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afonsonunes

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Se eu conseguisse vencer a minha relutância em entrar nesta campanha nacional de demonstrar que há coisas que um primeiro-ministro português não pode, não deve, nem pode pensar que alguém lhe deu legitimidade para fazer, ou mandar fazer, então abriria o meu livro de descobertas e lá vai disto que se faz tarde.
Como sou uma pessoa de muitos e múltiplos princípios vou levar a minha relutância até às últimas consequências, não entreabrindo sequer o bico, com excepção daqueles factos que constituem realmente uma grave ameaça à integridade da língua nacional, à união e amizade entre todos os portugueses e à dignidade de todas as bandeiras.
Começo exactamente por estas últimas e pela dignidade que lhes é devida, mormente pelo chefe de governo. Há provas irrefutáveis de que o primeiro-ministro, ao passar em frente de sedes partidárias nacionais, passa com uma arrogante altivez, sem se dignar saudar as respectivas bandeiras hasteadas nas suas frontarias. Mas é que nem sequer a do Largo do Rato.
Ora toda a gente sabe que isso é intolerável e inaceitável, situação já denunciada, conforme me constou, por todos os líderes desses partidos, admitindo a possibilidade muito real de apresentarem uma moção de censura ao governo, para obrigarem o primeiro-ministro a ir arranjar maneiras para outro lugar onde possa ser mais bem-educado.  
Também é corrente, e mais que provado, que o primeiro-ministro se permite entrar na casa de banho, ou no quarto de banho, ou salão de banho da sua residência, conforme se quiser, em pantufas e roupão, como qualquer vulgar cidadão. Não é difícil imaginar o perigo que isto representa para o país. Motivo mais que suficiente para uma moção de censura.
Toda a gente sabe que o primeiro-ministro está de serviço vinte e quatro horas por dia, em completo e permanente estado de prontidão, para qualquer emergência que possa surgir. Por exemplo, responder a um daqueles comunicados dos líderes dos partidos, que exigem sempre respostas imediatas. E com toda a razão pois o primeiro-ministro não está lá para outra coisa.
Não se pode falar de permanente união e amizade de todas as forças, se o principal responsável se isola num compartimento fechado, sabe-se lá por quanto tempo, ainda por cima quase descalço e mal vestido. Se, por um acidente impensável, um dos outros líderes não tiver sido avisado dessa indisponibilidade, é evidente que não vai receber as respostas imediatas exigidas. Depois, que ninguém se admire que surja a tal moção de censura.
A situação é ainda muito mais grave, se o primeiro-ministro levar o romance para a casa de banho e se esquecer de avisar os outros líderes que vai demorar um bocadinho. É claro que têm toda a razão em acusá-lo de lhes faltar ao respeito institucional a que têm todo o direito, além da violação do dever de prontidão já referido. E isto pode representar o aparecimento de uma moção de censura, obviamente.
O primeiro-ministro insiste a todo o momento em lembrar o que nos faltava. Frequentemente diz, era o que faltava ou, agora era só o que faltava. Todos nós sabemos que faltava muita coisa, muitas mais coisas do que ele imagina, mas o que gostaríamos de saber era se as coisas em que ele pensa, são as mesmas em que nós pensamos. E é isso que ele não diz, como tinha obrigação de dizer, arriscando-se à tão prometida moção de censura.
Este é um erro de língua, gravíssimo, pois um primeiro-ministro não pode esconder uma palavra sequer, mesmo daquelas coisas que diz sozinho na casa de banho. Mesmo daquelas coisas que pensa, em sonhos negros ou cor-de-rosa, com os olhos abertos ou fechados, na cama ou no sofá, quando está sozinho ou bem acompanhado, pois esconder isso, é uma traição ao povo e a todos os seus representantes.  
Como se vê não traí a relutância em revelar factos secretos de Sócrates, senão aqueles que considero uma traição à pátria. Sim, porque estes, tinha a obrigação de os revelar.
 

