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afonsonunes

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30 Dez, 2009

Os meus indícios

 

Não é fácil descobrir indícios para guardar na nossa colecção de preciosidades, que nos darão um prazer sem limites quando os mostrarmos aos amigos e a todos aqueles que estão permanentemente à espera de umas deixas para acrescentar à sua própria colecção.
Essa é também uma outra maneira de fazer amigos, a permuta de indícios descobertos, ou colhidos em qualquer campo de cultivo, permitindo também descobrir inimigos de estimação que vêm por pura adesão aos vestígios que se vão juntando.
Há quem tenha milhões de vestígios na sua fértil imaginação, fruto de uma procura exaustiva e de uma memória extraordinária para guardar tudo o que vem à rede, que é como quem diz, à antena sempre aberta às ondas que se passeiam à volta.
Se não é fácil descobrir indícios, por um lado, e há quem tenha milhões deles, por outro, há aqui qualquer coisa que não joga, pelo menos aparentemente. Como tudo tem uma explicação, mais ou menos plausível, diria que tudo depende do engenho e arte dos procuradores de indícios.
Há aqueles que ao sair à rua já estão a ver indícios, porque há uma assistência ruidosa, aplaudindo a sua passagem e gritando indícios que eles próprios descobriram na sua imaginação extremamente fértil, os quais vão juntar-se aos de outras memórias sempre repletas de novidades sobre tudo o que é velho.
Mas, também há os procuradores de indícios que não emprenham pelos ouvidos e, como tal, o indício aparece mesmo e apenas, quando está à vista, e não quando alguém sonhou com ele. Porque o indício não tem que ver com o dono dele, quando mero denunciador de indícios, nem surgir à medida de qualquer indiciado, como se fosse um sapato para o seu pé.
É por isso que, quando chega o momento da verdade, há indícios que se esfumam perante o espanto dos descobridores mas, sobretudo, perante a incompreensão, a raiva até, daqueles que tinham como facto consumado, o veredicto resultante de tais indícios. Que não puderam ser convertidos em provas, como tinha que acontecer.
Vem depois, aos olhos dos coleccionadores de indícios, a transformação dos ídolos em vendidos ao indiciado, como se não fosse evidente que o seu melhor prémio seria o sucesso dos seus recusados indícios. Daí os gritos de indignação daqueles, como se de verdade só existisse aquela que eles sonharam.
Sinais, vestígios, indicações, é tudo aquilo que muitos coleccionadores de indícios nem sequer têm de real, senão aqueles que semearam nas suas mentes mórbidas até ficarem completamente atulhadas, mesmo bloqueadas, ficando impossibilitadas de deixar entrar mais qualquer coisa, seja lá o que for.
Imagino se fossem eles a ver-se envolvidos em indícios que lhes tocassem na pele. Diriam que não são da laia dos que estão em causa. Não sou eu que vou dizer que são melhores ou piores. Mas digo que toda a gente tem direitos e deveres. E não digo que sou a única pessoa séria do país.
País que anda repleto de indícios que não conduzem a nada, que tem muitos indiciadores que bem podiam estar no lugar de alguns indiciados. País que tem inúmeros denunciantes de indícios, que bem podiam ser igualmente justos indiciados, que mais não fosse porque não aceitam que o estado tem a sua estrutura de funcionamento estabelecida e de que eles não fazem parte. E ainda bem, a avaliar pelo que está à vista.
Estruturas do estado que têm missões bem definidas, que têm por obrigação decidir, fundamentadamente, com a coragem de assumir o sim e o não com a mesma clareza, e no momento próprio. E quem está de fora racha lenha. Para quem achar que não é assim, ainda há ilhas desertas onde se pode ser king de si próprio.
 

