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afonsonunes

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Estou mesmo à beira de um atabalhoamento ao verificar que ele não sabe mesmo nada de nada. É por isso que está permanentemente a pedir explicações ao seu adversário, como se isso lhe desse um lugar na história da ignorância, já que pelo conhecimento está mais que demonstrado que não vai lá de modo algum.

E, se eu fico mesmo atabalhoado, ainda começo a fazer aqui, o que ele anda a fazer por essa volta a Portugal em perfeito estado de atabalhoamento. A continuar assim, não me espantaria de o ver entrar por Espanha a dentro, a dizer que o seu inimigo se prepara para a invadir, alertando os espanhóis para esse perigo perfeitamente previsível.

Claro que no dia seguinte diria que isso fora apenas uma maneira de alertar o mundo para a perigosidade do tal fulano. Acrescentaria ainda que quem já espatifou um país e levou a Europa a seguir-lhe o exemplo, caminhando para o espatifamento comunitário, tem de ser travado, nem que seja com imagens de pensamentos abalroadores.

O homem tem um sentimento que o coloca no meio do caos, onde o seu adversário/inimigo o fustiga com toda a espécie de crueldades, nomeadamente, falando uma linguagem que ele, homem, não percebe, talvez porque seja o mais ignorante dos políticos que vieram de fora, de muito longe, e resolveram entrar em competição com os de cá.

Daí que tenha de mandar, melhor, exigir, que tudo lhe seja explicado com todos os pormenores, exigência que o seu adversário/inimigo entende serem explicações a quem anda a aprender, logo, têm de ser pagas, pois todo o trabalho extraordinário, principalmente, o dos sábados e domingos, tem de ser pago a dobrar, como manda a lei.

E a verdade é que a ignorância até parece que aumenta aos fins-de-semana, tornando assim a vida do explicador num verdadeiro centro cultural, aberto em permanência, mas privando-o de dar um pouco de descanso à garganta, já mais roufenha que as vozes avinhadas dos cantadores de adegas em desgarradas de cair de borco.

Esclareço que nem o homem, nem o seu inimigo, caem de borco, pois ambos são de uma verticalidade que só se distingue pelo que cada um deles diz da do outro. Depois, eles também não entram em desgarradas, demonstrado que está que o homem não sabe nada de nada, enquanto o inimigo sabe demais.

Ora, com esta diferença cultural, manda a lógica que o homem seja aprendiz da arte em que o inimigo é mestre. Porque, assim, estará sempre dentro da normalidade, ou seja, o aprendiz a pedir explicações ao mestre. Embora, deste modo, obviamente, lá virá um dia, não se sabe quando, em que o aprendiz sabe tanto ou mais que o mestre, se souber aprender.

Porém, se o aprendiz se quer fazer mestre à pressa e manda este embora, vai perder muito tempo à sua procura, de cada vez que tenha uma dúvida que só o verdadeiro mestre pode esclarecer. Além disso, não se vê que um mestre injustiçado queira continuar a tirar dúvidas a um aprendiz mal-encarado e mal agradecido.

Como estamos em campanha eleitoral não quis falar de política, porque eu não sou candidato a coisa nenhuma. Até porque entendo que não sei nada de nada, como muita gente que sabe tudo e de tudo.

Por essa razão, nunca cairia na asneira de ter de andar a pedir explicações, como qualquer aprendiz, a um qualquer mestre que tenha considerado incapaz e incompetente. Mas, nunca se sabe o que o futuro nos reserva.  

 

 

26 Mai, 2011

Desintoxicação

 

É frequente ouvir dizer-se que o PS e o seu secretário-geral controlam a comunicação social através de vozes do dono que encherão o país das tais mentiras que ficam sempre em abstracto, quer quanto ao conteúdo, quer quanto à justificação ou não, da sua existência.

Não tem havido, verdadeiramente, uma discussão séria e aberta, com intervenientes de ambas as partes, devido à grande desproporção entre os ‘prós e os contras’, bastando contar em cada órgão de comunicação social quantos militam para um lado e para o outro.

Esse desequilíbrio é gritante nas televisões, onde tudo o que emite opinião ou comentário é afecto ao PSD, com excepção de um ou outro PS discordante da orientação do partido. Claro que estou a referir-me aos assíduos e não aos acidentais ou integrados em notícias do dia.