 

Que ninguém pense que sou eu que vou brincar aos partidos, apesar de não ter nenhum para brincar mesmo que quisesse, pois tenho plena consciência de que se trata de brinquedos com alto teor de veneno logo, bastante perigosos. Mas, não é por nada disso que não brinco com coisas dessas. É simplesmente porque não me apetece ou apenas porque não quero.
Quem não quer brincar aos partidos é o doutor Alberto João Jardim, segundo afirmou a Judite de Sousa na Grande Entrevista transmitida directamente da Madeira. Segundo ouvi, acrescentou que não tem vagar, pois o trabalho que tem pela frente é de molde a não perder tempo com essas coisas.
Antes de prosseguir, a minha solidariedade para com ele e todos os madeirenses, tão brutalmente atingidos pela tragédia.
Nunca fui um admirador das teorias do doutor Alberto. Mas, do pouco que lhe ouvi agora e, sobretudo, da sua atitude nesta entrevista, apreciei a sua capacidade de conter os entusiasmos jornalísticos de Judite de Sousa que, profissionalmente, só pelo que deve ter aprendido com ele, já valeu a pena ter ido à Madeira.
Também eu aprendi hoje, ao ouvir o doutor Alberto, que a Madeira não é o continente, nem pouco mais ou menos, porque ali não há bagunça na oratória, nem é qualquer um ou uma, que o interrompe quando ele fala, ou lhe prega responsos, para os quais ele diz que não tem paciência. Para ele, entrevista não é julgamento, nem sequer debate ou discussão a dois.
Aprendi que a paciência do doutor Alberto é muito mais importante que a necessidade mórbida de fazer várias vezes as mesmas perguntas, embora de maneira diferente porque, sem paciência, ele não as deixa completar logo, nem sequer lhes dá resposta, como ele entende que merecem.
E, estranhamente, ninguém diz que ele é inconveniente, ou que é arrogante, ou que tem razões obscuras para não aturar certos jornalistas do continente. Esclareço que o facto de eu dizer estranhamente, não tem nada de estranho, porque isso se deve exclusivamente ao facto de não me ter ocorrido outro termo mais adequado.
Também aprendi hoje que o facto de muita gente ter um partido, não quer dizer que perca tempo com tudo o que de lá vem. Sim, porque o doutor Alberto deixou bem claro que só tem um partido, porque é com ele que consegue fazer aquilo que lhe compete e que nem sempre o que diz o partido é o que interessa à Madeira. Nesse caso, a Madeira quer que o partido vá pregar para outra freguesia, digo eu.
Aprendi ainda que a Madeira, ilha de flores e de turismo, é a terra de amizades surpreendentes, mesmo depois de ódios incendiados. Também nesse aspecto, nunca é tarde para se aprender, que depois da tormenta vem a bonança. Que depois de um coice da natureza, é mais fácil aos homens apertarem as mãos em nome da solidariedade.
Em boa verdade, não me custa nada acreditar que estamos sempre a aprender qualquer coisa, principalmente, se não estivermos obcecados em andar a brincar aos partidos.
 

 

No meu modesto entendimento vivemos uma época fértil em cambadas, que não só se perturbam umas às outras, como infestam o ambiente já de si tão poluído, por causas que têm a ver com uma outra espécie de cambada, mais voltada para a atmosfera. Mas vamos deixar esta em paz e sossego, por agora.
Neste preciso momento estou a pensar em tanta coisa que só me vêm à memória as muitas infantilidades que gente mais ou menos crescida anda a espalhar por aí, como se quisesse fazer uma sementeira de cambas, no convencimento de que assim, formavam uma cambada perfeita, uma cambada como deve ser.
Porém, isso não é assim tão directo e muito menos com derivações de vou ali já volto. Ainda pensei em gente ligada a tanta coisa, julgando ir lá por esse derivado para chegar à cambada propriamente dita. Mas qual quê. Comecei a entrar na política, depois passei para a política e, definitivamente, cheguei à política. É verdade, encontrei política em tudo e em todos, embora muitos desses políticos armassem em anjinhos, jurando por Deus a toda a hora.
Uma cambada caracteriza-se por ser uma data de pessoas, também podiam ser coisas, enfileiradas numa corrente, de metal ou cordel, ou até de opinião, penduradas ou amarradas, de forma a constituírem uma forte massa unida e impressionante, relativamente à pressão, quer física, quer mental ou intelectual.
Quero dizer com essa descrição tão complicada, que as cambadas andam, por natureza, enfiadas e penduradas, algumas a merecer um cordão, ou uma corda, para se auto-pendurarem, tendo em vista a sua própria comodidade. A não ser que se pendurem umas nas outras, mas isso já é divagar um pouco.
Com mais conversa menos conversa, o que é indesmentível é a existência de uma cambada muito citada em tudo o que emite opinião ou simples falatório, chegando a afirmar-se que o país está mesmo ao dispor dessa cambada, como se ela fosse constituída pela generalidade do pessoal que o integra.
Obviamente que quem fala nela, na cambada, não considera, nem de longe nem de perto, fazer parte dela. A cambada são os outros, todos aqueles que pensam que lhes lixam a vida, ou lhes azucrinam os ouvidos com aquilo que não gostam de ouvir. Os outros, são sempre os outros, os envolvidos nesta eterna mania, perdão, mau hábito, dos que gostam de assobiar para o lado.     
Mas, a minha cambada não é tua cambada. Porque aqueles a quem eu atribuo essa brilhante insígnia nominativa, consideram que eu, e quem está de acordo comigo, constituem a verdadeira cambada. Ora, de uma maneira ou de outra, não há como fugir à ideia de que o país está mesmo ocupado por cambadas de sinais diversos.
Está generalizada a ideia de que a cambada é quem está lá em cima, seja no público seja no privado, também aqui, com integrantes ilustres a serem divididos por boas e más cambadas, consoante a apreciação das cambadas cá de baixo.
Isto é tudo uma cambada, digo eu, parafraseando vozes que ouvimos com muita frequência. Se é tudo, lá está o próprio a incluir-se, embora me pareça que talvez seja injusto misturar na sua cambada, muitos daqueles em quem está a pensar no momento do desabafo. E quem assim desabafa está, com certeza, a sobre valorizar a cambada de que faz parte.
Pegando nas palavras de uma canção do Herman, é com muita convicção que canto com a minha voz cheia de fífias, mas com o micro gaitas no máximo, lá desafino, vamos lá cambada, todos à molhada, que isto aqui é Portugal!...
 
