos custa a entregar-lhe de mão fechada.