O homem não sabe nada
Estou mesmo à beira de um atabalhoamento ao verificar que ele não sabe mesmo nada de nada. É por isso que está permanentemente a pedir explicações ao seu adversário, como se isso lhe desse um lugar na história da ignorância, já que pelo conhecimento está mais que demonstrado que não vai lá de modo algum.
E, se eu fico mesmo atabalhoado, ainda começo a fazer aqui, o que ele anda a fazer por essa volta a Portugal em perfeito estado de atabalhoamento. A continuar assim, não me espantaria de o ver entrar por Espanha a dentro, a dizer que o seu inimigo se prepara para a invadir, alertando os espanhóis para esse perigo perfeitamente previsível.
Claro que no dia seguinte diria que isso fora apenas uma maneira de alertar o mundo para a perigosidade do tal fulano. Acrescentaria ainda que quem já espatifou um país e levou a Europa a seguir-lhe o exemplo, caminhando para o espatifamento comunitário, tem de ser travado, nem que seja com imagens de pensamentos abalroadores.
O homem tem um sentimento que o coloca no meio do caos, onde o seu adversário/inimigo o fustiga com toda a espécie de crueldades, nomeadamente, falando uma linguagem que ele, homem, não percebe, talvez porque seja o mais ignorante dos políticos que vieram de fora, de muito longe, e resolveram entrar em competição com os de cá.
Daí que tenha de mandar, melhor, exigir, que tudo lhe seja explicado com todos os pormenores, exigência que o seu adversário/inimigo entende serem explicações a quem anda a aprender, logo, têm de ser pagas, pois todo o trabalho extraordinário, principalmente, o dos sábados e domingos, tem de ser pago a dobrar, como manda a lei.
E a verdade é que a ignorância até parece que aumenta aos fins-de-semana, tornando assim a vida do explicador num verdadeiro centro cultural, aberto em permanência, mas privando-o de dar um pouco de descanso à garganta, já mais roufenha que as vozes avinhadas dos cantadores de adegas em desgarradas de cair de borco.
Esclareço que nem o homem, nem o seu inimigo, caem de borco, pois ambos são de uma verticalidade que só se distingue pelo que cada um deles diz da do outro. Depois, eles também não entram em desgarradas, demonstrado que está que o homem não sabe nada de nada, enquanto o inimigo sabe demais.
Ora, com esta diferença cultural, manda a lógica que o homem seja aprendiz da arte em que o inimigo é mestre. Porque, assim, estará sempre dentro da normalidade, ou seja, o aprendiz a pedir explicações ao mestre. Embora, deste modo, obviamente, lá virá um dia, não se sabe quando, em que o aprendiz sabe tanto ou mais que o mestre, se souber aprender.
Porém, se o aprendiz se quer fazer mestre à pressa e manda este embora, vai perder muito tempo à sua procura, de cada vez que tenha uma dúvida que só o verdadeiro mestre pode esclarecer. Além disso, não se vê que um mestre injustiçado queira continuar a tirar dúvidas a um aprendiz mal-encarado e mal agradecido.
Como estamos em campanha eleitoral não quis falar de política, porque eu não sou candidato a coisa nenhuma. Até porque entendo que não sei nada de nada, como muita gente que sabe tudo e de tudo.
Por essa razão, nunca cairia na asneira de ter de andar a pedir explicações, como qualquer aprendiz, a um qualquer mestre que tenha considerado incapaz e incompetente. Mas, nunca se sabe o que o futuro nos reserva.