21 Fev, 2010

Os novos criminosos

 

Tal como o mundo está em permanente evolução, a justiça está em contínua revolução, não havendo já qualquer margem para que a jurisprudência determine os caminhos a percorrer quando as indecisões legislativas abrem espaço à dúvida. Isso foi chão que deu uvas porque nos dias de hoje, a insanidade mental da frescura substituiu, definitivamente, o bom senso das mentes maduras.
Ainda sou um daqueles que se lembram de que um criminoso era todo o indivíduo que cometia um crime, um crime era toda e qualquer infracção a qualquer lei, e uma lei era uma coisa que constava nos diversos códigos que regem o país. Se não era bem isto, devia ser assim uma coisa mais ou menos parecida.
Perante esse quadro, não havia possibilidade de o criminoso alegar que a lei estava mal feita, nem o juiz podia inventar um crime para condenar um criminoso inventado. Pois, já sei que sempre houve uma justiça para pobres e outra para ricos, e uma justiça que tinha as suas origens na Pide.
A primeira ainda existe e, ou muito me engano, ou nunca deixará de existir. A segunda já não devia existir porque já não há Pide. O problema é que hoje o país está cheio de sucedâneos dela. Fala-se muito em bufos e quejandos por parte dos órgãos do governo e do partido que o suporta. Não me custa nada acreditar que haja essa tradicional tendência.
Mas, a bufaria existe e está implantada como uma rede mafiosa em tudo o que é corporação ou organização, visando e conseguindo em muitos sectores, subverter o estado de direito, como alguns costumam agora ufanamente dizer dos seus adversários. Não sou eu que vou avaliar a dimensão da subversão de uns e o tamanho da subversão dos outros.
Porém, não é difícil avaliar à vista desarmada quem não cumpre as leis do país, a começar pela Constituição da República, sem que haja quem tenha a coragem, como lhe compete, de fazer cumprir, e fazer com que haja consequências para quem não quer cumprir. Sem isto, seremos uma ilha de marginais, ainda que eles sejam muito ilustres e muito defensores de certas liberdades e de certa democracia, em que só eles estão a coberto de qualquer sanção.
Nunca poderá haver liberdades colectivas reais, se não houver primeiro, sérias e seguras liberdades individuais, ou não seja o indivíduo a base de toda a sociedade. Mas não pode haver indivíduos que buscam permanentemente encontrar nos outros, os defeitos que não conseguem eliminar de dentro de si próprios.
Os novos criminosos são precisamente aqueles que sonham com crimes que pensam que outros praticam em tudo quanto fazem, armando em heróis porque se consideram os grandes lutadores para que as leis que não lhes interessam não sejam cumpridas.
Os novos criminosos são todos aqueles que deixam que tudo à sua volta se degrade, que haja vítimas inocentes a sofrer os maiores vexames, só porque não é fácil, só porque têm medo de agir, só porque receiam deixar de ser populares, julgando que o são, enfim, só porque há muitos interesses em jogo a que não são capazes de resistir.
Os novos criminosos são todos os que têm o crime sempre colado à ponta da língua. Podem estar a defender o seu tacho. Sim, porque não é só um dos lados que tem tachos para a comidinha dos boys de manga-de-alpaca. Do outro lado, os tachos são grandes panelas de banquetes para colarinhos engomados, que só conhecem a lei do lucro, mesmo o fraudulento, que é tanto mais saboroso, se for obtido roubando o estado e os boys.
Os novos criminosos, um dia descobrirão que os crimes que praticam agora virão, inevitavelmente, a virar-se contra eles, pois nada é eterno, muito menos o reino em que agora se movimentam com toda a impunidade.   
 
