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afonsonunes

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31 Jul, 2011

Já temos um rumo

Até há muito pouco tempo todos os portugas tinham o direito, e a oportunidade, de fazerem vida de ricos, mesmo aqueles que só queriam ser ricos, isto é, aqueles que não queriam fazer mais nada que ser ricos. Para os ditos, o dinheiro aparecia não se sabe de onde, mas aparecia sempre a tempo e horas de ser gasto à tripa forra.

Depois, havia aqueles que trabalhavam e ganhavam o suficiente para viver bem. Mas isso era uma ofensa à sua dignidade, porque não ganhavam o suficiente para ser ricos sem ir ao banco. E tantas vezes lá foram que encheram as suas casas e os seus bolsos, mas despejaram os cofres que sempre encontraram de portas abertas.

Isto era um rumo que interessava a muitos portugas com um grau de chico espertismo acima da média mas que incomodava os chicos que se esfalfavam a trabalhar dia e noite para pagar os impostos de onde saíam os balúrdios para sustentar aqueles, mais as suas extravagâncias, que deixaram os bancos de cofres a abanar e o país mais que falido.

Isto era um rumo. Rumo que já deu o que tinha a dar. Agora temos um rumo que substituiu o estado que dava tudo, por um estado que tira tudo. Essa coisa de querer fazer vida de rico fica mesmo só, e apenas, para quem é rico a sério. Os ricos a fingir têm os dias contados, pelo menos no que toca às contas bancárias de onde só se tirava e nada se punha.

O rumo que nasceu agora, diz que quem tem rendimentos, vai pagar aquilo que os ricos a fingir gastaram, e compensar as perdas, perdão, as quebras nos lucros, dos bancos e dos ricos de verdade. Portanto, adeus rumo do reino onde todos comiam, mais ou menos. Bem-vindo o rumo do reino onde todos pagam, excepto os muito pobres e os muito ricos. 

Mas, satisfeito, posso dizer também, que Portugal já tem um rumo. Para já, neste mês de Agosto, o rumo é o Algarve, quiçá naquela praia e naquele paraíso, cujas reservas tanto custaram aos bolsos dos contribuintes que pouco sabem o que são férias. Muito menos, férias no Algarve, mesmo no estado de prevenção e alerta, por causa das arribas.

Sem grande conhecimento de causa, boto-me a imaginar como será bom ir de férias para a nossa mansão de verão, onde apenas temos como vizinhança uns tantos, poucos, amigos e companheiros de tantos momentos felizes, como aqueles que se compartilham na mesma praia, igualmente restrita e bem guardada.

Sobretudo, boto-me a imaginar aquela tranquilidade laboral que só se obtém quando se leva a consciência tranquila de se ter deixado tudo bem entregue na sua residência habitual. Até apetece trabalhar assim, mesmo em férias, mesmo de prevenção, porque tudo está em boas mãos e, como diria um dos nossos heróis, com toda a tranquilidade.

Acima de tudo porque o rumo está traçado, e bem traçado, indelevelmente, pelo menos até ao fim de Agosto, com correios diários entre Lisboa e o Algarve. Daí que os onze motoristas e as nove secretárias para um só patrão, de que já ouvi falar, talvez até tenham ainda de ver incluídos outros e outras, na lista da boa vontade na poupança.   

Em tempos ainda pensei, e não sei mesmo se não ouvi dizer, que neste ano de rumos certos e de vários colossos incertos, não poderia haver férias, mesmo para aqueles que estavam habituados a mais de meio verão de barriga para o ar. Mas, parece que do novo rumo não consta tal barbaridade.  

Afinal, já temos a factura de férias alheias, já sabemos que não nos cabe nenhum bom motorista, nem nenhuma secretária boa, nem vamos ter bacalhau do Pai Natal, só nos resta que tenhamos entrado bem, no rumo que já nos traçaram.

 

 

 

A vida nem sempre é uma caixinha de surpresas. Mas, que tem muito a ver com aquele fazer caixinha, vulgo, fintas, dribles, que tão entranhada está na vida de muitos portugueses de todas as condições sociais, isso é indesmentível. Dá um gozo enorme andar a fazer caixinha com o estado e até a driblar os amigos, se a caixinha valer a pena.

