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afonsonunes

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26 Set, 2010

Preocupados

Já me constou que há por aí gente preocupada, só ainda não percebi porquê e quem é que se mete nestes receios que, pelos vistos, não se manifestam em qualquer lado, nem de qualquer maneira. Mas isso são manifestações que não estão ao alcance da minha vista, talvez porque ela se desvie sistematicamente da obscuridade social.

Mas lá que tenho as minhas preocupações, lá isso tenho, mas não pelos mesmos motivos dos preocupados com futilidades de comadres e compadres, ao que parece por ainda não saberem seguramente se o que lá está acabará por ficar, ou se o que quer ir para o lugar dele conseguirá a indispensável desistência do homem e depois vencê-lo.

Repito que as minhas preocupações não são bem essas e até tenho cá um pressentimento que há muita gente a pensar como eu. Sim, porque estou deveras preocupado por ouvir dizer que os impostos não podem subir, a menos que seja o FMI a impor que é preciso. Se assim for, já os podem duplicar ou quadruplicar, pois assim poderá dizer-se que a responsabilidade será do outro. Tudo bem, portanto, ou não seja essa a lógica passadista.

É lógico e razoável que os impostos não subam pois, assim, os mais necessitados não serão atingidos. Aqui, tenho de me penitenciar, pois sempre pensei que os mais necessitados não pagavam impostos, logo, as subidas seriam para os que pagam, isto é, para os que têm rendimentos suficientes para o fisco os atacar. Era mesmo ignorância da minha parte.

A mesma ignorância tem andado ao redor do meu entendimento sobre as deduções nos benefícios fiscais. Lá andava eu a pensar que os pobres eram os que menos benefícios podiam deduzir, porque, coitados, se eles não têm dinheiro para mandar cantar um cego, como poderiam apresentar descontos em impostos que não pagam? Não percebo como nunca tinha pensado que não estava a ver bem a questão.

É como essa de baixar o imposto sobre a venda de combustíveis. Pensava eu que se baixassem esse imposto teriam de criar outro para compensar as receitas. Ora, se quem anda de carro, não pode pagar, pagaria quem anda a pé ou até de burro, através do outro imposto que fosse criado. Está visto que não dou uma para a caixa dos pirolitos.

Também ainda não percebi como é que o estado devolve dinheiro dos almoços e jantares dos que comem nos restaurantes, que devem ser pobres de primeira, enquanto os que comem em casa, e pouco, não estão autorizados, não a deduzir, que não têm por onde, mas a exigir os géneros de borla para fazer as refeições em casa. Será porque são pobres de segunda?

Inevitável seria eu não esquecer as portagens. Então como é que eu havia de entender que os utilizadores das auto estradas não pusessem a exigência do respectivo pagamento por parte de quem só anda de burro? Tudo tem a sua lógica, claro, mas seria de toda a justiça que aqueles utilizadores também ajudassem a pagar as ferraduras dos ditos animais, que de há muito ganharam o direito a, também, andarem calçados. É que ser burro, também é ser gente.

Bom, deixa-me cá acabar com as revelações da minha estupidez senão ainda vai haver quem diga que estou armado em esperto. Não confirmo nem desminto essa minha intenção, pois se houver alguém ainda mais esperto, peço que me explique porque é que está preocupado com essas coisas e outras do mesmo género. Do género de quem nos quer ver preocupados.

Peço também que se deixem disso, pois bem basta que eu carregue com todas as preocupações dos espertos deste país e também de todos os outros. Ainda não me puseram no dorso a albarda da ordem, mas não tardará. Só espero que essa honra caiba a um burro menos burro que eu.

 

25 Set, 2010

Hoje há caracóis

 Em Castelo Branco, ali mesmo com a Sé na frente dos olhos, encontramos um café que nem precisa de ter na porta o dístico que apresenta um caracol e a mensagem a dizer que hoje há caracóis. Não é preciso porque toda a gente sabe que ali é a catedral do caracol, tal é a qualidade do petisco que ali se pode degustar.

