Assim, de caras, quem deve ser multado é quem faz asneira da grossa. Por exemplo, se eu resolvesse conduzir o meu veículo à velocidade de duzentos à hora, se ele os desse, claro, é evidente que seria eu o multado, e bem multado, e não o inocente instrutor que me ensinou a conduzir dentro das normas estipuladas pela lei.
Mas, infelizmente, nem sempre acontece assim e acaba por ser multado quem não teve nada a ver com a infracção em causa, nem está na sua mão poder preveni-la ou reprimi-la. O caso mais flagrante que me ocorre neste momento, dada a sua actualidade, é o que se passa nos domínios do futebol, ou melhor, na violência fora dos estádios de futebol.
Gostava que alguém me explicasse o que têm a ver os clubes com a violência praticada por indivíduos dentro de autocarros ou de carros particulares que se deslocam em auto-estradas, ou se dão aos piores desvarios em áreas de serviço, portagens ou mesmo nas proximidades dos estádios de futebol.
Gostava que alguém me explicasse porque motivo as autoridades de segurança assistem a tudo isso, muitas vezes impotentes, devido à força bruta desses energúmenos, acompanham-nos durante centenas de quilómetros e durante muitas horas ao longo do dia e, no final, não se responsabilizou ninguém, não há ninguém que pague os prejuízos causados e os ferimentos mais ou menos graves ocorridos nos polícias e nos vândalos.
Passados alguns dias, lá vem alguém mostrar que tem a mão pesada e aplica multas aos clubes de que julga serem os adeptos envolvidos. Ora aqui é que está o busílis da questão. Se as autoridades policiais não quiseram, ou não puderam controlar essa cambada, que podiam ter feito os clubes que não foram para ali tidos nem achados?
Mesmo considerando que os responsáveis por esses clubes são culpados de muita violência gerada pelos seus comportamentos incendiários, criando mesmo ambientes explosivos que desencadeiam reacções imprevisíveis numa escalada que parece ser cada vez mais incontrolada, não faz qualquer sentido culpá-los, deixando os energúmenos a rir-se.
Mas isso, cabe às entidades que têm por incumbência regular e regulamentar as actividades desportivas, metendo os infractores na ordem através de castigos justos, e não andar a tentar dividir o mal pelas aldeias, para não provocar descontentamentos clubistas de que não são capazes de despirem as suas próprias camisolas.
Quando se multa um clube, tem de imediato de se arranjar outra vítima, senão lá tínhamos o caldo entornado com os tais dirigentes a deitar gasolina para a fogueira. Portanto, castiga-se sempre aos pares, para que ninguém se excite ainda mais. E, se a excitação for traduzida em palavras críticas dirigidas à classe dos maiorais das ligas, lá se arranja mais uma multa para serenar os ânimos.
Ora é lógico que, se os clubes não deviam ser responsabilizados por aquela violência, e se os vândalos gozam do privilégio de ser o que são, alguém devia ser responsabilizado pelo actos que prejudicam tanta gente. Esse alguém devia ser, em primeiríssimo lugar, o representante do governo para o desporto que, actualmente, até tem físico para dar e levar.
Mas, em tudo o que é bola, há uma complacência evidente, pelo menos para mim, que nem costumo ver coisas que mais ninguém vê, complacência essa que abrange tudo o que de mau se passa a norte, em contraste com uma certa severidade em relação a ocorrências semelhantes passadas de Coimbra para baixo.
Ainda há dias ouvi dizer ao primeiro-ministro do país que desejava que este fosse o ano do clube dele, que está sediado cá em baixo. Como dizem que ele manipula tudo e todos, admira-me muito que não acabe com a pouca vergonha que dizem que prejudica sempre o clube dele. Há aqui qualquer coisa que não bate certo.
Por outro lado, muitos dos ministros e o tal responsável pelo desporto, são oriundos lá de cima e sabe-se que têm outra cor clubista da do primeiro-ministro. Não sou muito forte em deduções, mas nesta, julgo deduzir bem, que os ministros e o secretário do desporto, andam a fazer pirraça ao chefe do governo.
Depois, para compor o ramalhete, ainda há os federativos e os ‘ligueiros’, cuja maioria dos dirigentes são autênticos paus mandados de alguém, que nem sequer se esconde na sombra, pois conseguindo andar à chuva sem se molhar, também consegue dar nas vistas, como se nunca fosse visto.
Portanto, quem devia ser multado, eram os tais governantes e os tais dirigentes federativos e ‘ligueiros’, que enchem os respectivos cofres com as multas pagas por quem não tem culpa nenhuma de que não acabem as conveniências que tanto lucro lhes dão.