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afonsonunes

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31 Jul, 2010

Falta de tempo

Esta coisa chamada tempo é capaz de ter a ver com a utilidade ou inutilidade da passagem de certos elementos pela rota da esperteza ou da estupidez, rota que serpenteia por este vale de manifestações que cada um exibe durante o tempo de permanência na cena em que se mostra, tendo depois a nota final correspondente à sua exibição.

Mas antes do tempo temos a falta, coisa que, dizem os entendidos mais confundidos, não há falta que não dê em fartura, principalmente, quando a falta é de juízo e a fartura é de estupidez. Este tipo de raciocínio talvez tenha um pouco de tudo isso, mas bem sabemos como a natureza humana está extremamente sujeita ao contágio de tudo o que a rodeia.

É curioso que ainda há quem se sirva da estafada lengalenga da falta de tempo, para tentar justificar a sua tendência natural para a clara demonstração da sua estupidez mascarada de esperteza ou, não raras vezes, esta disfarçada de estupidez, por mais que se pretenda tirar partido daquela que mais lhes realce a personalidade.

O mesmo é dizer que há quem não tenha tempo para mostrar devidamente os seus verdadeiros dotes, porque vive na ilusão de que compete ao tempo permitir-lhes garantir estupidamente as suas espertezas. Por mais estúpidas que estas sejam, pois elas vão continuar a ser, ao longo do tempo, as verdadeiras armas dos espertos.

Gostava de ter tempo para me explicar melhor sobre esta problemática, mas estou completamente convencido de que não é por ter um insuficiente bocadinho de esperteza, nem um excessivo bocado de estupidez, que aqui deixo este assunto meio engrolado, convicto de que alguém que me supere acabará por deslindar.   

Porque até aqui, só não tem tempo para fazer o que deve, quem já perdeu ao longo do tempo todas as oportunidades para mostrar que sabe fazer e sabe o que lhe compete fazer. Quando, carregando montes de frustrações, conclui que não teve competência para arranjar soluções, embrulha-se em contradições e desculpas, alegando que não tem tempo.

Trata-se então de pretender espalhar uma esperteza no meio da estupidez ou, vendo o problema pelo lado mais objectivo, é pretender espalhar a estupidez mais desmascarada, no meio da esperteza de quem já conhece bem essa maneira de ser estúpido. Por mais que os estúpidos se considerem os verdadeiros espertos.

Estes, os verdadeiros espertos, distinguem-se dos falsos estúpidos, por terem quatro olhos. Os dois normais que vêem mais ou menos para a frente, mais dois que vêem demais para trás, com a prevalência destes sobre aqueles. Ora, assim, com umas luzinhas débeis viradas para a frente e uns faróis potentes virados atrás, o mundo fica de pernas para o ar.

Fica para eles, coitados, porque sempre se ouviu dizer que é preciso ter os pés bem assentes no chão, para caminhar e pensar no bom sentido. Como se fosse a mesma coisa caminhar com a cabeça no chão e os pés no ar. Ainda por cima a escoicear. É caso para dizer, calma aí. Olhem que a estupidez não é mana gémea da esperteza, nem o tempo alguma vez as juntará.

E não será por falta de tempo. O tempo nunca faltará a quem seja capaz de ver as coisas sem miopia mental. A falta de tempo será sempre a desculpa de quem vive apenas e só para complicar e nunca para resolver. Talvez um dia haja quem possa acabar-lhes com a falta de tempo, retirando-lhes de vez, tudo aquilo que lhes rouba o tempo.

Até eu já começo a ter falta de tempo para aturar as madurezas, as espertezas e as estupidezes. Mas terei sempre absoluta falta de tempo para compreender como se pode gastar uma década da vida a marcar passo e, depois, ainda se dá apenas um passo atrás. Uma década é muito tempo para se ter apenas falta de tempo.

Também já não tenho tempo para continuar a asneirar.

 

27 Jul, 2010

Não pode ser

Se eu digo que não pode ser, a minha prima Laurindinha já disse várias vezes, pode lá ser. Não sei bem se ela quer dizer o mesmo que eu, assim como aqueles que dizem: eu não acredito. Pelos vistos, o país está cheio de incrédulos, que já serão muito mais que aqueles que acreditam em tudo e mais alguma coisa.

