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afonsonunes

afonsonunes

28 Fev, 2011

Pois, pois! ...

 

É frequente encontrar-me com gente ou com citações que me colocam perante o problema de quem paga uma qualquer factura. Não as minhas, que essas não preciso que me digam quem tem de as pagar. Mas há aquelas que eu sei perfeitamente quem as não paga e que, por via indirecta, me vêm entrar nos bolsos.

Curiosamente, há quem se preocupe muito com o que se gasta em serviços ou produtos que, em maior ou menor escala, são despesas da comunidade ou para a comunidade. Ao invés, não vejo ninguém levantar a voz acerca dos milhões que voam todos os dias com as excentricidades da nossa democracia.

Podem dizer que ela tem custos e eu acredito que sim. Mais, concordo perfeitamente que não se cortem as unhas rentes com a sua manutenção em estado saudável. No entanto, o que me preocupa, é ver como o dinheiro se vai, quantas vezes para a enfraquecer, através de gente que cobra bem, para conseguir esse objectivo.

Objectivo que pode conseguir-se de muitas maneiras, umas mais evidentes, outras mais dissimuladas. Saliento aquelas que, de um modo geral, bloqueiam sistematicamente ou dificultam por forma onerosa a acção de quem tem a obrigação de tomar decisões. Isto com o simples argumento de que se não concorda com elas.

Toda a gente sabe que o país ficaria completamente paralisado no dia em que passasse a ser obrigatória unanimidade de todos os cidadãos para todas as decisões. Há uma coisa que se chama legitimidade e essa não a tem quem quer, mas apenas e só, aqueles que a receberam de quem de direito para decidir.

Não concordo com os balúrdios que se roubam ao estado e, depois de se ter provado o crime, não se obrigue à devolução até ao último cêntimo do que for possível recuperar. Quem rouba, não devia ficar sempre a ganhar, só porque se arranjam mil e um estratagemas para que o coitadinho não deixe de ter uma vida de nababo.

Não concordo que se dêem balúrdios a partidos por ocasião das eleições, quando depois andam permanentemente em campanha fora delas, sem se saber quem paga essa verborreia que se liberta depois de grandes almoçaradas ou jantaradas, verborreia que só serve para atrasar o país e desprestigiá-lo interna e externamente. 

Não concordo com a existência de certos sindicatos que mais não fazem que sobrepor-se, ou tentar sobrepor-se, a cadeias hierárquicas com funções bem definidas, funcionando com toda a legitimidade e legalidade. Tal como não concordo com a actuação de outras direcções sindicais que demonstram a toda a hora que julgam ter o rei na barriga.

Não concordo com esta dicotomia de que tudo o que o governo diz ou faz é mal feito, enquanto tudo o que as forças políticas ou outras que se lhe opõem, digam ou façam, é uma bênção para o país. Estou para ver, quando se inverterem as coisas, se essa dicotomia se mantém ou se então, as coisas passam a funcionar ao contrário, para que a lógica do interesse nacional se altere.   

Não concordo com esta lógica de se martelar diariamente nas mesmas tretas comunicacionais, visando sempre os mesmos nomes, previamente considerados detestáveis criminosos, com factos e não factos, sempre a mesma treta, enquanto se deixam permanecer no limbo do descansem em paz, muitos dos piores coveiros do país.

Não concordo com esta visão catastrofista interna do país, que estamos a pagar muito cara, sejam quais forem as razões internas que nos atiraram para ela. Toda a gente sabe muito de tudo, mas só depois de tudo ter acontecido. Agora, os que nos querem salvar, que já foram coveiros, não se sabe de que apoios estão à espera, para fazer o que querem.

Não concordo com os juízes sem toga que querem julgar os mais conceituados juízes de facto e de direito, nas mais altas instâncias da justiça, só porque não lhes reconhecem o direito de julgar ou não julgar os seus amados ou odiados, segundo as leis da república. Parece que temos maus juízes a mais e bons juízes a menos.

Discordo de muitas coisas mais. Mas não adianta nada pois, ao contrário de muitos persistentes e teimosos discordantes, não tenho a veleidade de querer que me façam a vontade em nada do que digo ou faço. Só achava bem que fizessem com eles o que me fazem a mim, que estou apenas a delirar.

Pois, pois… Mais me valia estar quieto e calado. Mas, não sou capaz. 

 

 

25 Fev, 2011

Ah valentes

Quem pensa que estamos num país fraco e falido, num país miserável e deitado aos bichos, como aparece muito em certas visões publicadas ou simplesmente opinadas, está muito enganado. Intelectualmente fracos, falidos nas iniciativas e miserabilistas nas ideias, são muitos dos que não merecem viver neste rectângulo imperfeito, mas perfeitamente compatível com quem cá quer estar.

Uma dessas imperfeições está precisamente na compatibilidade entre os que se sentem bem por cá, esforçando-se por melhorar o que podem, e os que se sentem mal aqui, tudo fazendo para piorar as suas próprias condições de vida, permanentemente mergulhada numa guerra contra tudo e contra uns tantos, em geral, muito poucos.

