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afonsonunes

afonsonunes

 

A pedido de variadíssimas empresas, de milhentas famílias e de numerosíssimos sujeitos em nome individual, o país está a precisar de uma terapia de choque que mande isto tudo para o reino silencioso da sucata, de onde ressuscitará após miraculosa intervenção da santificada e imaculada santa Justa de Aveiro.
O nome da santinha diz tudo, principalmente, a todos aqueles que não acreditam que ainda temos rincões nacionais onde tudo se faz justamente, onde tudo o que se diz é insusceptível de ser contrariado ou desmentido por quem quer uma justiça terrena, em lugar da justiça divina de santa Justa de Aveiro.
Porém, tudo tem uma solução de forma a ir ao encontro de todos os injustiçados deste país que, segundo cálculos feitos a olho pela minha pessoa, deverão ser prá aí, à volta de noventa e seis ponto oito da população lusa, talvez porque seja esse o cálculo proveniente da mesma fonte, referente à percentagem de fidedignos dependentes daquilo a que alguns, poucos, também apelidam de subsídio à dependência.
Mas, vamos lá à terapia de choque antes que se faça tarde e alguém invente melhor saída para esta coisa de que todos falam com perfeito conhecimento de causa. E, já agora, assim é que é falar, com a perninha direita e o braço meio enterrado no bolso para não arrefecer a mãozinha, pois agora não se pode andar com ela de fora.
Há quem diga que isto já não tem remédio, mas eu recuso terminantemente essa visão anti-medicinal, precisamente, por acreditar na tal terapia que nunca mais me resolvo a libertar. Afinal, essa terapia é simples e baratinha, comparativamente com as complicadas, inúteis e dispendiosas maneiras de nunca se chegar a qualquer conclusão ou solução.
Cá para mim, tudo se resolvia na maior se, acima de todas as altas instâncias do país, se colocassem dois homens com poderes suficientes para fazerem tudo o que eles dizem que nos falta. Repito, com poderes suficientes para fazerem tudo o que eles dizem que nos falta. Ora isto, extremamente fácil de fazer, nem sequer representava um constrangimento para ninguém.
Porque todos os que mandam agora podiam continuar a mandar como até aqui, sem que os seus ‘mandamentos’ produzissem qualquer efeito. Quanto a estes, nada de novo. Temos tido sempre muita gente a mandar, mas muito poucos a obedecer. E os que obedecem não adiantam nada, por causa dos outros.
Mas, há quem saiba da coisa e, espertos como somos, temos de aproveitar as pessoas certas para os lugares certos. Então, proponho para os dois altos cargos, cargos de topo, a criar na superior estrutura do estado, o engenheiro Marinho e o doutor Belmiro, personalidades que já nos habituaram aos mais elucidativos diagnósticos da situação actual.
O engenheiro Marinho metia isto tudo na ordem em poucos dias, porque ele sabe perfeitamente onde devia mexer de imediato para acabar com todos os clãs que mais não fazem que guerrear-se permanentemente na busca de poderes que os elevem e rebaixem quem lhes faça, ou lhes queira fazer sombra. Além disso, um engenheiro como deve ser, é capaz de construir um novo edifício onde a paz e a justiça não passem de meras promessas e desculpas de todos os que moram nos velhos edifícios actuais.
O doutor Belmiro tirou o curso em empresas. Ora, o estado é uma grande empresa, e esse é o seu currículo que demonstra que, quando abre a boca, sabe do que fala. No seu ramo, claro. Mas, para abrir a boca sobre política estão lá os outros. Contudo, para fazer dinheiro que encha a barriga aos muitos sedentos dele, o doutor Belmiro só precisa de carta-branca para fazer, no estado, aquelas coisitas que ele tão bem soube fazer ao longo da vida.
Estou certo que o doutor e o engenheiro que temos, não vetam o engenheiro e o doutor que agora proponho. Não para os mandarem para outro lado, mas para mandarem naquilo que eles nunca souberam mandar. Não interessa qual é o doutor e qual é o engenheiro. O que interessa é quem é capaz de fazer o que sabe e mandar calar os que não sabem.
 

