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afonsonunes

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27 Set, 2009

Ganha a propaganda

 

A propaganda é uma coisa muito complicada, ao contrário do que pensam aqueles que a querem fazer de empurrão, julgando que levam tudo na frente, como se fossem carros de assalto que não ligam ao que fica debaixo das lagartas.
A propaganda compra, vende e estraga negócios, consoante a arte do propagandista. Mesmo que o negócio seja baseado na língua, não é difícil descodificar a qualidade do produto que lhe está subjacente, por mais que as suas virtudes sejam exaltadas.
E então, quando se trata de meter a propaganda nas pessoas, a coisa fia ainda mais fino. Bem pode o propagandista subir ao céu e voltar a descer à terra já purificado, que a sua retórica só será aceite, se for bem compreendida pelos terráqueos.
Porque os terráqueos, normalmente, não compreendem a propaganda que cada um faz de si próprio. E muito menos compreendem que, nessa propaganda, entrem aqueles ingredientes que, em lugar de temperarem, destemperam.
Os terráqueos entendem muito melhor aquela propaganda que os outros fazem uns dos outros, porque a argumentação fica muito mais alargada e põe a nu a estreiteza de visões distorcidas e desfocadas, em contraste com imagens nítidas e reais.
Estas imagens até podem não ser uma agradável realidade. Podem até ser um osso duro de roer, que nos deixa a certeza de que não vamos ter muitos momentos para sorrir. Mas é bem preferível termos de ficar pela falta do sorriso, que ficarmos condenados a chorar abundantemente por muito tempo.
Por tudo isso, fazer propaganda do céu, quando estamos num inferno, parece que isso não nos tira de lá, sobretudo se quisermos sair, deixando lá aqueles que não nos agradam. Fazendo mesmo os possíveis por empurrá-los para as labaredas com a ajuda das nossas línguas de fogo.
No dia de hoje, para muitos dos portugueses, este dia vinte sete de Setembro de dois mil e nove, será dia de libertação ou de condenação, quando chegarem as vinte horas. São dois extremos que, de modo nenhum, correspondem à propaganda maciça que nos impingiram durante mais de quatro anos.
Propaganda bicéfala. Propaganda de um produto que tem todas as virtudes, quando feita de um lado, ou todos os defeitos quando vista do lado oposto. Ambos os lados reclamando para si a verdade da justeza das suas razões, por vezes mais que sintonizadas com sonhos de uma noite que ainda não chegou.
A grande incerteza e a grande dúvida resumem-se em saber qual das duas propagandas se virá juntar ao sucesso do resultado final que é, nem mais nem menos, saber qual delas vai ganhar.    
Por mim, já não tenho dúvidas há muito tempo. Quando vejo muita gente, fazendo grande algazarra contra uma só pessoa, tentando crucificá-la do jeito que os judeus crucificaram Cristo, só entendo isso como propaganda contraproducente e ineficaz.
Até porque também acredito que, há muitos casos em que, quanto mais me bates…
Acho que durante quatro anos, muita gente de vários lados, fez propaganda a mais, contra um dos lados da contenda. Quando assim é, com tantos trunfos propagandísticos, o resultado só pode ser a vitória do propagandeado.
Penso que, agora, ficará a lição de como, nestas coisas, não se deve exagerar na propaganda.
26 Set, 2009

O bico do prego

 

