Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

afonsonunes

afonsonunes

 

Que é um partido muito partido ninguém o pode negar, nem mesmo aqueles que arranjam muitas maneiras criativas de justificar tudo e mais alguma coisa. E esses, estando alguns deles na direcção do partido, são os que mais inventam maneiras de convencer os militantes de que o partido não tem direcção.
Em primeiro lugar, não tem direcção, porque não sabe o que quer, nem para onde vai, para lá de dizer que ganha, mesmo quando perde. Quando pensou que ganhou alguma coisa, esqueceu que nem sempre se ganha, só porque houve quem perdesse. Essa é uma boa razão para que seja evidente que o partido está sem rumo, logo, sem direcção.
Em segundo lugar, o partido está sem direcção, porque anda, há não sei quantos anos, à procura dela e não há meio de a encontrar. Depois tem-se iludido a si próprio, ao convencer-se frequentemente que já a encontrou. E, volta não volta, lá vem a desilusão de ter de pensar em mudar de direcção.
Enquanto pensa e não pensa o que há-de fazer, fica à deriva entre aqueles que inventam umas histórias para entreter, e outros que, com grande teatralidade dão expressão às fantasias inventadas pelos parceiros do lado.
Entretanto, há os parceiros de trás que querem passar para a frente, mas essa tarefa é muito difícil, porque aqueles que já lá estão, cerram fileiras e não há meio de se abrir ali uma brechazinha por onde se possa furar. Ora, furar barões, não é o mesmo que furar balões, ainda que ambos estejam inchados de ares à pressão.
Como se tudo isso não bastasse tem havido, todas as semanas ao domingo, uma voz de direcção paralela, que emana da televisão, a mandar vir com a outra direcção, a da sede do partido, em que nunca se sabe se os elogios daquela voz são setas venenosas, se as suas críticas são um bálsamo encorajador.
E assim têm passado os anos, entre o faz e o faz que faz, entre o que se diz e o que não se devia dizer, com todos os falsos interesses do partido, a sobreporem-se a várias direcções que mais não fizeram que contribuir para que o partido, estivesse cada vez mais partido, com fracturas expostas por tudo quanto é corpo de delito.
Prova disso é o facto de um dos seus dirigentes estar A-guiar em Branco, no que respeita ao percurso, e a principal condutora ser uma Ferreira que não tem feito outra coisa que malhar em ferro frio. Ora, assim, como é que o Partido Sem Direcção, há-de deixar de ser PSD, para se transformar em Partido Com Direcção, ou seja, PCD.
Há quem pense que a mudança tem de ser mesmo radical, mas não encontra outra solução que não passe por uma direcção que se conduza em sentido único. Aí é que está o busílis da questão, que teria de conciliar a fome com a vontade de comer. Isto parece que devia ser fácil, mas não é bem assim.
O meu amigo Serafim, diz que há uma esperança assim, assim. Como ele é um sujeito sensato, mas bastante audaz, advoga uma solução mesmo, mas mesmo muito audaciosa. Certamente que ela é viável, já que nada na vida é impossível, numa via ainda que imaginária.
Pois bem, ela, a via, aí vai. Um triunvirato constituído por um Marcelo, encenador, criador de cenários em que alguém jamais pensou; um actor, Rangel, que representa com o génio na ponta da língua e dos dedos das mãos (os dedos dos pés não se vêem); e um espectador, Coelho, que é especialista em bater palmas, mesmo quando não gosta do que vê, ao assomar fora da toca.
Tenho a certeza que, assim, haveria mesmo um PCD com sucesso.
 