Pensam eles que são uns valentes só porque têm ao seu alcance um poder sempre voltado para a destruição, ainda que nessa caminhada levem na frente a sua pessoa, as outras pessoas, os seus haveres e os haveres dos outros. Quem não conhece ou ignora as suas próprias obrigações e os seus deveres, está a destruir os seus direitos, por mais lentamente que seja.      

Fosse possível dominar os poderes desses valentes que abundam por aí, e a vida sofreria de imediato transformações impensáveis, inclusivamente, para eles próprios. Desde logo, por ser uma dor de alma ver alguém encurralado onde não gosta de estar, porque não lhe dão tudo o que deseja, ou porque vê na sua sombra um fantasma que não tolera e lhe retira a capacidade pensante.

Não estamos num país sombrio nem tão pouco num país assombrado. Estamos num país cheio de sol onde muitos oportunistas o querem tapar com uma peneira. Julgam eles que o vão conseguir para sempre, mas os tempos que correm estão a mostrar que todos os poderes são cada vez mais removíveis, ainda que à custa do sacrifício de quem não tem poder nenhum.

Cada vez mais tudo é efémero, e os valentes que se cuidem, porque quando menos o esperarem alguém estará a empurrá-los para onde já deviam estar há muito tempo, não fora a complacência de quem não tem querido, ou não tem podido, fazer o mínimo dos mínimos das suas reais obrigações.

E estes complacentes, muitos deles mais medrosos e hesitantes, que incompetentes e fracos, não querem arriscar os cargos ou os privilégios que detêm, porque sabem que os valentes espreitam a cada esquina, se for preciso pelo buraco da fechadura, para exibirem o seu grau de valentia em tudo o que seja coisa pública, que julgam ser sua exclusiva propriedade.

E é dos valentes que eu quero deixar bem claro que os vamos encontrar na horizontal e na vertical da sociedade, não estando a pensar apenas, como se vê muito por aí, numa determinada classe política, ou num ou noutro elemento dos mais escolhidos para a imolação na praça pública.      

Os mais valentes de todos, são aqueles que têm poder para tentar imolar o próximo, seja através da língua, seja por qualquer outro meio semelhante, que pretendam transformar a repugnância que os move, no seu repugnante país que, verdadeiramente, os repugnará cada vez mais, à medida que o tempo revele as suas energias negativas.

À medida que os corajosos vão acordando da letargia que os tem mantido quietos e calados para não bulirem com os valentes que tomaram o poder de bloquear tudo o que não lhes interessa. Já há uns assomos dessa coragem que não pode tardar para que o país entre na legalidade e deixe o frentismo das decisões à medida.   

Este foi, é e será um país de valentes corajosos e determinados, estando eu convencido que os valentes arrogantes e agressivos terão o seu percurso à margem da sociedade que os irá colocando no seu verdadeiro lugar. Pobres de espírito como são, mesmo aqueles que são endinheirados, nunca se sobreporão aos que têm o privilégio da consciência tranquila.

Este não foi, nem nunca será, um país miserável. Não é, nem nunca foi, um país repugnante. Não é, nem nunca foi, um país de gatunos. Não é, nem nunca foi, um país de calões. É, sim, um país de sacrificados que trabalham e sofrem para conseguir sustentar todos aqueles que nunca ganharam o pão que comem.   

Este é o país onde muitas vezes nos tiram e comem as papas do nosso prato, sem que possamos evitá-lo. Têm a valentia das aves de rapina. Andam sempre à volta, voando em círculo acima do banquete que antevêem lá em baixo. É caso para dizer: Ah valentes! ...

 

 

Assim um pouco a talhe de foice hoje deu-me para libertar uns conselhos sem saber para quem, pois não é lá muito fácil encontrar quem esteja disposto a aceitá-los. E eu respeito completamente as disposições alheias, pois estou a ver, mesmo agora, no que dão as teimosias de alguém que quer dispor da vontade dos outros.

Portanto, é melhor substituir o conselho por sugestão, que sempre é mais leve, mais digerível para estômagos azedos e com mais probabilidades de não me caírem em cima, por causa das liberdades individuais. É que hoje, os conselheiros já não têm nada para aconselhar a ninguém, ao passo que os ‘sugestores’ estão a sugestionar na maior.

Então, eu sugiro que todos os talhantes que estiverem desempregados, não devem ser poucos, penso eu, façam uma mega manifestação à porta de uma mercearia fina, daquelas que se vê logo que lá dentro têm boa fêvera, bons bifes e boas facas para os cortar, tão bem afiadas como as suas línguas reclamando que, no mínimo, um talhante consiga entrar.

É realmente uma coisa incompreensível que esteja ali a boa carne a secar nas montras e as facas a criar ferrugem, só porque o merceeiro mor não dá um emprego, ainda que, como habitualmente, o ‘ordenadito’ não lhe faça grande mossa nas contas do fim do dia. Isto porque as contas de qualquer merceeiro não passam do velho papel de embrulho.