Esta é uma situação muito difícil, que obriga a ter de se virar o bico ao prego, porque se pegou nele ao contrário, com o martelo em punho e o dito bico apontado na direcção errada. Isto só acontece aos pregadores de pregos que tentam pregá-los de qualquer maneira, mesmo que os ditos estejam tortos e enferrujados.
Ele há lá maior prego que aquele ‘Um abraço e vai-te a eles’. Este não era um prego para ser pregado de cabeça para baixo, nem de bico afiado sujeito à violência do martelo manejado à bruta. Não, este era um prego fraternal, com abraço e tudo mas, sem dúvida, um prego saudoso, pois o ‘vai-te’ só podia significar despedida difícil.
Sinceramente, acho que isto não é maneira de terminar um e-mail, mesmo que ele tenha sido cuidadosamente elaborado, minuciosamente pensado, mais ou menos fruto de diálogo ou, simplesmente, fruto de uma só cabeça excessivamente imaginativa. Porque um e-mail de jeito, deve sempre ser objectivo e não cair apenas nessa de mandar ir a eles.
Isto de mandar os outros ir a qualquer lado pode ser uma complicação dos diabos, pois sabemos que os computadores são génios muito endiabrados, que até podem mandar ir a um sítio que eu cá sei. Sim, porque até eu, que não sou computador, já tenho tido tentações desse género. E então, quando se trata de e-mails, a coisa sobe logo para a arroba.
A minha maior dúvida reside no facto de descodificar esse ‘vai-te a eles’. Será que posso pensar que ‘eles’ são todos os que são citados no terrível e-mail? É uma dedução lógica, apesar de haver lá muita gente que não vai a lado nenhum, pelo simples motivo de que já não precisa. Já chegou onde queria.
Bom, mas esses, cujos nomes estão lá, pronto, assunto arrumado. Agora há aqueles quatro que, sem pestanejar, se atiraram como gato a bofe, a quem não ‘e-mailou’ nada, mas sentiu-se espetado de pregos vindos de quatro lados distintos, com os bicos dos pregos em brasa, a penetrar-lhes a pele em direcção ao osso.
O mais interessante é que, ainda hoje, anda por aí um desatino de virar o bico ao prego, começando a ler o e-mail do fim para o princípio e da direita para a esquerda. Isto é muito importante, porque sempre se leu da esquerda para a direita e do princípio para o fim. Bem me parece que isto também é virar o bico ao prego, tal como confundir que se devia começar por arrancar pregos em casa, em lugar de estar a olhar para os pregos da casa do parceiro do lado.
Depois não admira que tenha de se virar o bico ao prego, numa altura em que fica toda a gente de martelo em punho, pronta a dar marretadas em tudo quanto já virou, ou se pensa que ainda vai ter de virar.
A verdade é que está tudo a pregar alto e bom som para quem podia despregar tudo isto de uma só penada. Sem resultado. Ainda não foi hoje que a pregação resultou. Parece que quem tinha que virar o bico ao prego já o virou. Agora, há que descobrir a melhor maneira de o endireitar, para tentar voltar a pregá-lo.
 
25 Set, 2009

O e-mail de S.Bento

 

“Caríssima doutora – Mando-lhe este e-mail mesmo nos últimos segundos da campanha, porque estou completamente desesperado e não teria coragem sequer de ver publicada uma resposta sua, a estas minhas palavras, que são uma espécie de desabafo à boca da urna.
Confesso que tenho uma grande admiração por si e pela sua obra passada, presente e futura. Sim, é verdade, confesso que, como engenheiro, nunca faria obra melhor, embora julgue que como principiante de economia me tenho portado melhor que a doutora.
Mas, em política o que interessa é a obra e a doutora foi, é, e será sempre, realmente, uma obreira de respeito. Daí, esta minha última homenagem, porque, consigo, prometo, nunca mais me vou meter, atendendo aos banhos que tive o prazer de levar de si, ao longo destes últimos tempos.
Reconheço que, para se conseguir vencer na vida, e na política, é preciso ser um obreiro nato, obrar pelo menos uma vez ao dia, com vista a ser um bom obrante e fazer uma obragem que se veja. Note que até em português eu sinto um complexo de inferioridade tremendo em relação à doutora. A doutora exprime-se bem e depressa, enquanto eu, inoperante, apenas alinhavo umas palavras desenxabidas.
Em lugar de engrolar este e-mail rasca, ainda pensei em inventar uma espécie de bomba atómica para terminar a campanha mas, quem sou eu, para inventar uma simples peta doméstica. Não, afirmo solenemente, atrevo-me mesmo a fazer mais uma promessa, que é terminar esta campanha com verdade, muita verdade, seguindo o seu exemplo, que muito dignifica quem anda nestas andanças dificílimas da política séria, como nós.
Confesso também que a minha maior virtude é saber escutar, escutar e sempre escutar. Porque escutando, posso estar sempre em condições de seguir os bons exemplos e os bons conselhos que me dão. Sim, porque era o que faltava, se desperdiçasse as novas oportunidades que me oferecem a toda a hora.
Sei que já estará em pulgas para saber onde quero chegar com toda esta treta de e-mail mal amanhado. Para já, tenho estado a engonhar, para que chegue a hora de fecho da campanha e a doutora esteja entretida a ler isto até dar a meia-noite. Depois, também quero fazer uma espécie de revelação de última hora, a fim de que a votação não venha a ficar influenciada pelos meus dislates anteriores, o que seria tremendamente injusto para as suas inspirações e até, confesso, para as suas justas aspirações.
Antes, porém, ainda quero dizer que houve muito quem falasse numa campanha suja, numa campanha de favores, numa campanha de verdades e de mentiras. Bem, se ela foi suja, não foi da sua parte, doutora, bastando olhar para todos os que andaram à sua volta. Tudo gente limpinha. Se houve favores, só me lembro das pessoas que andaram atrás de mim, fazendo o favor de me aplaudir. Quanto a verdades e mentiras só me lembro das parvoíces que eu disse de mim próprio.
Portanto, chegado a este ponto crítico deste e-mail fatídico, declaro que todos os votos que eu tiver, devem ser acrescentados aos seus, para que possa formar um governo de maioria confortável, para dar estabilidade aos seus sonhos de voltar a levar o país, ao ponto em que o deixou da outra vez.
Tenho a certeza de que, como sempre, as portuguesas e os portugueses me vão compreender perfeitamente. Os meus respeitos, doutora.”
24 Set, 2009