29 Out, 2009

Vara

 

Toda a gente sabe que vara é uma manada de porcos, rectifico, uma manada de suínos, para aqueles que sabem a diferença entre uns e outros. Uma vara de suínos é aquela manada que a gente encontra no campo, à chamada vara larga, sem pocilga individual, porque a natureza é a sua porcaria mais ou menos limpa.
Uma vara de porcos, geralmente, é um determinado grupo de sujeitos que só sabem andar no meio de sujeiras, sejam elas próprias de actividades desenvolvidas em palácios ou similares, ou em pocilgas mais ou menos parecidas com edifícios que, à primeira vista, deviam ser imunes a esse tipo de actividades.
Mas, há outros tipos de varas muito diversificados, desde o reino vegetal até ao reino da justiça, passando por suplícios tão complicados quanto os que proporcionam as camisas de onze varas, onde tantos cidadãos se vêem manietados durante anos sem fim, quando não para a vida inteira.
Essa é a especialidade de certas varas humanóides, ao conseguirem pegar num elemento isolado de uma suposta ou previsível vara, e fazer dele o representante máximo de uma espécie, à qual ninguém perguntou se aceitam tal prerrogativa de exemplo, sem um pouco de desprezo das suas dignidades desprezadas.
Suponho que qualquer vara, como manada que é, também tem o seu orgulho, a sua auto estima, que não é devidamente salvaguardada ao ver ignorados os seus direitos de identidade colectiva, salientando apenas as virtudes de um dos elementos que, obviamente, nunca se devem sobrepor aos da restante vara.
É evidente que varas há muitas, tantas vezes em busca de feitos extraordinários de bom comportamento de elementos de varas alheias, quando podiam olhar para dentro das suas próprias varas, obtendo resultados muito mais surpreendentes, que aqueles que procuram longe da sua porta, a muitas varas de distância.
Tudo quanto é notícia actual, passa hoje por uma vara (iedade) de habituais criadores de alvoroços em que, de vez em quando, nos enredam com surpreendentes descobertas de uma grande vara de porcos, em que um deles tem a primazia, talvez porque tenha o rabo maior, ou as orelhas mais descaídas.
No entanto, a vara agressora, não se dá conta que pode ter uma deficiência na vista, que lhe restringe a visão de conjunto da vara observada. Que pode ter uma deficiência na língua que a impossibilita de dizer o que sabe com o enquadramento de todas as varas envolvidas, e não apenas de uma delas e, dentro dessa, da equidade e importância de cada porco, dentro da sua própria vara.
Também já vamos estando habituados a que nos mostrem demasiadas varas que, passado pouco tempo, se vê que não passavam de uns leitõezitos que se divertiam uns com os outros, por entre mamadas, sob o olhar atento e protector da porca grande que os pariu a todos.
Por entre as varas que as fazem, andam varas que as inventam, e ainda as varas que vão vivendo com o nunca mais acaba destes varados insaciáveis.
 
28 Out, 2009

Jesus e a galinha

 

Primeiro vamos à galinha, pois sobre ela há muito para contar, sobretudo porque há pelo menos três espécies de galinhas. Aquela galinha que nos dá a saborosa canjinha, que tanto alento dá aos doentes e tanto delicia os verdadeiros apreciadores. Aquela galinha que a gente tem, quando não acerta em nada do que faz e nem com as tradicionais figas nos larga, mesmo retorcendo os dedos todos das duas mãos. Ou, pelo contrário, a outra galinha que nos enche a mente com a convicção de que somos uns felizardos, porque os deuses nos protegem à vista desarmada em determinadas ocasiões.
Quanto a Jesus da Bíblia, quem sou eu para falar dessas coisas, principalmente, depois de tanta gente sabedora, instruída, crente e descrente, tanto ter opinado sobre valores terrenos e celestes, numa profusão de ideias realmente bastante esclarecedora.
Daí que me tenha voltado para outro Jesus, aquele que, fora da capela da Luz, quebrou a galinha que deixava penas em todo o estádio, desde tempos, que até o tempo já esqueceu. Jesus, realmente, só apareceu na Luz há uns escassos meses, não me constando que já tenha tido tempo de entrar na capela de lá.
Mas, mesmo assim, já catequizou multidões e, na hora da sua missa, aquilo é uma romaria com todos, como se diz do cozido à portuguesa. Sem dúvida, já fez o milagre da transformação dos assobios em golos de encher o papo aos mais sedentos. E, por consequência, finalmente, os sucessivos anúncios de êxitos do comandante, que nunca mais chegavam, começaram a sair do túnel de todas as esperanças.
Toda a gente se recorda certamente de anos consecutivos em que uns se queixavam do galo, ou da galinha, que impediam sistematicamente de errar o alvo do poste ou da barra, do pontapé na relva ou nas pernas dos parceiros do lado, ao que parece, porque Jesus estava dentro da capela da Luz e não via nada do que se passava no relvado.
Agora, toda a gente vê que Jesus anda nesse mesmo relvado, faz gestos com as mãos, para todos os discípulos, a toda a hora, lembrando-lhes que quer quatro, quer cinco, ou até seis, não tolerando sequer que não entendam o que ele quer dizer na sua claríssima linguagem gestual.
Porém, Jesus não eliminou pura e simplesmente a velha galinha traiçoeira e agoirenta. Ele soube reconverter a galinha, tornando-a num poço de virtudes, capaz de transformar cada pena caída em pénalti transformado, cada tiro com o poste ou a barra como alvo, a desviar-se um pouco para o lado, sempre no sentido do lado de dentro da baliza da vítima.
Que ninguém diga que isto não é um autêntico milagre de Jesus todo poderoso, homem que conseguiu iluminar a Luz, até há pouco tempo eternamente condenada à escuridão total. Portanto, aquilo não era Luz, nem era nada, antes da providencial aparição de Jesus aos fiéis lá do sítio, agora verdadeiros crentes dentro da sua catedral de fé e de vitórias.
Quanto aos infiéis, nem querem acreditar que a suculenta galinha que os protegia, também se transformou em galo velho e azarento que já não canta coisa que se entenda, levando-os a pensar que tudo o que era canja suave e aveludada, tem agora o aspecto de uma grossa sopa de cozido, que é indigesta que se farta.
Realmente um mal nunca vem só. Já não bastava Jesus ter mudado de campo, como ainda se aproveitou da galinha reciclada, para mostrar que a minha canja, é muito melhor que a tua.
 

