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afonsonunes

afonsonunes

24 Abr, 2011

Porquê agora?

Antes da demissão do governo e da dissolução da assembleia, ninguém mexeu uma palhinha sequer, com aquela convicção de ser levada a sério, no sentido de haver um entendimento entre os três partidos da área do poder. Houve sim, aquela convicção exuberantemente expressa de que socialistas com Sócrates nunca mais.

E, socialistas sem Sócrates, só muito condicionados, a começar pela escolha de um dirigente, não pelo seu próprio partido, mas pelos já certos futuros detentores do poder, os sociais-democratas, a mostrarem toda a sua vocação para o diálogo de surdos. Mesmo o diálogo com os centristas andava muito turvo por causa das maiorias em perspectiva.

Portanto, na prática, os socialistas não eram para ali chamados, nem pelos partidos da direita, muito menos pelos partidos à sua esquerda. Mas também não eram para ali chamados pela generalidade dos comentadores políticos, os comentadores de conveniência, bem como os seus colegas do lado da informação.

É verdade que houve uns rumores de que talvez não fosse boa ideia ir para eleições, porque podia ficar tudo na mesma em termos de maiorias. Mas tudo se calou, com o argumento de que só as eleições iriam resolver o problema. O PSD iria ter maioria absoluta e, se a não tivesse sozinho, tê-la-ia com o CDS.

Subitamente parece que o tempo mudou e logo vieram os primeiros sinais de que, afinal, mesmo que houvesse aquela maioria, o PS passou a ser indispensável, porque não seria possível, sem ele, conter a contestação que podia facilmente prever-se. Portanto, agora, a direita precisa já de uma espécie de guarda-costas para o que se adivinha vir aí.

Mas muito pouca gente se lembrou disso antes da dissolução da assembleia. Não houve movimentos de apelo ao diálogo, movimentos de figuras a assinar manifestos para que o país não se metesse numa aventura de que podia vir a arrepender-se. Ninguém se lembrou de que o FMI vinha aí ditar as suas leis e não as leis dos interesseiros de cá.

Tudo porque era já inevitável trocar Sócrates por Passos, trocar o PS pelo PSD, não havendo direito a misturas nem a acordos de qualquer espécie, sem sequer se permitir o mínimo diálogo, no sentido de explorar hipóteses, ainda que remotas, nem tão pouco prever sensibilidades sobre o desenrolar do futuro do país.

O grande problema é que quase toda a gente se esqueceu de que havia um país no meio deste imbróglio, país que não se compadece com os ódios e os recalcamentos, seja de quem for, contra quem quer que seja. Os governos não se escolhem a dedo, nem aos berros ou murmúrios de sábios ou ignorantes.

Mas escolhem-se, como parece ser o caso agora, por imperativos de dinheiro, do dinheiro que vai permitir que não sejamos atirados para a valeta da estrada que os dignitários estrangeiros vieram percorrer a mando dos endinheirados de cá, que estão habituados a atirar para a valeta quem lhes não sacie a gula de mais dinheiro.

E agora, sim, parece que já se vão convencendo de que tem de haver a tal união que não quiseram antes, dizendo agora que há uma coisa que é o interesse nacional, que antes ignoraram, que há um partido que passou de proscrito a indispensável, que há um herói que, afinal, já não é tão herói como se pensava. E que há um derrotado que até pode ainda sair vencedor.

Contudo, que não haja grandes ilusões quanto a vencidos e vencedores. Pode haver uniões, pode haver entendimentos. Mas serão sempre impostos. Serão apertos de mão com facas escondidas na outra mão. Mais dia, menos dia, será a faca que vai ditar as suas leis, porque vai sempre vencendo o que anda escondido.

Tanta confusão, que até parece ser maior, quanto mais alto mora a inteligência de classes que julgam ditar as suas leis aos que, afinal, não deixam de lhes dar lições a toda a hora. É bom que comecem a aprendê-las, para não andarem a cometer os mesmos erros através dos tempos.

Uma coisa é quererem tudo, outra bem diferente, conseguir segurar a parte que lhes compete. O que vão ter de aceitar agora já o recusaram, quando o país bem precisava do seu esforço de diálogo e entendimento. E, sobretudo, de gastos desnecessários.