 

Toda a gente sabe que os capatazes não são eleitos pelos elementos que constituem a sua capatázia, ou seja, os capatázios que trabalham sob as suas ordens. Os capatazes são eleitos pelo maioral de que dependem, única e exclusivamente, sob a sua soberana vontade. Melhor dizendo, e para simplificar, o capataz é escolhido a dedo pelo seu programador.
No reino das capatázias todos os governantes são eleitos e, de quatro em quatro anos, normalmente, saltam fora por ordem, justa ou injusta, de quem se serve de um papelinho chamado voto. Mas, não se sabe bem porquê, aceitam quase sempre todos os capatazes que já os antecessores dos seus antecessores tinham aceitado.
Isso quer dizer que os governantes vão mudando, vão rodando, mas os capatazes, bons ou maus, só mudam quando se mudam desta para melhor. Gostava mesmo de saber porque razão os governantes não fazem uma limpeza de vez em quando, sobretudo, quando a capatázia está podre, a cheirar a mofo, afectando nitidamente todos os narizes normais dos cidadãos que não são anormais.
Quem não andar distraído identifica facilmente as muitas capatázias que temos à volta, emanando um pivete dos diabos e, no entanto, os capatazes mal cheirosos são, sistematicamente, reconduzidos no final de cada mandato, ainda que os catapázios estejam fartos de os aturar.
O pior é que mais fartos estão os cidadãos deste reino, de ver que tudo evolui no sentido da continuidade de todos os capatazes e de todas as catapázias, que não se limpam por dentro, por motivos óbvios, nem aparece alguém com poder para ir limpando, no mínimo, a porcaria que dá mais nas vistas.
Parece incrível, mas a porcaria é o sustento de muitos capatazes que nunca têm dificuldade em arranjar os capatázios suficientes para que todos sobrevivam à grande e à francesa, à custa das dores de cabeça que vão causando a todos os cidadãos que se alheiam ou nem se apercebem de que são eles os mártires de todas estas infindáveis catrapázias.
Os mandatos já de si são extensos de mais, quando os capatazes andam por caminhos demasiado tortuosos, com curvas a mais, merecendo um vermelho directo logo que se dá por esses desvios, sem esperar pelo fim do mandato. Isto seria o normal se houvesse gente no sítio certo, capaz de mostrar que sabe que há coisas que se devem ter sempre no sítio certo.  
Não é nada disso que se passa. Os mandatos cumprem-se sempre até ao fim, haja o que houver, e são renovados, aconteça o que acontecer, como se tudo corresse às mil maravilhas. Que é assim, basta ir lendo as notícias que nos chegam no dia-a-dia.
Até parece que o país está transformado num reino de tipo siciliano, onde não há poder que seja capaz de se sobrepor ao poder de certos capatazes, nitidamente protegidos por outros poderes mais ou menos antigos, mais ou menos obscuros, que não deixam que nada nem ninguém interfira no seu poder.
Neste reino dos capatazes intocáveis, inamovíveis e quase imorredoiros, cheira bem, cheira a podridão perfumada com várias especialidades das chamadas porcarias nobres.
 
21 Jan, 2010

Não me apetece

 

Nada nem ninguém está a impedir-me de fazer apenas aquilo que me apetece, ao contrário de tanta gente que anda para aí a apregoar que não a deixam fazer tanta coisa que gostava de fazer e alguns, mais prejudicados se sentem ainda, porque dizem que não os deixam dizer aquilo que lhes vai na alma.
É uma coisa que me faz alguma confusão, haver uma discriminação tão grande, entre aqueles que falam sem limites, como eu e muitos outros que leio diariamente, que oiço diariamente, que até aturo diariamente, e aqueles que dizem que lhes tapam a voz, que lhes tiram a caneta da mão, ou lhes barram o acesso ao computador.
Pasmo, porque não percebo, a razão porque se calam ou, se falam, não digam quem lhes faz essas maldades, limitando-se a queixar-se que lhas fazem. Não tenho dúvidas que muitas vezes nos impedem, através de muitas maneiras, de chegarmos onde queremos, mas isso são pequenos truques de alguns desses que tantas vezes se queixam, vá lá saber-se porquê.
Por vezes, já não me apetece dizer nada, porque já disse tantas vezes a mesma coisa, embora tentando sempre arranjar maneiras diferentes de as dizer, que me vem logo à ideia como se sentirá quem me lê se, eu próprio, já não encontro motivo para insistir nesta tarefa inglória e notoriamente sem qualquer resultado.
Embora as minhas pretensões sejam muito limitadas, sou mais levado pelo prazer que normalmente sinto, quando me disponho a exteriorizar aquilo que me apetece pôr cá fora. Mas essa é a única limitação que encontro, daí que pense que só se cala quem quer, ou quem tem interesses em dizer que o querem calar, dizendo apenas o que lhe convém.
Quando passo os olhos por determinados artigos e respectivos comentários que geram, chego a pensar que esses autores e esses comentadores são uns privilegiados, porque ninguém os incomoda, comparativamente àqueles que estão constantemente a queixar-se de não poderem dizer nada, por estarem a ser perseguidos permanentemente.
Normalmente, quem se queixa, queixa-se de instâncias que nada têm a ver com isso, enquanto a pequena censura e o cala o bico, se pratica cá muito mais abaixo, por ditadores de meia tigela, que têm apenas o poder de uma secretária e de uma cadeira, onde pouco mais fazem que dormir a sesta durante todo o ano.
Depois, se alguém os acorda ou os manda ir dormir para outro lado, cai o Carmo e a Trindade, porque é uma perseguição vergonhosa, ou até um atentado à liberdade de se fazer o que se quer e dizer o que apetece, sem olhar aos outros, às leis, ou deveres que eles não suportam ter. Como exigem que os outros tenham.
Vai acontecendo com muita frequência apetecer-me ficar quieto e calado, só para não entrar em conflito de que nada resultaria, senão o inconveniente de criar outros mal entendidos, também muito frequentes nas discussões de lã de cabra ou pêlo de ovelha, tantas vezes para confundir a razão que não se tem.  
Hoje, não me apeteceu mesmo nada puxar pela caixa dos pirolitos. Podia ter ficado quietinho, mas também não me apeteceu. Isto quer dizer que não sou diferente de boa gente que bastas vezes só contribui para mobilizar os desanimadores nacionais, que começam a acreditar que a vida se ganha com estas inutilidades.
Mesmo assim, gostaria de não ser comparado a alguns ‘opinadores’, especialmente, àqueles que mancham certas páginas de pasquins regionais, onde julgam que trocam a sua ignorância nata, por ilusões de conhecimentos que só existem atrás deles.
Podia dizer mais umas coisas mas, sinceramente, não me apetece.
 