 

A Câmara Municipal de Leiria, social-democrata até Outubro passado, construiu o estádio Magalhães Pessoa para o Euro, gastando a módica importância de noventa milhões, quando estava previsto ter gasto apenas cerca de dezanove milhões. Aí está um exemplo de gestão autárquica modelo.
Actualmente, os encargos da Câmara com esse estádio ascendem a cinco mil euros diários, o que representa já uma situação próxima da falência, e uma impossibilidade de acorrer a pequenas obras, cuja falta deixa moradores em situações verdadeiramente vergonhosas e sem um mínimo de decência em termos de comodidade primária.
Essa Câmara social-democrata foi incapaz de resolver um problema na Rua do Alambique que impede os moradores de terem acesso normal às suas garagens, de levarem os carros junto das entradas dos prédios, de modo a deixarem aí as suas compras de volume ou peso mais dilatados.
Esse problema surgiu em 13 de Fevereiro de 2009, com o abatimento do piso da rua, numa extensão de duas ou três dezenas de metros. Passados mais de dez meses, os moradores continuam à espera, ainda que de uma solução provisória que, quanto parece, custaria apenas umas centenas de euros.   
Já por várias vezes trouxe o assunto a este espaço. A Câmara social-democrata foi-se embora.
 Tive esperança de que, com a mudança do executivo camarário, houvesse uma mudança de atitude. Agora, a Câmara é socialista mas, já lá vão três meses, e a falta de respeito por quem paga os seus impostos, continua a sacrificar quem tem direitos que deviam ser iguais para todos os cidadãos.
Se a Câmara não tem técnicos que saibam arranjar uma solução provisória e barata, sugiro que consulte os moradores que, além da solução técnica, talvez se disponibilizem para fazer um empréstimo do valor da obra, estou certo, sem exigir qualquer pagamento de juros.
Estes moradores pagam os seus impostos por inteiro, mas nunca tiveram, por exemplo, a visita de serviços de limpeza da rua e das antigas escadas que serviam de acesso aos peões.
É um privilégio morar numa rua destas, numa cidade como Leiria.
Senhor Presidente, Raul Castro, de Cuba, por favor, se permite que tantos portugueses vão aí ser operados aos olhos, permita lá que um técnico, mesmo de baixo nível, venha aqui abrir os olhos ao seu homónimo.   
Muito obrigado, senhor Presidente Raul Castro.
 
28 Dez, 2009

Galinhas chocas

 

