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afonsonunes

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16 Dez, 2009

Quero governar-me

 

Sim, quero governar-me, e escusam de começar a pensar que estou a delirar, porque tenho o direito de dizer o que me apetece e a obrigação de não estar a recalcar os meus desejos pois, segundo os entendidos, isso faz muito mal à saúde de quem a não tem. Depois, sou apenas mais um, entre tantos que fazem o mesmo.
Além disso, não vejo onde é que está a diferença entre governar-me, e alguém governar-se por mim, que é como diz, governar-se à minha custa. Isso sim, é anti-democrático, se atendermos a que ninguém pode mandar mais na minha vontade, que eu.
Depois, bem sei que a ideia de governar-me está associada a mandar. Na verdade, não posso governar-me se não mandar nada, e isso é que preocupa muita gente. Simplesmente, porque todos querem mandar e, se eu mandasse em qualquer coisa, eles já não mandavam em tudo.
Para tranquilizar esses mandões e candidatos a mandões, não me importo mesmo nada de me limitar a mandar vir com eles, o que já é mandar alguma coisa. Mas, assim, eles não perdem o mando, nem tão pouco têm de se preocupar em mandar vir comigo, até porque eu sou surdo que nem uma porta, quando se trata dessas coisas.
Isto, pode até parecer conversa de troca o passo, mas não é. Se pensarmos só um bocadinho, logo nos vem à ideia que esta coisa de mandar, está a dar volta a muitas cabecinhas, que também têm esse direito, tal como eu já disse e repito, que tenho. Ou há moralidade, ou comem todos.
E não é assim tão difícil mandar e governar-me, dentro da soberania da minha vontade, apesar de haver sempre uns contestatários que argumentam que eles também têm vontades. A esses, eu digo que a minha vontade é um desejo, enquanto a vontade deles é uma necessidade. Não tem nada a ver uma coisa com a outra.
Ora um desejo é sempre muito mais puro que uma necessidade. Não é difícil saber porquê. O desejo vai para a parte nobre do nosso cérebro e aí fica depositado, à espera de se tornar realidade. A necessidade, vendo bem as coisas, é um desperdício que vai por água abaixo.
Tenho plena consciência que não viria mal nenhum ao mundo se me governasse a mim próprio, mesmo contra a vontade de qualquer outro governo. Bastaria pensar que era menos um monte de trabalhos a chatear quem julga que tem o exclusivo da governação, só porque associa a palavra governo a governar. Por mim penso que um presidente também tem o direito, e o dever, de governar.
Esse é outro problema que se pode colocar com toda a legitimidade. É saber se somos obrigados a respeitar um exclusivo destes que, no fim de contas, é um verdadeiro monopólio. Ora, em pleno século das luzes, não há direito que ainda estejamos às escuras, a tentar jogar um jogo tão brincalhão, onde nem um chavo se ganha.
Já nem sei a que propósito fui buscar esta conversa de mandatos e governações. Tenho a sensação que uma coisa teria a ver com a outra mas, de repente varreu-se-me. Tenho cá uma impressão de que isto é um mal que se pega com a maior das facilidades, pois o que mais se vê por aí, e por aqui também, é gente a quem se varreu qualquer coisita.
O que vale é que são coisitas mesmo, sem importância nenhuma, como se pode verificar com o facto de a vida correr normalíssima, com as pessoas a ir à bola ver as aldrabices do costume, a ir ao cinema ver as fitas que, felizmente, não há cá fora, ou comerem uma latita de atum com feijão-frade, porque já enjoaram os bifes da vazia com batatas fritas do pacote.
A propósito, se eu me governasse à séria, do pacote só queria aquilo que há pouco se me varreu, ou não fosse um pacote recheado de ideias que o país precisa mas que, também ele, se tem queixado de que tudo se lhe tem varrido e que, tarde ou nunca, se libertará da vassoura que bem podia deixá-lo em paz e sossego.
Como se vê, até as vassouras andam por mau caminho. Em lugar de limpar, sujam. É por isso que eu quero governar-me, e ponto final.
 