É pois, naquele papel pardo que o merceeiro escreve as parcelas com um lápis cuja escrita só se percebe, se ele não se esquecer de ir molhando o respectivo bico na ponta da língua. Estou mesmo a meter água por todos os lados, pois já me ia esquecendo que acabei de dizer que se tratava de uma mercearia fina.      

Nesse caso, talvez o grão merceeiro até possa ter dois talhantes, o que seria óptimo, pois sempre é melhor reduzir o número de desempregados em dois do que num só. Mas espero bem que o sujeito não tenha o descaramento de pagar apenas um salário dividido pelos dois talhantes. Sei lá, destes merceeiros finos pode esperar-se tudo.

Porém, o mais certo é que, tal como o Iva, os talhantes não entrem mesmo da porta para dentro, ou seja, não fiquem mesmo feitos ó bife, com muitas ou poucas palavras de ordem. Nesse caso eu sugeria que os talhantes fossem até à porta de um merceeiro dos velhos tempos, que ainda os há e que são mesmo capazes de dar um emprego a sério. 

Alguém me está a soprar ao ouvido que, mais uma vez estou a meter água. Que não, que não se arranjam talhantes em lado nenhum. Ah, também já não há merceeiros dos antigos? Caramba, como o tempo passa! Como tudo muda de um momento para o outro! Ainda há dias havia tanta gente à procura de um emprego.

Se calhar, ser talhante, não é estar empregado. Nada custa receberem apenas o rendimento da inserção, essa coisa que dizem que é um subsídio que o estado dá para que, segundo os desejos dos merceeiros ricos, toda a gente deve ter dinheiro para lhes comprar os bifes mais rijos, que muitos dos clientes rejeitam, por causa dos dentes de ouro.

Não me digam que também não há merceeiros ricos. Já duvido de tudo e de mais alguma coisa, mas que há ricos merceeiros, disso não tenho dúvidas nenhumas. Estou a pensar naqueles merceeiros que têm talho na mercearia e não nos merceeiros que apenas vendem o arroz e a massa que quase não perdem a validade, nem começam a cheirar mal.

É evidente que estes são os merceeiros pobres, cada vez mais pobres, também por causa dos ricos merceeiros a quem, ao que parece, é muito difícil encontrar um talhante que queira talhar para eles. Tenho cá umas desconfianças de que há cada vez mais mulheres a cortar bifes, pela simples razão de que ficam mais baratinhas aos merceeiros.

As voltas que o mundo dá. Quem me dera ser mais novo, que quem ia imediatamente para talhante era eu. A minha vida mudava como do dia para a noite. Finalmente, podia ter bom bife, boa fêvera, vinte e quatro horas ao dia. A não ser que pudesse ser um merceeiro com muitas mercearias, muitos talhos e muitos talhantes. Ah, aí preferia.

 

 

20 Fev, 2011

'Campanheiros'

Isto é um termo que eu inventei agora mesmo, inspirado pelas sensatas tiradas discursivas de um companheiro que não perde um minuto nas vinte e quatro horas do dia para estar em campanha. Campanha a sério, diga-se, pois há que reconhecer que ele não brinca em serviço, ainda que por vezes me faça rir.

A minha lógica inventora tem a ver com o facto de, penso eu e julgo que bem, quando um companheiro se encontra em campanha é um ‘campanheiro’. Se o homem não tem mais nada que fazer, faz aquilo que lhe agrada e, espero eu, aquilo que lhe interessa, quiçá talvez aquilo que aprendeu a fazer desde pequenino.

Como já ninguém prescinde de uma campanha a seguir a outra campanha, isto só tem seguimento se todos nós dermos uma ajudinha. Que não se pense que estou a falar de campanhas eleitorais que essas têm de ser marcadas previamente por outro campanheiro que não é para aqui chamado agora.

Agora, quando muito, trata-se de campanhas personalizadas, isto é, pessoas em exibição de estilos confrontados com outros estilos. E acho muito bem que se mostrem abertamente, em lugar de andarem por aí a jogar às escondidas, pois já bem basta tudo o que os estilos escondem nestas campanhas de campanheiros.

Agora o que me diverte à brava é a insinuação, a que o grão campanheiro dá o tom de acusação, de que o seu rival não faz nada senão campanha. Para mim isto é o máximo. Então, ainda que ambos fizessem o mesmo, campanha e só campanha, estariam ambos a cometer a mesma asneira ou, pela positiva, estariam ambos a trabalhar como uns moiros.

Para mim, o grão campanheiro devia seguir o exemplo do seu rival. Fazer campanha sim, mas nos momentos de mostrar que está a fazer qualquer coisa de útil ou de inútil para o país. Agora, não fazer rigorosamente nada, campanheiro, nem sequer chega a ser propaganda, quanto mais uma campanha de sermões de venda da banha da cobra.