Tal ideia de controlo por parte do PS e do governo, cai pela base logo que se constata esta realidade, pois não é sequer pensável que esses adversários se deixassem controlar ou manipular por aqueles que, a olho nu, são atacados permanentemente sem dó nem piedade.     

Esta vantagem do PSD, que ainda vai tendo a companhia frequente do CDS, do PCP e do BE, naquilo em que interessa atacar o PS e o governo mas, principalmente o PM, tem sido um autêntico massacre verbal ao longo do mandato de Coelho, diria mesmo uma verdadeira obsessão, com argumentos nem sempre sérios, nem sempre verdadeiros.

É evidente que os partidos existem para se digladiarem mutuamente, para que cada um manifeste as diferenças programáticas que os separam uns dos outros. Já é uma aberração, quando o único programa seja massacrar uma pessoa, com verdade ou sem ela. Pior ainda quando se esconde o próprio programa que devia ser discutido.

E, pior ainda, quando as propaladas mentiras são contingências de decisões de quem tem de as tomar em contextos bem diferentes daqueles em que foram decididas, e sob pressão de acontecimentos que se não dominam internamente, muito menos pessoalmente.

Daí que a intoxicação tenha tomado proporções de um flagelo que parecia incontornável para quem, sem máscara protectora nem voz para gritar contra os envenenadores, estava condenado ao último suspiro sob uma festa que já não escondia os foguetes e as fanfarras dos mais foliões.

Foliões que, entusiasmados com o sucesso fácil dos seus argumentos, desataram a cair na tentação de engrandecer esses argumentos com mentiras de fazer com que as contrárias, começassem a ficar reduzidas a insignificâncias quando comparadas com as suas.

Porém, com o começo da campanha eleitoral que decorre, começou o combate que passou a ter quatro vozes, permitindo que a desintoxicação se vá processando normalmente, por mais que os causadores da intoxicação se esforcem por lhe manter os níveis anteriores.  

Agora, até os que falam por fora têm de ter muito cuidado com o que dizem, porque lá fora, na rua, o povo vê e sente o que se passa à sua volta, sem ter de ficar a olhar para aquilo que os outros dizem, palpitam ou inventam, nos locais onde lhes pagam bem para dizer mal.

Lá fora, na rua, quem é atacado tem possibilidade de se defender de imediato e de atacar com as mesmas armas de quem se excede, porque o dinheiro ainda não comprou a rua, nem se vê que ela possa vir a ser privatizada.

A rua é o palácio dos pobres. É a casa de toda a gente. É o refúgio dos que não têm tecto. Mas a rua é também o local onde se protesta, com razão ou sem ela, e onde se responde aos que querem comprar ou alienar tudo, incluindo o poder, a verdade e a razão.

Coisas que têm de ser adquiridas através da conquista séria, feita através do convencimento dos cidadãos a aderirem às suas propostas e não do seu engano ou do desconhecimento das condições que lhes vão ser impingidas à socapa no futuro. Não chega dizer que os outros não prestam. Tem de se demonstrar que são melhores que eles.

O que se passou e está a passar não foi, nem é bom para ninguém. Avaliar onde e como podia ter sido melhor, sem vícios apreciativos, não parece ao alcance de ninguém. Os indícios primeiro, e as provas a que vamos tendo acesso agora, pendem mais para imaginar que podia ter sido pior com outros aos comandos.

É tempo de campanha eleitoral. É tempo de limpar os podres reais, mais que os podres imaginários. Que a campanha sirva para desintoxicar, a fim de que todos possam saber de facto de onde vêm os piores venenos para o país e para os cidadãos.

 

 

24 Mai, 2011

Morreu o coveiro

Logo agora que o governo está em gestão é que o coveiro lá do sítio se lembrou de lhe dar o badagaio. Há quem diga que ele era um PSD do mais macarrónico que se possa imaginar, a ponto de fazer discriminação na quantidade de pazadas de terra que deitava lá para dentro, consoante a cor do caixão do finado.

Também se diz à boca cheia que o coveiro que agora abriu uma vaga na função pública, apressou a sua decisão para fazer estalar uma polémica em tempo de campanha eleitoral, em torno da sua substituição. Realmente, se isso for verdade, o amor partidário é uma coisa muito mais forte que a vida de um apaixonado pela política.