 

Ainda há quem pense que não há comunista sem a sua cassete engolida não se sabe como, mas que é reproduzida de cada vez que a boca se abre para botar palavra. É por isso que ninguém consegue descobrir a mais pequena gafe a um verdadeiro comunista, ao contrário do que acontece a toda a hora, com os seus adversários políticos.
No entanto, a cassete é já hoje uma relíquia como material de gravação, dado que surgiram múltiplas maneiras de substituir coisa tão velha e obsoleta. Uma delas é a vulgar e diminuta PEN que tem o inconveniente de ser perigoso citá-la no plural, mas tem a vantagem de armazenar material que nunca mais acaba, em comparação com a cassete.
Talvez por isso, já não faz sentido ver os comunistas sob esse prisma da cassete, uma vez que também eles já têm PENES. Eu avisei que era perigoso este plural, se não houver muito cuidadinho com a pronúncia. Mas adiante. É claro que ainda há comunistas com cassete activa, mas também já os há com PENES perfeitamente operacionais.
Toda esta treta vem a propósito de muita gente olhar para os comunistas, vendo-os como pessoas que têm ideias que não se encaixam na maneira de pensar dos que o não são, sem que levem logo essa diferença para a cantiga da cassete. Como se não houvesse por aí cassetes de todos os matizes, algumas que bem custam a suportar, mas isso, paciência, é a vida.
Agora é preciso dizer que andam por aí umas vozes arranhadas, que parecem cassetes riscadas, atirando-se a um comunista que sempre foi capaz de dizer não a muitas teorias comunistas de cassete, que não entravam na sua PEN muito própria e muito pessoal.
Parece que há quem não compreenda que há muitas maneiras de ler, de escrever e de pensar. Parece que há quem não compreenda que há comunistas que não podem com o que escrevem os não comunistas de todo o restante espectro partidário. Portanto, gostar ou não gostar, de quem e de quê, é um indiscutível direito de uns e de outros.
O que ressalta de toda esta discussão histérica, é a convicção de algumas puras donzelas, machos e fêmeas, de que se devem arvorar em defensores de uma moral anticomunista que justifica todas as atitudes e as coloca acima de todas as suspeições. Bem podem coçar os seus pruridos, porque os seus tempos já lá vão.
Bem podem os membros da igreja católica, que tanto se eriçaram com as palavras de um homem, sentir-se confortados com as graças divinas, pelo esforço que fizeram em defesa daquilo em que acreditam, que bem mais profícuo foi o sinal humano de que não há limites para a expansão do pensamento, sem entraves de qualquer espécie.
É verdade que a palavra de um homem, é apenas isso mesmo, uma palavra que não tem, necessariamente, de ter muitas ou poucas concordâncias ou discordâncias para ser boa ou má. Muito menos tem que ser avaliada pela origem ideológica do seu autor. Muito menos ainda, porque nessa ideologia há o estigma de uma velha e ultrapassada cassete.
Seria bom que todas as pessoas tivessem em si os melhores ideais comunistas, tal como seria igualmente bom, que os comunistas também fossem capazes de interiorizar as melhores práticas de outras teorias políticas. O mesmo é dizer que há virtudes e defeitos em toda a parte, por muito que as velhas cassetes de várias origens, pretendam fazer crer o contrário.
Que fale cada vez mais alto o pensamento, para que se oiça cada vez menos a voz da calúnia e da mentira. Sinceramente, penso que isto não é cassete.
 