A gema é uma das duas partes do ovo. Se o país fosse mesmo esse ovo, com clara e com gema, certamente que teríamos um ovo particularmente pequeno e completamente estragado, dada a incompatibilidade química dessas duas partes tão antagónicas. Como todos sabemos, é extremamente mal cheiroso o ovo podre, quando lhe partimos a casca.
O lema adoptado pela clara, é pretender diminuir a preponderância da gema na pró criação, dando a maior relevância ao facto de a envolver no seu interior, tomando essa posição estratégica como uma subordinação, em lugar de a considerar como uma protecção. O lema da gema é pensar no momento em que vai rebentar com a casca depois de ter comido a clara.
O tema do ovo e do país pareceu-me oportuno, ou não fosse hoje conhecida mais uma fissura na casca do dito, a propósito de um código contributivo de um peditório, que não contribui nada para a função da clara e da gema desavindas. É que neste momento eu nem sequer sei se o ovo já estava galado ou não, o que me parece muito importante.
Este dilema da preponderância da clara sobre a gema, leva-me a pensar com muita profundidade, no motivo porque a galada foi parar na gema que está dentro da clara, ainda por cima sendo branca, ficando a destoar na gema que é amarela. Faço ideia da guerra que se desenvolverá ao longo de todo o período de gestação dentro do ovo.
O problema que se subentende deste desenvolvimento oval é, sem dúvida, um problema político, no qual não há galo nem galinha que possam resolver por eles próprios, as galadas que vão dar vida aos ovinhos que rebolam por todo o país, este sim, um ovo como deve ser, pelo menos na aparência exterior, já que lá dentro, é o que se sabe e já se disse.  
O esquema é muito simples e consiste em insistir em ter dois galos numa capoeira ou, o que vai dar no mesmo, em permitir que o ovo tenha duas cores lá dentro. Por acaso, aqui, até é o amarelo e o branco, mas há daltónicos que afirmam a pés juntos que são o rosa e o laranja. Não concordo com esta classificação, porque isto já são cores adulteradas e, no meu modesto entender, feitas a martelo, do vermelho, com outras, para amenizar.
O sistema, na minha madura opinião, já passou de oval para quadrado, quando originalmente até era redondo, no tempo em que só havia mesmo bolas redondas. É como na política do tempo em que só havia amadores. Agora estamos no tempo em que o profissionalismo se exacerbou de tal forma que já não há sistemas que resistam.
A gema do ovo bem pode reclamar a paz necessária a um frutuoso partir da casca, que a branca, ou a clara, dominadora, envolvente, pensando até em ser asfixiante e esmagadora, ditará o lema que, querendo parecer proteccionista e benevolente, acabará sempre por querer ser uma continuada lição de mestre-escola competente e sabedor.
O tema gera muita controvérsia porque até na culinária há uma enorme confusão, com ovos estrelados, ovos mexidos, claras batidas em castelo, e tantas outras formas de lhe meter o garfo, mas sempre com o dilema de escolher entre a clara e a gema. Juntas, quando mal pacificadas, é que se tornam num problema que acabará sempre mal digerido.
O esquema político, anda normalmente associado aos ovos de Belém e de São Bento, vá lá saber-se porquê, pois as duas espécies vêm de galinhas de Lisboa, embora apareça um ou outro franganote de outros pontos do país, mas esses, normalmente, nem põem ovos. Só os partem, o que já não é pouco.
O sistema é que está perfeito. Uns põem os ovos, outros chocam-nos. Porque está à vista, não faltam no país, muitas e boas galinhas chocas. 
 

 

Antes de mais impõe-se que corrija ligeiramente o título para, é com ele que podem contar. Não sei se aqui, a ordem das palavras é arbitrária mas, se não for, paciência. Não será por aí que virá grande mal ao mundo, pois isto não é nariz de santo. De qualquer forma, pode-se contar de muitas maneiras.
É com ele que podem contar até três, até dez, até vinte, e por aí adiante, porque a cantilena passa depois a ser sempre a mesma, como bem me lembro dos primeiros dias de aprendizagem no colectivo.
Quando vi a primeira vez, aquela informação de que, é com ele que podem contar, pensei que ela já não me interessava, visto que já lá vão bastantes anos desde que aprendi a contar, por sinal, com um professor que sabia da coisa. Mas, fez-me espécie estarem a oferecer os préstimos para uma coisa que já toda a gente sabe, excepto os muito pequeninos que, mesmo esses, já nascem a saber quase tudo.
Porém, com o meu aguçado poder de discernimento, lá concluí que, afinal, se podia contar com ele para muitas outras coisas. Por exemplo, se a gente estiver chateada com o preço da bica ou do maço de cigarros, podemos contar com ele para fazer com que acabem esses e outros atentados ao custo de vida do cidadão comum.
Verifiquei depois que a oferta dele também abrangia a nossa insatisfação laboral com os problemas que nos levantam os patrões e os chefes que nos fazem, quase sempre, a vida negra. Ora aí estava um assunto que logo me fez pensar que isso significava um progresso extraordinário, saber que podíamos contar com ele, para acabar com muitas arrelias e dores de cabeça.
Mais esperançado fiquei ainda quando, inadvertidamente, me lembrei que talvez até pudesse deixar de pagar as cotas para o sindicato, que nem sempre se podia contar com ele, porque o governo não lhe passa grande cartão. Depois, lembrei-me que ele e o sindicato, sempre eram dois com quem eu podia contar, podendo convencer melhor o governo a ter tino nos meus interesses. E as cotas, olha, que nunca o diabo leve mais.
Não, mas aquilo que eu ouvi, e li, era bem claro: é com ele que podem contar. Ninguém me diz que, se eu quiser contar com ele e com mais alguém, posso estar a querer este mundo e o outro. E, quem tudo quer… Portanto, resolvi não arriscar, dispondo-me completamente a contar apenas com ele, mas continuando a pagar as cotas pois, se eles quiserem, que se entendam, de modo a defenderem o melhor possível os meus interesses.
Ainda estou para ver se também posso contar com ele para me aliviar o peso dos impostos, que já me dão água pela barba, aproveitando para lhe pedir que exija de imediato que todos os que pagam passem a receber, e todos os que recebem passem a pagar. Eu já li, que podemos contar com ele para isso e muito mais. Daí que esteja muito confiante.
Tal como estou plenamente convencido que ele vai acabar com os grandes lucros da banca, embora tenha as minhas dúvidas de que vá chegar alguma coisita à minha conta. Conta que, de tão pequena que é, não posso contar muito com ela. Mas é com ele que eu conto, porque para ter mais algum, tenho de contar com alguém. E esse alguém, só pode ser ele.
Tenho ouvido tanta coisa sobre os feitos do governo, que cheguei a convencer-me que toda esta garantia de que é com ele (não o governo) que podemos contar, fosse assim uma espécie de engano propositado a ver se a gente ia na onda. Ou no engodo, se a gente fosse como o peixe, que morre pela boca.
É com ele que podem contar. E eu também, obviamente. Não sei ainda bem para quê, mas temos de ter muita paciência. Saber esperar é uma virtude. Ou um defeito?
 