19 Jan, 2010

Preocupado,eu?

 

Se estivesse preocupado andava triste, provavelmente, lamentar-me-ia muito mais do que o tenho feito, pois quando pairam no ar algumas nuvens ameaçadoras do nosso futuro, a gente tem tendência para amolecer a genica e endurecer o rosto, como se estivéssemos a pedir um safanão daqueles que nos afastam os mais fundados receios.  
Ora acontece que desde estes últimos dias, tenho todos os motivos e mais um, para andar alegre e bem-disposto. Tenho a certeza de que já repararam na minha cara, muito longe daquilo a que alguém, com pouco espírito de observação, chamou cara de pau. É sabido que cavaco é pau, é madeira, mas eu não tenho nada a ver com isso.
Também o facto de um tal homem alegre ter feito uma declaração de concorrência à minha pessoa, não tem nada a ver com a minha alegria, nem tão pouco com a tristeza imaginária que certos observadores de meia tigela pretendem ver na minha falta de reacção a essa declaração que não ouvi, nem está na minha intenção vir a ler ou a ouvir.
Como isso não está nas minhas preocupações actuais está, obviamente, na minha sensação de conforto, num presente que veio numa esplêndida ocasião, em que alguns desconfortos ameaçavam tirar-me o sono.
Agora estou preocupado com o Carnaval que aí vem não tarda, com os seus corsos atrevidotes, onde receio bem aparecer num carro alegórico demasiado pequeno, com a tal cara de pau que não tenho, atrás de outro carro enorme, com um sujeito muito alegre, de barbas, lendo poemas do norte de África, num português meio argelino.
Também estou muito preocupado com o investimento, que nunca devia ser prioritário, naquelas ‘boazonas’ que põem nos carros alegóricos onde vão os outros, alegres e sorridentes, passeando a vista por aquelas acaloradas e irrequietas mal despidas, que até os fazem esquecer as tais prioridades e todas as opções que eu proponho.
Essa de dizerem que é Carnaval, ninguém leva a mal, é uma treta que não entra cá nas minhas. Sim, porque as minhas tretas são mesmo tretas de verdade, não é como essa treta alegre, ou essa outra de quem ainda não sabe se fica alegre ou triste, com a tal declaração que não está ainda nas minhas preocupações.   
Pois, não está ainda. Porque, por agora, quero gozar o sossego que essa declaração provocou no meu íntimo, muito íntimo, muito escondido, que mais não fosse porque rachou ao meio as esperanças daqueles que, anteriormente, criavam em mim alguns receios também muito íntimos, muito escondidos, agora totalmente infundados.
É por isso que, finalmente, posso respirar de alívio porque não é todos os dias, que se arranja um adversário aliado, ainda que luso argelino, muito ´bacano’ e que ainda por cima arrasta consigo um bloco enorme de camaradas.
Eu sei que há dias de sorte. O dia em que nasceu a tal declaração só é comparável a outro semelhante de há uns anos atrás. Dizem até que certos dias de sorte mudam radicalmente a vida da gente. Mas não é a gente que tem essa sorte.
Se eu pudesse ser ‘bacano’ para quem me dá de mão beijada tanta sorte, em duas oportunidades seguidas e tão flagrantes, não tinha dúvidas em o condecorar com a mais alta recompensa, além de lhe oferecer uma boa reforma. Claro, muito melhor que aquelas que já tem, senão lá se ia o meu acto de benemerência.
Digam lá que não tenho boas razões para afirmar, que nem às paredes confesso, as minhas reais preocupações.
 