 

 

Espero bem que a troika não venha a ler estas linhas, senão ainda vou ficar com a fama de ter prejudicado o país, emitindo opiniões positivas sobre o estado da nossa situação económico-financeira. É evidente que me refiro aos dados da execução orçamental agora tornados públicos pelo governo.

Como sempre, logo surgiram os que não acreditam em nada, arranjando os habituais argumentos de que, por mais isto e mais aquilo, os números são uma fantochada de se lhe tirar o chapéu. Pelo que me toca, não tiro nem ponho o chapéu, pela simples razão de que nunca o usei, não me importando mesmo nada de mostrar a careca.

Até porque, chapéus há muitos. Não digo o resto porque os homens da troika podem julgar que me estou a referir a eles e, Deus me livre de tal petulância. Eu, como muita gente, estou convencido de que eles não vieram cá para tirar o chapéu a ninguém, mas sim para enfiar o barrete à maior parte do pagode.

Agora, sem chapéus ou com barretes, o que vem aí é a obrigatoriedade de ter de se dar o corpo ao manifesto. E aí estou com eles, desde que o corpo seja o daqueles que estavam habituados à ronha do descanso e à exaustiva tarefa de desacreditar todos aqueles que nunca pouparam o corpo para lhes encher o bandulho.

Porque o manifesto não pode mais ser o deles, aquele manifesto do venha a nós, o descanso, e os outros que vão à vida, ao trabalho, que eles nunca quiseram. O manifesto tem de ser aquele que faz sair o país da triste miséria em que muitos sempre viveram e que, ainda agora, não acreditam que deixem de viver, tal a descrença que ainda vêem no manifesto em vigor.  

É preciso dar o corpo a um manifesto que determine e mande publicar uma nova ordem de contribuição dos que visivelmente podem, para os que iniludivelmente não podem. É preciso dar o corpo ao manifesto que acabe de vez com todas as discriminações que minam a sociedade, através de todos os que sempre têm conseguido distorcer tudo em proveito próprio e de interesses mesquinhos e perversos.

Já que tanto quiseram a troika, espera-se que lhe aceitem as receitas médicas como salvadoras da saúde que nunca quiseram preservar através de receitas caseiras, enquanto a doença não ia além de uma gripe que se curava com o tradicional ‘abafe-se, abife-se e avinhe-se’. Agora, vamos ver se os antibióticos curam ou matam os ‘impacientes’.

O mais doloroso desta situação, é o facto de os antibióticos serem distribuídos a todos, independentemente dos seus antecedentes clínicos, sabido como é que, a constituição dos doentes é muito diferente de caso para caso. São os inconvenientes das terapias de choque a que nos conduziram os que só hoje começam a entender o passado.

E é vê-los agora, quando já cantavam de galo, armados em senhores de todas as sabedorias, mais uma vez a baixarem a bolinha, perante o desenrolar dos acontecimentos que, seguindo uma linha completamente imprevisível, como outras no passado recente, vem mostrar que fazer previsões não é para qualquer bruxo de vão de escada.

Sim, bruxos de vão de escada temos tido aos montes, porque eles só souberam prever os muitos e maus acontecimentos depois de eles terem ocorrido. Mas não se cansaram de culpar outros pelo mesmo erro. Bem me parece que estão à beira de mais um falhanço nas suas previsões, estas, agora, a ameaçar cortar muitos sorrisos de orelha a orelha.

Sim, correm o risco de terem mesmo de começar a dar o corpo ao manifesto, porque a vidinha vai começar a andar para trás, relativamente ao que davam já como certo.

 

 

Neste país que é o nosso, o de quem fala e escreve aqui em português, Sócrates é o governo e o governo é Sócrates. Suponho que não estou a meter água, pois é ele que anda de boca em boca, nas boas e nas más-línguas que o não poupam nas bocas com que o apupam ou o aplaudem nas suas incursões decisivas.

