S & P Limitada
Hoje não me apetece mesmo nada dedicar o meu precioso espaço ao Standar e ao Poor, o já célebre S & P, por muito ódio que tenha aos dois, desde que me entraram nos bolsos, de há uns dias a esta parte. Até me permitia aconselhar todos os portugueses a exigir-lhes um pedido formal de desculpas por se terem permitido um tal abuso de confiança.
Em última análise, quero que se lixem esses gajos, porque hoje estou mais virado para outra companhia limitada, esta formada por dois cidadãos lusos, por acaso ambos lá de cima, que tiveram a infeliz ideia de adoptarem as mesmas letras dos já citados, para se identificarem. Acredito piamente que se trata de uma infeliz coincidência, mas constato-a.
Concretizando, trata-se da firma constituída entre Sócrates e Passos (S & P Limitada), que teve o seu registo oficial um dia destes, ali para os lados de S. Bento, num final de manhã, em que se fez sentir uma forte e inesperada trovoada, gerada por uma triste depressão de cacau, vinda de ocidente em velocidade vertiginosa.
Ambos os fundadores de tão inesperada companhia, parece que foi tão inesperada como bem-vinda, se mostraram bastante determinados em garantir o sucesso que, à partida, até parece uma coisa do outro mundo, tendo em conta os relâmpagos bem recentes, que haviam incendiado as bases desse acordo tido como impossível.
Está visto que, por cá, já nada é impossível. Depois de o objectivo de Passos, único e imprescindível de poucos dias antes ser precisamente derrubar Sócrates, eis que, agora, esse objectivo foi reclassificado para, não deixar cair Sócrates, enquanto Passos não cair com ele.
O gesto de Passos é bonito e é, sobretudo, muito generoso, depois de tanta guerra que não se sabe ainda se já teve a assinatura de armistício competente ou se, daqui a uns dias, alguém se diz não vinculado a tão esperançoso momento da criação da S & P Limitada. Sim, porque já estamos habituados a que tudo seja mesmo muito limitado.
À primeira vista, isto parece-me um pouco aquele slogan que diz, se não os puderes vencer, junta-te a eles. Mas, também há quem diga que, afinal, assumir a gerência, sozinho, de uma companhia falida, não dá para o ‘pitrol’, portanto, é melhor ir vendo como é a dois, a ver se a companhia se torna, entretanto, suficientemente apetitosa e apetecível.
Depois, também já ouvi dizer que, com o nascimento feliz, para alguns, mesmo muito feliz, da S & P Limitada, se juntou a fome com a vontade de comer. E eu, como já vi tanta coisa, atrevo-me a dizer baixinho, para que não digam que eu sou tão bota abaixo como tantos outros, atrevo-me, repito, a dizer que ainda não posso afirmar quem é que vai ser comido, nesta recém-nascida companhia.
Pelo sim, pelo não, acho que se devia fazer um referendo para o povinho se pronunciar sobre os fundamentos desta singular companhia, que mais não seja porque vai dedicar-se, essencialmente, ao corte. Os que cortam vão, certamente, votar em massa no sim. Mas, os cortados, que se prevê seja uma maioria desconfortável, não deixarão de votar não, já que ficam mesmo sem massa nenhuma.
Há aqui um outro pormenor muito importante. É que o referendo tem de ser autorizado e aprovado por quem de direito. O grande problema é que quem deve falar nas alturas de grandes decisões, normalmente, diz que deve estar calado. Mas já tenho ouvido dizer que há alturas em que fala muito, quando devia estar calado.
Tenho cá um pressentimento que esta companhia ainda acaba por ser alargada. A ver vamos se a S & P, Limitada, não passa, em breve, a S, P & C, Ilimitada, a fim de ter um elemento permanentemente atento e sorridente, essencial para que o negócio seja a sério.