O governo está em gestão e o lugar de coveiro não pode estar vago, porque os mortos não podem deixar de ser enterrados em tempo útil. Por outro lado, a vaga de coveiro só pode ser preenchida pelo governo que sair das eleições, coisa que ainda vai demorar uma data de tempo, talvez muito mais do que se pensa.

Pensando neste imbróglio, a autarquia arranjou um candidato a coveiro para enterrar o anterior, antes que o cheiro se notasse. Avisou o homem que não podia ser nomeado já, porque só com o futuro governo em funções lhe podia ser dada posse. O coveiro ainda recalcitrou dizendo que, se não tomava posse, como é que começava já trabalhar.

Oh homem, o diário da república está fechado, logo, ninguém pode tomar posse sem sair a publicação da nomeação. E foi assim que o homem começou a trabalhar, mesmo pensando que o novo governo o podia mandar dar uma volta, nomeando outro a seu gosto para o lugar que já estava a ser desempenhado. 

Mas, o coveiro já enterrado mandou uma mensagem lá de baixo ao seu presidente, alertando-o para o facto de já ter sido substituído, sem que tivesse saído a sua vaga no diário da república. E aqui começou a grande polémica ao segundo dia da campanha eleitoral, que até tinha começado calminha como um laranjal juncado de rosas desta dita cor.

Ora o presidente do coveiro, tratou logo de fazer divulgar que queria ajudar o governo a esclarecer este episódio simples, resultante da actuação de algum simples servidor menos cumpridor e que, de maneira nenhuma, queria criar um facto de campanha. Claro que não criou, pois apenas apareceu uma polémica.

E campanha sem polémica é que se não podia imaginar. Disse ele que o governo tinha toda a legitimidade para fazer nomeações. Mas, o governo não nomeou o coveiro. Diz o presidente que o governo escondeu a publicação. Mas, se o governo não nomeou, a publicação também não podia ter tido lugar, logo, não foi escondida.

Parece que afinal houve mais cinco coveiros que tiveram de entrar ao serviço em situação de emergência. Não se sabe se todos telefonaram ao mesmo presidente. Também não se sabe a que propósito os coveiros estão a ter tanta importância na campanha eleitoral. Talvez se presuma que o país está todo a cheirar a mortos ou a cera de velórios.

Deus nos livre que os coveiros se lembrem de que podem enterrar a campanha eleitoral, alegando que ela não fazia cá falta nenhuma, pela simples razão de que lhes atrasa as nomeações, as publicações e as tomadas de posse. E, vamos lá ver se não se lembram dos políticos que já andam a cheirar a cera.  

Isto agora é a sério, diz um. Pois eu digo que até já as polémicas não são para levar a sério, embora haja quem não possa passar sem elas, porque vive delas e para elas.

 

 

22 Mai, 2011

Não és o único

Já começava a estar farto de ouvir falar apenas de um mentiroso neste país que, sendo pequeno, não o é assim tanto, que se dê ao luxo de ter verdadeiros a tropeçar uns nos outros. Se assim fosse, tenho a certeza que nós, portugas, estaríamos na vanguarda da Europa, quiçá do mundo, em termos de gente verdadeiramente de palavra.

Felizmente que tudo mudou como por encanto, desde que se começaram a ouvir vozes que, de algum modo, estavam permanentemente a ser abafadas pelos faladores pagos e seus patronos. E, atrás deles, um batalhão de ecos devidamente afinados, diria mesmo que convenientemente uniformizados.  

Isto só foi possível devido a um estalar de dedo com volume, que pôs o país no alvoroço de ter de deitar cá para fora, tudo o que andava comprimido lá dentro de cada um, uma vez que, mais uma vez, lhe ia ser dada a possibilidade de mexer no poder, esse cancro que, cada vez mais, parece não ter cura.

Foi então que me apercebi que, afinal, há muitos mentirosos espalhados por aí. Porque se conclui que, quantos mais falam, mais são os mentirosos. Não é só um, nem tão pouco são os que vêm do mesmo lado. São muitos, quase arriscaria a dizer que já são todos, e vêm de todos os quadrantes e de todas as origens.

Já que todos mentem, espero que permitam que me inclua no rol dos mentirosos inveterados, só não sabendo ainda se devo ficar no lote dos ignorantes, dos interesseiros ou dos de má fé. Ainda não decidi porque, na verdade, não estou suficientemente preparado par tomar uma decisão tão importante para o meu ego.