E é neste dilema de vários anos que decorre a vida do país. Não interessa que isto vá tudo para o galheiro ou que estejamos à espera que se cumpram os desígnios de um ou outro iluminado, que está bem seguro, pormenor por pormenor, de tudo aquilo que a luz que dele emana o salvará do dilúvio.

Luz que, acredita, o salvará, a ele, porque os outros, todos os outros, que se lixem. Mas, há uma coisa que não pode mesmo ser. É aquela coisa em que, os que acreditam em tudo vêem passar uma, outra e mais outra coisa, e nada. Assim, como é que se pode pensar que algum dia vão conseguir pôr-lhe a mão em cima?

A minha prima Laurindinha já me confidenciou que anda ali mão de Deus. Aquela mão que o poupa ano após ano, não deixando que outras mãos, muitas mãos, segundo alguns demasiado sujas ou demasiado limpas para outros, consigam, finalmente, apanhar o sujeito com a boca na botija.

Não pode ser, que depois de tantas tentativas de lhe lançar sobre o pêlo, as manápulas crispadas, venham sempre dizer-nos que, afinal, não havia nada. Mas, nada como? E lá vem a minha prima Laurindinha com a dela. Só Deus lhe tem valido, porque ninguém deste mundo, o poderia salvar de tantas e tão ferozes investidas.

Eu não acredito que sejam os próprios autores das sucessivas investidas que acabem sempre por se vergarem a recuos, prescindindo daquilo que sempre desejaram ardentemente. Não posso acreditar que, depois de sossegarem uns tempos, voltem sempre a investir contra ele, sabendo de antemão que, depois, têm de voltar a recuar.   

Também não acredito que algum dia os autores das investidas e, principalmente, os seus apoiantes e delirantes seguidores, venham a abdicar da felicidade que sentem frente a um televisor que lhes enche a alma de emoções fortes, mais fortes que qualquer um daqueles desportos ultra radicais.

Até a minha prima Laurindinha já tem vindo à janela, como diz a cantiga, atraída pelo arraial de felicidade que irradia de grupos mais ou menos numerosos que se manifestam exactamente no sentido de que é inacreditável que, os que sabem, não sejam capazes de dizer aquilo que todos eles sabem sem sombra de dúvida.

Ai Laurindinha, eu sei que tu gostas muito de andar nas nuvens, talvez porque queiras estar mais perto de Deus, julgando que Deus acabará por te proteger a ti, como dizes que tem protegido o tal, das tais investidas.

Pois eu penso que, se há protegidos nesta treta, esses são precisamente todos aqueles que acreditam em tudo e, ainda mais protegidos são todos aqueles que não dizem mesmo, aquilo que deviam dizer com toda a clareza.

Mas, que fique bem claro, Laurindinha, não é Deus que protege toda esta gente. Não pode ser.

 

Se os políticos dissessem o que estão a pensar no dia de hoje, e que eu adivinho sem qualquer dificuldade, lá se ia a ideia dos vinte por cento por água abaixo, pese embora a adesão de Manuel Alegre e do bispo da Guarda. Em ambos os casos as contas não seriam fáceis de fazer, dadas as diversas proveniências dos rendimentos base dos descontos.

Mas adiante que o problema seria deles. O que para mim é mais complicado, diz respeito à tentação que certos membros da igreja têm em se meter na política pura e dura, como se lhes competisse governar ou evitar o desgoverno deste país mostrando entre si, como mostram os políticos, visões completamente opostas para os mesmos problemas.

Sim, porque nem os bispos nem os padres fogem a esse direito em democracia de terem as suas ideias e as suas tendências partidárias. O problema é que a igreja deve respeitar os políticos, como os políticos devem respeitar os membros da igreja, metendo cada qual a foice na sua seara. Até por respeito às suas clientelas bem específicas.

Nem quero imaginar o que se diria se o primeiro-ministro ou qualquer outro ministro se atrevesse a aconselhar os bispos a tomarem determinadas iniciativas ou a evitarem outras que não lhes parecessem correctas. Assim do tipo de criticarem as horas a que devem ser feitas as orações ou o conteúdo de cada uma delas.