É o velho Café Beirão, esse recanto minúsculo e modesto, numa casinha muito antiga, mas que enche uma esplanada, nas noites quentes de Verão, com quase todas as mesas a exalar esse perfume do molho dos pratinhos de caracóis. Dizem alguns entendidos que não se encontra melhor em parte nenhuma.

Bom, mas não é minha intenção vir para aqui fazer propaganda a passo de caracol, mas sim dar uma sugestão que me parece da maior utilidade para o país inteiro. E não há dúvida de que o país precisa, como de pão para boca, de quem dê boas sugestões, já que reside nessa falta, a persistência da tão discutida crise.

Então aí vai. O presidente vai receber os líderes para que cada um deles, em separado, lhe faça uma resenha das suas ideias para ultrapassar esta situação. Essa recepção far-se-á em dois dias, o que me leva a crer que ao segundo, já ninguém se lembra do que se disse no primeiro, apesar de todos eles, presidente incluído, estarem mais que certos do que cada um deles vai dizer.

Valha-nos a nós, contribuintes, que as viagens são curtas. Portanto, mesmo a gastar combustível nas grandes máquinas, a despesa nunca será muito grande, o que já de si revela qualquer coisa de anormal neste país. Mas, manda a tradição que haja diálogo, logo, vamos a ele que se faz tarde.

Também não me parece que as audiências se façam em separado, a menos que seja segredo de estado o que já todos sabemos que se vai dizer. Se é para evitar discussões desagradáveis, também não me parece que isso constitua problema. Talvez assim se evitassem as peixeiradas nas televisões, pois um palácio sempre impõe maior contenção aos exaltados.

Depois há outra razão para que tudo aquilo seja muito monótono porque, suponho eu, que em cima da mesa apenas estejam as tradicionais garrafas de água mineral. Sabe-se que para muitos participantes, a água faz barrocas no estômago, como diz a sabedoria popular. E para se beber outra coisa teria de haver umas tapas, ou algo semelhante, para forrar o dito.

Portanto, digo eu, todos os líderes à volta de uma mesa bem guarnecida daria um contributo substancial para a produção de conversas substanciais a condizer com a substância do ambiente. Isto não quer dizer que não houvesse uma alternativa ainda muito mais substancial, e, mesmo assim, talvez um pouco mais baratinha.

Ora é aqui que entram os caracóis. Os ilustres dialogantes podiam fazer uma viagem até à capital da Beira Baixa, num único autocarro, via A23, que ainda não está onerada com portagens, o que reduziria bastante os gastos dos contribuintes. Uma vez ali, num rápido passeio pedestre para abrir o apetite e estimular a criação de ideias, apreciavam a cidade e as suas modernas transformações.

Depois, na esplanada do Café Beirão, que até podiam mandar reservar por causa dos curiosos, abriam o diálogo com uma saúde ao sucesso da iniciativa. Depois, enquanto um deles falava, os outros iam chupando nos caracóis cheios de molho a saber a orégãos e a pedir uma geladinha, para afinar as gargantas para as intervenções seguintes.

Ele havia lá acordo que resistisse a uma discussão destas! O orçamento? Isso já era!...

 

24 Set, 2010

O grande líder

Quando vejo ou oiço um líder a fazer muitas perguntas, a lançar permanentes dúvidas sobre os seus opositores, ou a desconfiar de tudo e de todos, pergunto a mim próprio se será essa a melhor postura para quem quer tornar-se mesmo num grande líder, com um posicionamento acima de outros líderes que percorrem os mesmos caminhos.

Parece-me que um líder, mesmo não sendo muito grande, tem a obrigação de saber do que fala, fazendo-o com toda a clareza, mostrando que está dentro dos assuntos que comenta ou pretende implantar, dentro de uma linha de pensamento que convença os seus ouvintes das vantagens que o distinguem de quem pretende destronar.

Ora o que se vai ouvindo a toda a hora de todos os dias, são aquelas frases bombásticas de que é preciso mudar isto e aquilo, mas depois ficamos sempre sem saber como é que isso se faz na prática e quais os resultados que se vão obter com essas mudanças. Fica sempre qualquer coisa escondida que nos deixa de pé atrás.

