30 Jan, 2010
O doutor e o engenheiro
A pedido de variadíssimas empresas, de milhentas famílias e de numerosíssimos sujeitos em nome individual, o país está a precisar de uma terapia de choque que mande isto tudo para o reino silencioso da sucata, de onde ressuscitará após miraculosa intervenção da santificada e imaculada santa Justa de Aveiro.
O nome da santinha diz tudo, principalmente, a todos aqueles que não acreditam que ainda temos rincões nacionais onde tudo se faz justamente, onde tudo o que se diz é insusceptível de ser contrariado ou desmentido por quem quer uma justiça terrena, em lugar da justiça divina de santa Justa de Aveiro.
Porém, tudo tem uma solução de forma a ir ao encontro de todos os injustiçados deste país que, segundo cálculos feitos a olho pela minha pessoa, deverão ser prá aí, à volta de noventa e seis ponto oito da população lusa, talvez porque seja esse o cálculo proveniente da mesma fonte, referente à percentagem de fidedignos dependentes daquilo a que alguns, poucos, também apelidam de subsídio à dependência.
Mas, vamos lá à terapia de choque antes que se faça tarde e alguém invente melhor saída para esta coisa de que todos falam com perfeito conhecimento de causa. E, já agora, assim é que é falar, com a perninha direita e o braço meio enterrado no bolso para não arrefecer a mãozinha, pois agora não se pode andar com ela de fora.
Há quem diga que isto já não tem remédio, mas eu recuso terminantemente essa visão anti-medicinal, precisamente, por acreditar na tal terapia que nunca mais me resolvo a libertar. Afinal, essa terapia é simples e baratinha, comparativamente com as complicadas, inúteis e dispendiosas maneiras de nunca se chegar a qualquer conclusão ou solução.
Cá para mim, tudo se resolvia na maior se, acima de todas as altas instâncias do país, se colocassem dois homens com poderes suficientes para fazerem tudo o que eles dizem que nos falta. Repito, com poderes suficientes para fazerem tudo o que eles dizem que nos falta. Ora isto, extremamente fácil de fazer, nem sequer representava um constrangimento para ninguém.
Porque todos os que mandam agora podiam continuar a mandar como até aqui, sem que os seus ‘mandamentos’ produzissem qualquer efeito. Quanto a estes, nada de novo. Temos tido sempre muita gente a mandar, mas muito poucos a obedecer. E os que obedecem não adiantam nada, por causa dos outros.
Mas, há quem saiba da coisa e, espertos como somos, temos de aproveitar as pessoas certas para os lugares certos. Então, proponho para os dois altos cargos, cargos de topo, a criar na superior estrutura do estado, o engenheiro Marinho e o doutor Belmiro, personalidades que já nos habituaram aos mais elucidativos diagnósticos da situação actual.
O engenheiro Marinho metia isto tudo na ordem em poucos dias, porque ele sabe perfeitamente onde devia mexer de imediato para acabar com todos os clãs que mais não fazem que guerrear-se permanentemente na busca de poderes que os elevem e rebaixem quem lhes faça, ou lhes queira fazer sombra. Além disso, um engenheiro como deve ser, é capaz de construir um novo edifício onde a paz e a justiça não passem de meras promessas e desculpas de todos os que moram nos velhos edifícios actuais.
O doutor Belmiro tirou o curso em empresas. Ora, o estado é uma grande empresa, e esse é o seu currículo que demonstra que, quando abre a boca, sabe do que fala. No seu ramo, claro. Mas, para abrir a boca sobre política estão lá os outros. Contudo, para fazer dinheiro que encha a barriga aos muitos sedentos dele, o doutor Belmiro só precisa de carta-branca para fazer, no estado, aquelas coisitas que ele tão bem soube fazer ao longo da vida.
Estou certo que o doutor e o engenheiro que temos, não vetam o engenheiro e o doutor que agora proponho. Não para os mandarem para outro lado, mas para mandarem naquilo que eles nunca souberam mandar. Não interessa qual é o doutor e qual é o engenheiro. O que interessa é quem é capaz de fazer o que sabe e mandar calar os que não sabem.