Ora, o senhor D. Carlos achou por bem que os políticos cristãos entregassem vinte por cento do seu ordenado para minorar a pobreza no país, entrando pela maneira fácil de atribuir ao estado, ao governo, a existência desse terrível fenómeno, como se lhe coubesse o simpático papel de alinhado com a oposição, neste caso.

Nem quero levantar o problema da distinção, em termos de contribuições, dos crentes e não crentes, pois isso seria susceptível de esbarrar nos preceitos constitucionais, como agora está tão em voga, quando se quer contestar alguma coisa ou alguém.

Faltou a D. Carlos, como tem faltado à oposição, dizer concretamente quem está disponível para pagar aquele encargo, aprovando medidas concretas que o traduzam em obras no terreno. É preciso que fique bem claro, quem aprova e quem recusa aprovar, na hora das discussões e votações concretas no lugar próprio.

É evidente que não são os vinte por cento dos ordenados dos políticos cristãos, nem que se lhes acrescentasse os vinte por cento dos políticos não cristãos, que resolveriam o problema da pobreza no país, tal como não se resolve com conversa fiada cá, como em qualquer outra parte do mundo. Quando toca a dar, quase todos dão, mas apenas uns passos atrás.

Parece-me que já ouvi em qualquer lado que, a Deus o que é de Deus, e aos homens o que é dos homens. Não queiram os representantes de Deus ser mais papistas que o papa, tanto mais que, em muitos casos, o que vemos, é que eles gostam de fazer figura com o que o estado lhes dá mas, dos seus haveres, parece não sair todos os contributos que poderiam disponibilizar.   

Se também me atrevi a intrometer a minha foice em seara alheia, e não sou o único, lá vai mais uma proposta honesta e sincera, após chegar à conclusão que ainda não apareceu nenhuma que, tal como a que vou apresentar, consiga resolver a questão.

Se a coisa não se resolve pelo lado da dádiva, então que se minore pelo lado da dispensa de contribuições. Uma vez que aqueles que podem, não querem contribuir, então que aqueles que precisam, deixem de contribuir para os que não precisam.

Daí que os vinte por cento propostos por D. Carlos, bem podiam ser substituídos pela dispensa dos peditórios nas missas enquanto durar a crise, sabendo-se que a maioria dos fieis vivem com muitas dificuldades e todos os cêntimos lhes dão imenso jeito.

Parece-me que até nem estaria mal pensado. E o bispo da Guarda e Manuel Alegre ficariam bem mais descansados.

 

18 Jul, 2010

Já são quatro

Mas nada me admiraria se viessem a ser oito ou até uma dúzia deles. É um lugar seguro, estável, bem remunerado, imune às medidas de austeridade e às tropelias de justiças e injustiças, além de que ali se pode viver descansadinho resolvendo tudo através de uns inofensivos recados de alerta para problemas sem solução.

Já estive tentado a intrometer-me também nessa tarefa patriótica de mostrar ao país que não fujo às minhas responsabilidades de cidadão elegível, mas comecei a pensar naquelas secas que custam os olhos da cara aos contribuintes e, provavelmente, me dariam uma soneira dos diabos no meio de gente que nunca anda a dormir.

Aliás, também já pensei no que poderia fazer no meio de quatro bem identificadas e ilustres personalidades, quando tenho consciência de que sou apenas um elemento a quem o destino só reservou o direito de votar, normalmente, usufruindo da posse de voto de vencido, atribuindo esse insucesso a uma manifesta falta de sorte em acertar no lugar certo da cruzinha que desenho com todo o rigor.

Posto este ponto de ordem, vamos lá ao meu ponto da situação, no que respeita aos meus colegas imaginários, caso eu tivesse avançado. Começo pelo alegre entre os tristes, alguém que terá muitas possibilidades de sucesso, dada a necessidade de haver quem solte umas boas gargalhadas de alegria. E isso, só um alegre original e não artificial, pode garantir.

Talvez haja uma certa vantagem em escolher um nobre para liderar um povo simples e modesto, mesmo a roçar a condição plebeia, mas que sempre se viu bem na pele de servidor da nobreza, rica e bem vestida, bem comida e bem bebida, a mostrar à populaça que viver bem não é, nem nunca vai poder ser, para toda a gente.

Se um alegre e um nobre podem dar uma certa animação ao povo, não tenho dúvidas de que um cavaco pronto a ir ao lume, é uma acha para uma fogueira que garante o calor da sabedoria, por um lado, e a frieza de espírito, por outro, para não queimar qualquer um, mas só e apenas quem for condenado pelos seus, a cair nas chamas do purgatório.