O lote dos mentirosos de má fé parece-me o mais robusto em termos de adesões, sendo constituído por mentirosos que não têm grandes necessidades de sacar, gostando mais de socar, se possível, com aqueles instrumentos de artes marciais imaginários sempre actuantes no pensamento, como se vivessem permanentemente os golpes que mais gozo lhes dão.

O lote dos mentirosos interesseiros tem características muito pacíficas, trocando palavras doces por dinheiro graúdo, sempre com o olho nos negócios do vizinho, espreitando a oportunidade de lhe meter a mão na algibeira, mesmo à vista de toda a gente, prometendo nada tirar, mas antes, colocar ali este mundo e o outro.    

O lote dos mentirosos ignorantes inclui predominantemente todos os mentirosos inocentes ou não, com mais ou menos inteligência, com maior ou menor grau de ignorância, todos com uma vontade enorme de a mostrar, falando pelos cotovelos, já que nem sempre a boca comporta uma língua tão grande, completamente desligada do cérebro.

Com três lotes de mentirosos deste calibre, como é que eu hei-de decidir onde devo incluir-me. Claro que não é nada fácil. Contudo, estou inclinado a entrar no lote dos mentirosos ignorantes e, dentro destes, nos inocentes, por me parecer que sempre é mais benéfico para o meu espírito de mentiroso com consciência.

Ultimamente, tenho dedicado algum tempo a observar e a catalogar os mentirosos que vejo e oiço, que são muitos, obviamente, nesta altura em que todos andam já agitados desde as unhas dos pés à raiz dos cabelos. O meu trabalho tem sido um monte de complicações, porque todos mentem a torto e a direito.

Admiro especialmente todos aqueles que, como eu, se envolvem nesta mentira do dia-a-dia, tanto da escrita como da leitura no meio que nos rodeia, porque é impossível, repito, é impossível, que alguém consiga dizer uma verdade, que não seja logo contestada e classificada como mais uma mentira por algum mentiroso discordante.

Desde o tipo que passa o dia à porta do café a mentir ao parceiro do lado, até a qualquer um dos que sonham vir a ganhar a taluda do dia cinco do mês que vem e todos os que giram atrás deles, mentindo várias vezes a cada quilómetro de estrada, todos se excitam com as mentiras que julgam que me impingem, mal sabendo eles que quem lhes prega as maiores mentiras sou eu.

Sim, porque todos eles sonham com a verdade da minha simpatia. Mas, de verdade, apenas podem contar com a mentira de os não conhecer de parte alguma.

 

 

19 Mai, 2011

Depois de mortos...

Viver e morrer faz parte do destino de todos os seres vivos. Ninguém é eterno e ainda bem, porque os bons têm de dar lugar a outros bons e os maus têm de deixar em paz aqueles a quem envenenaram a vida.

A verdade é que há uma certa tendência por parte de gente que entende que depois da morte tudo se deve ignorar, por considerar que todos os finados, coitadinhos, acabam por não merecer a chamada para prestação de contas no Além.

É um sentimento que peca pela injustiça de misturar vidas dignas com vidas indignas, mortes que são perdas para muita gente e mortes que são um alívio para grandes sofrimentos passados e, sobretudo, para que o mundo fique melhor.

Diz um ditado antigo que, quem com ferros mata, com ferros morre. Sem que isto tenha a ver com a pena de morte, entendo que quem se envolve numa guerra em que mata a torto e a direito, não pode esperar clemência dos seus adversários no campo de batalha.

Coisa bem diferente é a captura ou a rendição enquanto dura o confronto. Nessas circunstâncias, ninguém tem o direito de tirar a vida a ninguém. Mas, quem está escondido, à espera de poder matar, não se pode considerar que está fora do campo de batalha. 

Daí que, lamentar a perda de uma vida destas, numa guerra suja e violenta de muitos anos, é um atentado a todas as vítimas que provocou, se não for uma daquelas paixões ideológicas ou similares que se sobrepõem ao mais elementar respeito por vítimas que nunca mataram.

A morte de um assassino de massas é apenas um acerto de contas com o destino, que não festejo, mas que me leva a pensar que ainda se presta contas pelo bem ou mal que se faz por esse mundo. E isso é um bálsamo para quem foi vítima inocente de quem nunca conheceu.