26 Dez, 2009

Nada de novo

 

O Papa caiu e um cardeal partiu uma perna. Ainda há quem tenha o descaramento de dizer que não há nada de novo. Se isto não é algo de novo, então só nos restam os velhos cá do bairro, que não se cansam de repetir as suas ancestrais asneiras, para que se não diga que eles não sabem nada, nem são capazes de dizer nada.
Pois, eu sei que não é lá muito decente estar a trazer para aqui, figuras tão respeitáveis e, ainda por cima, em situação tão lamentável. Mas, ao que julgo saber, já está em curso um movimento de solidariedade para com a causadora da tal novidade de incidente.
Até nisso, também é caso para dizer que já há mais qualquer coisa de novo. Portanto, por cá, estamos apenas numa fase preliminar de novidades, pois ainda não conheço nenhum movimento tendente a fazer cair alguém, nem a pensar em partir pernas seja a quem for.
Porém, como não podemos fugir à regra de passarmos pela fama de não ter nada de novo nesta quadra festiva, é minha intenção quebrar essa ideia fixa que não tem a menor justificação. Daí que reitere que, de novo, temos muita gente com a intenção firme e determinada de desejar ardentemente que alguém caia, ainda que se guarde o anonimato, tanto do sinistrado, como dos causadores da queda.
Como é óbvio, o acidentado imaginário, não surge com a mesma identidade para toda essa gente que teria esse prazer mórbido, pois estou convencido que nós nunca faríamos tal coisa ao Papa ou a qualquer um dos seus cardeais. Nós gostamos de novidades, mas somos muito menos ambiciosos no que toca à relevância dos incidentes ou acidentes, mesmo os meramente desejados.
Em boa verdade, mesmo muitos dos que sonham com quedas, com ou sem pernas partidas, não deixam de considerar as perdas que lhes provocaria a satisfação de um desejo tão ardente. É que uma queda é, quase sempre, uma queda em cadeia, ou em série, ou cambalhota colectiva, que pode não ser tão selectiva quanto se deseja.
Há sempre qualquer coisa de novo, quando se juntam aqueles que dizem sempre a mesma coisa. E essa novidade pode ser apenas a vontade de que tudo continue a ser velho como eles. Mesmo que apregoem aos sete ventos que o mundo é feito de mudança, mas sempre de olho à espreita com receio que ela se aproxime demais.   
Como estamos no final de mais um ano, não convinha minimamente que as conversas sem nada de novo, passassem em saldo para o seguinte. Convém despejar o saco da roupa suja quanto antes, para ver se começamos o ano com novas roupagens ou, se não houver cheta para tanto, ao menos que seja velha, mas visivelmente limpa.
E digo visivelmente porque temos todos, cada um à sua maneira, uma noção do tamanho das nódoas que andam por aí em movimento, à boleia de fatinhos novos, muitas vezes parecendo que essas nódoas são feitio quando, se repararmos atentamente, veremos que é mesmo defeito, e defeito de falta de limpeza.
Nada de novo, mas não está tudo como dantes. Mesmo o que parece não é, simplesmente, porque aqueles que dizem que não há nada de novo, sentem que já lhes mexeram nos calcanhares, com a grande novidade de que os sentem cada vez mais frios, aquela sensação que as mulheres sentem atrás.
De novo, aquela certeza que já temos hoje de que até o Papa foi empurrado. Como não é nada de novo, haver por cá muita gente com vontade de empurrar alguém mas, cheio de medo de que lhe aconteça o mesmo que ao cardeal que apenas ia ao lado do empurrado.
Nunca se sabe quem é a maior vítima dos empurrões.
 