Eu, que também não sei fazer mais nada que isto, ainda vou tendo umas ideias do caraças, como esta de o aconselhar a fazer alguma coisa ou, se não quiser ir por mim, ao menos que diga o que gostava de fazer. Para mim, já era um bom sinal de que podia ficar à espera embora, cautelosamente, sempre tomaria a precaução de esperar sentado.

Estando, também eu, a fazer campanha neste preciso momento, corro o risco de ser tomado como um campanheiro entre os muitos que berram e barafustam por melhores dias. Não. Não gosto de desperdiçar energias onde se vê de caras que não vale a pena. Prefiro fazer alguma coisa de útil, que mais não seja, para mim próprio.

Sim, porque essa de deitar tudo abaixo com o pretexto de que não podemos baixar os braços, é chão que já deu uvas. Não gosto de braços em baixo, nem de braços muito ao alto. Prefiro ter os braços no sítio certo e esse, é o sítio de fazer qualquer de útil, sabendo que quanto mais contribuir para estragar, mais terei de contribuir para os arranjos.

Tenho cá uma leve sensação de que há por aí quem esteja em pulgas para que os ventos de África cheguem até cá. E já não são só indícios. São mesmo suspiros de campanheiros ansiosos por ver isto ainda pior do que está. Tudo em troca da ilusão de que o tempo volta para trás. Mas isso é apenas uma ilusão.

Os campanheiros que sempre viveram bem deviam pensar mais nos que sempre viveram mal, não se eximindo a dar o seu contributo para que venham dias melhores para todos. Porque isto não é com um clique na política que vai ao sítio. É com gente séria e com o esforço de todos e não apenas dos que não sabem viver de expedientes.

Quanto aos políticos, esses derrotam-se nas urnas, coisa que os campanheiros ignoram a todo o momento.

 

 

19 Fev, 2011

A fábrica

 

Cada vez é mais evidente a existência no país de uma fábrica de acontecimentos e, principalmente, de incidentes, cuja finalidade está bem à vista de quem se recusa terminantemente a não fazer parte dessa mão-de-obra cerebral, ignorante ou de má fé que, consciente ou inconscientemente, se agarra a chavões ou a expedientes para manter a laboração.   

Mas, o pior não é o facto dessa fábrica se manter em laboração permanente. O problema está no produto final que dela sai e na aceitação que o consumidor lhe dedica. O fabricante, todo o fabricante, não sobrevive se o seu produto não obtiver a confiança de quem o compra. E essa confiança pode ser adquirida de muitas formas, mesmo as mais desonestas.

Ora, uma das grandes linhas de montagem da grande fábrica é, precisamente, a produção de desconfiança, visando a desacreditação da concorrência. Nos tempos que correm é muito fácil arranjar matéria-prima suficiente para que a fábrica encha os olhos e os ouvidos dos que não notam que estão a ser intoxicados pelos fumos e pelos resíduos que saem das chaminés.

Há até quem inspire profundamente no meio desse poderoso veneno, como se já não pudesse viver sem essa droga que lhe proporciona uma calma relaxante, resultante de um bálsamo imaginário, que o faz esquecer outros males durante o período de tempo que antecede a ressaca da amargura e do rancor. 

Convém dizer que o detestado inimigo também liberta muita poluição, facilitando a propagação da actividade desleal e corrosiva, provocadora de muita da sua aceitação. Mas, é muito grande a diferença de métodos e da matéria-prima utilizada. A fábrica tem uma dimensão que chega a ser asfixiante, tendo em conta os meios que tem ao seu dispor.

Consegue fabricar intrigas a um ritmo alucinante, até porque dispõe de verdadeiros batalhões de mão-de-obra gratuita, apesar de altamente profissionalizada, em concorrência com mão-de-obra barata e muito mal organizada do inimigo. Com a agravante de, também esta estar alinhada com muitas das investidas dos batalhões do outro lado, ávidos por trocar o fato-macaco pela gravata e uma caneta.

Consegue fabricar dúvidas que acaba por pretender vender como certezas, com a única garantia de que tudo o que fabrica tem a qualidade do seu selo de marca. Ora essa, para os menos distraídos, é a pior garantia, em todos os aspectos, que se pode aceitar como sinal de confiança, principalmente, por consumidores escaldados por anos e anos de banhadas que, como o gato, até já tem medo de água fria.    

Consegue fabricar fantasmas em vários tons, para serem devidamente validados com óculos parecidos com os do cinema em não sei quantas dimensões, mas específicos para cada uma das clientelas das linhas de produção. Sim, porque na fábrica há linhas de produção próprias para cada cor, não fosse uma qualquer anomalia provocar desmaios na coloração.

Consegue fabricar máscaras revestidas de hipocrisia para mostrar ao país que tudo o que a gente vê é ilusão óptica, do tipo de fogos-fátuos de cemitérios onde nunca houve mortos, para lá dos vivos que eles querem ver lá enterrados à viva força. Daí que se anuncie, dia sim, dia não, o tão desejado funeral do tão odiado nado morto.   