Porém, não há nada melhor que aquele prazer mórbido de fazer caixinha com aqueles de quem não se gosta, mais ainda com aqueles de quem se é adversário, ou mesmo inimigo. Agora imagine-se como tudo isto é a doer quando se trata de política e de políticos, sempre ávidos de chegar mais acima, pisando com força quem atrapalhe.

Desses não tenho pena, porque eles fazem isso aos beijos e aos abraços, tão vulgarizada está essa prática que, mesmo sendo uma vigarizada pegada, não obsta a que se reúnam em volta de banquetes comuns, sem falarem sequer nessas misérias que ficam apenas para português ver nos locais onde as televisões lhes mostrem a representação trágico cómica. 

Vem esta reflexão a propósito de uma digressão à volta de uma caixa sobre a qual, por ser demasiado grande, nunca poderá falar-se de caixinha. Mas pode perfeitamente falar-se de um caixote onde se deposita tudo o que deixa de servir para alguma coisa, ou todos aqueles que foram vítimas do tal jogo de caixinha, tão habitual nas mudanças de ciclo.

Não se trata propriamente do caixote do lixo. Trata-se de encaixotar uns, os do velho círculo de adversários, para encaixar, no lugar deles, os do novo círculo de amigos. Tudo isto é fado, tudo isto é triste, mas tudo isto existe. Que eu me lembre, já ouço isto desde pequenino, apesar de, em todas as mudanças de ciclo, também ouvir dizer que isso ia acabar.

A verdade é que, para encaixar os mais competentes de agora, tem de se encaixotar os mais competentes de outrora. Isto é tão simples e linear que não se passa apenas à volta de uma simples caixa. Até porque o país está cheio de caixas, o que permite um sem número de voltas ao redor das mesmas, sempre com caixotes disponíveis para meter os que sobram.

Bem vistas as coisas até se compreende este jogo do encaixa e encaixota, dentro da lógica de dividir o mal pelas aldeias. Que é como quem diz, dividir o bem entre aqueles a quem nunca poderemos dizer que estão desempregados. Porque eles ganham o suficiente em quatro anos, para ficarem em casa os quatro anos seguintes.

O grande problema está em todos aqueles que vão sendo encaixotados a granel e armazenados nas prateleiras de onde têm poucas possibilidades de voltar a sair, perdendo o ganha-pão e o sustento das famílias, porque alguém, a coberto das novas normas do novo ciclo, entende que ganha mais, com os caixotes cheios e empilhados.  

É evidente que isto é uma ideia retirada de uma caixa muito pequenina, onde tenho muita coisa inútil encaixotada que, volta não volta, teima em querer ser encaixada num sítio melhor. Como se as ideias fossem pessoas que se tiram e põem no caixote quando nos der na real gana. Não, nas minhas ideias mando eu. Da minha caixa tiro e ponho quando e onde quiser.

Eles, os do novo ciclo, também têm as suas caixinhas, certamente que cheias de ideias, de que dispõem a seu bel-prazer, com toda a legitimidade. Mas podiam e deviam ser mais claros, mais explícitos e mais sinceros nas ideias que querem meter na caixa dos outros. Nas nossas caixas.

Facto é, que há-de ser sempre assim. Por mais que mudem os ciclos, só vemos desencaixotar ciclones sociais, apesar de assistirmos a uma arrumação certinha e direitinha de uns tantos que já sabiam antecipadamente que iam ser bem encaixados. E quem alguma vez pensou que desta vez seria diferente, bem se enganou.      

Caixinhas, caixas, caixotes, prateleiras, contentores e armazéns, tudo vão ser pouco para meter o que vai deixar de ter utilidade. Mas, sempre se arranjarão umas hipóteses de encaixar os de utilização indispensável, indiscutível e inegável.

 

 

Julgava eu que os países que tinham chanceler não tinham primeiro-ministro. Também já ouvi dizer que a julgar morreu o outro, provavelmente sem nunca ter tido oportunidade de saber o que era uma coisa ou a outra, tal como acontece comigo, que ainda não percebi lá muito bem para que serve qualquer deles.

E então por cá, onde temos o mau hábito de acreditar que tudo o que existe é bom, até ao dia em que as coisas desaparecem por obra e graça de algum iluminado do momento. Ora, neste momento, pensava eu que muita coisa já devia ter desaparecido, segundo uma profecia que me passou em frente de um ouvido que estava mais atento.