 

Espero que ninguém se sinta ofendido por pensar que venho aqui sugerir que toda a gente deve ter uma gamela como meio de se sustentar, até porque sei perfeitamente quem é que come da gamela e quem é que come com um pouco mais de dignidade, ou seja, da malguinha da sopa e do prato do segundo.
A nossa língua tem perigos que nos obrigam a constantes explicações sobre o que queremos dizer com determinadas palavras. Por isso, quando falo em gamela, sei que é uma vasilha redonda ou rectangular, onde se dá de comer a porcos e a outros animais. Como se depreende, há quem coma da gamela e há quem ponha a comida na gamela para outros encherem a malvada.
Esta história da gamela veio recentemente à baila, logo aproveitada por quem gosta muito de distorcer as coisas, mudando-as para a gamela que mais lhes convém. Aliás, estou mesmo convencido que quem distorce com propósitos menos limpos, ou tem, ou espera vir a ter à disposição, uma gamela bem recheada de acepipes muito mais apetitosos, que o vulgar conteúdo tradicional das gamelas mais simplórias.
Portanto, não é muito difícil concluir que, além dos devoradores de gamelas cheias, há os enchedores de gamelas que não têm dúvidas de que, pondo os porcos a comer delas, esperam, também eles, vir a receber uma boa gamelada de outros porcos maiores, aos quais a chicha de porco lhes dá uma vida que até parece limpa. 
O estado nunca encheu tantas gamelas como actualmente. Como é evidente, porque também nunca houve tanto porco a viver à custa do estado. Poderá parecer cruel este modo de encarar a situação actual, mas eu explico o que quero dizer, excluindo desde já, deste pensamento, todos aqueles que não têm mais nada que aquilo que o estado lhes dá.
A toda a hora se ouve falar de empresas, grandes, médias e pequenas, que não encontram, entre os mais de quinhentos mil desempregados, quem lhes vá viabilizar a laboração ou aumentar a respectiva produção. Bastante estranha esta situação, quando tanta gente se queixa do desemprego e se reclamam mais gamelas, sem olhar às que nunca deviam ter existido.
Quando vejo o dinheiro que anda ao redor da música de concertos de celebridades, em que não há nada que não esgote lotações atrás de lotações, não posso deixar de pensar no dinheiro que, inevitavelmente, vem de gamelas que o estado dá a porcos que não querem trabalhar e, ainda por cima, têm raiva a quem trabalha. Não é só o estado que tem culpa desta situação, pois a culpa não é menor daqueles que não se calam para que o estado dê tudo a todos.
Depois, insurgem-se contra a presença de estrangeiros porque tiram o trabalho aos nacionais que não querem trabalhar. Imagine-se o país sem estrangeiros, neste momento. Pobres dos portugueses que, por motivos sérios e reais, não podem mesmo trabalhar. Ou será que haverá alguém que pense que era capaz de obrigar os porcos saudáveis a trabalhar?
Mas, há outras gamelas que não permitem que muita coisa funcione minimamente. Sejam elas de origem patronal ou sindical, onde os egoísmos gananciosos determinam que a sofreguidão no ataque às gamelas individuais, ocasionem que muita comida transborde delas e se perca no meio das pocilgas imundas. 
Finalmente, ainda que houvesse muitas mais gamelas a transbordar para o caos da vigarice, há duas que não podem continuar assim, sob pena de nos afundarmos no mar da nossa desgraça, por muitos e muitos anos. Uma justiça sem porcos e sem gamelas, tal como gente que, à sombra disso, ponha a língua à deriva, e não só, em busca das melhores gamelas, por troca com as piores porcarias.
 