24 Dez, 2009

Hoje é o dia

 

 Hoje é o dia
Hoje é o dia em que muitos ricos se lembram dos pobres.
É o dia em que muitos se lembram que podem dar uma esmola.
É o dia em que alguns pensam em paz e amor em relação ao próximo.
É o dia em que alguns poisam o olhar sobre o presépio.
Hoje, infelizmente, é um dos dias mais curtos do ano.
É o dia em que falta tempo para se fazer tudo o que se devia fazer.
É o dia em que se devia meter as duas mãos na consciência.
Hoje, sinceramente, desejo a todos, sem excepção, um BOM NATAL e um FELIZ ANO NOVO.
 
20 Dez, 2009

'Tabilidades'

 

Esta palavra não existe senão na minha imaginação e é a designação que eu encontrei para um conjunto de outras palavras que andam a demonstrar a minha inabilidade para lidar com coisas que não compreendo. Mas compreendo perfeitamente o motivo porque tenho essa inabilidade.
A primeira das tabilidades que me ocorre é a estabilidade. Não sei se alguém já notou que andam uns tantos destabilizadores a falar nela, dizendo que lhe querem muito, que não é por eles que ela fugirá, não se sabe para onde, e que tudo farão para que ela não nos deixe nos próximos tempos.
Um desses intervenientes, talvez o mais importante prometedor dessa estabilidade, todos os dias arranja um pretexto, uma espécie de voz de um deus menor, que dá uma no cravo e outra na ferradura dessa tal de estabilidade. Não chego a perceber se ele está a querer estabilizar ou destabilizar a questão. Deve ser defeito da minha compreensão que, por vezes, é muito lenta.
Tenho a sensação de que todos querem estabilidade, mas todos se vão preparando já para a instabilidade. E esta é a segunda tabilidade que, ou muito me engano, ou não joga mesmo nada com a primeira. Cá no meu fraco entender, eles não devem saber o que querem ou, se sabem, andam a jogar às escondidas com o pessoal.
Talvez se trate de um negócio de cuja rentabilidade, (3ª.) ainda não estejam completamente seguros, aguardando estudos muito precisos para se decidirem em definitivo. Há quem fale em contabilidade (4ª.) estratégica de várias hipóteses, favorecendo partes diferentes do conflito.
O problema é que a falta de respeitabilidade (5ª.) de qualquer deles vai ficando a nu, por não serem capazes de nos demonstrarem que estão de boa fé no que dizem e no que pensam de cada um dos seus oponentes, andando todos de tapete debaixo do braço para estenderem ao primeiro que se precipite. Isto também se aplica aos sacristães que incentivam ou travam, consoante a missa da sua devoção.
A teoria com mais sustentabilidade (6ª.) é aquela que diz que um, quer deitar o outro abaixo, porque há um acordo secreto entre eles, ou seja, ambos têm conveniência nessa jogada. Aquele que começa a perder, vem depois a ganhar. E aquele que agora deita abaixo, acabará por se manter de pé, pela mão do seu aparente opositor de agora.
Chama-se a isto, prestabilidade (7ª.) no momento próprio, ainda que tenha de se deitar poeira para os olhos do pagode. Pagode que aceita essas coisas de bom grado, porque não há nada mais bonito que ser generoso para com aqueles de quem se gosta. Porque quem não gosta de ninguém, arrisca-se a que ninguém goste dele, mesmo que ande em grupo ou em bando.
Portabilidade (8ª.) é coisa a que eles estão bem amarrados, de modo que a vida lhes corra de vento em popa, mesmo no meio das tempestades que eles próprios criam para quebrar a monotonia. O destino deles é conduzir o nosso destino, quer queiramos quer não.
Ao longo dos últimos dias tudo isto tem vindo a mostrar uma aceitabilidade (9ª.) indesmentível, até dentro das hostes dos comandos maiores dos supostos oponentes, embora a face visível do icebergue ainda esteja envolta em nevoeiro, não muito cerrado, diga-se.
