27 Set, 2009
Ganha a propaganda
A propaganda é uma coisa muito complicada, ao contrário do que pensam aqueles que a querem fazer de empurrão, julgando que levam tudo na frente, como se fossem carros de assalto que não ligam ao que fica debaixo das lagartas.
A propaganda compra, vende e estraga negócios, consoante a arte do propagandista. Mesmo que o negócio seja baseado na língua, não é difícil descodificar a qualidade do produto que lhe está subjacente, por mais que as suas virtudes sejam exaltadas.
E então, quando se trata de meter a propaganda nas pessoas, a coisa fia ainda mais fino. Bem pode o propagandista subir ao céu e voltar a descer à terra já purificado, que a sua retórica só será aceite, se for bem compreendida pelos terráqueos.
Porque os terráqueos, normalmente, não compreendem a propaganda que cada um faz de si próprio. E muito menos compreendem que, nessa propaganda, entrem aqueles ingredientes que, em lugar de temperarem, destemperam.
Os terráqueos entendem muito melhor aquela propaganda que os outros fazem uns dos outros, porque a argumentação fica muito mais alargada e põe a nu a estreiteza de visões distorcidas e desfocadas, em contraste com imagens nítidas e reais.
Estas imagens até podem não ser uma agradável realidade. Podem até ser um osso duro de roer, que nos deixa a certeza de que não vamos ter muitos momentos para sorrir. Mas é bem preferível termos de ficar pela falta do sorriso, que ficarmos condenados a chorar abundantemente por muito tempo.
Por tudo isso, fazer propaganda do céu, quando estamos num inferno, parece que isso não nos tira de lá, sobretudo se quisermos sair, deixando lá aqueles que não nos agradam. Fazendo mesmo os possíveis por empurrá-los para as labaredas com a ajuda das nossas línguas de fogo.
No dia de hoje, para muitos dos portugueses, este dia vinte sete de Setembro de dois mil e nove, será dia de libertação ou de condenação, quando chegarem as vinte horas. São dois extremos que, de modo nenhum, correspondem à propaganda maciça que nos impingiram durante mais de quatro anos.
Propaganda bicéfala. Propaganda de um produto que tem todas as virtudes, quando feita de um lado, ou todos os defeitos quando vista do lado oposto. Ambos os lados reclamando para si a verdade da justeza das suas razões, por vezes mais que sintonizadas com sonhos de uma noite que ainda não chegou.
A grande incerteza e a grande dúvida resumem-se em saber qual das duas propagandas se virá juntar ao sucesso do resultado final que é, nem mais nem menos, saber qual delas vai ganhar.
Por mim, já não tenho dúvidas há muito tempo. Quando vejo muita gente, fazendo grande algazarra contra uma só pessoa, tentando crucificá-la do jeito que os judeus crucificaram Cristo, só entendo isso como propaganda contraproducente e ineficaz.
Até porque também acredito que, há muitos casos em que, quanto mais me bates…
Acho que durante quatro anos, muita gente de vários lados, fez propaganda a mais, contra um dos lados da contenda. Quando assim é, com tantos trunfos propagandísticos, o resultado só pode ser a vitória do propagandeado.
Penso que, agora, ficará a lição de como, nestas coisas, não se deve exagerar na propaganda.