Sei perfeitamente o que quer dizer quem afirma que é preciso mudar de política. Já não sei qual é a política que se pretende em troca, pois o mais que se acrescenta é que tem de se mudar para uma política disto e daquilo. Ora muito obrigado, mas eu pretendia que me fosse dito quais as medidas concretas a operar para se conseguir essa mudança.

Também oiço por aí um líder perguntar a outro o que pensa ele fazer para resolver os problemas da crise. Sinceramente, há coisas que um líder não devia dizer, sob pena de estar a dar a ideia de que não tem a mínima sobre a matéria. Provavelmente estará à espera que lhe digam aquilo que ele irá rejeitar imediatamente a seguir, sem ter pensado um segundo.

Depois há aquele líder que passa a vida a rebuscar notícias, boas ou nem tanto, para apresentar como exemplos de como outros líderes não andam de olhos abertos de modo a verem tanto como ele. Ao menos esse líder tem a vantagem de fazer o seu trabalho de casa, útil ou inútil, discutível ou corajoso, mas faz, mostra trabalho.

Há ainda um tipo de líder que, não podendo dar nada a ninguém, promete tudo a todos, mas logo de seguida atira-se a outros líderes porque eles só procuram gastar o que se não tem, comprometendo o futuro dos seus filhos e netos. Provavelmente, já estão em causa os votos das próximas gerações, além do receio justificado de que, chegado ao poder nessa ocasião, não encontrará nada nos cofres para a satisfação das suas necessidades políticas básicas.   

É bem de ver que existem outros exemplos de líderes, ou exemplares se quiserem, liderando muitos ou poucos apoiantes mas, como todos, sempre puxando a brasa à sua sardinha e, se possível, a todo o cardume que vai na sua cauda ou, mais correctamente, à sardinhada toda que está no grande assador, onde há mais sardinhas que brasas.

São assim todos os líderes, pessoas inteligentes, muito cultas, muito delicadas, cheias de genica e iniciativa, ao ponto de nos deixarem de boca aberta a olhar para elas mas, muito mais ainda, ao ouvir o que nos dizem, o que nos prometem, sempre menos do que nos fazem, porque, dizem eles, são homens e mulheres de palavra.  

Mas há uma coisa que me deixa sempre muito intrigado. Não dou nada por um líder que passa os dias a inventar perguntas para fazer ao seu opositor. Cá para mim, um grande líder não faz perguntas. Não precisa de fazer perguntas. Se é líder e é grande, tem de dar respostas, boas respostas, para mostrar que sabe da coisa a quem nele confia.

 

23 Set, 2010

Mas que bom!...

 

Este desabafo está completamente fora do contexto nacional, melhor, é um desabafo que atenta contra o sentimento e o estado de espírito de todos os portugueses. Sim, ou será que ainda haverá algum camarada ou companheiro que tenha razões para acreditar que ainda se vive qualquer momento bom neste país?

Aqui, eu levanto o meu dedo para discordar desse seguidismo que, na minha opinião, não é geral. Principalmente porque descobri uma maneira nova de fazer a minha vidinha com toda a facilidade e tranquilidade, mesmo sendo um cidadão com tendência para a actividade acelerada e até um tanto nervosa.

Não há melhor tranquilizante que saber que posso fazer umas extravagâncias do caneco sem prejudicar o meu orçamento familiar, que até nem é dos mais baixos, mas fica muito aquém dos que, sendo chorudos, lhes provocam reais ataques de choradinhos.

Pois é, mas são esses que têm agora a possibilidade de apresentarem a factura de umas almoçaradas ou jantaradas a uma televisão que, com toda a pompa e muita circunstância, lhes paga o gozo e lhes dá ainda maior gozo em apresentá-los como os seus heróis de uma aventura cheia de água na boca dos que andam no país a ver navios. 

É verdade que nunca me quis comparar a tais felizardos mas desta vez não vou tolerar que passem a meu lado sem me darem uma oportunidade igual ou, bem o espero, um pouquinho maior, devido ao facto de, por norma, me contentar sempre com pouco, ou mesmo nada, como é meu hábito muito antigo.