 

Gatinhar é uma fase muito importante da vida de qualquer ser humano, pois representa o início do levantar o rabinho do chão e experimentar aquela sensação de começar a querer andar a quatro membros. Tudo o que se faça naquela idade é bonito de se ver.
Já na idade madura, as coisas passam-se de maneira muito diferente. Se acaso damos connosco a gatinhar, é triste prenúncio de que não estamos a andar, como era nossa obrigação. Há quem diga que, pior que gatinhar, só marcar passo, embora de pouco nos sirva a consolação do movimento de qualquer dessas modalidades.
Desde o fim da campanha eleitoral que anda muita gente a gatinhar em frente de quatro maduros que resolveram chamar-se gatos. Podiam ser gatinhos ou gatões, por analogia com as gatinhas brasileiras, que já passaram o testemunho às portuguesas, que miam menos, mas não lhes ficam atrás no gatinhar.
Os nossos gatos televisivos começaram por entusiasmar uma fase pós eleitoral chata, com a inovação de introduzirem num canal, um tipo de humor baseado numa certa diversidade de visados, distribuindo a piadética de um modo mais ou menos harmonioso, dando a ideia de um certo equilíbrio de imparcialidade política, equidistante de personagens e de partidos.
A coisa durou enquanto os convidados tiveram algo de novo que valesse a pena explorar mas, como tudo na vida, não demorou a cair-se na vulgaridade, com o aparecimento de convidados que já pouco ou nada tinham a ver com a problemática das eleições. Daí a cair-se na vulgaridade do humor a martelo, recorrendo sempre ao mesmo tema e às mesmas pessoas, como alimentação desse tipo de humor, que tanto pode ser fedorento como bafiento.
Se é verdade que houve algum sucesso com a presença dos líderes partidários imediatamente após as eleições, também é verdade que outras figuras de pouco relevo, algumas apagadas até no presente, foram contribuindo para que o gato mor tivesse que meter-se por caminhos já demasiado explorados, logo, a tender logicamente para o humor chato para caramba.
Esta deriva verificou-se, principalmente, nas primeiras partes de cada programa, antes das entrevistas, onde o governo e os governantes foram a fonte que deu a água que os entrevistados não podiam dar, mesmo que bem espremidos. Mas, as graças mil vezes repetidas acabam por não ter graça nenhuma.
Por mais que os humoristas se esforcem, é natural que não encontrem fora do poder, tanto material com a receptividade de quem o consome, como aquele que o poder lhes fornece. No entanto, o sucesso só se conserva, se houver renovação adequada desse material. Ora aí é que esteve o busílis da questão.
Outra condição essencial diz respeito à imparcialidade de quem quer fazer humor, perante os convidados e satirizados em geral, ainda que essa imparcialidade apenas exista na aparência, mas que deve ser tida em consideração, sob pena de dar a ideia de que se trata de um prolongamento da campanha eleitoral, onde a sardinha continua a ser puxada até ficar com as tripas de fora.
Finalmente, fica-me aquela sensação de que alguns dos políticos aceitam ir ali, numa atitude ‘desportiva’, recheada de muita vontade de ser popular, como se achassem muito bem, e até gostassem, de muitas bicadinhas que, ao fim e ao cabo, lhes doem que se farta. Mas, lá no fundo, não são capazes de dizer não, ao frete que se sujeitam a suportar.  
O Ricardo tem razão. O programa vai acabar porque já se viu que o assunto está esgotado.
 