Seguindo esta linha de pensamento, Sócrates anda metido na cabeça de muita gente, diria mesmo que anda metido na cabeça de uma boa parte dos portugueses, por si, pela sua pessoa, ou na sua qualidade de responsável pelo governo que chefia. Diria mesmo que Sócrates é uma terrível dor de cabeça para muita gente.

Se estiver correcto o que li algures, Passos Coelho tem o governo na cabeça. Não compreendo o alcance desta notícia. É evidente que, mesmo antes de ascender à liderança do seu partido, já ele tinha o governo na cabeça. Parece que ninguém duvida de que ele não tivesse uma ambição um pouquinho maior do que ser presidente do partido.

Também muito antes de conquistar o partido, certamente que já tinha Sócrates na cabeça, ou não fosse este a imagem de um governo que Passos queria e quer para si. Tudo normal, normalíssimo mesmo, para um líder que chegou ao patamar onde se mete na cabeça a alternância do tão desejado, e a toda a hora reclamado, direito ao poder.     

Aqui, o problema está na relação entre a cabeça e o governo e, por via mais que directa, entre a cabeça e Sócrates. Muito volumosa tem de ser a capacidade de uma cabeça onde caiba um governo inteiro, mesmo que tenha uma dúzia, ou menos, de ministros. É preciso ter em conta que isso é muita bagagem para uma cabeça só.

Agora imagine-se, se essa capacidade tiver que ser duplicada ou triplicada, para que nela caiba Sócrates, com todo o seu rol de gente, ao que dizem sem cabeça mas, mesmo assim, de muito difícil arrumação em qualquer arquivo mental. Não basta dizer que se tem um governo na cabeça. É preciso concretizar, sem nomes, óbvio, que raio de governo é esse. 

Suponho eu, que Passos Coelho, depois de todos os dias meter e tirar do armazém tanta coisa inútil, não disponha de espaço para lá meter um governo novo, sem tirar de lá, do armazém mental, toda a tralha que lá meteu há muito, e continua a meter agora, sem que se veja que também vai tirando outras tralhas que lá não fazem falta nenhuma.

Portanto, quando diz que tem o governo na cabeça, é conveniente esclarecer, qual o governo ou governos que lá tem. Mas, admitindo que seja o governo dos seus sonhos, convém pôr preto no branco, se não está a misturar o governo que já não é, com aquele que julga ir ser mas que, obviamente, ainda não é.

Depois, além de ainda não o ser, terá de contar com as negas que, até ao momento da verdade, se o momento não vier a ser de mentira, não o obrigue a uma qualquer remodelação que terá de ser feita no tal governo que, antes de o ser, pode acabar por nascer já remodelado. Isto, não é retórica de campanha eleitoral.

Nestas coisas é preciso ter muita cabeça, a qual não pode estar cheia de tralhas e de ar e vento, porque o espaço fica depois muito reduzido para o que é absolutamente necessário e essencial, caso da memória, da clareza de ideias, dos conteúdos simples e úteis. Em suma, que o espaço não falte para o normal funcionamento da massa cinzenta.

Ter governos na cabeça é uma daquelas banalidades que, como outras que têm vindo a público, podem levar a pensar que a cabeça ainda está demasiado vazia. Pode ter lá um governo, mas pouco mais.

 

 

E o que foste lá fazer? É a pergunta que muita gente gostaria de me fazer se me conhecesse de algum lado. Como isso não acontece, limito-me a responder que fui dar uma volta a pé, porque havia greve nos transportes. Inconcebível, pois há destinos para os quais nunca devia ser permitido limitar a mobilidade dos cidadãos.

Mesmo a pé, voltei a Belém, pois não há nada que mais me seduza que aquela torre que é incapaz de dizer uma palavra a quem a visita, mas que adora que os seus súbditos lhe confiem todos os seus segredos, mesmo os mais íntimos, até àquelas coscuvilhices que abundam nos mercados do peixe e se infiltram nos meandros do chiquismo.

Eu sei muito bem que andar a pé, faz mesmo bem à saúde, mas ainda sei muito melhor que aquela torre me dá uma confiança extremamente eficaz para os meus medos e os meus receios que os FMI’s e contra FMI’s incutem nas pessoas que precisam de ter uma tábua de salvação para superarem as suas fraquezas.