18 Jan, 2010

Amanhã vou a este

 

Podia ir a outro lado qualquer, mas entendi que fazia todo o sentido rumar naquela direcção, que mais não fosse, para marcar uma certa diferença com todos aqueles que resolveram ir a oeste. Bom, também podia ter optado por ir a norte ou a sul, mas aí haveria logo quem atribuísse conotações pouco claras, que eu de todo não quero.
A verdade é que eu tinha de ir a um lado qualquer para vincar bem o rumo que pretendo meter no GPS, com vista às minhas viagens por todo o país que, a não começarem já, corro o risco de cair numa modorra que me levará, inevitavelmente, a uma sesta prolongada, que só serve para alegrar aqueles que pensam que eu passo a vida a dormir.
Indo para este tenho perfeita consciência de que os frutos são mais maduros e menos bichados que no lado oposto e tenho a garantia de que vou encontrar uma certa sede provocada por um vento suão que deixou tudo seco e virado de pernas para o ar. Ora, não há nada melhor para uma viagem, que a certeza de encontrar muitos braços no ar à minha espera.
É sabido que eu não mato a sede a ninguém, pois já me basta a minha própria sede, que chega a ser mesmo muito incómoda, e até teimosa e provocadora, mas no este basta-me exibir um sorriso daqueles que nunca mais acabam, para que tudo fique saciado, mesmo continuando com a boca seca como a palha de centeio lá do sítio.
Já me perguntaram se levo alguma lembrança para aquela gente que me aguarda com muita ansiedade e muito maior necessidade. Respondi que não, pois não tenho ninguém que me vá às compras, nem tenho ninguém que me fie nada no comércio, com o argumento de que o meu ordenado não dá para extravagâncias.
Contudo, sei de fonte segura que já houve quem prometesse matar-lhes a sede em poucos minutos logo, tenho a esperança que nem me falem nisso, senão lá terei de recorrer ao telemóvel e enviar com urgência uma mensagem daquelas a que vulgarmente chamam recados.
Para não ser muito directo, o conteúdo dessa mensagem/recado alertará alguém em termos indefinidos, presente algures em lugar dificilmente identificado, para o facto de que no este não chove há muito tempo, pelo que é urgente que o referido fulano, abra os olhos e não vire as costas a tanta sede junta. Direi mesmo que tem obrigação de o fazer, senão garanto que vai haver mais recados, que são o meu subsídio sempre à mão.    
Esta simples e frutuosa acção, resultado de uma viagem meticulosamente programada, já chega para deixar em festa todo o este, como se uma nova era de prosperidade nascesse nesse mesmo dia. Não posso garantir antecipadamente se nasce ou não, mas lá que vai nascer uma nova polémica, ai disso não tenho dúvida nenhuma.  
Tal como é costume, ninguém me vai perguntar nada sobre o que vou ali fazer. Em certa medida, têm razão, já que sabem que tudo isto é apenas uma estafa, longe dos problemas das estufas que o vento levou e dos tomates que ficaram irremediavelmente atrofiados de verdes. Mas as picantes malaguetas, que se salvaram milagrosamente, serviram para animar as conversas preparatórias da minha ida a este.
O anúncio da visita em si não despertou grande interesse fora do este. Mas eu parto para ela com a satisfação interior de que já tenho companhia para a digressão que mais tarde farei pelo país. Satisfação que resulta do facto de ter antecipadamente garantido o sucesso que alguns começavam a pôr em dúvida.
É por isso que esta viagem ao este é já o início de uma digressão triunfal, alegre, muito alegre, pelo que se justifica que, fora do este, já só queiram falar-me da alegria que sabem que eu sinto, mas que não quero nem devo demonstrar para já. Se alguém vir um parvo no meio de tudo isto, não sou eu com certeza.
 