Pena é que tanta complacência com criminosos desse tipo, não tenha igual complacência para com quem erra involuntariamente ou, simplesmente, porque faz, ou tenta fazer, o seu melhor. Aí, reina a sentença implacável do ódio e de outros sentimentos mais que primários.

Crimes são crimes, depois de provados e julgados. Mortos ou vivos, todos os criminosos devem pagar pelos seus crimes. Nesta vida ou na outra, se ela existir. Pactuar com os piores e ter sempre o dedo apontado a outros, só porque se julga que o são, é muito perigoso.

Sobretudo, mostra uma contradição interior incompreensível, à luz de um perdão levado ao extremo, ou à sombra da crueza de uma condenação que pode levar a consciência à beira de um sentimento criminoso.

Porque todos têm uma coisa a que devem obedecer cegamente. A consciência, se é que a conservam limpa e tranquila. Será através dela que todos serão julgados, mais cedo ou mais tarde. E nem todos serão bonzinhos, mesmo depois de mortos.

 

 

17 Mai, 2011

O homem do facebook


Tem todas as condições para se dirigir aos seus concidadãos. Tem todos os meios de braços abertos para acolher as suas palavras. Tem quase toda a gente de ouvidos à escuta. Porém, prefere pronunciar-se através do facebook, sobre os problemas que afectam, principalmente, quem não pode dispor desse poderoso meio, apenas ao alcance de quem tem cultura e dinheiro para dele beneficiar.Não quero acreditar que essa preferência exclusiva, que podia ser uma boa diversificação, não seja uma maneira de comunicar apenas com um parte dos seus "súbditos". Contudo, a obrigação e o dever seriam um relacionamento por igual com todos os portugueses. Mas, quem escolhe, discrimina.
 
 

Os senhores do dinheiro que vieram dar uma ajuda, segundo uns, dar um aperto fatal nos gasganetes dos portugueses, segundo outros, chegaram cá e desde logo mostraram que não vinham para ser enganados, fartos de ouvir dizer a toda a hora que o país andava todo enganado, uns de uma maneira, outros de outra.

Mas, preocupava-os sobremaneira aqueles que, era bem evidente, se enganavam a eles próprios, através de um acto que em tudo se assemelha a uma auto flagelação constante, como forma de ganhar as graças não se sabe bem de quem. A mim, dá-me a sensação de que pretendem chegar ao céu dizendo que Deus os enganou.

Caladinhos no meio da vozearia, os senhores do dinheiro, salvadores ou carrascos, toparam logo que não podiam dar confiança a todos, do mesmo modo que também reconheceram de imediato, que não iam receber a confiança de todos os que queriam ouvir. Questões de pelos, pensaram eles, como se já tivessem adivinhado o pensamento de um ilustre intermediário.

Portanto, essa coisa do quem engana quem, ficou perfeitamente esclarecida. Agora eu acrescento que, se realmente alguém conseguiu enganar alguém, tenho de reconhecer que só pode ser quem tem méritos muito acima da média, contrariamente a quem admite poder ter sido enganado várias vezes, sem nunca ter dado por isso no momento próprio.

Bom, mas deixemos lá os enganos ou desenganos, que já têm um cheiro característico de coisa estragada. Passemos antes às pequenas grandes coisas que a troika não conseguiu ver enquanto esteve no meio delas. Tenho mesmo a sensação de que não quiseram ver as parangonas dos jornais e as aberturas dos telejornais.

Certamente, prevendo que se o fizessem, lá se ia a sua independência. Provavelmente, teriam receio de não resistir àquelas influências da apregoada roubalheira generalizada, ou pelo menos à fama delas, ao receio de ir na conversa dos bons ou dos maus das fitas que passam sem classificação etária nem tão pouco de qualidade digerível.

Há apenas uma pessoa que pode ter tido o privilégio de ter fintado os tais três, com aquela rara inteligência que se lhe conhece, para passar a perna a quem se julga muito esperto. Eu, sinceramente, entendo que o país perde muito em ter apenas uma única pessoa com o talento suficiente para um feito desta natureza.  

Imagine-se, se tivéssemos mais quatro pessoas dessas. A troika não teria hipóteses de nos submeter ao vexame de aceitar o que lhes deu na real gana. Porque sempre seriamos cinco do nosso lado e três do lado deles. Assim, com dois votantes abstencionistas, com dois votos de apoio com aclamação e um voto de resignação, nada feito.