O grau de prestabilidade (10ª.) de cada um deles é ilimitado, embora me pareça que tudo não passa de fogo de vista que talvez acabe em foguetes de lágrimas para um deles, senão para os dois, em episódios completamente separados no tempo.   
Para lá das dez apresentadas, haveria outras tabilidades e outros protagonistas, normalmente encostados, costas com costas, á espera que as coisas se tornem mais claras depois das luzes apagadas. Certo, certo, é que o rei de Espanha não perde tempo com conversas de ‘chacha’.
E não se pense que sou monárquico, mas os bons exemplos existem em todos os regimes.
 

 

Parece-me um apelo muito oportuno do nosso presidente, pois não vejo melhor oportunidade para essa tarefa. O tempo está frio e o exercício físico fora do quentinho é quase impossível sem gelar tudo o que estiver cá fora.
Ora, no quentinho e em boa companhia, é meio caminho andado para uma digressão ao mundo de onde se pode trazer um menino ou uma menina, quando não um par, ou mais, se a coisa correr melhor do que se espera.
É bem verdade que o futuro se constrói assim. É verdade que o melhor do mundo são os meninos e as meninas que os portugueses não podem esquecer em momento algum mas, principalmente, aqueles que andam distraídos e precisam que os lembrem das suas obrigações quando não estão no serviço.
Sim, não é só ir para o café a badalar até às tantas e depois chegar a casa, cair na cama, e toca a dormir. Claro que isso não é vida para ninguém, excepto para o negócio do dono café que, se calhar até cumpre na perfeição as suas obrigações, depois de fechar o estabelecimento.
É por isso que o nosso presidente não quer falar de casamentos, agora muito mais envolvidos em polémica, que aqueles a que já poucos ligam pois, em boa verdade, eles cada vez contribuem menos para encher de alegria o nosso presidente. Também é verdade que o nosso presidente não gosta nada de falar de coisa nenhuma que esteja envolvida em polémica.
No entanto, essa atitude também já tem causado polémica, porque há quem pense que, se toda a gente pode falar dessas coisas polémicas, como o nosso presidente também é gente, devia entrar no jogo como qualquer outra pessoa, sem estar a pensar que isso não lhe fica bem, ou que as pessoas gostavam ou não gostavam de ouvir a sua opinião.
Talvez, assim, as polémicas deixassem de ser tão polémicas, pois haveria, logo à partida, uma maioria de portugueses que ficavam esclarecidos. Desse modo, a polémica ficava, desde logo, em minoria, o que era quase certo que lá ia ela por água abaixo.
No entanto, a mim também me parece que as polémicas devem ser deixadas para todos aqueles e aquelas que gostam muito de as discutir no café e depois, quando vão para cama, altas horas da madrugada, já estão a cair de sono. Obviamente que estes não ouvem o sensato apelo do nosso presidente ou, então, aproveitam outras oportunidades durante o dia seguinte.
 O que é preciso é animar a malta para que o mundo não acabe, mesmo tendo que exaurir a segurança social, por causa dos apoios. Bem sabemos que não há dinheiro que pague a alegria de sabermos que o futuro está garantido, com muitas meninas e meninos nos colos dos papás e das mamãs, nos infantários, nas escolas e por aí fora.
Quanto ao dinheiro dos apoios, as rotativas que fazem o cacau não vão parar com toda a certeza, como temem alguns pessimistas. Além disso, é caso para perguntar, se não é para isso que estamos na Europa. Se já estão a pensar como salvar a Irlanda e a Grécia, também podemos estar descansados.
Só há um pormenorzito que me preocupa. Se o nosso presidente faz apelos aos portugueses, e bem, para que não se esqueçam dos meninos e meninas, parece-me que também podia fazer apelos, ou mais que isso, para que todos os portugueses, repito, todos, acabem com tudo o que não presta.
 