20 Fev, 2010

Farto-me de rir

 

Já tenho ouvido dizer a pessoas a quem dedico muita consideração, que ouviram ou vão ver e ouvir o telejornal ou o jornal de qualquer coisa. Parece-me difícil a menos que nos últimos anos tenham estado no estrangeiro ou em qualquer buraco recôndito do país profundo, onde ainda não haja electricidade, nem aparelhos a pilhas.
Como sei que são pessoas que nunca saíram de cá, nem das suas cómodas e bem equipadas casas, tenho de achar graça, tenho de me rir, por chamarem esses pomposos nomes às fastidiosas repetições que, como aquilo que são, dizem sempre a mesma coisa. Ora, qualquer jornal, com tele ou sem tele, devia servir para dar-nos notícias frescas e boas, como a hortaliça.
Mas, o que acontece é que andam há semanas ou meses, diariamente, a dizer-nos que o repolho é uma maravilha e que a fava-rica, estando já bem seca na prateleira, é fresquíssima. Quanto ao repolho, pode bem ser uma maravilha, apesar de estar bem quentinho de tantas apalpadelas de mãos suadas.
Salvo seja, nos telejornais ou quejandos, a gente não é apalpada, pudera, não estamos à mão, mas somos pressionados, somos empurrados, somos enganados, somos obrigados a fechar os olhos para não ficarmos chocados, ou a virar as costas a essas coisas, para não sermos violados com olhares penetrantes. Mesmo de costas, temos de ter muito cuidado.
Ainda se fosse, por exemplo, só ao fim de semana, que os vendedores desse peixe, perdão, dessa hortaliça, estão de folga, ainda vá lá, a gente punha-se de folga também, pirava-se para onde não cheirasse a coisas velhas e relhas, algumas nauseabundas mas, já temos de gramar isso também nos restantes dias da semana.
Só é muito estranho que isso me dê vontade de rir, quando mais parece que eu devia estar a chorar lágrimas de crocodilo, com pena das pessoas que ainda dão alguma importância às coisas que andam a ouvir, passe o pequeno exagero, desde os tempos em que eram pequeninos e já sabiam o que eles queriam.    
Porém, também muito estranhamente, mesmo sem os ouvir, os telejornais e quejandos, óbvio, já sei o que eles querem. Diria que, em primeiro lugar, querem telecomandar-me à distância, como se eu não soubesse que esses meios, ou métodos, estão muito em voga, há muito tempo, mas julgo que já os conheço suficientemente. De ginjeira.
Em segundo lugar, querem mostrar que são bons candidatos a todas as futuras boas candidaturas, além de excluírem o pesadelo de que alguma outra candidatura se candidate ao lugar onde se encontram no momento. Mas isto já faz parte dos dramas lidos, vistos, de segunda a domingo, por quem tem uma dose mais ou menos elevada de paciência.    
Talvez por isso, de vez em quando, dá-me vontade de rir. Esclareço que o facto de me dar vontade, não quer dizer que o faça mesmo, em qualquer momento e em qualquer lugar, pois sei perfeitamente que as gracinhas nem sempre são bem recebidas por quem nos escuta. Começam logo a pensar que a gente é. Mas, muitas vezes não é.
Sinceramente, ainda não percebi, porque razão as pessoas têm o preconceito de nunca quererem ser o que os outros dizem que elas são. Parece-me até que deviam ficar contentes por alguém se lembrar que elas existem e que alguém se preocupa com elas. Que são o ganha-pão de muita gente que anda esfomeada e com muito receio de não vender a sua hortaliça murcha.
No meio disto tudo, quando tenho vontade de rir, até penso que o tontinho sou eu. 
  