Mas, vá lá, ao menos que tivéssemos um enganador, secundado pelo enganado que, nesse caso, seria apenas conivente. É verdade que perderíamos por três a dois, mas uma derrota à tangente é muito diferente de encaixar uma goleada. Ainda por cima em casa. Andamos eternamente a aprender.

A propósito de vitórias e derrotas, e com a bola a fechar portas esta noite, lembrei-me de chamar a atenção para o facto da troika não se ter apercebido do estado da bola que se joga por cá. Sinal de que os três craques não são assim tão eficazes como se pretende fazer crer. Há sempre qualquer coisa que escapa aos mais atentos.

A menos que a bola esteja incluída no pacote da justiça. Se assim for, então cala-te boca, que já cá não está quem falou. Esta minha ignorância persegue-me a toda a hora. Aliás, tenho uma desculpa. Isto, já são pacotes a mais para a minha eficiência. Ou então, essa coisa de pacotes, decisivamente, não é comigo.

Mas, aquilo que descaradamente a troika não viu, foi que mandou assinar uns papéis a uns indivíduos que, ou não os leram, ou não sabem mesmo o que leram, correndo a troika o risco de, daqui a três meses, quando voltar, lhes chamar analfabetos.

 

 

11 Mai, 2011

Nada disso! ...

Cada vez há mais finos que se comportam como grossos. É uma coisa incompreensível mas a verdade é que os finos pululam por tudo quanto é sítio, grossos que nem uns carros de bois, com os olhinhos em bico, procurando descortinar a ignorância para desovar nela as suas teorias altamente refinadas.

Refinadas porque também elas, as suas teorias, eram tão grossas como os tais carros de bois, antes da refinada operação que lhes deu o aspecto de finura exterior para que o consumidor final não as rejeitasse com o vómito explosivo que elas mereciam, se fossem apresentadas com a sua grossura original.

Finos manhosos são todos os grossos que conseguem impingir a sua aparente finura a grossos que aceitam como reais todas as aparências com algum adorno, ainda que mal amanhado, ainda que vagamente reluzente pelas manhas de algum pirilampo que tem magia no seu piscar constante e enganador.

Até parece que nunca se piscou tanto à direita como agora, numa tentativa de fazer crer que o pisca para a esquerda não funciona. É verdade que os finórios são muito mais manhosos quando abrem apenas o seu pisca, normalmente o da direita, no qual até instalaram uma lamparina de luz mais intensa que a do lado esquerdo.

É tudo uma questão de brilho que atrai os insectos de vista mais sensível que vão esmagar-se irremediavelmente contra o foco mortífero. É tudo uma questão de aprender a viver com a percepção de que há muitas maneiras de morrer. É tudo uma questão de escolher o pisca certo na hora de enfrentar os dois que se tem na frente.

Virar à esquerda é, cada vez mais, uma manobra perigosa. Não por causa do percurso, mas por causa dos obstáculos que a direita, sorrateiramente, vai colocando à beira dele, nomeadamente, retirando os sinais de informação correcta, trocando-os por sinais errados, que conduzirão a que muita gente não chegue ao destino que havia escolhido.     

Verdade seja dita que a esquerda, alguma esquerda que se confunde facilmente com alguma direita, digamos que uma espécie de gente híbrida dos dois quadrantes mais afastados do espectro político, têm muita culpa desta espécie de ódio crescente entre o dinheiro em excesso que não dá felicidade e a riqueza de ideias que não pode viver sem algum dinheiro.

O país e o mundo debatem-se no meio deste pântano que não foi criado por ninguém em particular, que ninguém em particular pode ser responsabilizado por não se ter saído dele, ou mesmo de não se ter entrado nele, pois tudo reside numa força cada vez mais poderosa que se chama capital, que o mesmo é dizer dinheiro.

Capital e dinheiro, um colosso criado por homens sem rosto de todo o mundo, a que outros homens com rostos bem conhecidos aderiram e aderem todos os dias, de todos os países, comprando o que não tem preço, vendendo o que não existe, destruindo vidas com a maior das crueldades.

Chegados a esta encruzilhada, nenhum país pode viver isolado, sem intercâmbios com outros países, sendo tão independente quanto sonham alguns. Mas, no meio do pântano, há que saber escapar dos tubarões que andam à nossa volta. Finos, mesmo finórios, não deixam de tirar os olhos de nós, para nos impor a sua grossura sangrenta.