Daí que já comecei a arquitectar essa factura e a pensar quem vai ser o feliz estabelecimento que a verá na televisão, uma honra de respeito que vale muito dinheiro. Estou inclinado a não me meter em almoços ou jantares, até pela falta de originalidade, pelo que a coisa não se torna tão fácil como à primeira vista me pareceu.

Como na política e no futebol anda tudo numa foleirada pegada, também tirei daí o sentido, embora a televisão abrisse muito mais os cordões à bolsa se eu lhe desse para lá um ou dois nomes daqueles de bater todos os recordes de audiências, ainda que eu revelasse apenas o meu sonho de alguém me ouvir contá-lo.

Depois havia o problema de inventar o que ia colocar na factura. É evidente que não punha lá o IVA, mas tinha de lá pôr os artigos ou os produtos. É claro que não podia lá incluir o trabalho de bater palmas, ou o valor de cada slogan gritado, mas podia meter lá os pastéis de bacalhau. Mas esses tinha de os pagar, mesmo sem IVA, e lá se ia o lucro.

Já sei. Vou fazer uma longa viagem pelo norte, com um táxi contratado para meu serviço exclusivo, dia e noite, por muitos dias. Quero ver tudo. O Douro, os vinhedos, os campos verdejantes, O Minho todo a cantar de galo, as maravilhas da ´Transmontânia’, os trauliteiros não sei de onde, toda, mas mesmo toda a fruta lá de cima, que penso levar com fartura e variedade, no táxi e também para o hotel, que já sabe como é esse negócio.     

Já sei que isso vai custar um balúrdio. Não interessa. É isso mesmo que eu quero. Se houver quem pense que a fruta não era para aqui chamada, eu respondo que é verdade. Mas quando é que a fruta não resolveu grandes imbróglios?

E eu quero resolver o meu problema, logo, deixemos estar a fruta, muita, boa e variada, que, aposto, não é por aí que a factura vai ser rejeitada pela televisão que me vai pagar tudo isso com muita alegria, muito espectáculo e muito divertimento.

E depois, digam lá se não tenho razão para exclamar: Mas que bom!...

 

Está quase tudo à espera que se conclua o buraco que nos há-de engolir, mas ninguém deixa de cavar nele. Parece até que esse buraco vai salvar a vida de muita gente desiludida apesar de nem pensar um bocadinho na comodidade e bem-estar de que desfruta, quantas vezes à custa de muita outra gente que trabalha no duro para lhe proporcionar o que não merece.

Há quem cante de dia e de noite aquela canção que é sobejamente conhecida. Canção que tem assim uns ares de ‘faducho’ corrido na letra e muitas notas que de musicais só têm a semelhança às de um refrão estafado que não passa de um choradinho ou de um refilar persistente e irritante.

E é assim que se reclama a solução dos problemas do país, quais cigarras que cantaram todo o Verão, sem repararem que se aproxima o tempo em que nem sequer se vai poder cantar. Tanto mais que até as formigas amealhadoras correm o risco de verem os seus pecúlios destruídos pelas tempestades que as cercam.

Muito cantam os profetas da desgraça como muito se desculpabilizam os tranquilizadores dos incrédulos, uns e outros nitidamente num falsete que muito anima os cavadores do buraco que se vai alargando cada vez mais, sem que haja uma voz que acorde consciências e faça parar a força dos rumores que cavam mais que as picaretas.

Desde sempre se ouviu dizer ao povo que os cantores tinham mesmo de cantar primeiro, para que depois, a seguir, tivessem a bebida de recompensa pelos seus esforços vocais. Daí, a expressão da sabedoria popular que bem avisava: canta que logo bebes. Nada que se pareça com o que acontece hoje: o que mais há é quem beba para cantar e depois não canta nada.

Mas hoje também se canta demais sem pensar no que se vai beber a seguir ou se, eventualmente, se vai mesmo beber alguma coisa. Mudou a música, mudou a bebida. Até a velha borracheira resultante de comemorações ocasionais, se tornou numa autêntica bebedeira permanente resultante de sorvedouros de mistelas oratórias.