21 Out, 2009

Envergonhado

 

Pelo menos, eu não conheço o sujeito de lado nenhum e, no entanto, aparece-me escarrapachado por aí, como autor de uma grande tirada noticiosa, neste dia em que Saramago anda nas bocas do mundo, por causa de umas explicações literárias sobre o seu novo livro Caim.
Esse sujeito que eu não conheço, é euro deputado e tem o nome de David, facto que logo me fez lembrar David e Golias. Efectivamente, se nesta história houvesse um grande e um pequenino, Saramago seria indubitavelmente Golias mas, atenção, que nenhum David vulgar e metediço, alguma vez podia sequer competir com ele.
Podem dizer que Saramago é comuna, que não merecia o Nobel, que mais isto e que mais aquilo. Só o dizem agora, quando ele se meteu num caminho onde certos defensores de uma certa liberdade encontram, à mão de semear, um apoio grande, fácil e garantido. Com efeito, eles estão sempre prontos a sentirem-se asfixiados ou ‘claustrofobiados’ quando lhes convém inchar estrategicamente, mas são eles também os maiores defensores de uma certa rolha na boca dos outros.
Ora, não é um qualquer deputado que tem base intelectual e curricular que se assemelhe ao grande escritor laureado em todo o mundo. Nem se pode fazer depender o valor da sua obra literária, de qualquer opinião mais ou menos polémica, que manifeste nas suas obras ou nas suas palavras.
Por acaso estará o tal deputado a sugerir-lhe o que ele deve ou não fazer, o que ele deve ou não escrever, o que ele deve ou não dizer? Sinceramente, acho que deve ter-se tratado de um momento disparatado da sua reflexão política.
Também há a possibilidade de ter querido mostrar a sua fidelidade a alguém da igreja, que ele julga, ou tem a certeza, que lhe pode ser muito útil em momentos de reflexão religiosa. Sim, porque há quem acredite em milagres e, por muita coisa que tenho visto, não tenho dúvidas de que há coisas que só se conseguem por autênticos milagres.
Toda a gente tem o direito de concordar ou discordar dos pensamentos dos outros. Bem diferente, é um qualquer pensador arrogar-se o direito de punir ou premiar quem muito bem lhe apetece, sabendo que, nem com um escadote à mão, lhe chegará aos calcanhares.
Parece que o sujeito se sente violentado pelas declarações de Saramago. Há um bom remédio para curar esse mal. É não usar violência verbal para com quem não se meteu com ele, pois falar de imbecilidades e impropérios não é propriamente emitir opiniões, ou mesmo uma crítica, mas sim uma ofensa a quem tem o direito de exprimir o que sente dentro de si.
Certamente que o tal sujeito nunca se deu conta das imbecilidades e impropérios que tem proferido no âmbito das suas actividades partidárias, a exemplo do que fazem tantos outros, sem que alguma vez lhe tenham feito semelhantes sugestões. E, se alguém o fizesse, não faltariam exortações aos seus direitos, e maldições a quem pretendesse retirar-lhos.
O facto de se atrever a sugerir a Saramago que renuncie à nacionalidade portuguesa, parece-me de uma tal crueldade, mesmo vindo de tempos remotos que, embora abusivamente, me dá o direito de lhe dizer que fique lá, por onde se encontra, com toda a sua indignação que, por cá, a mim, não me faz falta nenhuma.
Finalmente, o sujeito sente-se envergonhado com as citadas declarações. Parece-me que seria fácil resolver esse problema. Bastaria tão simplesmente que tivesse mais cuidado com o que lê. Sendo tão sensível a conteúdos que lhe ferem o íntimo deve, a todo o custo, evitá-los definitivamente.    
Para provar a eficácia da minha opinião, juro que não estou envergonhado com tudo aquilo que o sujeito desopilou a este propósito. Se alguém tem motivos para isso não sou eu.
 