O percurso é mau. É muito difícil. Mas há sempre escolhas que, parecendo iguais, não o são. Mesmo falando de finos e finórios, há sempre algumas diferenças que nos indiciam qual o melhor caminho neste deserto onde a sinalização, ou não existe, ou é muito enganadora, por vezes, completamente falsa.  

E então agora, à beira de uma campanha eleitoral que se queria séria, é um fartote de poucas vergonhas, por parte de quem devia ter vergonha na cara. Devem pensar que o país é um curral de burros, que só vêem o chicote dos donos do dinheiro. Nada disso! …

 

 

Sócrates até estaria disponível para governar comigo, mesmo que todos os seus adversários, perdão, inimigos, lhe mostrem e demonstrem que, com ele, nada feito. É evidente que sem ele, também nada feito, ou seja, a única alternativa possível para um governo forte, terá de ser constituída pelo Passinhos e pelo Silvinha.  

A alternativa, eu com Sócrates, carece do visto de Belém e isso não tem hipótese, já que eu, não sendo belenense, tenho o azar de ser benfiquista, o que, desde logo, inviabiliza qualquer arranjinho na desportiva. Portanto, Sócrates comigo está fora de questão. Até porque já me constou que ele também é benfiquista como eu.

Ora, num país em maré de azul, como é que não há-de andar no ar tamanho asco ao vermelho e a todos os que se confessam tocados por esse anátema, ainda que amenizado pelo perfume e pela cor da rosa. Isto só se compreende que alguém, mal intencionado, claro, tenha deitado no vermelho umas latadas de amarelo.

Foi assim que tudo, perdão, quase tudo, começou a ficar alaranjado, com a ajuda do pincel de Belém e os gatafunhos da trincha do menino da S. Caetano à Lapa. Sinceramente, não sei se estes bairros ou ruas são muito ou pouco próximas, mas que se pintaram de igual, disso não tenho a menor dúvida.     

Eu só queria ajudar à formação da tal alternativa que o Passinhos e o Loucinha, de braço dado, já recusaram. Resta saber o que vai dizer o Portinhas sobre quem vai integrar o seu governo, sabendo-se já, que pretende ser primeiro-ministro. Resta saber se encontrará quem queira ser segundo dele.  

Ao que parece, Sócrates governa com todos, desde que seja ele o primeiro. O mesmo virá a acontecer com os outros se forem os primeiros, mas só o Portinhas não se importará de ser segundo do Passinhos. Contas complicadas estas. Daí que não me admiraria nada que a massaroca que tanta falta está a fazer, fique pelo caminho.

Ainda temos o Jeroniminho que talvez se entenda com o Loucinha mas, para chegarem ao Passinhos, era preciso que o Portinhas ficasse fora de serviço. Depois, uma alternativa de esquerda, mesmo sem Sócrates, talvez ficasse muito direita com Passinhos à frente. Mas, nestas coisas de poder, já nada espantaria.

Comigo fora de qualquer solução governativa, só o Silvinha pode salvar este imbróglio governativo que se avizinha. E, no meu entender, isso só será possível, se ignorar que eu e o Sócrates somos benfiquistas pensando, por exemplo, que o Benfica já foi laranja. E laranjas ainda são o que não falta por lá.

A verdade é que está a fazer falta um governo. Um governo forte. Forte como o Sócrates, simpático como o Passinhos, aberto como o Portinhas, certinho como o Jeroniminho e engraçado como o Loucinha. Se eu fosse convidado a integrá-lo, seria ainda mais forte, ou não fosse eu a dar-lhe a verdade que falta a todos eles.

Agora que o pior, o mais difícil, que é o programa do governo, está feito, e sabendo-se que não há aquela conversa fiada do passa não passa na assembleia, até eu não me importava de ser primeiro-ministro, ainda mesmo que para aí com cinco ministros, cinco secretários de estado e meia dúzia de moços de recados.

E, tenho a certeza de que, mesmo assim, ainda passava uma vidinha em beleza pois, com tudo privatizado e o resto parado ou suspenso, ficava apenas com umas reuniões de rotina com os amigos da sueca. Sobretudo, não havia aquele problema do dinheiro que chega ou não chega para pagar a este ou aquele mais impaciente.