Pois, quem me dera ser forte para não ter que ir a Belém encostar-me à torre da salvação, contar a minha vidinha toda, sem obter uma palavrinha de esperança, do género, cá estou eu para te proteger dos ventos da desgraça e dos temporais das ondas quase tão devastadoras como as dos tsunamis da contra informação.

Mas eu sei muito bem que não posso deixar de ir a Belém, pois não desconheço que é o dever que me chama, que me chama quase semanalmente, como se eu tivesse feito alguma coisa de novo todos os dias, que merecesse postar-me com tanta frequência perante aquela torre que sabe muito bem ouvir, mas não sabe falar, nem muito bem, nem muito mal.

Por mim, sei muito bem que bastaria ir a Belém uma vez por ano, ver se a torre ainda está direita, como a de Pisa, ou se está dar qualquer coisa, e para que lado. O que eu tenho para contar à torre, é hoje, o que já contei o ano passado, portanto, gastei as solas dos sapatos e não ouvi absolutamente nada.

Aquela torre anda a dar cabo da minha cabeça. Até já pensei que sou eu que tenho qualquer problema de ouvidos. Depois, toda a gente me pergunta quando é que eu tenho qualquer coisinha de novo sobre o que devo fazer. Sei lá? Primeiro precisava saber se a torre de comando me autoriza a aterrar em segurança.

Com toda esta conversa até parece que já não gosto de ir a Belém. Ora isto é uma incongruência, pois comecei por dizer que aquela torre me seduz, que me protege dos medos e dos receios, porque sou fraco. É verdade. Mas, desde que chegou o poderoso FMI, e vejo a torre muda e calada, já não sei quem é que vai proteger as minhas fraquezas.

No entanto, também não posso deixar de ir a Belém, porque sou chamado por uma força interior de que desconheço a proveniência e até os motivos de tal chamada. Como sou muito pensativo, pensativo e criativo, até já me lembrei que a torre pode ter algum problema introspectivo, que necessite de saber amiudadamente, como vão as minhas ideias.

Sim, porque as minhas ideias, por vezes, são um tanto pirrónicas. Daí que podem não ser muito estáveis e preocupar uma simples torre, que não quer que se perceba que também ela, a torre, tem ideias inclináveis, mas que eu tenho de fingir que não noto e, sobretudo, garantir que não noto mesmo.

É por isso que fui novamente a Belém. E o que fui lá fazer? ... Giroflé, giroflá …

 

 

 

Sei perfeitamente como são vulgarmente designados os primeiros, nos comentários que abundam especialmente nos artigos dos jornais online. Para uns são os socráticos, para outros, os socratinos ou mesmo os socretinos. Como vivemos num país livre, os comportamentos são de quem age de acordo com a cabeça que tem.

É evidente que estas são as designações usadas pelos anti Sócrates, quando detectam alguma opinião que favoreça o designado. Porque, entendem eles, todo o ódio que lhe é dedicado, é para ser obrigatoriamente partilhado por toda a gente, dentro de uma linha de pensamento único de, quem não é por mim, é contra mim.

Iguais razões teriam os socráticos para esperar dos anti, que se reconvertessem e passassem a comportar-se como admiradores normais, e não como odientos radicais e contumazes. Claro que, por uma questão de lógica simplista, isso é igualmente impensável, por incorrer no mesmo tipo de pensamento.

Agora, há uma coisa que tem de ficar clara. Qual a designação que devem ter os que odeiam Sócrates. Porque se odeiam Sócrates é porque estão a defender alguém que é contra Sócrates. Assim sendo, eles são qualquer coisa como, passistas, coelhistas, jeronimistas, louçanistas, ou qualquer coisista no género.

Até podem alegar que não são de coisa nenhuma, além de portugueses, bons ou maus, e eu, generosamente, diria que eles eram, simplesmente, nenhumistas. O que me parece que não podem ser é nadistas, para além de não poderem deixar de ser anti Sócrates. É que o facto de serem anti qualquer coisa, já implica que são pró outra coisa qualquer.