 

Realmente o pior disto tudo é a quantidade de gente que não almoça há uma data de tempo à espera que ele caia, pois ninguém quer perder pitada desse momento histórico para muitos, mas também momento histérico para outros. Não me parece que seja justa, esta diferença mínima, de uma letrinha apenas e com o mesmo acento.
Histórico e histérico são coisas tão diferentes que deviam ter, pelo menos, para aí uma diferença de três letras que era, por exemplo, cai ou não. É que, com aquela semelhança toda, a gente fica a pensar que isso é a mesma coisa. Que pode cair ou não cair, que isso é igual ao litro logo, não dá motivo a festas nem a foguetes, ainda que sejam de lágrimas.
Além de poder cair ou não, também pode saltar por sua livre e espontânea vontade, com toda a segurança e com toda a calma do mundo. Para muitos, continuaria a ser uma queda, mesmo que ele ficasse de pé, sorridente, como se estivesse a bater-se à fotografia, com a melhor cara de sempre, mesmo frente aos jornalistas.
Também há muita gente que não quer pensar sequer que ele caia, muito menos que seja tentado a fazer uma fuga para a frente, ainda que agora não haja nada em vista, nem para trás, pois isso levaria a pensar que se tinha passado dos carretos. Mas dizem que isso não é o género dele.
Mas há muita gente que anda a tentar empurrá-lo, embora por vezes pareça que lhe estão a dar aquela força do vento que faz com que o barco à vela consiga navegar em sentido contrário a esse mesmo vento. Ele há coisas tão esquisitas que a minha compreensão não consegue navegar.
Então, anda tanta gente a esfalfar-se para ver se ele cai de vez, abdicando dos seus almoços, ficando alerta dia e noite à espera da notícia da inevitável e ansiada queda para, quando ele vai mesmo para cair, já meio desequilibrado, soltam um grito de compaixão e, estranhamente, agarram-no firmemente e oferecem-lhe o equilíbrio quase perdido.
É caso para dizer que nem ele cai nem a gente almoça mas, assim, também a janta vai para o caneco, se não se conclui rapidamente se querem que ele caia, ou se querem que ele não caia. Essa de ter de cair porque nem ele se aguenta, nem há quem consiga já aguentá-lo mais, para depois dizer que não se pode deixá-lo cair, só pode dar numa fome interminável.
Portanto, acho que é melhor despacharem-se com a decisão final, quer ela seja, cai, quer ela seja, não cai. Porque eu também estou cheio de fome e não gosto nada que me obriguem a engolir a comida fria, embora esteja com a boca a escaldar por causa de umas asneiras que andam aqui à volta da língua, numa ânsia para saírem desta caldeira fervente que é a minha boca.
Mas, posso garantir que não vai sair nada, porque prefiro ter de escamar a língua, a aliviá-la com a saída das asneiras que estão a impedir-me de ter à minha frente, na minha mesa, o almoço que já tarda e apenas provoca montes de água na boca.
Porque, nem ele cai, nem cai nada na minha boca.
 
16 Fev, 2010

Ninguém leva a mal

 