E vão três, mas o defensor de não sei quê, nem de quem, está preparado para atacar forte e feio no sentido de provar que a melhor defesa ainda é o ataque. Vai daí que se aventure a ser o quarto na linha de partida, mesmo que saiba que será também o quarto na linha de chegada. Se lhe der alguma satisfação ser o aguadeiro do pelotão, já terá valido a pena o esforço, mesmo a meter água durante toda a campanha.

Campanha que se torna extremamente importante porque o próximo vencedor que sair dela, pode vir a ter nas mãos uma série de bombas atómicas, enquanto até agora só era permitido ter uma. É um privilégio muito especial, mas também, inegavelmente, uma grande responsabilidade.

Contudo, a minha previsão pouco previsível, diz-me que esse privilégio não será para qualquer um. Será para o vencedor, sim, mas apenas se ele estiver sintonizado com a criatura criadora do privilégio. Para isso tem de se alterar a constituição das regras que vão reger essa matéria.

Para o defensor, a constituição não permitirá mais que o uso de meia bomba atómica. Para ele, defensor, meia dose já será bomba a mais. O nobre, terá direito a usar uma bomba atómica completa, enquanto o alegre, devido às suas especiais qualificações de diversão, terá vedadas todas as possibilidades de usar quaisquer espécies de bombas, ainda que sejam de carnaval, pois a rir não se brinca com bombas.

Por estar à beira do lume, o cavaco poderá, segundo a tal constituição, usufruir do poder de gastar as bombas atómicas que quiser, mesmo que tenha de pedir fornecimentos suplementares ao Irão. Aliás, um cavaco perto do lume pode, melhor, tem de fazer tudo, porque a criatura criadora do seu poder, não será capaz de fazer mais nada de criativo.

Sinceramente, cercado por tantas bombas atómicas, já me sinto completamente desintegrado, reduzido a átomos, a poeiras nucleares, a voar no espaço aéreo do cavaquistão.

 

Finalmente começo a ouvir umas coisas interessantes, depois de tanto tempo a gramar aquilo que nem o diabo gostava de ouvir, desde o levantar de manhãzinha até ao deitar, nem que ele fosse muito depois de a noitinha já ter adormecido. Gosto de ouvir falar claro e agora parece-me que já não há nenhuma dúvida que não tenha a sua resposta.

Andava eu e muita gente moídos e ralados com a maneira de sair deste imbróglio de, governa ou não governa, de quem quer ou não quer governar, de quem gosta ou não gosta de eleições, para que se recomeçasse com a tradicional guerrilha de permanente campanha dos que não ganharam e dos que não perderam.

Afinal, fiquei já a saber que todos querem governar. Os que estão lá, querem continuar, os que estão de fora querem passar lá para dentro. Do governo, claro. Sim, o que tem lógica pois, se no Inverno, está muito frio cá fora, no Verão está muito mais fresquinho lá dentro, que mais não seja por efeito dos ares condicionados.

Mas, esta guerra dos que estão no quente ou no frio vai estar resolvida a breve prazo, pois já está a caminho uma solução multi-partida, e multi-partidos, para que todos repartam amigavelmente as boas e más temperaturas, faltando apenas resolver pequenos detalhes, como se diz na linguagem futebolística.

É claro que há os que se mostram escandalizados e os que se riem com a mão em frente da boca, mas isso não quer dizer nada, ou não fossem essas as atitudes normais de quem faz cara de caro, mas por dentro rejubila com a certeza de que não vai ficar sem nada, esta sim, uma ideia simplesmente aterradora para todos eles.

Portanto, tudo está bem mas, há sempre um mas, nada de se pensar em eleições, pois está provado que elas só complicam em lugar de resolver. Que interessa lá que meia dúzia de pacóvios queiram decidir aquilo em que não têm nada que meter o bedelho. Para pacóvios já bastam aqueles vão eleger-se a si próprios.

Depois, se aqueles pacóvios querem votar para eleger quem vai mandar, está mais que provado que quem eles elegem, acaba por não mandar nada. E assim se cria uma situação altamente deprimente que só vai dificultar a sobrevivência do Serviço Nacional de Saúde com depressões em cadeia que põem a abarrotar todos os hospitais do país.   