 

Mas é que nem pense em subir os impostos, só porque alguém lhe anda a fazer rasgar as contas que já tinha feito e, depois delas feitas, ter dito que não aumentava os impostos, que são o nosso quebra-cabeças e a causa próxima e remota de termos os bolsos permanentemente rotos.
Nem pense, repito, em aumentar os impostos de forma generalizada para todos os pagantes, embora possa aumentar astronomicamente os daqueles que não pagam, muitos deles que nunca pagaram, nem pensam vir a pagar, por muitos anos que vivam na santa harmonia de um regime fiscal que, para eles, é bestial.
Se pensar aumentar os impostos pode ir preparando os ouvidos para o coro de suplementos de adjectivos que lhe vão acrescentar ao nome, na medida em que os seus admiradores habituais se vão juntar ao já largo e comprido coro daqueles que já repetiram vezes sem conta os respectivos reportórios.
Parece-me que, se o Senhor Ministro não tem fortuna pessoal para acudir às inúmeras necessidades dos contribuintes que só recebem, então não devia ter aceitado o cargo que exerce. Porque já devia estar prevenido para a eventualidade, mais que provável, de não haver dinheiro para tantos pedintes.
E também já devia saber que não podia contar com o dinheiro que anda nas mãos de quem só está disposto a dar apoio moral a quem precisa, embora lhe dê todo o apoio para que o Senhor Ministro entre com o seu. Se não o tem, temos o caldo entornado porque é para isso que servem os governantes.
Oh Senhor Ministro nunca entre pelo caminho dos ameaçadores permanentes, isto é, não faça ameaças, do tipo, se não me deixam cobrar, aumento os impostos. É claro que eles ameaçam logo com o conhecido slogan de, não pagamos. E nada custa ameaçarem com uma mega manifestação de, prá aí uns vinte ou trinta mil, mesmo mal contados.
E depois, nada custa exigirem a demissão do Senhor Ministro em nome do povo português, que não quer saber se o Senhor devia ou não ter dinheiro para tudo o que lhe pedem, melhor dizendo, para tudo o que lhe exigem. Está a ver o filme em que se via envolvido, se resolvesse a despropósito aumentar os impostos.
Portanto, no seu lugar, eu nunca pensaria numa coisa dessas, ainda que tivesse de ir pedir uma ajudinha ao sublimado belenense que, excepcionalmente, não se importaria de contribuir com o seu saber, para a resolução de um problema de excepcional importância para o povo português, que nele confia e de quem espera sempre uma palavra de verdade e sabedoria.
Mas, melhor ainda que qualquer ajudinha providencial, proponho-me ser mais concreto, cooperante e, no meu entender, muito mais eficaz, porque eu proponho uma ajuda palpável, daquelas que não é só blá blá, nem falinhas mansas aos corações empedernidos. Eu quero ajudar e vou provar que estou a sincero e leal para com o Senhor Ministro.
Por isso, daqui garanto ao Senhor Ministro que pode aumentar os meus impostos, na percentagem que entenda justa e necessária, porque juro que não vou reclamar, nem vou manifestar-me fora da minha casa. Aqui, no aconchego do meu lar, posso protestar à vontade, mas isso fica ao meu exclusivo critério e dos meus familiares, no direito que nos cabe à indignação privada e familiar.
Senhor Ministro, com total franqueza e lealdade, só lhe peço que não me aumente os impostos de modo a que fique a pagar mais de que ganho, senão tenho que lhe pedir um subsídio compensatório. Não existe? Agora é que não compreendo. Então eu sacrifico-me a tudo e o Senhor Ministro não pode fazer um pequeno sacrifício?
Já agora, aí vai mais uma proposta honesta. É mais que justo que aumente apenas os impostos daqueles que só querem aumentar a mama e diminuir o leite.
 

 