Está fora de questão que me queiram lá. Está à vista que não querem lá o Sócrates. Está quase à vista que o Sócrates não os quer lá a eles. Está a parecer-me que o Silvinha não quer fazer ondas, ou se quer, terá de provocar um tsunami de que ninguém está a ver as consequências, tanto no mar, como em terra ou no ar.

A solução parece muito complicada mas não é. E, acima de tudo, todos eles a merecem, com excepção da minha pessoa, que tudo fiz para que não chegássemos a esta situação. Aliás, estou convencido de que ela só existe porque o Benfica está mesmo muito fraco. Mas eu não tenho culpa nenhuma. E o Sócrates também não.

Tudo ponderado, é justo e, muito mais que razoável, que quem fez o programa de governo, a D. Troika, que venha governar o país até que esta tropa se entenda. Mas, que fique bem claro que comigo, também não podem contar.

 

 

05 Mai, 2011

As nossas troikas

Acabo de assistir ao espectáculo da troika que vai meter o país na ordem, segundo opiniões abalizadas na matéria. E o espectáculo resultou da simplicidade da sua estratégia, do método do silêncio no meio da algazarra, da eficácia dos resultados contra a destruição dos catastrofistas e dos olhos bem abertos num campo completamente minado.

Alguém disse que a troika vê mais com os olhos fechados que, digo eu, muitos dos nossos lunáticos com todas as antenas de fora a fingir de pirilampos. Alguém disse que esperava que a troika não tivesse sido enganada com as mentiras do costume. É que as mentiras do costume não têm exclusividade de ninguém.

Penso que a troika não se deixou enganar mesmo por ninguém, nem sequer por aqueles que se julgam detentores das verdades absolutas. Precisamente, porque a troika não veio para cá de olhos vesgos, nem está contagiada pelos que vêem tudo com óculos de graduação muito inferior à tabela e coloração muito duvidosa.

Não tenho dúvidas de que teria sido muito mais útil ao país, um acordo fabricado cá dentro e aprovado cá dentro, mas isso estava bem evidente há muitos anos, que os casmurros de cá, nunca seriam capazes de fazer isso. Daí que esses casmurros de cá, defendessem, também há muito tempo, a vinda da troika.

Porque assim, embora tenham de assinar por baixo, dirão sempre que a culpa não é deles. E assim, lá ficam de consciência tranquila perante os seus fanáticos apaniguados. Porque assim, já lhes é fácil sacudir a água do capote, e assim manterem a esperança de que ainda lhes restem as migalhas do banquete de que virão a levantar a mesa.

A troika estrangeira já fez o seu trabalho. Agora, falta saber se a troika nacional é capaz de se entender bem e depressa, como aconteceu com aquela. Saber se a troika nacional é capaz de produzir trabalho, em lugar de frases bombásticas para os telejornais, e títulos garrafais para os jornais que já ganharam o epíteto de muito especiais.

Em boa verdade, continuo a pensar que a nossa troika política é muito semelhante a outras troikas que dominam o país, em sectores essenciais da nossa vida colectiva. A começar pelas troikas desportivas que logo à noite, farão esquecer a crise, os políticos, a troika estrangeira que já nos lixou, e a troika nacional que nos vai continuar a lixar.

Braga, Benfica e Porto, mas que troika, farão esquecer o feito positivo que estão a conquistar para o país, para trazerem para a praça pública, como sempre têm trazido, aquelas questiúnculas menores, aqueles arremedos de superioridade, aquelas piadinhas venenosas e todo um festival de vaidades e de virgens de exclusiva pureza.

Claro que se pode falar da troika de presidentes, como se pode falar da troika de treinadores, todos eles sempre na vanguarda da gabarolice e, quantas vezes, da mentira mais descarada para conseguir que mais uns tantos incendiados se atirem para o meio das multidões mais receptivas a esses contágios que atingem loucuras incontroláveis.

Não faltam troikas por aí a destrambelhar outros sectores da vida nacional que bem podiam ser o estímulo para que todos aqueles que querem, e são muitos, consigam dar a volta por cima a todas as virulentas e maquiavélicas estratégias que, de tão más que têm sido, produzem vergonha no íntimo de quem precisa que seja uma troika estrangeira a ditar as suas leis na nossa terra.

Pelos vistos, até houve cá quem fosse capaz de definir a estratégia. Faltou, porém, quem fosse capaz de a levar à prática sem as ameaças de fora. Espero bem que quem não ajudou a construir, não ajude a destruir o que já está feito.

 

 

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