15 Dez, 2009

Contas de cabeça

 

 Ainda há muita gente que faz contas de cabeça, tal como ainda há quem conte pelos dedos para saber quantos são dois mais três. E muita dessa gente tem negócios mais ou menos volumosos e nunca se engana, ao que sei, se estiverem em causa os seus interesses. Quando se dá o contrário, posso garantir que já verifiquei uns pequenos enganos, mas frequentes, resolvidos com um comprometedor pedido de desculpa.
Ainda é frequente em restaurantes com movimento significativo, ao pedirmos a conta recebermos de imediato a informação oral de que são dez, vinte ou trinta, sem uma discriminação, sem um papel, sem uma factura. E não estou a falar, como quase toda a gente deve saber, daqueles restaurantes que têm preço fixo por refeição.
Falo em restaurantes, como podia falar em inúmeros estabelecimentos de qualquer outra espécie, onde o registo na máquina, se existe, é só para inglês ver. Sei que há quem veja nestes procedimentos uma boa razão para aldrabar o estado que, dizem, não merece mais que isso. E acrescentam que é pena que não façam todos assim.
Daí que também eu já me tenha posto a fazer contas de cabeça, quando me dizem que cada português já deve não sei quanto ao estrangeiro. Claro que essas contas, nem a contar pelos dedos, sou capaz de as fazer. Mas, no que toca à minha dívida ao estrangeiro, prefiro ficar no rol dos caloteiros, a pagar as contas que outros fizeram.
Depois, se eles não as pagarem, parece-me bem que as pague quem sempre achou que é estupendo, ou que é bestial, haver quem se recuse a pagar os impostos que recebeu dos clientes para entregar ao estado, seja lá por que motivo for.
Mais, que pague essas dívidas quem está sempre a exigir que determinadas classes ou pessoas sejam dispensadas ou isentadas, apenas porque essa postura lhes dá simpatia. Por mim, não quero ser simpático se tiver de cometer vigarices para o ser. O estado de direito, infelizmente, anda muito por dentro da permissão dessas franjas de vigarice.
Estas são algumas das contas de cabeça que não encontro na tabuada, facto que me obriga a um esforço mental que não me contempla com qualquer compensação, ao contrário de quem nem se dá ao trabalho de fazer contas de cabeça para arrecadar o que não lhe pertence.
É a contabilidade mais simples e cómoda que existe, as chamadas contas de saco, ou contas de merceeiro, que ainda não entraram no mundo da seriedade e da transparência, muito por culpa de quem devia fazer cumprir as leis, quantas vezes por incúria, quantas vezes também devido à pressão de tanta gente que lhe interessa que não se metam os outros na ordem, para que os não metam a eles também.
Cá pelas minhas contas de cabeça, as quais já vi confirmadas por boas máquinas calculadoras, se todos os autores de falcatruas se deixassem disso, se todos os cidadãos se colocassem em pé de igualdade perante o fisco e cumprissem correctamente as suas obrigações, o nosso querido país não teria défice nenhum e nós, cidadãos portugueses, não teríamos às costas, a tal dívida arrepiante de não sei quanto cada um.
Logicamente que ninguém se poderá fiar nas minhas contas de cabeça, principalmente, todos aqueles contribuintes que têm máquinas calculadoras de alto rendimento, as quais têm uma memória extraordinária, que consegue deduzir tanto nos impostos, que ainda vai buscar parcelas aos bolsos dos que, em lugar de deduzir, acrescentam para, no fim, pagarem com língua de palmo.
Malditas contas de cabeça que dão sempre zero no resto, e no restante, nunca mais se acertam, mesmo com a prova dos nove.
 
14 Dez, 2009

Santos da casa

 