E isso não deprecia, seja lá quem for, de querer ser o que lhe apetece e dá na real gana. O que não pode, é pensar que pode deixar de ser, aquilo que quer obrigar os outros a ser. Se uns são recriminados por estarem do lado de alguém, então os que estão do lado contrário também têm de ser recriminados por terem escolhido esse outro lado.

Isto só é complicado porque eu gosto muito de complicações. Ainda por cima, são as complicações mais simples que mais me fascinam. Por exemplo, quem está do lado do Sócrates é xuxa, e quem é xuxa é ladrão. E, dirão os xuxas, quem está do lado do Passos é laranja e laranja é o banco dos que roubaram milhões e estão todos cá fora.

Por aqui se poderia deduzir, mal, que xuxas e laranjas são todos uns ladrões de primeira apanha. Portanto, não adianta andarem todos ao mesmo, mesmo que todos não sejam mesmo iguais. Senão, ainda podem levar alguém a pensar que, afinal, nenhuns deles gostam de estar muito tempo longe do tal pote orangino onde se pode meter a mão à vontadinha.

Uma coisa é certa. Os xuxas são muito mais atraentes para a comunicação social, quando toca a orientarem-se, enquanto os das laranjas a desorientam, conseguindo assim uma orientação mais rentável e mais segura. Até porque estes usam e abusam da denúncia em situações pouco claras, que depois não esclarecem claramente.

Já vai sendo tempo de se aceitar que os partidos existem, cada qual com as suas clientelas, reclamando-se apenas que se comportem dentro dos limites que lhes estão reservados na democracia. Fora com a ideia de que uns são os bons e os outros são os maus. Pior, que uns são uns finórios, outros uma escumalha.

Não sei porque há quem se admire tanto que um congresso seja um comício. Quem se indigne tanto porque um líder tenha muita gente à sua volta. Seria melhor que o congresso fosse uma chachada e o líder fosse contestado até ao último voto? Bom, poderia ter sido, ‘mas não seria a mesma coisa’.

De espantar seria se não houvesse quem falasse de marroquinos e alemães, com a postura de alemães da super Europa. De espanto seria não haver guerreiros contra guerreiros, pugilistas contra pugilistas, comentadores contra comentadores, Carrilhos e Pachecos a transpirar independência por todos os poros.

Não foi de espanto para ninguém, digo eu, esta aventura de todos nos terem levado até ao FMI. Vamos ver se nos livram de chegarmos mesmo ao FIM.

 

 

E a verdade revelou-se através do mais alto representante do povo açoriano, sem papas na língua, dizendo que quem já ganhou a eleições foi o FMI que, por acaso, para os mais distraídos, até nem anda a fazer campanha eleitoral para as ganhar. E nem precisa dela para nada, vencedor incontestado como, pelos vistos, já é.

Como diz o outro, ‘penso eu de que’, já não interessa quem fica em segundo ou terceiro lugar nessas mesmas eleições, atendendo a que, depois delas, se acaba essa guerra suja de quem bota mais abaixo, pois o FMI, o grande vencedor, não tem que temer moções de censura, nem vetos, nem tem que andar mendigar os votos de ninguém para governar.

Também não tem que se preocupar com discursos de verdade ou de mentira, seja nas sessões solenes ou nas sessões ordinárias, onde tanto se tem misturado o sentido do popular com o popularucho, sempre no sentido populista de mais uns votos, seja lá qual for o preço a pagar por um país exaurido por tantas e tão insaciáveis sanguessugas.  

Depois, uma coisa é certa. Podem bater no FMI como têm batido no Sócrates. O resultado será o mesmo, ou seja, nenhum deles ligará nenhuma, tanto ao que dizem os ignorantes, como ao que auguram os intelectuais, se movidos por aquela sofreguidão de verem no horizonte interesses que até podem ser uma miragem científica do intelecto.

Pressinto que a guerra partidária dos políticos passará a ser uma espécie de guerra de capoeira. Sem outro interesse que não seja saber qual é o galo que não se cansa de tentar, conseguindo ou não, galar mais galinhas. Não lhe caberá jamais ter voz activa nas rações ou nas condições de vida dentro da capoeira.