Quem está lá em cima sabe que não pode fazer o que deve, porque quem insistentemente lhe exige que o faça, nunca lho aceitaria, uns porque nunca ficariam satisfeitos por quererem muito mais, outros porque nunca aceitariam que se fosse tão longe. As medidas seriam sempre curtas para uns e demasiado compridas para outros.

Quem está cá em baixo já não sabe se as medidas lhe assentam bem agora, no corpo emagrecido, ou se essas medidas, que lhe foram tiradas em tempos de flatulência, voltarão a estar no tamanho que já vestiu outrora. Com incertezas destas é muito difícil olhar para cima sem as dúvidas entre as músicas de quem canta bem ou de quem canta mal.

Porque há quem ande no meio, entre os de cima e os de baixo, sempre a cantar com o sentido posto na bebida de recompensa, uns cantando o fado, outros preferindo o vira, mas sempre fora do ritmo dos que estão lá em cima, que vão mais no romantismo do tango, talvez porque vão tomando consciência de que a tanga não anda longe.

Canta que logo bebes, simples ou ilustre cidadão português. Não é a cantar que foges do buraco que também tu estás a ajudar a cavar, consciente ou inconscientemente. Que mais não seja, porque te calas, ou falas demais, perante o que vês a toda a hora e que não te preocupa minimamente.

Por exemplo? És dos que trabalhas para viver, ou és dos que vivem do trabalho dos outros por puro prazer de cravar o estado? És dos que te esforças pelo cumprimento da lei, por parte de todos, ou és dos que aplaudes todos os que fogem da lei como o diabo da cruz, para burlar o estado?

O estado não é este ou qualquer outro governo, não é este ou outro primeiro-ministro, não é este ou outro presidente da república, não é o mecenas que muitos pensam e querem que seja, a bem ou a mal.

Cada qual sabe o que canta e o que gosta de ouvir cantar aos outros. Mas se tem os gostos musicais estragados, então, o buraco também esperará por ele. E, inevitavelmente, por muito que cante, a bebida nunca chegará.

 

 

 

 

20 Set, 2010

Os dons de Portugal

Já tínhamos o D. Cristiano e o D. Mourinho e a partir de agora temos também o D. Gilberto, todos subjugados à real força do madrileno D. Florentino que, se fosse português, não tinha como fugir a chamar-se Pires. Assim, como em Espanha nada é pequeno, caso dos pires, toca de optarem por lhe chamar Peres, que sempre tem outra dimensão.

Ainda estou para perceber como é que um Gilberto tão grande no misterioso mundo das coisas fantasmagóricas da bola, enorme no encantador mundo da política, surreal no convincente mundo de um partido que dá lições de tudo o que de bom todos os portugueses deviam saber, se vai até Madrid, de corda ao pescoço, dobrar as costas a D. Florentino.

Estou convencido que a intenção era apenas a de conseguir o tão almejado tratamento de D. Gilberto, tudo porque cá, entre Lisboa e o Porto, com paragens regulares por Aveiro, não sei a fazer o quê, já só consegue um tratamento de Mada não sei quê, com uma entoação que qualquer intérprete de segunda diria que é mesmo para ir andando.

Na minha douta opinião o candidato a D. Gilberto esqueceu-se de um irrelevante pormenor que bem revela a sua impreparação no planeamento de viagens tão importantes como o era essa. Refiro-me ao imperdoável esquecimento de que, antes de mais nada, tinha de ter falado com D. Cristiano que, esse sim, é o ai Jesus de D. Florentino.

Mas não só. D. Cristiano também é o ai Jesus de D. Mourinho, porque é ele, D. Cristiano, que marca ou não marca aquilo que os outros dois dons e o candidato Gilberto, tanto desejam e festejam, ou não estivessem em causa as suas reais honrarias dentro e fora do reino de Santiago e as derramas que de lá saem.

D. Gilberto valorizou apenas os tempos do início do êxito do mais antigo destes amigos, talvez pensando cobrar agora possíveis favores que, porventura, deixou então à beira do Douro. Mas este, implacável, já fez correr muita água por baixo das suas pontes, com enxurradas e tudo, que tudo levaram para lá da foz.