Enquanto os filhos crescem os pais envelhecem. Esta é uma realidade que me faz pensar que quem se convence que tem de dar conselhos aos filhos até se tornar velhinho, e que eles têm a obrigação de segui-los, com o pretexto de que pai é pai, ou mãe é mãe, faz-me lembrar a independência das aves ou dos gatos, após a saída dos ninhos.
Lá diz o ditado - casamento, apartamento - que reflecte bem a independência que a idade madura traz. Tudo tem o seu tempo na vida das pessoas e, por muito que custe, a idade avançada vai trazendo desgastes, enquanto a idade jovem vai acumulando conhecimentos e experiência. Daí que o normal seja que os jovens vão substituindo gradualmente os mais idosos. Sem pressas nem empurrões, como por vezes acontece.
Vem isto a propósito da atitude de certas pessoas que se julgam acima de toda a gente, alegando experiências vividas, do seu ponto de vista, inigualáveis, do ponto de vista de estranhos, nem sempre muito frutíferas, ou mesmo desastrosas. Mas assumem a todo o momento, aquele ar de patriarcas irrepreensíveis.
O mesmo acontece quando alguém desse tipo ascende a uma posição, acima do cidadão vulgar, criando-lhe uma espécie de inchaço no peito que o leva a considerar-se mais importante que ninguém. Por vezes parece defeito, outras vezes, é bem evidente que se trata apenas de feitio.
Então, é vê-los e ouvi-los enchendo a própria boca, com tudo aquilo que enche e arrepia os ouvidos de quem tem mesmo que os ouvir. E o pior é que se convencem mesmo de que quem os ouve, nem pensa duas vezes antes de seguir esses conselhos de sábio, que já esqueceu todas as inutilidades que proferiu ao longo da sua carreira ou da sua vida.
Essa pobre missão de dar conselhos, será pior, se a tendência for para impor conselhos, seja a que título for, porque só quem esteja disponível para os aceitar, poderá acolhê-los com sucesso. E na base desse sucesso tem de estar sempre uma boa dose de modéstia de quem dá e de quem recebe.
Ora o que se vai vendo por aí, em novos e idosos, são pessoas de uma intolerância que faz pena, que pretendem altivamente impor as suas teses de aconselhamento, dentro de uma hipotética sabedoria que muitas vezes apenas reflecte a mais profunda pretensão de impor interesses que nem sabem disfarçar.
Fazem-me lembrar aqueles santos da casa que, dentro dela, não têm sequer voz activa, mas fora dela, na casa dos outros, julgam-se capazes de todos os milagres, depois de vomitados os seus sermões de santos de pau carunchoso.
Toda a gente sabe que santos da casa não fazem milagres, mas a verdade é que continua a haver muita gente que é capaz de se estender a seus pés, convicta de que conseguirá um olhar piedoso, que não dará pão para a boca, mas dá ilusões para a vida inteira.
E o grande problema é que ainda há muitas pessoas que rezam no lugar errado, que adoram santos que apenas o são na imaginação de quem não pensa, ou não tenta pensar, na maneira de obter um pouco de independência libertadora das pressões desta sociedade interesseira, onde as corporações afundam a possibilidade de emancipação dos verdadeiros pobres.
E o mais arrepiante é ver como esses verdadeiros pobres se deixam embalar em braços que nada libertam em seu proveito, porque não há riqueza que consiga satisfazer os seus próprios apetites insaciáveis.
 
13 Dez, 2009

Batedores

 

Sinceramente, estou perplexo como é que ainda não me tinha lembrado de coisas tão importantes. De coisas e não só, porque entrando um pouco no âmago da questão, chego à conclusão que também há batedores e batedoras de carne e osso como eu, assim como batedores de outras espécies indiferenciadas.
Por princípio, tudo o que bate é batedor, não importando no que bate, se bate muito ou pouco, ou até se bate com meiguice ou com violência.
Num país de caçadores não podiam faltar os batedores que levantam a caça, para que ela vá direitinha para onde a esperam. E quem a espera, é exactamente o caçador que adopta essa modalidade – a caça à espera – de arma em punho para disparar ao primeiro sinal de que a vítima está na mira do seu olhar.
Aí está uma actividade nobre, muito bem desempenhada por especialistas que sabem de tudo o que se relaciona com caça, desde os simples melros até às espécies denominadas por caça grossa, como o esperto javali.
Embora nunca ponham o dedo no gatilho, os batedores são elementos essenciais das grandes caçadas pois, sem eles, os caçadores de pontaria mais afinada, regressariam muitas vezes a casa com o trágico bode no pensamento.
Somos um país de batedores, que mais não fosse porque toda a gente gosta de bater em alguém, ou em qualquer coisa. Já lá vai o tempo em que não se batia numa senhora nem com uma flor. Hoje, são as próprias flores que servem para bater forte e feio quando lhes dá na real gana, pois até os bate papos, com eles e com elas, já dão para bater a doer.
Para lá da política dos bastidores, também está muito activa a politica dos batedores, guarda avançada que se ocupa na exploração do terreno, operação preparatória de batalhas que não podem ser espontâneas, sob pena de serem vistas como manobras de alguma indignidade, que resultam sempre em derrotas de guerreiros sem estratégia.
Ainda que não pareça, há um outro instrumento político, que são os batedores de manteiga, destinados a suavizar as batidas mais incómodas, para não provocar rombos causadores de danos irreparáveis nos aparelhos, nomeadamente, no digestivo, que será o mais sensível aos primeiros sinais de ter de se engolir um sapo inteiro e vivinho da costa.
Já se sabe que a política serve para tudo, pois também ela vive de tudo, dizem, de tudo o que é bom e de tudo o que é mau. Agora, verdadeiros e dedicados batedores, são todos aqueles que abrem aos políticos, o caminho do bom e do mau bater nos adversários, ou lhes barram os atalhos por onde possam ser atacados.
Umbilicalmente ligados aos batedores da política, andam muitos dos batedores da informação, tão ligados que muitas vezes se confundem, melhor, muitas vezes são carne da mesma carne e osso do mesmo osso. Batem todos o mesmo descampado, percorrendo as veredas de onde julgam que se levanta caça, ainda que imaginária, encaminhando-a por telepatia para onde outros, mesmo atiradores furtivos, disparem de olhos fechados.
Depois, como bons batedores que são, batem, batem e batem, de dentes cerrados, como se estivessem a bater num saco de treino de boxe pendurado no tecto. O problema é que o saco não se queixa, não se ri, nem dá sinal de responder ao batuque. Tarefa ingrata, a destes desalmados batedores.
 