Ainda não ouvi nenhuma sonora gargalhada por esta afirmação categórica, talvez porque ninguém se quer dar ao trabalho de a dar, mas já adivinhei umas tantas caretas enfeitadas com sorrisos brincalhões, como que a dizer, quem será este, para merecer ser condecorado.
Pois o problema está aí mesmo. É que não sabem quem eu sou, senão, estou em crer, até concordavam plenamente comigo. É sempre bom conhecermos os fundamentos para depois podermos chegar aos levantamentos, isto é, passarmos das raízes para a rama.
Quando oiço falar que alguém vai ser condecorado arrebito logo as orelhas e ponho-me a pensar. Passado algum tempo concluo que a maior parte das vezes não encontro motivo nenhum para tal honra, logo, não havendo motivo, também me parece que não há honra nenhuma.
Parece-me que tem sido condição quase essencial para se ser condecorado, ter sido governante. E a prova disso é que já devem ter sido quase todos condecorados. Seguindo a minha lógica, muitos deles foram condecorados por não terem feito nada, senão o país estava diferente. Sim, compreendo que alguém diga, mas diferente de quê.
Como não sou de intrigas, direi que estaria diferente daquilo que fariam dele os candidatos a governantes que nunca conseguiram sê-lo. No entanto, esses heróis nunca foram condecorados e têm muito poucas hipóteses de vir a receber uma medalhita das mais baratas. A não ser que vão para um clube de pesca qualquer.
Ora, só o facto de nunca ter sido governante, já me devia dar direito a ser condecorado. Porque nunca fiz daquelas coisas que nos deixam na cauda de quase tudo, podendo orgulhar-me de nunca ter prejudicado o país nem os portugueses, com os meus disparates, que ficaram sempre no âmbito das minhas parvoíces privadas.
Se isso não merece uma condecoração, então, acrescento mais um motivo para a merecer. Não sou, nem nunca fui um político daqueles que não fazem, nem deixam fazer mas, mais tarde ou mais cedo, lá acabam por ser condecorados numa comemoração qualquer. Como não tenho honras destas no meu currículo, fica reforçado o meu merecimento. 
Para não pensarem que as minhas virtudes se situam apenas na área governativa e política já referenciadas, acrescento que também estou totalmente livre de qualquer suspeita no campo da magistratura e da diplomacia, pois nunca julguei ninguém, nem bem nem mal, nunca prendi nem mandei prender ninguém, logo, nunca pratiquei uma injustiça, mesmo das mais leves.
Já que também me lembrei da diplomacia, tenho a referir que nunca me intrometi nas funções de ninguém, mesmo nas mais modestas, do tipo de funcionários que me prestam os mais variados serviços públicos, sendo unânimes em dizer que sou, e sempre fui, um verdadeiro diplomata para com eles. Gente que sabe o que é reconhecimento e respeito pelos outros, pois.
Agora, que já conhecem um pouquinho mais da minha pessoa e de tudo aquilo que não fiz, nem tinha obrigação de fazer, espero que compreendam o meu incómodo, mais, a minha estupefacção, por ainda não ter sido condecorado. Mas, continuo à espera.
Estou a ver que tenho de passar a andar de mão dada com algum condecorado, ou candidato a condecorado, desses de que ouço falar quase todos os dias, para ver se me toca tal honra por contágio, já que não adianta o meu indiscutível merecimento.
Já reparei que ainda não consto da próxima lista e, por ela, já prevejo quem constará das próximas. Com esses, recuso terminantemente ser condecorado.
 
15 Jan, 2010

Não acredito

 