Conclui-se portanto que, eleições, nada, governo com todos sim, isso nem se discute, aprovado já por unanimidade, com uma estrondosa aclamação e com a recomendação urgente de que isso não demore tanto tempo como o entendimento sobre as scut, prova provada de que, tal como estamos, não interessa, porque ninguém manda nada.

Ora assim é que é falar, por muito que se pense que eles vão falar todos ao mesmo tempo. Vão, sim senhor, mas isso não interessa nada, como se tem visto com a Vivo. Eles falam, falam, mas dizem tudo, embora não resolvam nada. Mas, certo, certo, é que a Vivo continua viva para nós, principalmente, para os que não têm lá um cêntimo como eu.

Mas, falar, falar, seria o presidente anexar a Belém o seu partido do peito e entregar-lhe a tarefa de transmitir aos portugueses as suas orientações e determinações, como se de um governo se tratasse. Para mim, assim é que era falar.

 

Elas não podem conceber, e eu também não, que alguém lhes fale em tom de repreensão, a elas, que são umas virgens puríssimas ou, vá lá, umas donzelas sem mácula, que não ofendem ninguém, que não criticam o seu pior inimigo, quanto mais o seu amigo de estimação, a quem apenas desejam que se desviem um bocadinho para elas passearem as suas vaidades.

Obviamente que elas, são eles e elas, os tais que quando não têm argumentos de resposta às repreensões vindas do lado, logo vêm com a borrada da desorientação, como se isso lhes tirasse de cima, o peso da responsabilidade das posições que assumem, quer elas sejam boas ou más, mas que têm de aceitar que ninguém é obrigado a concordar com elas, tal como elas, as donzelas, não concordam com as dos outros. 

Assim, dá a ideia que queriam viver no reino daqueles que se julgam no direito de ralhar com todos e em que todos têm a obrigação de ficar de boca calada a ouvir os seus ralhetes. Até julgam que os seus próprios ralhetes são a salvação do país, enquanto os ralhetes dos outros são sempre demonstrações de desorientação, manifestações de autoritarismo, de incompetência, de desespero e de outras virtudes que não descortinam em si próprias, pudicas donzelas. 

Talvez façam parte da comunidade daqueles miúdos queixinhas que estão permanentemente a provocar os seus companheiros de brincadeira mas, à primeira provocação que um dos outros lhes faça, logo gritam pela mãezinha, ou pelo sapiente papá, com grande berreiro, dando conta do inadmissível mal que acabam de sofrer.

Depois, se não sai ralhete superior em seu favor, lá vem a birra, o nervoso miudinho, com toda a lengalenga de quem tenta convencer a parolice do seu habitat, onde são efectivamente muito fortes. Sobretudo, quando ao seu coro se juntam outros coros que usam a mesma táctica, ou seja, todos ao barulho, para tentar atrair quanto mais barulhentos melhor.

Agora, no que eu não acredito, é na história de que alguém anda desorientado. O que eu vejo a todo o momento, são os muitos que souberam, e continuam a saber orientar-se, sempre no sentido de encher os próprios bolsos, mesmo sabendo que estão a conduzir o país para o abismo, que alguns já vêem ali mesmo à sua frente.

E, já vai sendo tempo de se enxergar que, os que mais se orientam, não são os que mais são acusados de se orientarem. Basta pensar que o orçamento de estado não tem lá verbas para orientações pessoais daquela espécie. E se tivesse, lá estariam os olhos permanentemente esbugalhados dos seus controladores para as expurgar.

Em boa verdade o orçamento do estado tem muitos buracos por onde todos os vígaros aprenderam e se habituaram a meter a mão impunemente e esses, sabem controlar tudo o que é do estado, mas não se controlam a si próprios, nem os governantes têm meios para os controlar devidamente. Porque os vígaros souberam proteger-se em devido tempo, contra todas as investidas, e agora estão completamente imunes a qualquer ataque.

Portanto, convém não confundir as coisas. Quem fala em desorientação, está já a orientar as suas euforias para o banquete que já não lhe sai do pensamento. Quem só vê desespero, já se sente na rota que lhe promete uma viagem sob as luzes fortes do estrelato. Quem passa a vida a falar de emergência social, já devia ter esclarecido quem e como a deve pagar. Quem agora já se sente preparado para avançar, é porque já lhe cheira a qualquer coisa.