Consegue fabricar palhaços que se especializaram na construção de gracinhas baseadas nas suas próprias intrigas, quantas vezes esfarrapadas, tal como o são as suas dúvidas, as suas graçolas com os tons das suas fantasias, engalanadas com o fulgor ou o horror das suas máscaras hipócritas acima dos reluzentes fatos de palhaços ricos.

A esta super fábrica, do tipo de produção multi-usos, plena de poderes, onde até nem falta o poder de linchar quem lhe faz sombra, falta simplesmente a coragem de carregar no botão. Porque a linha de produção montada para o efeito, ainda não está suficientemente burilada para decidir isso sem hesitação.

Mas, para o efeito, está já em funções, uma outra linha de produção destinada à investigação avançada de correcções e inovações para a infalibilidade da super fábrica. Tudo indica que não está longe o anúncio da nova era em que nós próprios passaremos a ser fabricados.   

 

 

 

16 Fev, 2011

Mas que escola

Este país é um manancial de boas lições a todos os níveis, ou não tivéssemos uma escola, tanto inferior como superior, que suplanta tudo o que de pior se faz e se ensina por esse mundo fora. Isto no dizer de especialistas que, por não quererem, ou porque não os querem lá, nunca chegaram a ministros ou ministras da ‘inducação’.

Em muitos casos bem visíveis nos seus aparecimentos públicos, do que se trata realmente é de que eles deviam candidatar-se a dar a disciplina de falta daquela, aos putos que começam a manifestar-se no contra tudo aos cinco seis anos, apesar de, em muitos aspectos, já estarem aptos a ensinar isso e muito mais, aos seus pretensos mestres.

Sobretudo, quando se trata de gerir o dinheiro dos contribuintes, pois já no jardim-de-infância, quando em fila pegavam nos bibes uns dos outros, já discutiam acaloradamente as injustiças relativas no pagamento de impostos dos respectivos papás. Aliás, eles até faziam contas de cabeça ao que o estado lhes retirava, por via dos papás, na compra de maquinetas de dar ao dedo e pastilhas elásticas. 

Porém, o forte dessas crianças de mente adulta é criarem opiniões e pareceres sobre se devem estar no público ou no privado. Se devem ou não aconselhar os papás a pagar propinas no privado, ou se devem deixar de pagar impostos que vão para sustentar o público onde não querem andar, porque isso é só para aprender a ser ‘inguinorantes’.

Já ouvi um puto de cinco anos dizer que isto assim não está ’bué grande coisa’. Simplesmente porque ainda não percebeu se está numa escola pública ou privada. Depois, por causa disso, está farto de ouvir bocas porque há meninos na sua escola que têm berlindes de borla, mas noutra escola não têm nada disso.

Em contrapartida, têm direito a dois chupas por dia, têm matraquilhos do Benfica, do Sporting e do Porto permanentemente à disposição e têm um protocolo com os professores que não deixa que se maltratem mutuamente. Quem infringir o protocolo vai de imediato jogar ao berlinde para a outra escola.

Há uma coisa que é comum às duas escolas. Ninguém paga nada. É por isso que o tal puto que eu ouvi não consegue perceber esta guerra do público e do privado, se tudo é pago pelo mesmo. Disse ele que julgava que o privado não andava às sopas do estado, além de não precisar que o estado andasse a pagar chupas à balda. E acrescentava com ar de ‘gozão’, que qualquer dia passava a exigir um gelado em cada intervalo. Ou há moralidade ou comem todos.

Mas eu fico banzado com alguns putos que se põem a discutir a situação política. Porque aí, eles revelam uma escola que até parece do ensino superior. Quando vêem que há chupas à vista ou gelados a caminho, logo se agitam para se posicionarem em termos de lhes deitarem a mão. Se à volta não se vê nada de jeito, toca a travar ímpetos.

Ora isto é revelador de uma maturidade política notável, coisa que nem os seniores conseguem imaginar com tanta clareza. Mas é que nem os pais, nem os professores, nem tão pouco os donos das escolas, conseguem delinear estratégias tão inteligentes e tão adequadas ao sentido de escola perfeita.

Ainda há quem fale em privatizar tudo. Vá lá, que seja tudo, mas esta escola não. Que mais não seja para que haja aquela diferença importante entre os putos que comem chupas e os que se julgam com direito a gelados. Até já ouvi outro puto a reclamar o direito a uma escola diferente das outras duas.

Aí arrebitei logo as duas orelhas e deitei de imediato o meu palpite. Só podia ser uma escola para candidatos a presidentes de qualquer coisa e governantes indiferenciados. Pública ou privada? Que importa lá isso? De luxo, claro, com tudo à borla, que o estado é magnânimo.

Realmente faz muita falta uma escola para cada lírio.