É evidente que há sempre quem acredite e quem não acredite, ou não fosse o pessoal desconfiado e incrédulo perante as sucessivas vagas de poluição sonora que diz que diz, mas não diz, para logo a seguir relevar que, afinal, se todos fizerem aquilo que ninguém tem querido fazer, talvez se faça alguma coisa.
Perante tanta indefinição entre esses momentos de pessimismo exacerbado e outros momentos de optimismo condenado, antes de manifestado, fico entalado entre o fatalismo malvado do passado e malabarismo dum futurismo despreocupado e confiante, qual dos dois mais arrepiante e desconcertado.
Desde logo, sou tentado a não embarcar em nada disso, o que significa que não acredito, nem nuns, nem noutros, caindo no vazio da minha imaginação peca e seca de qualquer reminiscência de utilidade. É assim que me encontro neste momento, cercado por ilusões de promessas de conversas frutuosas.
Parece que já começaram mas, de frutos, nem secos. Contudo, também parece que alguém confessou, cheio de optimismo, que a coisa correu ‘bem’, contrariamente ao que parece que correu mal a outros, embora o mal dependa do ponto de vista dos objectivos esperados. Quem não espera nada, não anda a correr mal nem bem. Está parado, claro.    
Porém, continuo a não acreditar que alguém tenha sido capaz de correr bem. Não acredito que quem sempre gostou de marcar passo, assim atacando as hostes adversárias com fogo à distância, queira agora empurrar outro combatente para a frente, precisamente, para a frente de combate, que é a zona do corpo a corpo.
Não acredito que o medo de vir a perder uns tantos corredores na próxima etapa, motive uma declaração tão optimista de estar a correr bem, uma corrida que, normalmente, tem corrido mal. Apesar desse óbice, a vida tem corrido tão bem, que é uma pena que se volte ao tempo do táxi que até pode servir de carro vassoura.
Uma coisa é o princípio da etapa, outra bem diferente é a parte final, sobretudo se esta se desenrola a caminho do cume da montanha, onde é muito mais provável que as canetas falhem e fiquem impossibilitadas de subscrever o acordo que acabará, inevitavelmente, por ser corrido a pontapé.
É por essas e por outras que no início tudo pode correr bem e depois, lá mais para diante, tudo pode correr mal, a ponto de se lamentar que a corrida tivesse começado pois, para frustração e perda de tempo, bem podiam ter sido evitadas, se o realismo não tivesse sido trocado pela eterna mania de deitar poeira para os olhos dos outros.
Não acredito que toda esta encenação de corridas negociais fora do tempo e do lugar próprio, não tenha sido uma espécie de armar aos tordos antes de a azeitona já estar preta. Porque os tordos não comem azeitona verde, tal como os negociadores não compram trapaças que sabem de antemão que não conseguem impingir aos seus clientes.
Após o falhanço na hora de fechar a porta, todos dirão que foram inexcedíveis no esforço e na vontade de negociar mas, como já era previsível, concluirei que negociar é impor condições mais ou menos inflexíveis, de modo que sejam mesmo inaceitáveis, até porque são vários a querer impor coisas totalmente diferentes.
Baralhar e dar de novo parece ser cada vez mais a única solução. Mas, há muita hipocrisia em tudo isto, porque nem todos querem arriscar o bem bom de que desfrutam agora, tendo muitas dúvidas de que os trunfos lhes voltem à mão com a mesma sorte da última vasa. Outros dirão que quem não arrisca não petisca.
É por isso que quase todos os jogos andam muito à volta da batota. Ali ao lado, alguém estará a rir interiormente, mas de rosto bem fechado, como que tentando condenar atitudes que nunca conseguiu levar a cabo quando delas bem precisava.  
 

 

Temos de pensar muito seriamente na sobrevivência do país que é, nem mais nem menos, a sobrevivência dos portugueses que andam distraídos e ainda não perceberam que os avisos de alerta laranja, não tarda, vão passar a vermelhos. Quem está a pensar na meteorologia é melhor esquecer, porque o vendaval é outro bem mais complicado. 
Quando o país está cercado por uma praga qualquer, do tipo agrícola, como uma praga de gafanhotos, todas as opiniões convergem no sentido de que é urgente, melhor, urgentíssimo, acabar de vez com ela antes que ela acabe com a gente. É preciso esclarecer que nem só de gafanhotos são as pragas.
A sociedade também se comporta como se, à sua volta e no seu interior, existissem pessoas que constituem autênticas pragas. Por acaso nunca tinha pensado nisso, mas pensando bem, se calhar até nem custa a acreditar que existem mesmo. O problema é sabermos distinguir se a praga é constituída por nós ou pelos outros.
Faz todo o sentido, começo a magicar com os meus botões, pensar que este Portugal que tanto é dos pequeninos como dos grandinhos ou grandalhões, não tem hipóteses de sobreviver neste formato misto. Há que fazer escolhas, já ouvi isto em qualquer lado, e escolher é aproveitar o que se escolhe e deitar fora o que se rejeitou.
Diz-me a experiência que não se pode tocar nas minorias, que têm os seus direitos devidamente acautelados, tanto internamente, como nas instâncias exteriores. Passando à concretização desta afirmação, não se pode pensar sequer em eliminar um partido minúsculo ou um clube de futebol de vinte e tal sócios.
Ora, se não se pode tocar nas minorias, e não se pode sobreviver sem eliminar alguém ou alguma coisa, para que se pacifique a sociedade em convulsões permanentes, temos que nos voltar para o que resta. Exactamente, para o que se pode eliminar sem causar roturas insanáveis, nos intocáveis e não elimináveis componentes das minorias numéricas.
Numéricas, digo muito bem, porque em tudo o resto, têm mesmo e estatuto de maiorias pensantes e decisoras. Se não têm, têm todo o direito a ter e nada, mas mesmo nada, lhes pode cercear tal prerrogativa. Não sei bem o que é uma prerrogativa mas isso também não interessa nada, agora.
Sim, porque agora, o que interessa, e muito, é saber quem é que se pode, melhor, quem é que tem de se eliminar para que este país e esta gente possa recobrar a calma e a tranquilidade de um povo que precisa, como de pão para a boca, para se salvar das calendas gregas. Também não sei o que é isto, mas faz de conta, adiante.
Cá por mim, pensei, voltei a pensar e cheguei à conclusão de que há duas maiorias perniciosas no país, e para o país. Qualquer português concordará comigo que, qualquer dessas maiorias são a fonte, mais, a enxurrada, que aflige um mar de gente que não pára de gritar. Uns gritam de aflição, outros gritam de alegria. Mas todos gritam.
A primeira maioria é constituída pelos benfiquistas que, só desaparecendo, se conseguirá acalmar a tal minoria que não pode viver com o encarnado à vista. Digam o que quiserem, pensem o que lhes apetecer, mas esta guerra já minou o país, e não deixará de o minar, enquanto houver benfiquistas. O país tem de deixar de ter norte e sul, passando apenas a ter norte. E eu acrescento que bem precisa dele.
A segunda maioria é constituída pelos socialistas, com absolutamente ou relativamente mas, não há alternativa senão o seu desaparecimento, para que um país alaranjado, menorzito, mas muito mais ‘arrumadito’, se imponha como um todo indiscutível e à prova de qualquer malandro que julgue que vai para ali amanhar-se. Pelo menos, tudo indica que tal nunca aconteceu no passado.
Depois, continuem os do costume a dizer que não temos alternativa, que vamos explodir, que vamos para as calendas gregas e coisas que tais. Se me derem ouvidos…
 