Oh Magalhães

 

Não sei onde estás a repousar neste momento em que te evoco, mas admito que não estejas muito confortável com as referências póstumas que tens vindo a ouvir de quem, certamente, nunca te teve em muito boa conta. Mas, não ligues, eles são assim mesmo, habituaram-se a pisar as uvas e agora ninguém lhes tira o vício de pisar.
Têm feito de ti um reles objecto de propaganda, uma estupidificação do ensino e um bom exemplo de ataque aos professores, que não gostaram de te intrometeres na vidinha deles. Não ligues, Magalhães, tu, como tantas outras personalidades, dás-lhes o gozo de se sentirem felizes assim.
Olha, Magalhães, podes agora sorrir de satisfação, porque neste momento já concluíram que tu és realmente imprescindível, que já não podem passar sem ti e que os teus feitos iluminados foram já um contributo inapagável para a história do fim da tradicional ignorância nacional.  
Vá lá, Magalhães, não fiques triste por haver tanta gente a suspirar por ti. Tens de compreender que há gente assim. Não querem decisões, quando pensam que vão ser eles a tomá-las mais tarde. Depois, se lhes fazem a vontade, já queriam decisões antes deles. Vá lá, Magalhães, eles não sabem o que querem, mas eu sei. Desculpa lá, mas não digo.
A verdade é que há quem seja especialista em cambalhotas, esquecendo que o Magalhães, não veio ao mundo para dar cambalhotas, mas sim para percorrer o mundo nos barcos de cartão reforçado, por causa dos baloiços e até dos coices de quem não o viu nunca com bons olhos. Vai daí, resolveu utilizar os pés.
Cá no meu entender, o Magalhães só ganha com este compasso de espera, pois enquanto se compra e não compra, enquanto se encomenda e não encomenda, ele vai conquistando a Venezuela, onde o Hugo não se cansa de o elogiar. E um elogio do Hugo, é coisa para valer muito mais que uns sonhos de miragem chantagista.
É evidente que a um ano de eleições, o governo já não pode decidir as grandes obras que já estavam decididas. A seis meses de eleições o governo já não deve pagar os calotes que herdou, por causa da coerência, que diz que quem os fez que os pague. A uma semana das eleições, o governo já não pode impedir que digam que anda a fazer escutas pelo buraco das fechaduras. A três dias das eleições, é evidente que o governo já está absolutamente proibido de fazer encomendas ao Magalhães.
É mais que evidente que o Magalhães gostava mais que continuasse a sair. Estou mesmo convencido que ele até gostaria imenso de ir votar no domingo, e não tenho dúvidas absolutamente nenhumas em que local do boletim de voto ele colocaria a cruzinha.
Oh Magalhães, é verdade que deixas as criancinhas ansiosas, mas muito pior será se as deixares desiludidas a partir da próxima semana. Não ligues a essa treta de não haver dinheiro para nada. Não te esqueças que o lema dos políticos diz que há sempre dinheiro para tudo o que lhes interessa.
Alegra-te, Magalhães, agora já interessas a toda a gente.    
23 Set, 2009