 

 

Com frequência dou comigo a pensar que já não há cá disso faz muito tempo. Mas logo me encolho com um arrepio de todo o tamanho pensando que, se é assim, então eu também não o sou. E pergunto a mim mesmo, cheio de comichões por todo o corpo, como foi possível, eu, ter-me deixado embalar na canção dos que o não são.

Por outro lado, eu não posso fugir à regra. Pois se todos, a começar mesmo lá no cimo e por aí abaixo, ninguém resistiu à vil tentação do vil metal, como é que eu, que não tenho metal quase nenhum, também não escapei à banalidade do vil, mesmo não tendo proveito nenhum. Começo a pensar que devo ser mesmo muito vil com pouco metal.

Pois, gente séria é outra coisa, mas onde está ela é que me faz espécie. E quanto mais olho para cima pior. Até parece que as alturas me fazem vertigens e me provocam um enjoo danado, ao pensar que os considerava tão sérios como eu. Afinal tenho de rectificar o meu pensamento.

É que eu não sou sério mas também não sou vil, ao passo que eles, lá em cima, conseguem convencer-me de que não são tão sérios como pareciam, logo, tenho de concluir que se trata de uma vil seriedade que não resistirá ao teste do aldrabão, perdão, eu queria dizer ao teste do algodão, que é branco, branquinho, puro, a sério.

Pelo contrário, qualquer dia também não há algodão assim, devido aos testes que terão que começar a fazer-se, ou nunca mais isto fica minimamente limpo. O grande problema é quem está em condições de tomar a iniciativa de pegar no algodão, mesmo com o pensamento sempre a fugir para o aldrabão.

Depois, seria de esperar que essa alva e pura matéria-prima começasse a escassear nos mercados devido ao excesso de procura em relação à produção, que não tardaria a diminuir devido ao receio de que o tal teste se generalizasse e chegasse aos próprios produtores. Pior ainda, se chegasse aos tais que estão muito acima deles.  

Está visto que gente séria é outra coisa. Estou exausto de tanto pensar à procura dessa coisa que não descortino onde a encontrar, mas também não vou desistir enquanto não souber quem é mais sério do que eu, quem é tão sério como eu, ou quem é menos sério do que eu. Isto é muito importante, por causa da minha consciência.

A propósito, também vou ver se descubro quem é que ainda tem consciência. Se calhar eu também já não tenho isso. Ando muito confuso com o que vejo e ouço por todo o lado. E é pior ainda, quando a pancadaria alastra, os polícias fogem, o povo se mete em casa a espreitar por detrás das cortinas e, lá fora, aparecem uns gajos porreiros de mangas arregaçadas e braços no ar, a dizer como é, por serem os guardiões de todas as coisas boas.

Ora aí está! Finalmente descobri que ainda há gente séria e, concomitantemente, (eh pá! que raio de termo!) com consciência suficiente para me tranquilizar de que, afinal, está tudo bem. Não precisamos de polícias que só servem para apanhar pancada. Não precisamos daquela gente lá de cima que só serve para nos tentar a fazer o que eles fazem.

Já agora, também não precisamos de leis logo, não precisamos de quem as faz, não precisamos de quem as interpreta e as aplica, nem precisamos de gente séria para nos ensinar a fanar o que podemos, tal como não precisamos de gente que só nos sabe chatear o juízo com a mania da moralidade.

Mas vamos continuar a precisar, e de que maneira, cada vez mais, dos gajos porreiros que estão acima de todos aqueles de que já não precisamos para nada.

Desvendado o mistério das minhas dúvidas, posso reiterar convictamente, que gente séria é outra coisa.

 

 

12 Fev, 2011

Venham as hienas

Sinto-me exactamente no meio da savana onde o cheiro a erva é muitas vezes abafado pelo cheiro a sangue quente das vítimas dos raides dos poderosos esfomeados, por entre as manadas dos mansos e pacíficos distraídos que andam a comer a erva, sempre em risco de serem comidos.

Nesta savana dos homens e das mulheres que nela buscam e rebuscam no espaço quase vazio o sustento dos seus, aparecem umas feras sem que ninguém saiba de onde vêm, ou em quem querem ferrar as garras em primeiro lugar. Aqui não cheira a sangue, por enquanto, mas respira-se o bafio da podridão.

Andam todas as feras à volta do banquete esperando que o leão esteja farto e as deixe avançar para raparem os ossos ou as peles que sobraram do repasto. Os abutres descem do ar e as hienas até parece que saem de buracos que se abriram ali mesmo. Da vítima já pouco resta mas por ela já se luta apenas pelos restos.

Não sei se o país está de rastos ou de restos, mas não quero de certeza ser mais uma fera à espera que sobre alguma coisa para mim. O que tenho e o que quero tem de ser conquistado por mim e não caído do céu aos trambolhões, por obra e graça de quem nunca mexeu uma palha, preferindo tirar palha da manjedoura dos outros.