Claro que ninguém leva a mal, seja o que for e seja em que dia do ano tal acontecer. Se fosse preciso justificar essa ideia, bastava dizer que há por aí uns tantos medricas empregados que andam cheios de medo de perder os empregos, e uns tantos empresários falidos com medo que tenham de fechar as portas.
Naturalmente que isto causa medo, muito medo mesmo, mas fica provado à evidência que todos eles têm liberdade de ter medo, de dizerem que têm medo, de dizerem que há um plano para lhes tirar o medo que eles não querem perder de forma alguma, porque sabem que se perderem o medo, quem fica a chorar é o sujeito com mais medo deste país.
Como hoje é dia de Carnaval também eu estou, neste dia festivo, sem medo nenhum que me venham chatear por dizer umas coisas completamente acertadas. As outras coisas, as que são completamente desacertadas, foram-me saindo ao longo do ano inteiro, com os problemas inerentes a quem não acerta uma para a caixa.
Portanto, aproveitando a originalidade deste dia, lembrei-me de adaptar umas personagens da Gabriela, a esta novela que estamos a viver aqui. Não é que isto tenha graça, como convinha neste dia de Carnaval, mas é o melhor que posso arranjar, depois da chuva que cai lá fora me ter impedido de ver um corso alegre, gracioso e fresquinho, mas cheio de calor corporal.   
O nosso Sinhozinho Malta não saiu hoje de Belém, porque a confusão que vai lá fora ia obrigá-lo a sacar do pistolão e disparar para o ar sem ninguém perceber porquê. Ninguém iria incomodá-lo por isso, mas receava que alguém julgasse que ele estava em algum acerto de contas no Bataclã.
Além disso, tinha os jagunços privativos todos de folga, impedidos portanto de acudir a qualquer desacato entre os amigos de Sócrates e os coronéis do Sinhozinho, que dão pelo nome de Manuela, Paulo, Jerónimo e Francisco. É que, quando se juntam todos no Bataclã, é um reviralho de todo o tamanho, por causa do chamado plano das Manuelas ou também chamado plano Sócrates.
Agora até eu já estou a confundir o plano da Gabriela com o das Manuelas, mas faz-me cá uma confusão dos diabos como é que o Sinhozinho Malta ainda não arranjou um plano alternativo para impor a ordem no Bataclã. Ai que saudades que eu tenho do Jorge Amado. Se ele estivesse aqui, alterava um capítulo e pronto. Assunto arrumado.
Mas, como ele cá não está, altero eu o nome dos personagens, até porque já não me lembro dos nomes que Amado lhes pôs no seu tempo. Porém, lembro-me perfeitamente, que Sócrates tinha os seus planos secretos, segundo os coronéis, mas tinha de os mandar executar a uns cabos de ordens, que estavam obrigados a encornar os patrões para os executarem.
Sim, porque sem os encornados, não havia forma de cumprir o plano das Manuelas e a que os coronéis chamavam de plano Sócrates.
Se eu levasse à letra o argumento da Gabriela, diria que os patrões, ou encornados, tinham de ser os jagunços desta novela, pois seriam eles a fazer a vontade ao Sócrates, executando o seu plano, ou seja, o também considerado plano das Manuelas.
Resumindo, Sócrates seria o mandante do crime, as Manuelas e os Coronéis, seriam os denunciantes, enquanto os encornados seriam os jagunços.
Depois, o Sinhozinho Malta diz que só fala da Gabriela, do marido das frutas e da Jerusa, porque é tudo gente boa. Mas, cá para mim, ele devia explicar como é que o mandante não viu que, sem os encornados, o seu crime seria um fracasso, porque são os jagunços que terminam os planos.
E os encornados, ou jagunços, não sabiam de nada. Isto, só no Carnaval.
 
15 Fev, 2010

O Pedrinho, não!

 

Acaba de ser desferida a machadada final na minha capacidade de aceitar as coisas que andam nas páginas dos jornais e, de algum modo, nas bocas de quem os lê. Então eu alguma vez podia acreditar que o Pedrinho, um homem tão aberto, que tanto gosta de mostrar o sorriso e as duas faces, aparecia agora com uma face oculta?
Definitivamente, não. Ainda por cima, envolvido numa manobra contranatura, pois toda a gente sabe que ele milita num partido que nunca se viu envolvido em maroscas de qualquer espécie. Mas é que nem me falem na possibilidade do Pedrinho ser denunciado pelos mesmos investigadores que costumam investigar os do partido rival.
Tal possibilidade transformar-se-ia numa mancha inapagável nos pergaminhos impolutos da instituição que abrisse tal precedente, e estou plenamente convencido de que constituiria um terramoto, que poria em causa a sobrevivência do próprio país. Uma coisa é termos necessidade de umas polémicas diárias ou semanais, outra é beliscar, assim, as duas faces visíveis do Pedrinho.
Ora imagine-se que a seguir ao Pedrinho, iam ao aliado natural do seu partido e descobriam que lá também andava alguém com uma face oculta? Sim, por exemplo o Paulinho, já que estão a pôr só maiorais a competir com as faces da lua. Suponho que tal barbaridade, nunca seria perdoável a quem cometesse tamanha gafe, lá para os lados de Aveiro.
E Aveiro porquê? Porque quando o Pedrinho morava na Figueira, dizem que ia quase todos os dias a Aveiro jogar uma partida de póquer com os amigos, tudo gente muito influente e dada a observar todos os eclipses e outros fenómenos relacionados com as faces, ou as fases, já estou baralhado, do satélite que recebe a luz do planeta Sol.
Parece que um desses amigos tinha um nome pouco nobre, Gordinho, mas de alto peso na sociedade e na ria, embora nessa altura estivesse bem menos gordinho em termos de influência astral no que respeita à face da dita, quando está num daqueles quartos, em que só se vê metade.
Até parece que estou a escrever uma crónica para incriminar o Pedrinho. Nada disso. O Pedrinho, para mim, só pode andar nestas andanças, por qualquer equívoco de alguém que não sabe como estas coisas giram. E muito menos como estas coisas têm girado. É que não é possível haver o mais pequeno indício de que isso foi, ou é, alguma coisa com ele.
Além disso, basta verificar há quanto tempo o Pedrinho não vai a Aveiro, nem sequer para um passeio na ria, quanto mais para jogar uma das passadas partidas de póquer. Mas os amigos, esses continuam lá, o que apenas quer dizer que nunca o meteriam nesses lençóis, pois nunca o tratariam do mesmo modo que certos lisboetas que nunca foram a Aveiro jogar póquer.
O Pedrinho já não está na Figueira há que tempos, e embora voltasse a ser lisboeta como os outros tais, está-se mesmo a ver que não tem nada a ver com eles. Tem um sentido muito diferente da vida. Nunca gostou de receber aquelas prendas que só servem para criar ruído, sem que se sinta a diferença na carteira.
Sim, é preciso ser prático e dar valor, apenas e só, àquilo que realmente tem um valor mercantil, porque o outro valor não tem cotação no bolso. E o bolso do Pedrinho não vai em caixinhas de qualquer coisa. Isso também quer dizer que tem os bolsos pequenos, mas tem uma carteira grande, realmente à sua dimensão.
Por tudo isso, deixem lá o Pedrinho em paz. Nada de primeiras páginas, nada de encher telejornais, nada de lhe arranjarem uma data de epitáfios daqueles que fariam corar as faces das muitas fãs que dizem que tem. Ele não merece isso, por favor.       
 