A voz do dono

 

Tem-se falado muito em asfixia democrática e em controlo desenfreado de tudo e de todos, por parte do poder governamental. Não surpreende ninguém o facto de qualquer governo ter, no mínimo, a pretensão de querer as coisas à sua maneira, até porque foi escolhido para implantar o seu programa e não os programas dos que perderam as eleições.
Com certeza que há um ou outro exagero em todos os governos, mas é um facto que hoje cá, como lá fora, as regras são muito mais apertadas para que se cumpram normas que são fiscalizadas do exterior, diminuindo muito o risco de prepotências e abusos de que se fazem eco certas forças nacionais, muitas vezes sem qualquer razão.
Certa comunicação social tem muita responsabilidade em exageros de divulgação de certas situações que não conhece, ou empola de forma direccionada, com vista a obter determinados resultados que vão ao encontro dos seus interesses. Interesse privados, quase sempre em detrimento do interesse público.
Publica-se o que se vende e o que se vende nem sempre é verdadeiro, nem sequer sério, quanto mais esclarecedor e objectivo.
E o pior é quando a comunicação social pública vai pelo mesmo caminho da privada, fazendo-lhe concorrência, sobretudo no que é mau, no que não tem qualidade.
Uma boa parte dos jornalistas, vê-se que não desenvolve a sua actividade segundo os critérios próprios de trabalho e competência, porque os seus empregos dependem de quem lhes lê a cartilha e, muitas vezes, nem precisam que lhes leiam nada, porque quando entram já sabem ao que vão. 
Claramente, quem paga, exige. Sabendo-se que a fofoquice, a mentira, as meias verdades, as deturpações, as notícias do tipo novelístico e quejandos, são o ouro do negócio, logo, não há como fugir a essas tentações contabilísticas.
Depois, para que não dê muito nas vistas arranjam-se uns bodes expiatórios para cima de quem se atiram todas as culpas, contando com a cumplicidade de uma justiça que não funciona, porque ninguém é capaz de a fazer funcionar. Porque não interessa mesmo nada que ela funcione. Com a miserável excepção de que ela funciona apenas contra quem não tem dinheiro para enterrar nela.
É por isso que funciona, e bem, a voz do dono. Mas, quem é o dono, que tanto levanta a voz que não ouvimos, que tanto domina sem que se assuma como dominador, que tanto acusa a quem, ao fim e ao cabo, anda simplesmente às suas ordens.
Evidentemente que a voz do dono é a voz do dinheiro, é a voz que dá emprego ou despede, que controla o que se diz, o que se vê e o que se ouve, fazendo crer que há um estado que lhe corta ou prejudica a actividade.
E há quem entre nessa de que o estado é que provoca asfixia, democrática, para soar melhor, como se no estado fosse possível alguém, seja lá quem for, abafar toda uma estrutura complicadíssima e enormíssima, onde todos os que mandam não são todos, e apenas, ouvidores da voz de um só dono. Até porque muitos desses, também têm tiques de donos e fazem orelhas moucas às vozes de outros donos.
Quem pensa nessas asfixias, talvez sinta desejos de vir a ser um belo dono. Mas bem pode tirar o cavalinho da chuva. Há muita gente asfixiada, mas por outras razões, que não as que invocam os candidatos a donos. São os que adoram ouvir a voz do dono deles. 

