Pois, pois! ...
É frequente encontrar-me com gente ou com citações que me colocam perante o problema de quem paga uma qualquer factura. Não as minhas, que essas não preciso que me digam quem tem de as pagar. Mas há aquelas que eu sei perfeitamente quem as não paga e que, por via indirecta, me vêm entrar nos bolsos.
Curiosamente, há quem se preocupe muito com o que se gasta em serviços ou produtos que, em maior ou menor escala, são despesas da comunidade ou para a comunidade. Ao invés, não vejo ninguém levantar a voz acerca dos milhões que voam todos os dias com as excentricidades da nossa democracia.
Podem dizer que ela tem custos e eu acredito que sim. Mais, concordo perfeitamente que não se cortem as unhas rentes com a sua manutenção em estado saudável. No entanto, o que me preocupa, é ver como o dinheiro se vai, quantas vezes para a enfraquecer, através de gente que cobra bem, para conseguir esse objectivo.
Objectivo que pode conseguir-se de muitas maneiras, umas mais evidentes, outras mais dissimuladas. Saliento aquelas que, de um modo geral, bloqueiam sistematicamente ou dificultam por forma onerosa a acção de quem tem a obrigação de tomar decisões. Isto com o simples argumento de que se não concorda com elas.
Toda a gente sabe que o país ficaria completamente paralisado no dia em que passasse a ser obrigatória unanimidade de todos os cidadãos para todas as decisões. Há uma coisa que se chama legitimidade e essa não a tem quem quer, mas apenas e só, aqueles que a receberam de quem de direito para decidir.
Não concordo com os balúrdios que se roubam ao estado e, depois de se ter provado o crime, não se obrigue à devolução até ao último cêntimo do que for possível recuperar. Quem rouba, não devia ficar sempre a ganhar, só porque se arranjam mil e um estratagemas para que o coitadinho não deixe de ter uma vida de nababo.
Não concordo que se dêem balúrdios a partidos por ocasião das eleições, quando depois andam permanentemente em campanha fora delas, sem se saber quem paga essa verborreia que se liberta depois de grandes almoçaradas ou jantaradas, verborreia que só serve para atrasar o país e desprestigiá-lo interna e externamente.
Não concordo com a existência de certos sindicatos que mais não fazem que sobrepor-se, ou tentar sobrepor-se, a cadeias hierárquicas com funções bem definidas, funcionando com toda a legitimidade e legalidade. Tal como não concordo com a actuação de outras direcções sindicais que demonstram a toda a hora que julgam ter o rei na barriga.
Não concordo com esta dicotomia de que tudo o que o governo diz ou faz é mal feito, enquanto tudo o que as forças políticas ou outras que se lhe opõem, digam ou façam, é uma bênção para o país. Estou para ver, quando se inverterem as coisas, se essa dicotomia se mantém ou se então, as coisas passam a funcionar ao contrário, para que a lógica do interesse nacional se altere.
Não concordo com esta lógica de se martelar diariamente nas mesmas tretas comunicacionais, visando sempre os mesmos nomes, previamente considerados detestáveis criminosos, com factos e não factos, sempre a mesma treta, enquanto se deixam permanecer no limbo do descansem em paz, muitos dos piores coveiros do país.
Não concordo com esta visão catastrofista interna do país, que estamos a pagar muito cara, sejam quais forem as razões internas que nos atiraram para ela. Toda a gente sabe muito de tudo, mas só depois de tudo ter acontecido. Agora, os que nos querem salvar, que já foram coveiros, não se sabe de que apoios estão à espera, para fazer o que querem.
Não concordo com os juízes sem toga que querem julgar os mais conceituados juízes de facto e de direito, nas mais altas instâncias da justiça, só porque não lhes reconhecem o direito de julgar ou não julgar os seus amados ou odiados, segundo as leis da república. Parece que temos maus juízes a mais e bons juízes a menos.
Discordo de muitas coisas mais. Mas não adianta nada pois, ao contrário de muitos persistentes e teimosos discordantes, não tenho a veleidade de querer que me façam a vontade em nada do que digo ou faço. Só achava bem que fizessem com eles o que me fazem a mim, que estou apenas a delirar.
Pois, pois… Mais me valia estar quieto e calado. Mas, não sou capaz.