14 Fev, 2010

Duas boas ideias

 

Boas digo eu, que não tenho lá grande habilidade para saber o que é bom e o que é mau. Provavelmente, até vou atirar cá para fora com dois abortos pensantes que bem podiam ter ficado onde estavam, para não virem a criar qualquer incómodo a quem não gosta de ler coisas mais ou menos chatas no seu elevado critério.
Porém, como o meu critério é mesmo baixo, não me dispenso de descarregar este vício que tenho, de não ser capaz de estar quieto e calado, acomodado com os critérios dos outros, uns à altura de me inspirarem a fazer melhor do que sei e posso, outros à baixeza a que eu nunca seria capaz de descer.
A primeira ideia que hoje me veio à mona, ainda mais cabeluda que lisa, foi um pensamento pouco iluminado, que me soprou ao ouvido, que a independência não é aquilo que dizemos que os outros não têm, mas sim aquilo que conseguirmos fazer com essa independência.
Não sei porquê, mas achei que valia a pena pensar um pouquinho nisto. Claro que estou a falar de mim próprio, já que não tenho dúvidas de que toda a gente já pensou nisso demasiadas vezes, e há muito tempo. Eu é que ando sempre um pouco retardado no tempo e só agora reparo que todas as pessoas são completamente independentes. Sem dúvida.
Realmente, no lado oposto estou eu, que penso muitas vezes, e até já o tenho dito, que há pessoas que não têm independência suficiente para dizer ou escrever certas coisas, que até me fazem um pouco de dor de barriga. Acabo de concluir que a minha dor de barriga, que não tem consequências intestinais, bem podia ir para outro lado, porque eu não a mereço.
Quanto ao que consigo fazer com a independência que julgo ter, já reparei que também sou um pouco diferente dos outros que analisei. Já consigo resistir à tentação de ler, ver e ouvir tudo o que eles me querem dar, para que a minha independência não seja abalada pelo contacto com ondas demasiado dependentes.
A segunda ideia é um pouco mais intestinal que a primeira, já que tem um pouco que ver com o fim daquela linha. Já me apercebi que, com a malfadada crise a condicionar tudo o que é despesismo individual e colectivo, há uma tendência que alastra no sentido de se cortar com despesas que, voltando a tempos há muito idos, se poupa mais uns euros por mês.
Peço que me perdoem, mas vou ao papel higiénico, esse artigo que se tornou numa despesa inevitável, desde que, mesmo no país profundo, começou a haver casas de banho. Pois bem, já me constou que há quem esteja a proceder à substituição sistemática do papel higiénico, procurando alternativas para essa matéria que já parecia insubstituível.
Por outro lado, também me venho apercebendo que grande parte dos jornais postos nas bancas não se vende, tendência que cada vez mais parece acentuar-se. Estou farto de meditar sobre a origem deste fenómeno e, nada. Já me lembrei de propor que se fizesse um estudo profundo para descobrir essa estranha causa.
O que é facto é que, o jornal para ler é, mais coisa menos coisa, para ir esquecendo, ou muito terá que se ir mudando no que está. Por exemplo, as rotativas passarem a estar instaladas nos tribunais, por uma questão de eficácia e rapidez, depois de os seus comandos operacionais passarem a participar na elaboração das sentenças.
Será apenas um pequeno passo mais, pois se já investigam mais e melhor que a justiça, justo é também que levem a missão até ao fim, julgando, condenando ou absolvendo, consoante as suas tiradas investigacionais. Desde que o façam sem as demoras actuais dos senhores que nunca mais se despacham.
Como já alguém alvitrou que se acabe com os tribunais, em alternativa, podiam transferir-se para as redacções dos jornais, fazendo o mesmo efeito do proposto anteriormente. Isto, caso se queira manter a utilidade e a subsistência do jornal, nos termos tradicionais.
Caso contrário, quem quer poupar no papel higiénico, terá tendência para procurar jornais que ninguém comprou. Porque, já ouvi dizer que são estes não leitores que elegem os governantes e não aqueles que ainda lêem o jornal.
 

