Fujões
Pois é. Mais uma vez os do costume estão a fugir a sete pés da obrigação de dar o seu contributo para sanar os problemas criados pela crise, de que eles serão os maiores responsáveis, já que serão eles a grande fatia dos que gastaram muito mais do que tinham e pagaram muitíssimo menos do que deviam pagar ao estado.
Partindo do princípio de que alguém vai ter de pagar tudo o que o país deve, e parece que terá de o fazer depressa para não ter de pagar mais, ou entrar mesmo na tal insustentável, vemos os habituais fujões a porem-se de fora, como se isso não fosse nada com eles. É caso para perguntar, se não é nada com eles, com quem é então?
A minha resposta pode parecer um tanto parvinha, mas não encontro outra mais lógica, por não ver melhor saída, que não seja ser eu a arcar com os calotes dos outros. Sim, eu, que não gosto de fugir de nada nem de ninguém, muito menos fugir do cumprimento das minhas obrigações perante o estado que, se é meu, também o é de todos os fujões.
Agora, o que não me agrada nada é ter de pagar portagens em auto-estradas onde não passa o meu veículo, para mais sabendo que quem lá passa com os seus, não paga. Sabendo-se que auto-estrada é sinónimo de comodidade, de economia de tempo, de economia de combustível e economia de desgaste dos veículos, quem não paga portagem está a obrigar outros a pagar os benefícios que não usufrui.
Porque, se não se pagam portagens é o estado que as paga com o dinheiro dos impostos dos contribuintes, ricos ou pobres, utilizadores daquelas vias ou não utilizadores, muitos destes últimos, residentes em pequenas localidades, onde apenas circulam pelos chamados caminhos de cabras, porque do dinheiro dos impostos que vai para as scuts não lhes chega uns cêntimos sequer para lhes facilitar a vida do dia-a-dia.
Estes sim, não têm alternativas para o calcorrear de caminhos ou veredas, onde não entra sequer um carro, cujo piso é um lamaçal no inverno ou um monte de poeira escaldante no verão. É a estes utilizadores do incrível, que querem entregar a responsabilidade do pagamento das portagens que suas excelências entendem que não lhes compete pagar.
Também eu gostava de não pagar nada em lado nenhum. Gostava de não pagar nada ao estado, como muitos fazem, gostava de dizer que paguem os outros, sejam os governantes, sejam os beneméritos do povo pagante que sustentam o país. Porque os coitadinhos dos protestantes só têm tempo e dinheiro para os protestos.
Com esta coisa da crise, que até só o é para alguns, muito se tem falado que sejam todos a pagar, que não sejam sempre os mesmos, que não se peçam mais sacrifícios àqueles que sempre os fizeram e vão fazer até ao fim das suas vidas.
Esses não são, seguramente, os que querem borlas para tudo. Porque as borlas que os protestantes querem para si, significa mais sacrifícios para quem não tem carro, para quem tem dificuldade, em alguns casos, muita dificuldade, em comprar o pão e a água da sobrevivência, quanto mais ajudar a pagar as despesas de quem vive muito melhor que eles.
Se eu visse alguma possibilidade de serem os governos, os governantes, os do contra, os bancos, os ricos, a pagarem o que me obrigam a mim a pagar, aí parou. Eu também queria porque, trouxa, também não sou assim tanto. Mas também não esqueço todos aqueles que não sendo governantes, e são fujões, fazem de todos os cumpridores autênticos trouxas que os sustentam, a eles, e a todos os vícios e luxos de que não prescindem.
Era bom não esquecer que o estado gasta muito, sim senhor. Mas uma das maiores fatias do que gasta, vai, precisamente, para sustentar quem não quer fazer nenhum, quem quer gastar mais que ninguém e fugir a todas as suas responsabilidades. Esses, são os que até têm muita gente a defendê-los e a apoiá-los, como se de heróis nacionais se tratasse. Esses, são os fujões.