 

Hoje fiquei a saber que o país tem telejornais, embora desconheça ainda quantos. O país também tem muitos jornais mas com tele suponho que são poucos. E desses, desconheço se todos merecem ser metidos no mesmo saco ou se algum deles tem direito a saco especial, devido ao volume do seu som.
Vem esta treta a propósito do nosso presidente ter acabado hoje uma visita ao país que não anda nos telejornais. Pergunto a mim próprio por onde andará esse país que, tudo indica, o país desconhece. Ou muito me engano, ou isso quer dizer que o país se desconhece a si próprio, o que nem sempre significará ignorância.
Há a possibilidade do nosso presidente admitir que temos vários países dentro do país total. A visita que hoje acabou de fazer foi apenas a um deles. Por sinal, segundo me pareceu pelas referências que ouvi, ele andou pelo bom país. Acho muito bem que esse país receba o privilégio da visita presidencial.
Se não for o presidente a reconhecer que não há apenas um país mau, quem é que o fará? Aposto que em cada cinco portugueses há pelo menos quatro que estão de acordo em que nada presta. Provavelmente, esses ainda não perceberam que, entre esse nada, estarão eles próprios, o que me parece uma injustiça de todo o tamanho. Como sou um bocadinho optimista, acho que tudo tem sempre um mínimo de utilidade.
Essa dos cinco portugueses e dos quatro em cada cinco, não se baseia em qualquer sondagem, senão teria de revelar, por lei, como foram obtidos esses dados ou seja, a respectiva ficha técnica. Limitei-me apenas e eliminar a opinião baixa, recorrendo somente à opinião alta, isto é, à opinião que anda nos telejornais. Que não sei se terá a ver com o país que não anda nos telejornais.
Sempre gostava de saber qual é o país dos telejornais, sem ter que os ver, pois isso seria quebrar uma jura que fiz a mim próprio, há muito tempo. Já me constou que eles são, os telejornais, claro, um tanto estupidificantes. Que raio de termo este, que me parece esquisito de mais para ser verdadeiro. Mais a mais, telejornais apresentados por gente tão simpática.
Já não me admiro de nada do que oiço, mesmo fora dos telejornais, por isso, só vou acreditando numa coisa aqui, noutra ali, vejam só, dependendo da minha disposição para ouvir. Obviamente que esta atitude da minha parte não tem pés nem cabeça, até parecendo que já fui estupidificado muitas vezes.
Também tenho a impressão de que há uma certa tendência para cada um ouvir só o que lhe interessa, assim como eu, confesso. Mas esta do país dos telejornais deixa-me mesmo à beira de um desejo enorme de deitar um foguete. Porque sentiria um prazer dos diabos por ouvir um pum valente, como salva à minha justa jura de não os querer ouvir.
É por tudo isso que me parece que este recado do nosso presidente, não é apenas mais um recado, entre os muitos que ele já enviou, muitas vezes, eu nem sequer soube a quem. Talvez esteja a ser injusto, porque desta vez não deve tratar-se de um recado, mas de um desabafo de presidente, que acha que deve dizer as coisas assim mesmo. À sua maneira.
Eu sei que um dia destes ele acaba por dizer quais são os outros países que não andam nos telejornais, pois ele sabe melhor que ninguém, que os portugueses, todos os portugueses, vão gostar de saber qual é o país em que cada um deles vive.
E, já agora, também tenho a maior curiosidade em saber de quantos países ele é presidente.
 