E, ai deles, se isto acaba num aviário de pintainhos aos milhares, com vida de duração controlada e limitada, precisamente por causa das rações, em que nenhum deles chega a galo feito. Obviamente que não voltará a haver mais poleiros, porque o poder não estará no aviário, mas muito longe dele. No FMI, claro!

Mas, não foi por causa do aviário que o FMI veio cá ganhar as eleições antes da data fixada para irmos às urnas. Ele veio, porque temos cá uns sujeitos que andam nisto há muitos anos, a tentar galar-se uns aos outros, chegando a confundir-nos com galinhas que se baixam logo que os sentem por perto.

Agora estão obcecados com esta questão da culpa. Culpa que é de todos e não apenas de um, por mais que dê jeito simplificar. Não adianta arranjar e montar piruetas para um lado, ignorando as circunstâncias que levaram à sua concretização. Não adianta esconder o comprometimento de outros com piruetas bem mais execráveis.

Quem governa não faz o que lhe dá na real gana, muito menos quando está sujeito aos caprichos de oposições incoerentes que votam igual com objectivos contraditórios. Só se pode responsabilizar um governo se forem dele as decisões que afectam a vida do país. Ora, não foi isso que aconteceu muitas vezes.

O país não é constituído por trinta por cento de estúpidos e quarenta por cento de inteligentes que, até vão trocando de posições. Quando isso acontece, parece que o mundo vai virar do inferno para o céu, mas a ilusão tem demonstrado à evidência como as mentes são demasiado criativas, nem sempre no bom sentido.  

Porém, agora sim, tudo vai mudar, por culpa de todos. Porque todos deixaram que o FMI ganhasse as eleições. E o FMI só vem por causa dos milhões que não se pedem a quem os roubou, mesmo que com rótulos de ganhos, em bancos, em empresas, em tantas poucas vergonhas.

A pior delas, talvez, a cegueira de quem não quer ver a realidade e vê apenas um argueiro que tem atravessado em cada olho.

 

 

 

Talvez seja melhor ir por partes, pois já ouvi tanta coisa que me apetece dizer como o carrasco, o dos lados do frio, melhor, do gelo. Disse ele que era melhor os faladores de cá acabarem com o ruído, se queriam que o pilim viesse na altura devida, sem os perigosos adiamentos, ou os desastrosos cancelamentos.

Bom, se não foi isso que ele disse, ao menos tê-lo-á pensado, o que vai dar no mesmo. Já me pareceu ter lido por aí, uma data de coisas que me arrebitaram a pituitária, por causa do esturro que se sentiu por perto e por longe. Por causa do tal ruído, que alguém logo considerou que tal significou mandar calar quem não se pode mandar calar.

Portanto, repondo os pontos nos is, quem manda agora sou eu, apesar de não ter mais que uns cêntimos no bolso. Isto deita por terra a velha teoria de que o dinheiro é que manda e comanda. Nada disso, quem manda sou, mesmo sem ter nada a ver com isso. Não tenho, mas quero que façam o que eu digo e… bico calado.

Se dúvidas houvesse, bastaria dizer que exijo participar na conversa e no negócio, apesar de ter já afirmado a pés juntos que isso compete ao outro. Pois compete, compete-lhe começar a conversa e o negócio mas, o meu amigo quer e eu exijo, que sejamos nós dois a concluir as duas coisas.

Razão mais que lógica – o outro já só serve para encanar a perna à rã e ser o bombo da festa, contrariamente ao seu jeito e tendência para ser ele a fazer as grandes festas. Porque eu e o meu amigo, durante as festas dele, deitamos os foguetes e apanhamos as canas, o que é outra maneira de gozar, quando a festa é dos outros.

O certo é que eu não embarco nessa cantiga de ser o outro a dizer o que lhe apetece na tal conversa. Mas eu é que não quero dizer nada, isto é, não quero mesmo conversa nenhuma. E não venham para cá com essa de ser irredutível, pois eu nem sei o que isso é, apesar de já ter consultado todos os meus conselheiros.