 

Ou muito me engano ou já ouvi isto em qualquer lado, mas não sei onde nem a que propósito. Não me admira mesmo nada, porque sei que a minha memória não seria sequer capaz de competir com a de uma galinha normal.
Para mim, os homens do presidente são todos aqueles que o ajudam a tomar as decisões importantes, e a não tomar as decisões que eles prevêem que seriam oportunas demais. Por exemplo, eles nunca aconselhariam o presidente a visitar a sede de um partido que não estivesse pintada com a sua cor preferida.
Todos os homens do presidente têm de ser impolutos, pelo menos até deixarem de o ser, bastando-lhes jurar sob palavra de honra que o são, e que sempre o foram. Depois, como diz o povo, o futuro a Deus pertence.
Agora fala-se muito de um tal Lima, ao que me dizem homem de grande seriedade e competência, com mais de vinte anos de fidelidade, que acaba de cair numa armadilha infantil, inofensiva e até ingénua, saída da imaginação, calcule-se, do homem que tem a mania de se meter em tudo.
Também se fala de um tal de Manuel Fernandes, que diz que viu entrar pelo seu escritório dentro, um tremendo vírus informático que lhe deu volta aos computadores e desatou a mandar e-mails para a Madeira, com resposta paga, como se fossem telegramas do tempo da… alto, que é melhor não dizer. O que se pode dizer, é que foi obra do tal homem que tem a mania de se meter em tudo.
Ainda se fala bastante de um tal Alvarez, isto cheira-me a espanhol, e de um tal Tolentino, talvez italiano, que andaram a trocar mensagens, perdão, talvez não fosse bem isso, mas a coisa parece que foi escutada e foi parar ao público, quero dizer, ao domínio público. Imagine-se, por culpa do homem que tem a mania de se meter em tudo.
Numa segunda fase, apareceram outros homens do presidente, pedindo esclarecimentos, pois as confusões eram tão evidentes, que havia que chamar os bois pelos nomes. Bom, se calhar só havia um boi, confesso. O grande alerta foi dado de imediato por um tal de Aguiar Branco, logo seguido da Manuela. Não havia dúvidas, era tudo obra do homem que tem a mania de se meter em tudo.
Logo de seguida veio o Jerónimo, o Portas, o Francisco, querendo saber como é que era possível acontecerem coisas destas, enquanto o Sócrates, de acordo com o presidente, dizia que não havia pressa em esclarecer isto. Como era possível, o único responsável por toda esta paranóia estranha, não ter pressa nenhuma. Simples, como a tabuada, o homem que tem a mania de se meter em tudo, lá estava.
Depois da tal tramóia, digo, da tal paranóia atingir o Lima, aparece o Pacheco, oh Pacheco, a ver uma guerra do Sócrates contra o presidente. A Manuela a ver a campanha prosseguir como se não fosse nada com ela. Não sei se o Aguiar disse mais alguma coisa. Mas o grande beneficiado, diz o Pacheco e os outros, foi o homem que tem a mania de se meter em tudo.
Mas, depois de muito reflectir sobre esta paranóia toda, cheguei à conclusão que o Sócrates, afinal, também é um dos homens do presidente. Senão, veja-se como ele lá foi pedir este favorzinho em vésperas de eleições. Quem é que é sério, quem é?
21 Set, 2009

Dois contra dois

 