 

Tenho perfeita convicção de que esta minha ideia meio amalucada, que me deu para apresentar aqui, vai ter o total repúdio de toda a Assembleia, de todos os partidos e de todos os adeptos em geral, mesmo os mais fervorosos, de todas as nacionalizações. Excepto desta, como é evidente.
Lá diz o slogan que tudo o que é nacional é bom. Lá digo eu, que tudo o que cheira a esturro já não presta para nada, porque já está esturricado. Se nacionalizar um banco é bom, porque tem lá cofres cheios de dinheiro, ou devia ter, nacionalizar uma adega particular é bestial, porque deve ter lá muitas pipas que valem muita massa. E podem dar muitas alegrias ao povo triste.
Nacionalizar é sempre qualquer coisa que o povo ganha sem ter que trabalhar para isso. Privatizar é sempre perder qualquer coisa que já deu trabalho e lá se vai de borla para as mãos de quem não quer mexa. Claro, que esta é apenas uma lógica, de entre outras lógicas politiqueiras que todos bem conhecem.
Certamente que não fui só eu a reparar que temos em Portugal um governo particular, um governo privado, que tem por missão administrar o interesse público. Ora isto é um contra-senso de bradar aos céus. Nada justifica esta aberração e ainda não encontrei um motivo, por mais rasca que fosse, que sustente esta situação.
Mais, ainda não percebi o motivo porque toda a oposição, normalmente tão aguerrida e tão reivindicativa, está calada e acomodada, sem exigir o fim deste monopólio governamental que tanto está a custar ao bolso de todos os portugueses, especialmente aos mais desfavorecidos, porque não mandam nada, ainda que muito lhes custe.
Além disso, toda a gente entendida diz que o governo de socialista não tem nada, o que representa mais um bom motivo para lhe mudar o nome. Talvez partido centrista, partido direitista, sei lá, qualquer nome parecido com laranjista, mas sem criar confusões.
Antes deste governo, tivemos governos laranjistas, como toda a gente se lembra. Tal como toda a gente se lembra que foram um sucesso de se lhe tirar o chapéu, de tal modo que ainda hoje, e em sua homenagem, toda a gente refere que temos um governo socialista, para frisar bem as diferenças entre ambos.
Laranjistas ou socialistas foram, ou são, governos do sector público, mas com nomes que não custa a identificar como privados pois, que me conste, os partidos políticos não são entidades do sector público, nem beneficiam desse estatuto em termos de poderem meter a mão às claras nos cofres do estado, nem constam do respectivo orçamento, com muita pena deles, como é óbvio.
Ora aqui é que está o busílis da questão. A verdade é que a massinha acaba sempre por sair do orçamento e os partidos acabam sempre por se governar com ela. Como somos nós, contribuintes, que alimentamos o orçamento, que por sua vez alimenta os partidos, somos nós, contribuintes, que alimentamos os partidos.
Então, não se justifica que tenhamos governos laranjistas ou socialistas, privados em qualquer dos casos, sendo nós o público, a entrar para eles. Penso que já está mais que claro o teor da minha proposta para eliminar esta incongruência do nosso regime político, a qual ainda não foi detectada, nem pelo garante de todos os garantes.
Portanto, concretamente, é preciso e é urgente nacionalizar já o governo socialista, que deve passar a denominar-se governo do país, governo de Portugal ou governo dos portugueses, como já, erradamente, se ouviu em tempos idos, a alguns elementos menos rigorosos, em relação a governos laranjistas.
Os portugueses têm direito a um governo seu, mas mesmo seu, e não governos dos socialistas ou dos laranjistas, que já têm muita coisa que não teriam se fossem governos nacionalizados, para pertencerem, verdadeiramente, ao povo.
 
10 Dez, 2009

E vão três

 