19 Out, 2009

O porco e o cão

 

Os melhores amigos de alguns cães, são alguns porcos. Dizendo isto, parece-me que descobri uma frase de que alguns amigos, de alguns animais, não vão gostar mesmo nada. Em contrapartida, os animais como eu, vão perceber, se é que ainda não perceberam, que têm grandes inimigos nos porcos que são muito amigos dos seus cães. 
Para esses porcos, o animal chamado cão, é muito mais importante que o animal chamado homem, sendo frequente insultarem quem se sente prejudicado com as suas manias caninas que, muitas vezes, não têm nada a ver com a amizade que julgam dedicar aos seus animais de estimação.
Basta referir o facto de os trazerem à solta nas vias urbanas, onde os carros circulam a grande velocidade, não contando com a imprevisibilidade de tais peões, que não conhecem apenas os passeios e as passadeiras para fazer as suas deambulações caninas. Os porcos, os seus protectores em teoria, passeiam a trela dobrada na mão, a muitos metros do perigo.
Porcos, sobretudo porque levam à solta os seus animais à rua e aos jardins, exclusivamente para que eles satisfaçam as suas necessidades, sem que usem o saco de plástico recomendado. Se o usassem deixariam de ser porcos e seria caso arrumado.
Não acredito que as câmaras municipais tenham tanto empenho em criar espaços verdes nas cidades, apenas para que os porcos que os usam, os encham de detritos caninos, desencorajando qualquer outra actividade nesses espaços, incluindo a sua utilização por crianças de tenra idade.
Não acredito que os porcos não reconheçam os malefícios que provocam a quem passa nas ruas, onde eles deixam que os seus animais lhes coloquem na frente, focos de porcarias e infecções, por mais que se finjam distraídos quando isso acontece. Não estão em causa apenas as náuseas, mas também os riscos para a saúde de muita gente.
É bom não esquecer que se recomenda todo o cuidado nos contágios de vírus por falta de higiene, mas esquece-se esta actividade de certos porcos que semeiam doenças e nojo, sem que ninguém lhes diga quais são as suas obrigações. E, normalmente, não são analfabetos a terem mais a preocupação de exibirem os seus acompanhantes, que protegê-los e protegerem quem anda na via pública.
É gente que insulta quem se mostrar agastado com o que vê, que não tem pejo de dizer que quem não devia andar à solta na rua era o queixoso, como se a rua também se destinasse exclusivamente a esses porcos e seus parceiros de passeio.
Depois, ainda há aqueles porcos que põem os seus cães na rua onde moram, sem ninguém a vigiá-los, com a porta ou portão de entrada fechados, para que eles não entrem quando quiserem. São os porcos que querem ter animais ao seu dispor, mas não assumem os cuidados e os compromissos que deviam assumir ao levá-los para casa.
Tudo isto se passa. Até com quem tem obrigações redobradas nesta matéria, como sejam porcos ou porcas que assumem um carinho que dizem extremo por todos os animais, porque se dedicam a eles em organizações, porque vivem deles, ou porque querem protagonismo através da propaganda que conseguem por várias vias.
Pessoalmente, gosto de todos os animais, incluindo o animal humano, mas não alinho na ideia de que gostar de animais é levá-los para a cama como prova de amor.
 
18 Out, 2009

Toda a gente confia

 

Bom, devo confessar que já estou habituado a ouvir muita prosápia em determinada comunicação social, coisa que já não me impressiona minimamente. Contudo, não deixo de sorrir interiormente, quando a coisa toca as raias do ridículo.
Quando digo prosápia, podia dizer basófia, que lá vai dar a isso que me faz sentir num país onde ninguém se ofende com determinadas alarvidades que apenas sensibilizam aqueles que já não sabem o que é sensibilidade. E, já agora, a talhe de foice, também já não sabem o que é bom senso.
Mas, vamos lá à tal prosápia que apenas serve de exemplo a uma prática comum a outros sítios e a outras gentes. Hoje mesmo, no programa televisivo ‘Cinco décadas de rostos que apresentaram o telejornal’, ouvi o actual director de programas afirmar que a informação ali divulgada merece a confiança das pessoas.
Não posso já precisar bem as palavras ditas, mas o sentido não fugia muito de que toda a gente confiava naquilo que ali se dizia em termos informativos. Seja lá como for, tive vontade de levantar o braço e dizer: alto lá… Eu não confio. Como não ganhava nada com isso, fiquei quietinho e caladinho, como se não fosse nada comigo.
Depois, pensei que é assim que anda uma boa parte do país, quietinho e caladinho, perante outra boa parte do país que parte tudo em que toca, ou faz uma algazarra dos diabos, só para não nos deixar ouvir o que não lhes interessa a eles.
No entanto, confesso que sempre aprendi alguma coisa ao espreitar uma parte desse programa, ou não tivesse ele antiguidades para todos os gostos e feitios. Muitas caras de outros tempos que me trouxeram à memória muitas recordações, umas boas, outras más, outras ainda que não deram para rir nem para chorar’.
Manuel Caetano, recordou a maneira como teve de dar uma notícia relativa a um encontro entre o Presidente da República e o Primeiro-Ministro, no tempo do estado novo. Uma mosca pousou-lhe numa pálpebra, o que o obrigou a piscar o olho durante essa leitura frente às câmaras. Calcula-se o embaraço do homem, temendo as consequências do incidente.
Quando nos mostraram a maneira como alguns desses profissionais fechavam o telejornal, inevitavelmente, apareceu o actual pivot, José Rodrigues dos Santos, mostrando como faz as despedidas, um homem do pisca-pisca, nos tempos de hoje. Diz boa-noite e pisca o olho. Para mim, não é, com certeza.
Mas, o que eu não sabia, e fiquei a saber hoje, é que o José, tal como Manuel de outrora, deve estar com a mosca. Assim, compreendo que toda a gente goste de um homem em dificuldades, mas que as supera com um olho divertido. É por isso que toda a gente confia nesta informação.
17 Out, 2009