O mesmo se passa com o negócio que está em causa. Então eu, que não sou, nem quero ser negociante, alguma vez ia aceitar um negócio feito pelo outro? Às tantas lá diziam os ignorantes que eu era como o outro. Ora isso era uma ofensa ao meu estatuto de quem quer, pode e manda.

Logo, como quem manda sou eu, embora o meu amigo vá por mim, exijo que só venha dinheiro para dois meses, porque depois disso já serei eu a fazer as minhas continhas e a distribui-lo como bem quiser, sem que o outro tenha que meter o bedelho, nem na conversa, nem no negócio.

Que fique bem claro que os tipos do dinheiro não adiantam nada em andar por aí, a partir de hoje, a espalhar aos quatro ventos que quem manda são eles e o outro. Esquecem-se que se eles mandam, eu e o meu amigo, mandamos muito mais que eles todos juntos. Portanto, nós exigimos, perdão, eu exijo e o meu amigo quer, que venha dinheiro só para dois meses.

Obviamente que eu e o meu amigo sabemos perfeitamente que não cheirávamos nada daí, se viesse o balúrdio que eles dizem que vão mandar já, quer nós, eu e o meu amigo, queiramos ou não. Porque, repito, eles conversam e nós decidimos, perdão, eu decido, depois de ouvir o que o meu amigo quer.

É assim que eu exijo que seja, senão faço uma reclamação escrita em inglês, depois de corrigida pelo meu amigo, que seguirá para os chefes deles, que são nossos amigos do peito. Portanto que se cuidem, porque os seus postos de trabalho até podem estar em perigo, deixando em risco a conclusão deste negócio.

Claro que este seria, e quem sabe se não será, o fim definitivo do outro, ou o culminar do rotundo fracasso de mais este negócio em que se meteu e nos quis meter traiçoeiramente. E depois ainda diz que não temos saída. E tem razão, porque a saída será para ele e a entrada para nós. Ah, que fique bem claro que eu ainda não queria entrar agora. Nada disso.

Por tudo isto, tão limpinho como águas turvas, falta pouco, muito pouco, para se confirmar que, mesmo agora, quem manda já, sou eu.

 

 

10 Abr, 2011

O meu inglês

 

Já lá vão alguns dias em que não apareci por aqui. Mas, a culpa não foi toda minha, tão pouco quero imitar nada nem ninguém, a propósito dessa malvada que ninguém quer e que ninguém é capaz de ter a elevação de assumir aquela parte que, maior ou menor, cabe a todos os anjinhos que só vêem a pureza das suas asas brancas.  

Em primeiro lugar, tenho o privilégio de não vir aqui quando quero, mas quando me deixam e, durante algum tempo ‘o meu servidor’, segundo as janelas que se abrem perante os meus olhos um tanto desconfiados de ‘marotice’, se fecha em copas e me dá uma valente tampa quando chego ao clique de acesso.

Em segundo lugar, aproveitei a oportunidade para me dedicar ao inglês, visto que é o que está a dar nesta época. Li muita coisa em inglês, fui muitas vezes ao dicionário Inglês/Português, julgando que em poucos dias de impedimento comunicacional, me punha em condições de, também eu, ser capaz de seguir esta tendência que sobreviveu ao meu impedimento.

Em terceiro lugar, e já na posse deste meu espaço, passei três dias estupidamente a ouvir falar em português nas televisões e o resultado não podia ter sido pior. Não só não aperfeiçoei essa querida língua mãe, como ainda esqueci tudo o que tinha já aprendido do inglês que me levaria a concorrer com a moda que está a dar.

É verdade que tentei escrever isto, esta coisa, em inglês, mas não consegui lembrar-me de nada do que já sabia. Cada palavra, da mais simples à mais complicada, da mais pequena à mais extensa em termos de sílabas, lá tinha de recorrer ao dicionário Português/Inglês. Enfim, uma trabalheira que me levou a desistir.

Tudo por causa do português macarrónico das televisões entre a noite de sexta-feira e as três da tarde deste domingo. Não porque fosse muito variado ou intelectualmente profundo, mas porque foi demasiado repetitivo de um lado, e demasiado sarnoso por parte de quem me quis ensinar outra forma de ouvir.