Bem entendido que estas não são hienas vegetarianas. Tão pouco se lançam em perseguições diabólicas das suas presas, certas de que outras feras mais ágeis o farão. Por isso aguardam impacientemente o rescaldo da perseguição agressora e da fuga de quem cai para sempre no campo da morte.

É neste clima de vida ou de morte que se disputa tudo na savana dos leões, dos lobos, das hienas. Ali ao lado está a floresta onde nada nem ninguém se pode sentir seguro, apesar de cada macaco ter o seu galho. Mesmo assim, não deixa de haver umas macacadas que dão para o torto, naquela como nesta floresta que pega com a savana.

Savana, floresta, selva, feras, anda tudo num alvoroço, com macacadas por todos os lados, como se já houvesse apenas uma vítima a ser disputada, sem que ninguém tenha a coragem de se atirar de caras para a cara dela, conquistando a vã glória de ficar para a história, como o alimentador de todas as hienas que esperam pelo seu momento de encher o bucho.

Estas hienas valentes tão depressa avançam com logo recuam, porque lhes falta a certeza de que não serão engolidas por uma qualquer onda, ou horda, reveladoras de que as suas análises sem nexo, não conseguem acertar uma para a caixa. Daí que sucedam aos dias eufóricos de certezas infalíveis, dias em que, logo de seguida, se deixam abater na hesitação e na dúvida de quem tem a lição muito mal preparada.

Como se fala muito por aí em cadáveres, as hienas, além da excitação que não conseguem esconder nem disfarçar, têm a oportunidade de exibir a sua verdadeira vocação devoradora de carne morta, sem o medo de que as vejam fazer aquilo que lhes está na génese.

Que venham, pois, as hienas, que eu já estou cheio de curiosidade para ver o que vem a seguir.  

 

 

08 Fev, 2011

Maria, hoje é dia!

 

Oh homem, eu estou-me nas tintas para os teus dias e ainda muito mais para as tuas noites. Espero que não seja dia de ficares na cama à espera que as greves acabem, para ires para o trabalho e, podes ficar descansadinho, não sou eu que vou contribuir para perturbar o teu sono pois, a dormir, tu és um ás.

Se julgas que me convences a ir fazer-te companhia, estás muito enganado, pois farta estou eu de te ouvir ressonar durante toda e noite e durante todas as noites. Além disso, eu também estou em greve e nem penses que vais ter serviços mínimos. Aproveita e dorme, dorme muito, já que tu, nem para fazer greve serves.

Dizes que hoje é dia não sei de quê. Se tu fosses um fura greves, eu ainda podia admitir, embora com muitas dúvidas, de que fosses capaz de tentar um ou outro furo, mas qual quê, estou farta de esperar por esse tal dia, o dia em que eu não esteja de greve e tu não estejas a sonhar com o semáforo vermelho na tua frente.

Que eu saiba, hoje também não é dia de ires à bola, já que ontem o teu clube, que não é o meu, obviamente, levou na pandeireta quando havias feito uma festa de arromba só porque julgavas que ia aumentar a vantagem para o meu. Mais uma vez te enganaste e, sei lá, se não é por isso que estás aí a dormir e a ressonar, como se engolisses o apito do árbitro.

‘Penso eu de que’, hoje não é dia de tomares o comprimido para a garganta, senão não tinhas o descaramento de me estares a tentar lembrar do que eu não quero fazer, ainda por cima no dia seguinte à cachola de ontem à noite, que não consigo esquecer, em que não tinhas voz, nem tinhas força para levantar uma gata pelo rabo.

Para mais, já devias saber que eu não sou uma gata qualquer, pois até tenho um certo peso, devido à falta de esforços específicos em que tu nem sequer pensas, provavelmente, com excepção dos dias em que sabes que eu estou de greve, portanto absolutamente inacessível, e tu com essa soneira ressonante que faz lembrar a máquina do comboio a vapor.   

Oh homem, vê se perdes essa mania de sonhar com tudo o que é transportes no dia em que eles estão em greve. Não vais trabalhar porque não tens transporte, depois ficas o dia inteiro na cama à espera de mim. Outra mania que nunca vou perceber. Será que te arrefecem os pés? Olha, põe-te a caminho do emprego, a pé, e tira o sentido do resto.

 Desconfio que queres convencer alguém de que ficas a trabalhar na cama, contando com a minha colaboração. Mas, vê lá se metes na tua cabecinha que eu sei, há muito tempo, que nem ali consegues fazer nada. Além disso, repito, mesmo que conseguisses por milagre do comprimido, eu, Maria, estou de greve e, solenemente, te digo, prontos!...

Logo, hoje não é o dia que tu julgas que é. Nem tão pouco é o dia da minha nega que, aliás, seria perfeitamente legítima, porque se nos transportes não há serviços mínimos, quem sou eu para os cumprir contigo, que nunca soubeste o que era isso, mesmo quando eu ainda esperava, no mínimo, por uma boa vontade de esforço acrescentado.