A qualquer coisa que ainda há poucos dias era bancarrota, mas parece agora que já é menos rota. Talvez já suficientemente remendada para se poder pensar em alívio. Talvez até pensar em esperança de que sobre alguma coisita para os paroquianos ávidos de quebrar o jejum, depois do farta brutos de outros tempos. Sim, mas agora não dará para fartar a vilanagem.     

Mas nunca dará para que a verdadeira desorientação e o verdadeiro desespero, que só tinham razão de existir na verdadeira pobreza, que é real, quase sempre aceite e resignada, silenciosa, não dará nunca mais para que ninguém que possa, queira contribuir para a eliminar, porque ela, a pobreza, dá jeito a muita gente que passa a vida a lamentar a sua existência.

A verdadeira emergência social não se resolve com a hipocrisia das palavras de conveniência. De uma vez por todas é preciso e urgente determinar quem, concretamente, vai pagar os seus custos, se querem que exista a tal emergência, porque sempre ouvi dizer que o dinheiro não cai do céu.

E, que eu saiba, sejam quais forem as políticas e os governos, o dinheiro tem mesmo de cair dos bolsos de alguém que ainda não está no céu. Enquanto não disserem claramente a quem o vão tirar, que deixem de andar a vender ilusões.      

Porque todos nós já estamos preparados, há muito, muito tempo, para aturar gente bem preparada para nos manter neste inferno que nos querem vender como se fosse o céu.

 

10 Jul, 2010

Novela acabada...

É evidente que a novela ainda não acabou definitivamente, mas já se adivinha o fim, com todos os alívios e desilusões que estão prestes a rebentar com montanhas de emoções e interesses que ainda não se sabe bem como vão ser substituídos no dia-a-dia de quem tem vivido com isso e, principalmente, à custa disso.

Será também por causa disso, que quem tem poder para escrever a palavra fim, não é capaz de assumir esse esforço, não só porque parece mal reconhecer os muitos disparates que se foram produzindo ao longo dos anos, mas também porque deverão pesar na consciência os rios de dinheiro que fez sair dos cofres, com o rótulo de mal empregado, quando fazia tanta falta e podia ter sido muito bem empregado.

Isto para não falar na solidariedade desse poder para com todos aqueles que alimentou, bem pago ou à borla, e que agora lhe é difícil deixar entregues à sua sorte, lavando as mãos como Pilatos. Daí que a novela vá morrendo por si própria, como se a palavra fim não existisse nesse vocabulário da vergonha nacional.

Entretanto, neste impasse em que vai faltando assunto, há que criar outra novela que renda, que excite, que dê a volta às cabecinhas que vivem disso e àquelas que não podem passar sem isso, seja em casa, seja à mesa do café, seja à frente de qualquer objecto que amplie e propague essa onda doentia que já se tornou imprescindível.

Até aqui, os grandes novelistas destas histórias de arrebatar multidões, só encontraram na politiquice barata e corriqueira os assuntos que lhes deram o pano suficiente para as mangas que se sentiam capazes de cozer, à medida das suas capacidades criativas, tendo em conta que se trata de uma arte em que a produção se vê livre das peias que afectam outras modas.

Porém, parece que descobriram agora o outro fabuloso mundo de paixões incendiadas, onde os heróis e os mártires se podem comparar, em muitos aspectos, aos bombos da festa da política. Também nesse mundo, que é o mundo da bola, tão depressa se adula, como se odeia, tudo dependendo muitas vezes de um ressalto caprichoso de uma bola sem lógica.

É mais um campo ideal para meter a foice, que tanto corta o tufo de relva que faz ressaltos de bola enganadores, como entra na terra que logo deixa careca. Tudo depende da mão que segura a foice e da sua vontade de contribuir para a adulteração dos resultados dos jogos que para ali forem marcados.

Terreno mais que aliciante para nele se cultivar uma nova novela, que parece estar prestes a surgir por aí, propalada aos quatro ventos, pelos novelistas do costume. Sem política, até ver, mas com muitas cacholas a cabecear a bola na direcção de uma baliza, onde podem acabar por rolar outras cabeças que sempre pensaram que não entravam nas disputas de relvados.