 Não, não se pense que estou a fazer contas de sumir, apesar de ainda estar sob o efeito de mais uns milhões que, segundo acabo de ouvir, se sumiram por vontade de três gestores que, por acaso, até não são do partido que não quer lutar contra a corrupção.
Tenho porém a certeza que estes três homens de bem, estão na primeira linha dessa luta que tanto tem dado que falar, mas que nada tem dado de concreto, porque mais uma vez se nota que uma coisa é falar na coisa, outra coisa é acabar com a coisa.
E essa coisa da corrupção parece que está a entusiasmar os corruptos, que se sentem altamente honrados por tanto se falar deles, criando aquele orgulho tão próprio de gente um bocadinho vaidosa, por pertencer a uma elite que anda na boca de toda a gente.
Ainda há dias ouvi dizer que nove de cada dez portugueses eram corruptos. Se isto fosse verdade, garanto que desses nove, oito ainda acham que no meio da concorrência, se encontram altamente prejudicados e, de entre estes oito prejudicados, sete passam a vida a chamar corruptos àqueles que se pensa que o não são.
Isto não pode ser verdade, pois o que a gente vê à nossa volta é tudo gente séria e respeitadora, mesmo aqueles que se amanham à custa de quem diz que não tem nada a ver com gente dessa. Mas, lá bem no fundo, de conversa está o mundo cheio. E nove em cada dez, é muita gente do mesmo lado.
Parece-me que o termo corrupto já começa a estar gasto de velho e do uso. Talvez houvesse todas as vantagens em arranjar outra palavra de substituição, mesmo uma estrangeirice qualquer, que merecesse mais comiseração, ou mais respeito, não sei, pelos martirizados abrangidos por esta pouca vergonha de tanto se falar deles.
Aposto que estas três vítimas hoje anunciadas, depois de tantas cartas, postais e telegramas à volta deles, debaixo deles e por cima deles, estarão a ferver de vontade de pegar num telefone fixo ou telemóvel, para comunicar a sua adesão à campanha contra a corrupção.
Aliás, não me surpreenderia mesmo nada se fossem eles os autores anónimos da ideia da criação de uma comissão para descobrir os maiores corruptos dos últimos vinte anos. A minha surpresa seria se eles dissessem que não queriam saber dessas coisas, voltando as costas e dizendo que, se fosse hoje, fariam tudo exactamente na mesma.
Apesar de tudo, ainda não são estes novos corruptos, tal como o não têm sido outros velhos corruptos, seus amigos inseparáveis, que estão hoje no topo da informação, desde há muito dominada por apenas um, de entre tantos, que foi eleito por unanimidade para encher a verborreia nacional.
Será uma honra merecer tal distinção, mas seria bom que, sendo ele o melhor dos nove entre dez portugueses que podiam ser distinguidos, os restantes oito também tivessem ao menos uma menção honrosa no meio desta competição tão bem orientada pelos juízes de campo que nenhum organismo arbitral nomeou.
Mas, eu volto ao princípio, porque na origem das coisas é que a gente tira as melhores conclusões. E hoje, é caso para dizer que lá vão mais três. Mais uma vez, é caso para dizer que Coimbra é uma lição, de sonho e tradição.
 
09 Dez, 2009

O bobo e a boba

 

Há sempre alguém que nos faz rir e ainda bem logo, é inevitável que ainda haja uns bobos de serviço, senão lá se vão os nossos momentos de descontracção, com o consequente agravamento dos nossos problemas de stress e nervosismo miudinho, com algumas tendências a tornar-se perigosamente grosso.
De vez em quando oiço por aí falar de palhaços e palhaças mas confesso que não me soa muito bem. Em primeiro lugar, porque há profissionais honestos que, com muito humor, também nos cuidam da saudinha através das suas graças. Em segundo lugar, porque há uns engraçadinhos e umas engraçadinhas que chamam palhaço ou palhaça a quem lhes faz corar o nariz.
Ainda há quem se divirta à brava por alguém chamar palhaço a outrem. Não importa que quem chama pudesse até ser mais palhaço que o chamado, pois isso só poderia ser comprovado com um teste à graça de cada um deles. Isto no caso de se servirem do étimo palha com aço, no seu sentido gramatical mais puro.
Mas, talvez por distracção ou ignorância, usam o termo palhaço como uma ofensa ou um insulto para atingir alguém de quem não gostam, ou de quem lhes convém mostrar que não gostam. Ou ainda porque sabem que alguém vai pegar nessa acção de graças, para lhe dar a tão desejada notoriedade.
O palhaço e a palhaça saltam então para a ribalta sem dizerem graça nenhuma, o que me parece um logro de palhaçada feito, por parte de alguém que não tem, nem engenho nem arte, para encontrar melhor graça ou desgraça, para ocupar o espaço que constitui o seu ganha-pão, que devia ser limpo como o trigo.
É evidente que a palhaçada, só resulta se os seus intérpretes reunirem um conjunto de circunstâncias e requisitos especiais. Vamos supor que era eu a chamar palhaço ou palhaça a esses que surgem na ribalta. Quem é que tinha pachorra para ligar peva a essa parvoíce? É que ninguém se lembraria sequer de dizer que o palhaço era eu.
E ainda bem, porque não tenho mesmo pachorra para a importância que se costuma dar a coisas, cuja importância se resume ao segundo ou ao terceiro sentido que se queira dar à questão, pretendendo introduzir no espírito alheio uma ideia que vai direitinha a quem, ou àquilo que está ali mesmo ao lado.
E então, nesta palhaçada de certa política, onde se aproveita toda a mosca, de toda a coisa onde ela poisa, para alastrar o cheiro dessa coisa, sabendo de antemão que há sempre quem esteja disponível para uma pitadinha, sabendo ou não a origem do produto e o destino que lhe está reservado.
É por isso que prefiro o termo bobo e boba, porque não tem essa tal coisa tão próxima, logo, muito menos mal cheirosa. Também porque os bobos e as bobas, eram muito mais puros no sentido das suas graças, ou não se destinassem elas aos reis e rainhas acompanhados de toda a corte.
Depois, os bobos e as bobas não podiam ir à coisa, nem tão pouco mandar alguém à coisa, senão estavam sujeitos a poisar a cabecinha no cepo e isso era uma chatice de que não havia recurso. Claro que estes palhaços de meia tigela de hoje que, ao fim e ao cabo, só são palhaços no tratamento que usam entre si, não tinham categoria para serem verdadeiros palhaços.
E esses, os verdadeiros, não têm quem os ponha na ribalta, nem sequer na época alta deles, que é o circo, nesta época de Natal.
 