É evidente que D. Mourinho não esqueceu nada e fez tudo, melhor, disse tudo o que convinha ao candidato a D. Gilberto, para ver se lhe tirava aquela expressão terrível com que o vira na última fotografia. Ainda o fez sorrir, mas o fotógrafo não estava preparado para o clique salvador, pois estava nas suas costas.

A vida anda dura para Gilberto, agora definitivamente sem D. Mas, daqui lhe envio o meu convencimento de que tudo não passará de um momento, apenas um pequeno momento, que o poderio anterior não deixará de restabelecer quanto antes. A força é um elemento que não se perde facilmente. A menos que a comidinha falte. O que não é o caso, obviamente.

Mas que houve aqui e ali um desnorte, lá isso houve. E o que mais surpreendeu foi a jogada infeliz em que D. Mourinho meteu o pé, tendo em conta o estratega inteligente e oportuno que sempre foi. Talvez julgue que lhe ficaria lindamente aquele ar de patriota colaborante, caritativo e salvador, que até ele sabia que era tudo de faz de conta.

Agora, como não podia deixar de acontecer, foram-se os dons, não apareceram os senhores, mas temos o Paulo, o português Paulo, que vai, certamente, fazer as coisas à sua maneira: com muita tranquilidade. Vamos ver até quando, isto é, se lhe dão essa tranquilidade por muito tempo.

 

Francamente, acho que ser presidente é uma honra demasiado pomposa para quem preside a grupos, sejam eles de que natureza for. Quando se fala em presidente lembra logo um cargo de relevância máxima, um cargo que obriga as pessoas a terem tento na língua quando abrem a boca a seu respeito.

É que um presidente de verdade tem todo o direito de dizer o que lhe dá na real gana, sobre qualquer assunto ou sobre qualquer pessoa, sem que tenha de dar explicações sobre o que disse ou opinou. É um facto consumado porque o presidente disse, está dito e muito bem dito, logo, não se discute.

Mas hoje apeteceu-me falar de dois presidentes de grupos muito especiais e não de presidentes de grupos económicos, filosóficos ou quaisquer outros. E, para não alargar muito o dissertar, vou andar à volta do Chico Assis e do Miguel Maçudo, mais aqueles que assiduamente se lhes juntam nos seus dissertares sempre plenos de qualidade e interesse.

Apesar disso, parece-me que um grupo, se não for um daqueles grupos de alto lá com eles, é um conjunto maior ou menor de especialistas em dizer o que não pensam, ou pensam o que não dizem que, a meu ver, lá vai sempre dar na cepa torta.

Assim sendo, se um grupo é isso, o que é que eu devo pensar de um presidente de um grupo deste tipo? E o que é que esse presidente poderá dizer ou pensar, quando se pronuncia sobre os assuntos expostos pelos elementos do seu grupo?

Porém, muito mais interessante é quando o presidente do grupo tem de levantar a voz para falar do presidente e do grupo antagónico, constituído por sujeitos com as mesmas características do grupo a que pertence.

Sinceramente, gosto muito de ouvir o Miguel Maçudo, com a sua lógica, ora dobrada, ora desdobrada, nunca dando qualquer hipótese de comparação entre o discurso e o nome, duas coisas completamente diferentes, se atendermos a que o homem nunca é maçudo, logo, maçudo é quem pensa que é apenas o discurso.

Sinceramente também, gosto do Chico Assis a falar depressa e bem, porque ele diz tudo tão direitinho, que até parece que lhe estão a ditar as palavras de São Bento, via auriculares da próxima geração, ainda secretos, mas já usados em anteriores operações de escuta, como a célebre escuta do governo a outro presidente, que agora não vem ao caso.

Aí estão dois excelentes presidentes de grupos que, apesar de assumirem a toda a hora que não se entendem lá muito bem, entendem perfeitamente os recados recebidos via telejornais que, em informação de última hora, se dá tudo com estando nos conformes.

Entretanto, já nos divertimos bastante com o Miguel Relvados, um perfeito castiço da planície ribatejana, verdejante, com as suas relvas de pastagens fartas e ditos folclóricos de primeira roda, sempre despejados com um sorriso que, só por si, dava para mandar a crise toda, de uma assentada, para os lados do Chico Assis.