 

No silêncio da noite há barulhos ensurdecedores. Também nos ruídos da noite há silêncios que enervam. Qualquer destas realidades existem e qual delas a mais desconfortável para pessoas habituadas a determinadas condições ambientais que, provavelmente, fazem parte da sua maneira de viver desde os primeiros dias de vida.
Isso significa que podemos viver condicionados por tudo e por todos aqueles que nos rodeiam, porque não podemos fechar os ouvidos, de modo a ignorar completamente os poluidores sonoros que, por sua vez, se queixam a todo o momento que há quem os queira calar.
Ficou célebre a frase do rei de Espanha para Hugo Chavez. Ficou claro que houve quem opinasse em favor dos dois lados. Por mim, direi que ambos tinham as suas razões, até porque está na moda não se tomar posição de um contra outro, desde que os protagonistas sejam mais ou menos importantes.
Ou então, para estar ainda mais na moda, toma-se sempre partido pelo mesmo, sejam quais forem as razões que estejam em causa. E é aqui que o silêncio da noite chega a ser tão provocante como o ruído da noite. Por vezes apetece dizer a alguém, porque não te calas, outras vezes insurgimo-nos porque alguém se cala quando entendemos que não devia.
Quantas vezes quem quer falar, é impedido de o fazer por quem fala de mais, num sinal claro de que a liberdade de expressão anda muito mal distribuída, pois quem mais a reclama para si, é quem mais exige rolha para a boca dos outros. Cada um que pense em quem quiser.
No silêncio da noite ouve-se muito o pio da coruja que dizem ter o mau hábito de se entranhar nas igrejas em busca dos óleos sagrados. Não se sabe por onde entra, mas sabe-se que entra. Depois, à saída, com o papinho cheio pia, cortando o silêncio e o sono de quem estava bem ferrado nos braços de Morfeu.
No silêncio da noite a caravana avança através dos campos onde apenas os grilos e os ralos dão sinal de vida, que não chega para incomodar os sonolentos viajantes. A aproximar-se da aldeia, o ruído aumenta, o sossego quebra-se, os olhos abrem-se e tentam penetrar na escuridão.
Mas, apesar de serem muitos, os cães vão ladrando sem desafinar, seguindo a caravana, ao longo de todo o percurso dentro da aldeia. Nem os donos dos cães se ralam com o alarido dos seus animais. Já estão habituados à passagem das caravanas e ao ritual que as acompanha. Os componentes da caravana, depois de abrirem os olhos, logo voltam a fechá-los, indiferentes a todo aquele alvoroço canino.
Tudo porque os animais têm o privilégio de poderem dormir o dia inteiro, se lhes apetecer, estando completamente disponíveis para tentar incomodar a caravana que passa durante a noite. Nem que haja caravanas a passar todas as noites. Os cães lá estarão para ladrar, que não lhes fará falta o tempo para dormir.
Não se pode sequer tentar calar os cães, porque é para ladrar que os seus donos os criam, os alimentam e lhes passam a mão no pêlo, em sinal de reconhecimento pelo incómodo que, também eles, pensam causar às caravanas que vão passando.  
Mas, há sempre quem veja as coisas por outro prisma e diga apenas que os cães ladram …
  