08 Dez, 2009

Tanto tempo perdido

 

Logo hoje, dia da Cimeira de Copenhaga, se haviam de lembrar de nos dizer que vai mesmo haver co-incineração em Souselas, depois de tanta conversa, tantos protestos, tantas sabedorias desperdiçadas e tanto tempo que se ganhou ou se perdeu, conforme os pontos de vista de cada um.
Este acontecimento até vai ensombrar a Cimeira do Ambiente, pois não é difícil dizer, pelo menos para mim, que o dia de hoje fica conhecido na história, não como o dia da Cimeira de Copenhaga, mas como o dia da Cimenteira de Souselas. Se o presidente Obama sabe disto, ainda sai de lá a correr a caminho de Portugal.
Sim, porque ele quer liderar o processo ambiental no mundo e, nada melhor para começar, que vir até nós, ver como as coisas difíceis se tornam fáceis de um momento para o outro. Como tudo por cá, demora é uns anitos, mas Obama tem paciência de santo e tempo é coisa que não lhe falta. Ele sabe já, não sei como, que vai ser reeleito logo, tem muito tempo pela frente.
Aliás, ele também sabe que o Planeta pode esperar, ao contrário do que pensam todos aqueles a quem já falta o ar, devido às alterações climáticas, que também já estão a desencadear a guerra das estrelas. Nota-se perfeitamente que já há indícios de um brilho diferente, em dias de sol e em dias enevoados.
Mas, o maior sintoma de desequilíbrio ambiental ainda está para vir. E nada disso pode ser resolvido na Cimeira de Copenhaga, nem na Cimenteira de Souselas, mesmo que Obama resolvesse dar cá um salto de surpresa. Nem tão pouco se resolverá com a vinda do Papa. Que estará quatro dias a orar em permanência com o nosso presidente, quem sabe se sobre o nosso ambiente. Que há quem diga que anda fresco.
Aquele desequilíbrio ambiental, tão pouco terá a ver com a globalização, mas já terá uma ligaçãozinha ao capitalismo selvagem e aos especuladores financeiros, que tudo compram quando se lhes metem coisas na cabeça. E eu, que não tenho grande cabeça, mas tenho um nariz razoável, já me cheirou a um negócio brilhante.
Como no planeta já não há nada de jeito para comprar - é o problema das falências - vejo muitos olhares dirigidos para cima, muito mais para cima do planeta, numa observação pormenorizada das estrelas que brilham mais lá no alto. Sim, porque há estrelas e estrelas, como em tudo na vida.
E agora é que se pode escolher à vontade, enquanto não estão inflacionadas pela procura desordenada e febril que não tardará a surgir. Por enquanto ainda só há olhares e desejos, olhos que brilham mais que muitas estrelas meio ensombradas, se é que não se vislumbram já algumas estrelas assombradas.
Tudo porque a estrela Sol quando nasce não é para todos, pois o poder de compra de alguns, vai ter uma influência fatal no destino das estrelas, no ambiente global e na diferença entre elas próprias. Aliás, já se nota que há estrelas de brilho tão fixo como o dos planetas, como há estrelas cadentes que tombam com uns empurrões, não sei se do próprio Sol.
Tenho cá uma vaga impressão que os adeptos e as adeptas das nacionalizações de tudo o que querem dominar, já começaram os trabalhos preliminares para a nacionalização das estrelas, estando ainda em aberto a nacionalização da estrela Sol, problema que a Cimeira de Copenhaga não deve abordar, por causa do medo das radiações solares.
Após estas tão desejadas nacionalizações, seguir-se-á a confirmação oficial da posse das estrelas que já estarão em poder dos e das respectivas proprietárias. Só que a partir de então, ficarão a constituir monopólio definitivamente concedido. Como já vemos agora, a título provisório, debaixo deste Sol que não aquece nem arrefece.
Ainda dizem que o Sol quando nasce é para todos. Até Obama diria que não. E o tempo vai passando, aumentando cada vez mais o tempo perdido.
 