O Chico, por seu lado, mostra-nos como o seu camarada Jorge Lacrau, seu supervisor, lhe demonstra que tem toda a razão em não acreditar em Miguéis, além de fazer questão de ler ali, naquela assembleia que já cheira a constituinte do vazio, todo um manual de caça, apesar de ainda estarmos no defeso no que toca a coelhos.

Lembrando-me de como todos eles passam o tempo, agora dou comigo a pensar para que é todo este arrazoado que estive para aqui a matraquear, se eu sei de antemão que isto não passa de conversa fiada.

Sim, conversa fiada a minha, mas por culpa deles, que não são capazes de estar calados, quando não têm nada de jeito para dizer.   

 

Quando alguém manda um recado ao amigo ou ao inimigo, deve estar preparado para receber uma resposta no mesmo tipo de mensagem que enviou, ou seja, um recado mais ou menos agradável comparado com aquele que iniciou a comunicação entre os dois interlocutores.

Sim, porque este modo de brincar aos recados, não significa que se pode insinuar umas coisas, que até podem ser desagradáveis, e depois considerar que os recados de resposta têm de ser sempre uma mensagem de correspondente atento, respeitoso, venerando e obrigado.  

Muito menos essa resposta a recados, mesmo do altíssimo, se podem considerar faltas de respeito e muito menos faltas de educação, pois não me consta que tenha de se pagar uma boca mais ou menos incisiva com um beijinho, ainda que seja do tipo paternal e deixado numa testa ocasionalmente bastante crispada e tensa em circunstâncias como essas.

A boa educação assenta numa base de reciprocidade e nem sempre os mais bem-educados são aqueles que dizem que o são. É óbvio que em política é muito difícil ver boa educação no calor das lutas verbais que precedem decisões importantes. Porém, seria uma pasmaceira se uma parte pudesse fazer uma campanha de recados e a outra parte não pudesse abrir a boca para não melindrar ninguém.

Quantas vezes a boa ou má educação se revela no modo como se olha, como se sorri ou como se recusa falar, depois de já se ter dito tudo o que se diz que não se pode dizer. Até um simples gesto, uma hesitação, um meneio da cabeça, um sorriso amarelo, dizem mais que mil palavras de pretensa boa educação.

Sempre tenho ouvido dizer que a política tanto pode ser um jogo como uma guerra, sendo certo que a própria guerra também é um jogo. Assim sendo, estes jogos de guerras politiqueiras chegam a dirimir a vida de muita gente, daí a necessidade de se rebuscarem cuidadosamente as palavras que sirvam de armas fortes no decorrer da contenda.

É por isso que meter a educação nesta espécie de jogos florais, com mais ou menos cultura, parece-me estar a usar-se uma arma desadequada para este tipo de confronto. E, quando se usam armas desadequadas dá, desde logo, a sensação de que há falta de outras armas mais eficazes para combater o inimigo.

Chegado a este ponto do alinhavo destas linhas, direi mesmo que elas estão um perfeito desalinho, corro o risco de ser considerado um incorrigível malcriado, por não ter usado os termos adequados a um tratamento respeitoso em relação a quem podem estar a pensar, em quem, presumivelmente, eu estaria a pensar neste momento.

 Se eu e a doutora tivéssemos tido o cuidado de meter em cada um dos parágrafos, um complemento, do tipo ‘com o devido respeito’, ou ‘com a minha admiração’, as coisas assumiriam, desde logo, outro aspecto completamente diferente, pois salvaguardariam a diferença de educação e não só, entre ele e nós, no caso, eu e ela.

Este é um daqueles casos que não têm razão de existir, como tantos outros que andam por aí a matar a cabeça de tanta gente. A senhora doutora disse claramente que não gosta do senhor professor. Está no seu direito e isso não é falta de educação. O senhor professor ficou com cara de poucos amigos ao ouvir o que não gostou. Está no seu direito.