Nada mais natural, nesta corrida que termina no final da semana, com a ida às urnas de voto, ou a qualquer sítio mais apetecível para quem se esteja nas tintas para o que vai acontecer a seguir.
É claro que há muitos contra muitos mas, o que está a dar, e desde há muito tempo, é haver muitos contra um, o único imbecil deste país, onde muitos outros andam camuflados de pessoas de bem.
É natural que haja um contra uma e uma contra um. É natural que houvesse uns tantos contra outros tantos. É a lei da concorrência porque, infelizmente para eles e para ela, há apenas uma cadeira disponível. Os outros terão de continuar de pé, até à próxima.
Agora, o que mais me impressionou, foi ver que já temos uma referência nova quanto aos valores da liberdade e da democracia. E, tal como já sabia há muito, temos a confirmação da referência do topa tudo.
Mário Soares e Manuel Alegre, duas referências na liberdade de expressão e pensamento de antes e depois do 25 de Abril, passaram agora a coniventes na asfixia democrática, segundo a novíssima descoberta da nova referência revolucionária pela liberdade, chamada Paulo Rangel.
Quanto ao topa tudo, o inimitável Marcelo dos domingos à noite, acaba de descobrir o tempo de espera de dois anos e o tempo de mudar já. São dois conceitos muito inteligentes, que não está ao alcance de qualquer um, penetrar nesses mistérios insondáveis de mentes indecifráveis.
Mário Soares e Manuel Alegre não inventaram agora nada de novo, apesar do primeiro se ter lembrado de falar em desgraça, em fanática e em irresponsável, e o segundo ter feito uma espécie de segundo regresso ao lar, depois de umas incursões pelo reino das novas experiências, quiçá novas oportunidades.
Ora, comparando estes quatro figurantes da nossa história, fico eu, pelo menos, impressionado com o burburinho que se instalou na minha mente, quanto ao grau de receptividade dos feitos de cada um deles, de forma a compreender quais estarão a meter o pé na argola, como diria o meu vizinho lá de baixo. 
Em face disto tudo, pergunto ao meu espírito confuso, como é possível dois intransigentes lutadores de uma vida toda, passarem a ser agora os asfixiadores da liberdade de Paulo Rangel que, felizmente, até tem liberdade de dizer as asneiras que lhe vêm à cabeça.
Depois, quanto a Marcelo topa tudo, compreendi que ele disse agora uma grande verdade. Confessou que estava a pagar o apoio que recebera, quando ocupava o lugar que ela ocupa agora. Assim, está bem. Amor, com amor se paga. Há sentimentos que ficam bem a toda a gente. Esta verdade merece o meu aplauso.
Aqui temos uma boa partida de ping-pong entre dois pares, Soares/Alegre vs Rangel/Marcelo, em que a rede cora de vergonha cada vez que a bolinha lhe passa por cima. Dois contra dois, num jogo em que só um árbitro perfeito poderia ditar um vencedor.
No futebol, são os árbitros e seus amigos, os que mais apitam contra a verdade desportiva. E aqui, alguém está a apitar contra a verdade política.

 

Belém não é apenas o local de nascimento do menino que veio trazer a luz ao mundo e o consolo a muitos corações, a bater num mar de esperança e a transbordar de amor por todos os que sonham mas, sobretudo, por todos aqueles que sofrem com as maldades praticadas pelos senhores do mundo.
Belém não tem apenas uma cabana onde um burrinho e uma vaquinha não se cansam de libertar o seu bafo quente em direcção ao menino que nasceu gelado, mas que hoje, se fosse vivo, decerto esfregaria as mãos por tanto ter dado aos seus irmãos pobres.
Belém não é só o nome de uns pastéis muito apreciados pelos fãs da doçura que derrete a língua e dilata o coração de quem sabe que a vida tem, muitas vezes, a sabor amargo do vinagre, ainda que isso seja mais para os outros. Também não é novidade que há por lá outros pastéis, por sinal bem moles, indecisos e cismadores.
Belém tem aquela torre beijada pelo rio no seu ondular constante, meigo e acariciador, como se o granito duro e selvagem se tivesse enamorado pelo suave e fofo marejar das águas temperadas a meio sal, onde se diria que os peixes que por ali batem a barbatana, não são carne nem são peixe.
Belém tem ali ao lado os Jerónimos que nunca estão em campanha, nem tão pouco têm frases feitas há séculos, mas têm nomes que souberam engrandecer o país, mercê de uma visão que ia para lá do mar, ao contrário das visões de quem hoje em dia não consegue perceber o que se passa do outro lado da rua onde passa a toda a hora.
Belém não é apenas um extenso jardim à beira rio plantado, cada vez mais com tendência para copiar os jardins da Madeira, à beira mar implantados, contra todas as regras da natureza, desde logo, a rega salgada, que estraga as ideias meio irracionais e deforma os corpos meio atarracados pelo bater forte das ondas nos calcanhares.
Belém é onde mora o menino grande que nunca morou na cabana e é agora quem diz o que devemos e não devemos fazer, segundo a sua omnipresente opinião, mesmo que nunca lhe tenhamos pedido conselho. Mesmo que nem sempre tenha mostrado estar em condições de dar conselhos.
Belém é hoje uma fonte cujo caudal não corre para o Tejo porque, contra todas as leis da natureza, prefere correr avenidas acima e andar à procura de quem queira beber directamente da corrente.
Belém não é local de nascimento de meninos, mas andam por lá uns meninos que, ao que parece, andam a portar-se muito mal. Ao menos que brincassem aos jardins lindíssimos, continentais ou insulares, ou dessem umas voltas pelos Jerónimos, apreciando a seriedade e a verdade da nossa história, que tão maltratadas andam hoje em dia.
Belém continuará a comer pastéis, porque bons pasteleiros é o que não falta por lá, ainda que os açúcares vão escasseando, tornando a pastelaria mais azeda de dia para dia. Até os espanhóis já notaram isso e parece que não gostaram.
Belém continuará a ter uma torre de se lhe tirar o chapéu, uma torre que continuará a ser de comando. A estrelinha que brilha lá no alto, a estrelinha que sempre serviu de bússola ao país e, por vezes, até ao mundo, dá a impressão que está a ser prejudicada por um nevoeiro rasteiro, que se arrasta junto ao Tejo.
Belém necessita da estrelinha brilhante, mas não precisa mesmo nada do nevoeiro, que até parece ser artificial. Coisas do tempo. Modernices.    
 