Uma coisa parece certa. Esta novela não vai durar anos como têm durado as da política. Esta nova novela pode durar apenas alguns dias mas, na melhor das hipóteses não irá além de um ou dois meses, porque os mandatos, como as épocas, terminam, ou fazem-se terminar no mês de Agosto de cada ano.

Como já estamos em Julho, esta novela futebolística, por melhor que tenha sido a intenção dos seus autores, está condenada a ter um fim prematuro, tudo indicando que não chegará a dar para o petróleo.

 

08 Jul, 2010

Socren share

Sinceramente, por tudo quanto tenho lido, ouvido e visto, nunca imaginei que ainda houvesse um português vivo, além da minha pessoa, capaz de interpretar correctamente o que rezam as escrituras e os alfarrábios assinados ao longo dos tempos, por uns palermoides incapazes de se fazer compreender através dos seus escritos de então.

Daí que todos os palermoides de agora, tenham todas as razões e mais uma, para agitar a justa bandeira das inconstitucionalidades e das ilegalidades em todas as shares, sejam elas goldens ou socrens. De modo nenhum quero pensar mal dos palermoides, de todos os palermoides, porque, mesmo assim, eles são gente, e gente que merece todo o respeito.

Uma coisa é o mau pensamento da minha pessoa e outra coisa bem diferente é o bom pensamento reflexo dos palermoides de antanho, que se vai passando para os palermoides mais recentes. Daí a diferença que me separa deles, tendo eu a perfeita consciência de que estou cada vez mais votado ao isolamento.   

A única coisa que me apraz salientar no meio de todas estas movimentações, que não me apetece agora catalogar, é a existência dos inevitáveis grupos de palermoides, os habituais beligerantes prós e contras, como se de um feroz encontro de coicebol se tratasse, especialmente, entre azuis e vermelhos, que é o que está a dar cada vez mais.

Como aqui não se trata de coicebol, mas de coice politicol, com a invariável linguagem específica, os indesmentivelmente brilhantes são os verdadeiros especialistas em coice, quer se trate de coice simples ou duplo, consoante se levante um membro ou os dois ao mesmo tempo.

Sempre achei imensa piada e utilidade a todos os habilidosos que conseguem escoicear para todos os lados e a partir de todas as posições. Não é para qualquer um, não senhor, principalmente, porque eles não têm qualquer share, golden ou socren, que lhes dê a mínima cobertura para eventuais metidas do pé na poça.

Sei perfeitamente que a socren share foi um erro unanimemente criticado por toda a comunidade palermoidal. Nem podia ser de outra maneira, ou não estaríamos aqui, neste reino da palermice, onde estou plenamente convencido que estamos.

Como é que alguém de bom senso poderia aceitar que não enfrentássemos de sorriso nos lábios, uma investida plena de fúria e raiva vinda ali do lado de lá? Claro que só os palermoides é que se aperceberam das virtudes dessa investida. Ou não cheirasse ela a golden perfume, ou a golden fácil, a brilhar ao sol, contra a sombra fatídica da socren share.

À sombra ou ao sol, os palermoides devem ter ficado estupefactos com a trabalheira que resulta de ter de se gastar agora um tempão a fazer negociações que só podem ser um desperdício de oportunidades motivado por não terem já o dinheiro limpinho nas suas mãos. Tudo por causa da tal socren share, que não é mais que uma empata negócios de toma lá dá cá.

Ainda por cima, chegou precisamente agora, aquela fatídica decisão vinda lá de fora, que todos os palermoides já sabiam que viria. Só que não traz apensa aquela indispensável ordem de prisão imediata do utilizador da socren share, que alguns deles tinham como certa. Mais um desperdício, pois isso resolveria o problema que, cá dentro, ninguém tem os tais, com dimensão suficiente para acabar com o dito.

Obviamente que, acabando de vez com o autor e utilizador da socren share, através da acção concertada de todos aqueles que o podiam fazer, mas não têm no devido lugar os referidos tais, se evitavam todos os problemas que esperam venham a ser resolvidos por quem se está borrifando para os nossos interesses.

Se não gostam, botem fora de vez a socren share, mostrem que os têm lá, pois assim poderão, finalmente, mostrar também o que valem e libertar-nos do fardo que carregamos, se têm a certeza que o podem aliviar.    