Quatro anos, não

 

Pela parte que me toca, estou perfeitamente alinhado com todos aqueles que não acreditam nessa história de termos de passar quatro monótonos anos, até vir uma nova oportunidade de expandir a alma e desopilar o fígado, com todas as manifestações cívicas, sobretudo folclóricas, que alguns pândegos nos oferecem com toda a amizade e simpatia.
Quatro anos é muito tempo para termos o país e as suas gentes acomodadas ao sofá, em frente de televisores macarrónicos que só apanham desenhos animados ou necrologia diária que vai pelo mundo fora. Ainda que nos desenhos animados apareçam umas caras conhecidas da política, agora já transformadas em gatafunhos.
Toda a gente anda a falar em quatro anos, apesar de toda essa gente estar certa de que não vão ser mesmo quatro anos. Há quem fale em dois e há quem deseje ardentemente que nem cheguem a ser dois meses. À primeira vista até parece que isto não devia ser assim mas, se pensarmos bem, assim é que está fixe.
Há sempre a possibilidade de sentirmos uma lufada de ar fresco, após um domingo calmo de despejo em urna, antecedido de um sábado cheio de reflexão e silêncio que, por sua vez, será antecedido de uma animação sem precedentes, mas apenas e rigorosamente, durante quinze dias. Também não podia ser sempre, caramba.
Essa lufada de ar fresco que, de maneira nenhuma vai chegar nos próximos tempos, muito menos nos quatro anos que se seguem (ainda há optimistas que acreditam nisso), essa lufada de ar fresco tem todas as condições para nos limpar o suor da fronte e o calor que nos abrasa a alma.
É claro que há sempre os pessimistas que estão mais inclinados para uma ‘bufada’ de ar quente e insonoro, embora não inodoro, que até pode chegar já nos próximos dias, uma vez que o tempo continua a ser de Verão fora de época e de campanha eleitoral fora do calendário.
Pois, mas segundo as previsões ‘mentirológicas’ mais realistas, essa ‘bufada’ de ar quente e seco, pode prolongar-se por uma boa parte do Inverno, isto, dando de barato que o resto do Outono não será lufada nem ‘bufada’, pois anda muita indecisão nas altas camadas de uma tempestade gélida centrada um pouco à direita.
Por tudo isso, não valia a pena andar tanta gente a falar em quatro anos para aqui, quatro anos para ali, quando sabemos perfeitamente, que todos os dias se formam cristas anti-ciclónicas ou tempestades tropicais e, no entanto, com mais ou menos estragos, lá se vai sobrevivendo.
Agora, isso não quer dizer que estejamos felizes por haver uma possibilidade de ficarmos quatro anos a olhar para o céu, que para uns está cinzento de borrasca, enquanto para outros está azul como a cidade tripeira. Portanto, calma aí.
Entretanto, ainda vou consultar o meu bruxo para ver se ele dá uma para a caixa.
 

Pág. 1/2