18 Set, 2009

É mesmo fixe

 

Se me perguntassem porquê, eu diria que, por cá, as coisas têm de ser assim mesmo. Tontas, grossas e a tender para a malandrice. Mas, ao que parece, toda a gente gosta, portanto, tem de ser assim mesmo. Mesmo bué fixe.
Pois, assim em jeito de dar forte e feio nos políticos, especialmente naqueles que estão no poder. Dizem certas pessoas, a quem isso interessa especialmente que, lá fora, ainda é muito pior ou, que os políticos de cá, ainda estão muito pouco habituados a lidar com esses costumes. Costumes fixes, como é óbvio.
Não faço estudos de opinião cá dentro e muito menos lá fora. Penso no entanto que, se lá fora, acham que isso lhes dá muito gozo, o problema é deles, tal como é dos que, por cá, também se fartam de gozar com as gracinhas ou graçolas dirigidas aos políticos.
É sabido que parece que já ninguém estranha tal situação, incluindo os próprios visados que, para não lhes somarem mais uns tantos epítetos cheios de graça, fazem de conta que não ouviram nada, ou então fartam-se de rir, embora se adivinhe facilmente o que lhes vai na alma.
Ser humorista hoje, é ter uma boa dose de saber transformar factos políticos em ditos anedóticos ou pior que isso, como se os visados não fossem gente normal, exercendo uma função que não deve ter mais nem menos dignidade que qualquer outra função, isto considerando que as leis não lhes dão mais dignidade mas sim, mais direitos.
Se um político disser uma piada, mesmo muito ligeira, sobre o trabalho do humorista, é certo e sabido que haverá um processo judicial. O mesmo se verificará se o político responder a um sindicalista no mesmo tom em que é interpelado. Podíamos dizer o mesmo, no caso de um juiz, de um militar, de um professor, de um funcionário, de qualquer um que tenha dinheiro para ir até à justiça. Ah, esquecia-me do jornalista.
Resumindo e concluindo, qualquer pessoa de bem ou de mal, tem direito ao bom nome, excepto se essa pessoa for um político. Esclareço que estou a falar de respeito pelo bom nome e não de qualquer limitação ao direito à crítica sobre o trabalho desempenhado. Lá refere o ditado militar que, serviço é serviço e conhaque é conhaque. Pois bem, parece-me, a mim, que há muito quem tenha conhaque a mais num cantinho reservado do serviço.
Mas também há muito conhaque na cabeça de quem não faz nada na vida, senão massacrar o juízo dos outros, quantas vezes daqueles que os sustentam. Com muitos sacrifícios. Mas sempre com muita dignidade. Por vezes com muita paciência e compreensão.
Cá para mim, ridículo, ridículo, é quando um político pretende seguir o caminho de quem o ridiculariza, dizendo que até aprecia essa pretensa boa disposição, ou sentido de humor, quando lá dentro tem o sangue a ferver.
Toda a gente concorda que os políticos estão muito descredibilizados. Cá dentro e lá fora. Pudera, a tratá-los assim, como se fossem o lixo do país que servem, não se podia esperar que fossem ídolos de quem os minimiza a todo o momento.
Depois ainda há quem se admire da elevada taxa de abstenção nos actos eleitorais. Cá dentro e lá fora. Nem seria de esperar outra coisa quando ouvimos uns arremedos de triste humorismo presidencial, que depois virá com toda a seriedade, convidar todos os portugueses a irem às urnas em massa.
Agora fixe, mas fixe mesmo, é a cara dos cómicos líderes, frente aos aprendizes fedorentos. É o máximo, meu.
15 Set, 2009