 

Este título é um mero chamariz, embora saiba perfeitamente que quem entra neste tipo de leituras não vai em expedientes desta natureza. No entanto, tal como tanta gente, também gosto de uma ou outra especulação de menor monta, daquelas que nem aquecem nem arrefecem, ou não soubesse eu, que não tenho calor nem frio suficientes para tanto.
Falar de um inferno cheio de santos só pode ser uma coisa muito séria senão, nunca se poderia dizer tamanho disparate, principalmente, para quem acredita mesmo na santidade que só pode encontrar-se no céu, ou na terra a caminho do céu. Pois, muito a sério, é destes últimos que estou a lembrar-me neste preciso momento.
Verdade, verdadinha, tenho no pensamento os muitos santinhos que pululam no nosso santificado país, todos aqueles, e são mesmo muitos, que se distinguem por ter uma verdade clara e insofismável de tudo o que aqui acontece, remetendo para a condenação aos quintos dos infernos, todos aqueles que cometeram ou cometem uns ‘pecaditos’ que os santinhos nunca cometeram, nem sequer em pensamento.
Por outro lado, este país, o nosso, está transformado num verdadeiro inferno, onde já ninguém reza sequer, pelas alminhas perdidas, de forma a tirá-las do purgatório. Confesso que não sei onde ele está situado, supondo que, segundo a lógica, estará a meio caminho, entre o céu e o inferno verdadeiros, algures onde a gente não o descortina.
Mas, o que descortinamos perfeitamente, é este inferno onde vivemos agora, pois andamos no meio dele, por entre as suas labaredas, os seus incendiários, os seus diabinhos e, claro está, toda a gama de santinhos que não sei bem se já constituirão a maioria dos habitantes do nosso inferno ou seja, serem mais os santinhos que os diabinhos.
Ora aqui é que está a verdade nua e crua. Como é possível haver tantos santinhos num meio tão hostil como é este inferno. Como é que eles conseguem resistir a esta tentação constituída pelos diabinhos perversos e de mau feitio, que nem a catequização dos santinhos consegue amenizar.
Segundo a opinião abalizada de santinhos mais sabidos, há uns tantos diabinhos mais arrebitados que, por alta traição e em obediência aos princípios diabólicos da sua natureza, conseguem catequizar alguns santinhos que, assim, perdem todas as possibilidades de ascenderem um dia ao reino dos céus. E aqui, no país, são repelentes traidores à santidade.
Eis pois, um inferno cheio de santos dispostos a tudo para, na incerteza de virem a conquistar o céu, receando as injustiças de um chaveiro chamado Pedro, que consideram parcial e comprável, querem garantir que este inferno onde vivem agora, seja um lugar certo e seguro, que sirva de alternativa ao verdadeiro céu e purgatório.
Tenho plena consciência que é muito difícil entender toda esta confusão de diabinhos e santinhos. Mas, não menos difícil é entender como pode este país ter tantos santinhos dedicados exclusivamente à pregação, sabendo de antemão que este inferno já está cego, surdo e mudo.
Daí que se oiça já falar de país condenado, como se um inferno pudesse ser, assim, condenado do pé para a mão, só porque há muita dificuldade em condenar os diabinhos, porque não se dão por culpados mas, como é óbvio, também ninguém se atreve a condenar os santinhos, cujas orações são feitas em português, língua desconhecida no outro inferno.
É caso para dizer amargamente, ou alegremente, ora valha-nos Deus!...
 

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