Não sei se já reparaste que, nem eu sou o governo cá de casa, nem tu és a oposição ao meu desempenho. No entanto, parece que é o que tu queres ser e desejas que eu seja. Tu queres tudo, tu exiges tudo, tu perguntas tudo, mas não sabes nada. Julgas que eu tenho a obrigação de ensinar tudo, de te dar o que é meu e fazer-te companhia na caminha.

Olha lá bem para a minha cara e diz-me se me achas parecida com ele. Sim, eu olho para a tua e sei perfeitamente com quem te pareces. Aliás, é espantoso como tu tens parecenças com eles todos. Tens os olhos do maior, que vêem tudo. Tens a curiosidade mórbida daquele que pergunta tudo, tens o CD riscado do terceiro e o braço esquerdo a abanar como o do quarto.

É por tudo isto que te vejo como um ceguinho, que me rio das tuas perguntas e desejos, que não percebo nada da tua música, nem tão pouco reparo nos movimentos dos teus membros, por mais que tanta fartura da tua oferta me tente impressionar. Porque, eu, Maria, sou teimosa como ele, quase tão esperta como ele e faço greve quando me apetece.

Ora, hoje, não é dia de ir na tua conversa.  

 

 

05 Fev, 2011

Ora, agora sim!

 

O homem sabia tudo, não precisava perguntar nada a ninguém, pelo contrário, ele queria que lhe perguntassem tudo, mesmo antes de não se fazer mesmo nada. O homem tinha um capital de experiência muito longe de ser igualável, ainda que se juntassem dois a dois para se confrontarem com ele.

Há até quem pense que ele depositou esse capital de experiência em várias agências sem sequer perguntar a respectiva taxa em vigor. Nem era preciso, reconhecida como era a sua sabedoria na matéria. Verificou-se depois que não foi o rendimento desse capital que lhe granjeou a fama e a glória de um bom investidor.

Dizem que o saber não ocupa lugar. E é verdade, pois o homem estava tão certo do seu saber que lhe não reservava o mínimo espaço na sua mente cheia de outros notáveis conteúdos. Mesmo fora dela, da mente dele, o sucesso sempre foi a sua arma de combate contra quem o julgava um simples e modesto investidor.

O tempo tudo leva e tudo traz. Apesar dos indiscutíveis sucessos, o homem confessou a si próprio que não bastava saber tudo, saber mais que ninguém, era conveniente mostrar ao mundo que também precisava de ouvir os outros para fazer de conta que aprendia o que já estava farto de saber.

E foi assim que o homem que ensinava tudo a todos, passou a ouvir toda a gente, até os maiorais dos bancos a quem nunca ligava nenhuma, a quem entregava os seus parcos restos não gastos no dia-a-dia, sem querer saber se lhe rendia muito ou pouco. Tudo leva a crer que, ainda assim, continuou a não perguntar nada sobre isso.

O povo diria que este é um homem levado da breca, pois é muito difícil, senão impossível, encontrar alguém por quem esse povo ponha as mãos no lume, por confiar cegamente nas suas providenciais palavras em qualquer circunstância. Nos dias nebulosos que o mundo atravessa, não sei se isso não será milagre suficiente para uma beatificação.

Desde há muito tempo que o homem é um verdadeiro santo milagreiro que pôs toda a gente a sorrir de fartura e de barriguinha bem cheia. Evidentemente que, se isso não se passa hoje em dia é, simplesmente, porque apareceram uns estragadões que conseguiram gastar muito mais que o muito que o homem ganhou.

Ora, agora sim, o homem deixou de pensar apenas em amealhar, para ouvir tudo o que os estragadões têm para lhe ensinar, em termos de gastos, já que lhe passou uma ideia pela cabeça, segundo a qual, só se poupa o que não se é capaz de gastar. Sim, porque o homem chegou à conclusão de que já não é capaz de gastar tudo o que amealhou. 

Daí que tenha muita dificuldade em descobrir uma agência na qual ainda não tenha nada, pois está plenamente convencido de que essa máxima de não colocar todos os ovos no mesmo cesto, é mesmo para cumprir religiosamente, mesmo que o seu autor não tenha lá muito bom gosto em matéria religiosa.

Como as conversas são como as cerejas, o homem tornou-se agora um verdadeiro glutão do paleio, convidando para sua casa tudo quanto sabe gastar muito, convencido de que eles o gastam bem. Ora, é isso mesmo que ele quer ouvir, até porque tem lá para consigo que também receberá uma medalha igual àquelas que está farto de entregar.

Que eu tenha ideia, ainda ninguém recebeu uma medalha, mesmo das pequeninas, por se ter provado que amealhou muito em pouco tempo. Pelo contrário, estou farto de ver muitos e grandes medalhados que, a única proeza que cometeram, foi gastar tudo o que não tinham, mesmo sabendo que não era deles. 

Força, homem, fala com eles, ensina-os a poupar, enquanto vais aprendendo a gastar.

 

 

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