O papão

 

Estou a ficar preocupado, aliás, muito preocupado, porque não consigo ter medo de ninguém, nem consigo descortinar alguém a pretender meter-me medo. Num país em que anda quase toda a gente a falar de medo, só posso ser eu o incauto, o inconsciente, o distraído, que não consegue ver os fantasmas ameaçadores que perseguem quase todos os portugueses.
Ainda bem que me lembrei que na língua portuguesa existe o vocábulo quase, senão teria de escrever que todos os portugueses andavam a tremer como varas verdes. De qualquer forma, como eu não sinto esse cagaço, nem me estou a ver envolvido nesse medonho cagaçal, peço encarecidamente aos que fazem como eu, que não se assustem por estarmos em minoria.
O mais engraçado é que quem muito fala em medo e tudo o mais que ele sugere, logo de seguida faz questão de dizer que não tem medo de nada, nem de ninguém. É caso para perguntar, se não tem medo, porque razão fala nele? Estou mesmo a ver que é só porque julga que os outros, coitadinhos, andam todos com o rabinho entre as pernas, logo, esses valentões e valentonas, não fazem mais que pôr o seu físico à disposição dos medrosos para os defenderem na primeira tentativa dos amedrontadores.
Ainda bem que me lembrei de dizer que será na primeira tentativa, porque ela ainda está para vir, logo, o físico deles e delas, ainda não foi posto à prova. Mais, se essa tentativa viesse a concretizar-se um dia, ou uma noite, quem sabe, o rabinho deles e delas, certamente, já estará mais escondido que o dos verdadeiros medrosos. Mas, calma, que o medo, por enquanto, ainda é só barulho.
Ainda bem que me lembrei de dizer ‘por enquanto’, porque o medo pode aborrecer-se de andar lá longe e, quando menos se espera, vir mesmo até nós, a chamamento daqueles e daquelas a quem ele está mesmo a fazer falta agora, aqui, e nestes momentos de aflição.
Ainda bem que me lembrei dos momentos de aflição, pois quem mais medo tem, maiores são os seus momentos de aflição, principalmente, porque se sente na obrigação de pegar aos outros, as suas maleitas e as suas tendências medrosas. Ora isso de pegar aos outros seja lá o que for, não é como essa brincadeira, de bom ou mau gosto, de pegar um bicho pelos respectivos.
 Ainda bem que me lembrei dos respectivos, sem os quais não podia haver uma valente pega de caras onde, infelizmente, elas ainda não entram, exactamente por causa dos respectivos. Assim, nada feito, porque só mete medo, e só aos que não são forcados, aquele que tiver os respectivos maiores.
Ainda bem que me lembrei dos forcados, porque eles são os maiores. Perguntem-lhes lá se eles têm mais medo de um bicho ou de uma bicha, na hora da verdade. É claro que todos eles responderiam que medo é coisa de cobardes, logo, há perguntas que só faziam sentido, se fossem feitas às chocas.
Ainda bem que me lembrei das chocas, porque sem os seus grandes badalos pendurados ao pescoço, a vida seria uma monotonia. Depois, aquele jeito que elas têm de se fiarem na velhice, como fonte de sabedoria, é mais uma ilusão confirmada pela certeza de que o bicho de verdade, não marra nas chocas lentas e rotineiras.
Nem sei como acabo de me lembrar que ainda há gente que tem medo. Tenho a impressão que me veio à memória aquele tempo longínquo, em que as senhoras mais velhas diziam aos miúdos pequenos - foge que vem aí o papão. Mas, agora, já não me imagino num país de papões.
Ah, lembrei-me agorinha mesmo. Vem aí o papão de Espanha e vai engolir todos os medrosos de Portugal.  

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