Porém, não tem o direito de se considerar muito bem-educado só porque não é capaz de dizer que não gosta da senhora doutora. Se o dissesse não havia o mais pequeno problema. Nem ninguém teria falta de educação.

 

11 Set, 2010

Ma(n)dail(o)

O Gil Berto Manda ‘Ilo’, depois de ter já em mente mandar ir aos figos o professor de educação linguística avançada e domador de casacos rebeldes, deu ao país o extraordinário exemplo de como se deve gerir uma selecção à deriva, perdida nas alturas, no meio de nuvens negras e densas, onde predominam os raios e os coriscos.

Como piloto e gestor de toda essa trovoada ruidosa, entendeu que em tal situação desesperada, não havia melhor forma de prosseguir viagem, que colocar em funcionamento o piloto automático, pois os pilotos que usam as mãozinhas e as cabecinhas, estavam todos em fanicos, incluindo o seu, evidentemente.

Depois, afinal, o piloto automático foi um clamoroso falhanço, que nem sequer foi capaz de fazer uma aterragem sem trem, nem evitou a debandada dos ‘vips’ que estavam a ver o seu prestígio a vir lá de cima, em queda livre, por aí abaixo.

Foi aí que o Gil Berto mandou mesmo ‘i-lo’ embora, ao piloto titular, claro, transformando-lhe o recibo verde das massinhas, em cartão vermelho directo, confundindo infantilmente a sua função de gestor, com a maldita mania de, mais uma vez, se meter na função arbitral, que é a coisa mais querida de todos aqueles que, como borboletas, circulam à volta do fogo-fátuo daquela vela que também é redondinha.

Estou a lembrar-me aquele a quem chamam o Laurentinho do estado caótico que, pelo que se diz nos mentideros mais credíveis, esteve empenhadíssimo a meter a colherada naquela panela ainda a ferver. Tudo porque o amigo Gil Berto, o Manda-ilo, aparenta ter já queimaduras do segundo grau, com tendência para se graduar ainda mais. 

Vai daí que é preciso ir pensando já no seu sucessor, tendo em atenção as superiores orientações do Laurentinho, secretário do aviário da pintaria que, ao contrário do que é dito por gente mediocremente informada, não pretende colocar lá um astro político para lhe satisfazer as necessidades do partido.

Pelo contrário, o Laurentinho no estado crítico, vai querer colocar no lugar do Gil Berto, um outro sacristão, colega de confiança e crente da mesma fé deste último, ainda que seja um assanhado opositor político daquele, caso destes dois agora na berlinda. Logo, aqui não é uma questão de partidos, mas antes uma questão de resultados das partidas.

Aqui, não vamos assistir à disputa de um lugar para rosas ou laranjas. Aqui não vamos ver Passos a reclamar, nem Sócrates a teimar. Aqui vamos ter a hierarquia papal nortenha a funcionar, sem que ninguém vá piar do que sair do concílio, depois do tradicional fumo branco.

Quanto a isso estamos todos descansadinhos e tranquilos, assim funcionasse tudo neste país, com a mesma previsibilidade e razoabilidade. Talvez por isso, também me sinto no dever de tentar contribuir com a minha habitual boa vontade de colaborar para que qualquer coisinha mude e se não diga que isto não passa da pasmaceira do costume.

Pois, sugiro então que o sucessor do Gil Berto, segundo a ‘Ilo, mude a sede do seu cargo para a cidade do Porto, de preferência para a Ribeira, por causa da necessidade de meter água a toda a hora, coisa que não falta no Douro, tal como sugiro que o sucessor do Laurentinho vá de armas e bagagens, com toda a sua secretaria do estado de sítio para a Invicta, assim, por exemplo, para a Praça da Batalha, para que todas as batalhas futuras sejam limpas e abertas a todas as fés e crenças, quer tenham papa, ou tenham apenas papas na língua.  

Somos um país de bestiais mas, muito melhores que eles, são as bocas que lhes ouvimos, e que sobre eles ouvimos, a toda a hora. Daí que me parece que devemos deixá-los ‘i-los’ a todos os que ali tratam da vidinha sem que ninguém se tenha incomodado nadinha com isso ao longo de tantos anos passados e muito felizes.