Sim, porque eu não percebo muito do inglês que estou a aprender aqui, nem do inglês que alguns portugueses andam a exportar lá para fora, mas ainda consigo perceber o que alguns portugueses que falam nas televisões dizem em português, para portugueses, sem ter de estar a aturar traduções livres de tradutores rascas, mais rascas que a geração.

Resultado lógico, quem anda à rasca sou eu no meio desta confusão de congressos e congressistas onde acabo por não saber de quem são esses congressos, se são de quem dizem que são, ou se são dos informadores que vão lá para dizer que estão a ver o que estão a pensar que gostariam de ver ali e muito mais para diante.

Perante isto, como é que eu podia escrever fosse o que fosse em inglês, se ainda nem em português consigo entender quem vai tirar-me desta bagunça, que já começou a roubar-me o sono e as ideias, para continuar a dizer aquilo que ninguém entende? Pois, na verdade, estou certo de que, em português ou em inglês, é tudo igual ao litro.

A propósito: a partir da próxima terça-feira talvez fiquemos também a saber se cá, aqui, ficaremos obrigados a falar apenas em inglês, alemão ou francês, ou se ainda poderemos, excepcionalmente, numa despedida de grande significado e relevância de adeus à nossa língua, dizer obrigado em português.  

 

 

 

03 Abr, 2011

Roubar e ganhar

Os treinadores de futebol são uns lírios quando se embrenham naquelas filosóficas escapadelas em que botam ‘faladura’ pelos cotovelos embora, em boa verdade, não sejam apenas eles a passear a língua pelos meandros das ideias turvas e dos pensamentos mais que oblíquos.

É natural que todos eles se esganicem em defesa dos interesses de quem lhes paga e da simpatia ou antipatia dos sócios que os tiram de lá, ou os colocam junto da porta do clube, prontinhos a serem empurrados para dentro ou para fora. Por vezes, estas opções variam de um dia para o outro.

Essa variação depende muito do que se ganha ou do que se rouba. Do que alguém, a mando de alguém, tudo faça para que se ganhe roubando, ou se roube não deixando ganhar. É uma discussão que, de tão longa como o decorrer dos tempos, já não conduz a nada, servindo apenas para que tudo se mantenha como sempre esteve.

Porque o roubar e o ganhar andam de mãos dadas em quase tudo, como se a vida não passasse disso mesmo, uma vida em que quem ganha tem de roubar e quem perde é sempre roubado. Mas hoje, vamos fazer de conta que isso só acontece no futebol, onde a linguagem é daquelas coisas que dão para tudo.

Antes dos jogos, todos vão ganhar, porque são mais fortes ou, reconhecendo que o não são, e para compensar, vão meter mais gás nas pernas, na cabeça e nos braços. Vão contar com a ajuda do além, como se não fosse o aquém que todos têm na mente, depois de se terem desdobrado em contactos e encontros do mais alto grau.

Como são todos muito sérios e honestos só se pronunciam sobre a falta de seriedade e honestidade dos adversários. Para qualquer das partes em confronto, o jogo nunca é um jogo, como tal, de resultado incerto, que dependerá da forma como cada uma das equipas souber contrariar os trunfos contrários.

Depois, ouvimos dizer coisas como esta. Queremos roubar os três pontos ao nosso adversário. Queremos roubar-lhe o título. É bonito ver como muitas vezes se fala verdade sem querer. Porque roubar é o que mais se vê semana a semana. Roubar é um desejo que até parece legítimo.                                                                                                                                                                                                                                                  

Quando esses são acusados de ganhar através do roubo provocado por terceiros, já não se conformam com a ideia. Ora, roubar é sempre roubar, porque nunca se devia ganhar através de um roubo, seja ele de que natureza for. Mas, como todos bem sabemos, de boas intenções está o inferno cheio.

E não sou eu que vou dizer, simplesmente, que uns roubam e outros são roubados. Infelizmente, andarei mais perto da verdade, se disser que a roubalheira vai sendo cada vez mais geral. 

Diria ainda que, cada vez rouba mais, quem menos precisa e, também, é quem rouba mais, que acusa os outros de roubar.