Máfias do oeste
A oeste deste nosso território continental só há água e não me consta que os mafiosos se encontrem suficientemente adaptados à tona de água ou mesmo à profundidade do oceano. Assim sendo, é aqui, neste imperfeito rectângulo à beira mar plantado, que todos eles se acumulam, tanto os que vêm de fora como os que aqui nasceram e vivem tranquilamente.
Obviamente que aqui é o oeste dos mafiosos, tal como na América há o oeste dos rapazes das vacas e dos bois. Com o território marcado, nada mais se pode fazer senão entrar no jogo de quem dita as regras. E aqui, neste oeste de brandos costumes, quem dita as regras são os mafiosos, ainda que tenham de marrar tanto ou mais que os bovinos da América do oeste.
Estou farto de dar voltas à mioleira em busca de um qualquer ramo de actividade imune a este tipo de integrantes mafiosos, para poder dizer que, afinal, ainda há quem não entre nesse desígnio nacional, tão arreigado à sociedade em geral e a uma grande fatia dos cidadãos que precisam das máfias para garantir os seus estatutos de gente de vida dourada.
Apesar da procura exaustiva a que me tenho dedicado ainda não encontrei esse ramo de actividade onde esse bichinho corrosivo não tenha conseguido penetrar. Diz o povo que no melhor pano cai a nódoa, mas eu rectificaria dizendo que na nódoa que encharcou o pano, lá aparece um ou outro pontinho que escapou à mancha.
Este nosso oeste bruto e selvagem em que nos encontramos, já nem precisa de ocultar, dissimular ou justificar o porquê de tanta mentira e de tamanha hipocrisia, habituado como já está à aceitação tácita de todas as suas atitudes, de todos os seus devaneios e de todas as suas manobras que desvirtuam tudo o que o país tem de bom.
Apesar de tudo o que vai e vem, apesar de todos os que vão e voltam, mesmo apesar de alguns que vão e não voltam mais, a oeste nada de novo, talvez porque o mar, que alguns consideram libertador e potencial salvador, seja a cerca que nos limita a fuga perante os que tudo nos roubam com toda a impunidade garantida por outras máfias.
Não nos esqueçamos que no mar há redes para peixes e em terra há redes para gente tão indefesa como os peixes. Quem não cair nas redes das máfias terrestres vai, seguramente, prender-se nas redes que, no mar, estão preparadas para todo o tipo de incautos pois tudo quanto vem à rede é peixe.
Curiosamente, uma grande parte das organizações e corporações que, em princípio, deviam servir para proteger os cidadãos da arbitrariedade e de injustiças do sistema, é nelas que reside a maior fonte de perniciosa conflitualidade a qual, de tanto querer e reclamar privilégios, acaba por criar condições que só prejudicam o seu regular funcionamento.
Compreensivelmente, quando algo não funciona regularmente, são os cidadãos que o sentem na pele, como se comprova com o actual estado do país, onde reina o prazer pelo desrespeito da lei, o vício da contestação muitas vezes baseada numa ignorância primária, ou a raiva e a má fé contra tudo e todos que representem o estado.
Ora, um estado nestas condições, sejam quais forem os motivos que levaram a este estado, não pode sobreviver se não se arrepiar caminho, se não ganhar a guerra contra todas as espécies de máfias que, aparentemente, boas ou más, são elas que impedem o desenvolvimento, pelo que não fazem mas, principalmente, pelo que não deixam fazer.