07 Dez, 2009

Concordo

 

Nem sempre estamos na mesma onda, mas desta vez não tenho dúvidas em afirmar que estou completamente de acordo com um dos faladores de serviço habituais do CDS, quando disse que “a justiça em Portugal precisa de uma venda na boca”. É claro que a minha concordância só é válida se a venda a que ele se refere for uma coisa para vendar a boca.
Por princípio, nunca gostaria de ver alguém com a boca vendada mas, neste caso, é a justiça que está em causa e, em boa verdade, a justiça não tem que falar para cumprir a sua difícil missão.
Se ela falar antes, não é a justiça que fala. É alguém que, simplesmente, devia estar calado para que a justiça surja no momento devido. Se falar depois de ter sido feita justiça, é extemporânea qualquer explicação, pois todas as dúvidas devem ficar completamente esclarecidas no momento da leitura da sentença.
Voltando à frase da venda na boca, já não estou de acordo, se a venda se referir ao verbo vender, pois existem alguns indícios de que algo do que sai da boca se compra e vende com frequência, como se deduz de tanto material jurídico, ou pretensamente jurídico, que aparece à venda, depois de transformado em outras sedes.
Acabo de me lembrar de outras vendas, estas de outros tempos, tão distantes que talvez já poucos se lembrem delas. Essas vendas foram as versões originais das tascas e das tabernas de hoje, que estão quase a atingir o nível de pequenos bares ou cafés de aldeias ou de bairros.
Parece à primeira vista que nada terão a ver com a venda da boca da justiça. Têm sim senhor. Naquelas vendas, de ontem ou de hoje, havia quem se encharcasse até toldar a vista. Depois, havia muita maneira de fazer justiça às cegas, nesses bairros ou nessas aldeias, que não eram muito diferentes do país de hoje, onde se mata por uns cêntimos, ou pelo preço de mais um bagacinho.
Portanto, esta coisa das vendas tem muito que se lhe diga. E, por causa disso, a ter que se vendar a boca da justiça, também convém vendar muitas bocas de incêndio, que não há bombeiros que consigam meter-lhes a mangueira no sítio certo. E a culpa não é dos bombeiros certamente, que nem água lhes dão para esse efeito.
No ponto em que as coisas estão, parece-me que nem vendendo a alma ao diabo se conseguirá desvendar estes mistérios das vendas da justiça. Talvez fosse aconselhável requisitar uma brigada especial à CEE para acabar com as muitas vendas que andam nela, mas também, e principalmente, fora dela, pois bastava que não houvesse receptadores para essas vendas obrigando, desse modo, a que todo o negócio fosse por água abaixo.
Convinha que essa brigada especial viesse, especialmente, bem treinada para actuar em meios subterrâneos e submarinos, pois os nossos melhores especialistas em matéria de vendas, não costumam actuar à superfície, onde poderiam ser incomodados com pedidos de autógrafos, se esquecessem as vendas nos olhos para não serem reconhecidos.
Renovo pois a minha concordância com o declarante do CDS que, pelos vistos, não tem nenhuma espécie de venda no seu espírito, de entre aquelas que me passaram pela cabeça enquanto desvendava o que vai pela minha cabeça. Tenho a convicção de que não vai por lá grande coisa.
Depois, há aqui um dilema terrível. É o problema das vendas no pensamento. Não esquecer que a boca também é seu porta-voz. Se a vendam, ou se a vendem, pobre pensamento.