 

Pelo que se vai ouvindo na rua ao longo do tempo, há muita gente que se julga enganada a todo o momento e aos mais variados níveis, como se tudo estivesse planeado e feito para tramar a vida dos inocentes cidadãos. Alguns são realmente tão inocentes que até merecem mesmo ser enganados.
Na maior parte dos casos, essa coisa da inocência é mesmo uma grande treta que só serve para enganar, ou tentar enganar, os verdadeiros inocentes ou, o que também acontece muitas vezes, aqueles que se julgam muito sabidos e espertalhões, mas acabam por cair no laço como patinhos que se portam como marrecos no lago de um jardim.
No entanto, julgo que o melhor engano é aquele em que o enganado sabe que o está a ser, mas rejubila com o privilégio que lhe é dado por algum enganador de respeito. Julgo também que há enganos, enganados e enganadores, que são bem conhecidos mas que, por uma questão de comodidade, lá vão deixando que se governem no seu mundo, desde que não chateiem muito.
A mim não me enganas tu, homem ou mulher que vais gerindo interesses que não são os meus, nem tão pouco são os interesses de quem em vós confia, tantas vezes cegamente, quantas vezes, mais por cegueira mental induzida por sentimentos que nem eles próprios seriam capazes de explicar devidamente ao seu íntimo.
Tudo isto é de todos os tempos e emerge da natureza humana, fraca, interesseira e egoísta, por mais que queiramos arranjar argumentos para justificar que não é bem assim. Para o comprovar, bastaria lembrar aquela frase bíblica que dizia que quem nunca tivesse pecado que atirasse a primeira pedra.
Hoje, porém, atiram-se muitas pedras, até já houve quem, heroicamente, incitasse a que se corresse alguém à pedrada. E a verdade é que se concorre diariamente com grandes pedradas linguísticas para que tenhamos um país bíblico, que parou no tempo, que todos os dias tenta voltar uma página mas, infelizmente, volta sempre para a página anterior.
Basta atentarmos nos maiores influenciadores da opinião e da política, para percebermos que vai tardar muito para que se consiga molhar a ponta do dedo na língua e passar a virar sempre para a página seguinte. Na página anterior já nós estamos fartos de ler e daí não retirámos nada que nos fizesse sair da marcha atrás.   
Agora anda aí a febre dos entendimentos, que seriam desejáveis e salvadores, se fossem possíveis, num quadro de seriedade e sinceridade. Como se cada um dos pretensos candidatos e proponentes a esse entendimento, alguma vez estivesse a pensar nos interesses do país, por mais que carreguem o sobrolho ou dobrem a língua.
A mim não me enganas tu, homem ou mulher que sejas, desde que tenhas no olhar aquele tique que eu distingo à légua, que é o tique do melhor do mundo na arte de enganar, principalmente, todos aqueles que querem que sejam enganados os seus adversários, para ver se o engano não lhes cai em cima.
Como não vejo outra possibilidade, só peço, humildemente, que não se esforcem muito em obter um entendimento comigo, cidadão que já está habituado a ser enganado compulsivamente, e que não vê um motivo sequer para não continuar desentendido.
Desentendido, sim, mas nunca enganado voluntariamente.
 

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