 

01 Jul, 2010

Vá lá, Maria! ...

Não há amor de união que resista a certas incongruências de cônjuges que não souberam adaptar-se a todas as facilidades que lhes foram concedidas, no sentido de bem desempenharem a sua espinhosa missão de conquistar o outro, após o tradicional ou convencional nó matrimonial.

É o caso da Maria, que deu muito trabalho a conquistar, mas que se tornou imprescindível ao seu pretendente, depois de saber que a oferta de uns livrinhos de culinária iam fazer dela uma especialista em tudo aquilo que ele tanto gostava. E quando ele gosta de um petisco, é o mesmo que dizer que, se ela o fizer especialmente para ele, então é garantido que ele gosta mesmo muito dela. 

Depois da má experiência das douradinhas acidentalmente encarvoadas, ele fez tudo para que a sua Maria, a Maria dos seus petiscos, se aproximasse do fogão e tirasse dele a magia de um sonho que lhe fazia crescer água na boca, quase tanta como aquela que a sua algarvia Ria Formosa contem na maré cheia.

Porém, o destino teima muitas vezes em pregar as suas partidas mais cruéis. Ainda antes de Maria se ter atirado aos livrinhos de culinária com aquela sofreguidão que ele tanto desejava, apareceu lá na cozinha dele e dela, uma equipa de especialistas que dominavam de cor e salteado todos os grandes cartapácios sobre a matéria.

Com a água a correr pelo canto direito da boca, por causa da inclinação da cabeça, naturalmente, ele viu esfumar-se nesse preciso momento o sonho dessas douradinhas cuja receita só vinha nos livrinhos que em tempos dera à Maria. Mas a Maria, ironia do destino, já só podia ir à porta da cozinha, cumprimentar a equipa que a enchia completamente.

Mas que saudades que ele tinha das douradinhas e a sua Maria ali tão perto. Quantas vezes pensou em tentar uma daquelas experiências antigas que, por graça, até lhes chamava umas asneiras, mas teve receio de que a fumarada libertada da cozinha fosse interpretada no exterior como sinais de fumo de uma qualquer mensagem a pedir socorro.

A verdade é que só lhe apetecia pedir socorro à sua Maria, para que lhe falasse das célebres papas de milho, à noitinha, antes de adormecer, como se fosse uma historinha dos tempos em que não adormecia sem ela. Mas, a Maria, a essa hora, estava sempre super ocupada a estudar o protocolo do dia seguinte, sempre muito comprido e muito exigente, como tudo o que competia ao casal.

E então lá vinha a cortante lembrança da Ria Formosa cheia de encanto e nostalgia mas, sobretudo, que lhe trazia ao nariz aquele cheirinho a mar, a espuma, a peixe, que lhe fazia cócegas na garganta, como se por ela estivesse a escorregar um carapauzito muito pequeno, tão pequenino, que lhe trazia à memória aquele amiguinho de infância a quem ele tratava sempre por jaquinzinho.

Mas que saudades do jaquinzinho, quando nem sequer o podia encontrar nas suas visitas fora de portas, onde lhe impingiam sempre uns pratos caros e tão demorados às refeições, que não lhe deixavam tempo para aquelas idas às casas dos petiscos, onde podia encontrar o amigo jaquizinho.

Uma frustração, pensava ele ao mastigar aquelas coisas que só agravam o défice e deixam o estômago a dar horas, sobretudo, por causa das conversas de embalar, dos que ficam a seu lado. Ainda, vá lá, é um mal menor, quando é a Maria que o acompanha e fica sempre a seu lado pois, assim, sempre podem falar de petiscos que ela sabe fazer e lhe promete que um dia virá…

Então, uma grande preocupação lhe assalta o espírito. Esse dia virá, daqui a pouco ou muito tempo, quem sabe, embora o seu conhecimento seja muito extenso e muito profundo, tal como o conhecimento que têm dele, como exemplo de uma geração e modelo de vida. Apenas com o senão de ter de se acomodar à falta dos petiscos da sua Maria.

Mas já jurou solenemente que quando o deixarem, a primeira refeição que tomará a sós com ela, será uma sardinhada algures no Algarve. Pode acontecer que a Maria convide os netos para essa refeição tão especial.