 

Alguém me disse que estava farto de ver seringas na televisão, a propósito de qualquer notícia sobre saúde, num festival de espeta e tira, que faz com que muita gente desvie a cara para o lado. Concordo que isso não é um espectáculo divertido, nem tão pouco útil, ao ponto de já se não poder com agulhas, que é o que parece aquele espetanço ininterrupto e continuado.
Depois, acompanhando o engraçado dos adeptos da ‘vácina’ podemos atribuir-lhes a medalha de mérito da injecção de humor, que significa toda a programação que nos oferecem, com seringas ou sem elas. Até já me lembrei do seringador, do qual tenho uma vaga ideia, onde predomina a chatice do tempo. Devo estar enganado.
Esta questão das seringas também me fez lembrar as conversas entre o presidente e o procurador, que agora se encontram com tanta frequência, que me leva a pensar que era melhor passarem a trabalhar juntos, com a vantagem de dificultar perdas de tempo nas viagens onde o trânsito é doloroso.
É também nesses percursos difíceis que se está mais sujeito a contrariedades de toda a ordem, caso das fugas para fora do percurso estipulado. Contudo, nem o presidente nem o procurador se incomodam com essas fugas, alegando que, seguir sempre o mesmo trajecto, se torna monótono e perigoso, por causa dos assaltos que, dizem ambos, ainda são mais perigosos que as fugas, por causa das armas daqueles.
Não percebo o motivo destas comparações, ainda por cima, colocando ambos de acordo sobre matérias tão sensíveis, mesmo tendo em conta que elas devem ocupar uma larga fatia das conversas entre ambos, a julgar pela frequência e duração das mesmas. Tenho a sensação de que devem ser coisas muito indigestas.
Também estranho muito que um outro presidente venha dizer que a comunicação social é que mete o nariz onde não é chamada. Não foi bem assim, mas faz de conta. Ora, parece-me que os presidentes e os procuradores é que deviam fazer com que os narizes que andam a espreitá-los, digo eu, não conseguissem meter-se onde não deviam caber.
Tudo isto já parecem histórias de seringador, onde cada um seringa sem rei nem roque, como se as línguas fossem seringas que espetam, espetam e voltam a espetar, como se fossem pertença daquelas batas brancas que, nos telejornais, passam minutos seguidos no espetanço em braços que vão dos mais humildes aos mais ilustres.
Claro que os seringadores não passam minutos. Passam horas, dias e anos a espetar-nos o juízo, como se a gente estivesse habituada a tratar-se de todos os males com a cura das agulhas redentoras do longínquo oriente.
Coisas do nosso tempo, coisas dos direitos e dos tortos, dirão alguns mais calmos e serenos, no meio desta vida, cheia de sentido e de humor, mesmo com as seringas e os seringadores na sua missão útil e imprescindível para quem gosta e para quem precisa.
Lembrei-me agora de uma notícia que li no Seringador. Há vinte anos que não se realiza a Feira dos Burros em Perrães, acontecimento que tinha lugar na véspera de Nossa Senhora das Febres. Curioso o nome desta santa, por nos indicar que já então havia febres.
Curiosa, esta notícia do Seringador. Mais curioso é o prejuízo da economia nacional na perda de uma feira tão importante. Mas, mais importante ainda, foram os muitos burros que ficaram sem controlo no país, de há vinte anos para cá.  
 

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