Não sabia, nem imaginava, que até podíamos ter um chanceler, apesar de ter alguma lógica a compensação atribuída a alguém que não conseguiu ser primeiro-ministro. Também se pode pôr isto no feminino, atendendo a que temos o bom hábito de não discriminar ninguém, nem positiva nem, muito menos, negativamente.

Eu, ingénuo, é que pensava que nesta era do novo ciclo havia muitos cargos e honrarias que estavam destinados a ir às malvas. Este ingénuo também pensava que, segundo o princípio da utilidade pública, se começaria a cortar por cima da árvore, que é onde os rebentos mais energias consomem, sem dar os correspondentes frutos.

Mas, tudo indica que se vai cortar por baixo, aos milhares, naqueles que trabalham, para que os de cima, os que mandam, tenham cada vez menos trabalho, a mandar trabalhar os poucos que ficarem. Mas, mais inteligente se me afigura que se mantenham todos aqueles que não fazem mesmo nada, mas têm títulos majestosos.

É que eu não posso imaginar um país em que as pessoas não tenham um chanceler às ordens. Até porque toda a gente sabe o que pode pedir a um chanceler, não podendo prescindir do que ele lhe pode dar. Pelo contrário, acho muito justo que não haja chefes nas repartições públicas, nos hospitais, nos quartéis, nos ministérios, na presidência, enfim…

Aqui, sim, nenhum chefe faz falta, porque eles só servem para fazer fretes aos superiores deles e fazer a recolha das colectas que entram pela porta de serviço. Portanto, é muito mais útil um chanceler, que até tem nome estrangeiro para que ninguém julgue que é um verbo-de-encher à portuguesa, ou um chefe com ordem para desaparecer.  

Não, que fique bem claro que é um chanceler às ordens de todos os cidadãos para o que der e vier, até porque se trata de alguém multifacetado, multi-habilitado e multi-disponível, para resolver todas as tarefas e todas as dificuldades que façam a cabeça em água aos preocupados cidadãos deste país difícil de entender.

Depois, só vai para chanceler quem tiver dado provas de que não vai a reboque de ninguém, nem precisa dos amigos que tem para ser melhor que toda a gente. Também não precisa de concursos, de testes, de entrevistas, mas apenas de provas que, uma vez provadas, são indiscutíveis e não passíveis de qualquer reclamação ou contestação.

É este critério, de concepção completamente virgem no nosso sistema de preenchimento de vagas em tudo quanto é sítio, que vai vigorar no futuro imediato, em contraposição ao velho sistema dos amigos, dos cartões e dos presuntos, agora definitivamente enterrado, conforme foi largamente anunciado antes do novo ciclo se iniciar.

E agora, caros concidadãos, os que tiverem unhas é que tocam guitarra. A coisa está mesmo preta para muitos que as não têm. Porém, para compensar, vamos pensando que, se há muitos chefes a mais, se há um chanceler às ordens, talvez se possa prescindir de um chefe no governo.    

 

 

23 Jul, 2011

Colossal-mente

Temos a sorte de ter um primeiro de mente colossal que, bastou ele abrir a boca fazendo-se eco de outra boca colossalmente insuperável, para que a Europa abrisse os olhos e visse como neste reduto de gente sábia, há crânios com inteligência, coragem e sentido de oportunidade para fazer tocar todas as campainhas de alerta dos riscos que corre a sobrevivência europeia.

Temos a sorte de ter uma troika colossal com o vértice em Bruxelas e os dois pilares cá dentro. Assim, os recados que iam de Belém a S. Bento mudaram de destino, passando agora a ir de Belém direitinhos a Bruxelas, quando Bruxelas não pode vir a Lisboa recebê-los. Isto não é coisa de somenos nos tempos que correm, em que o colossal tomou conta de tudo.

Parece que até a dura e intocável chefe germânica vai amolecendo a pouco e pouco, não sei se por via dos suculentos alertas que vão de cá para lá, se por necessidade própria de não se deixar arrastar na queda colectiva que tantos adivinham, e que bem pode estar a caminhar de lá para cá, como colossal tempestade vinda de leste para oeste.

Não sei se as palavras colossais que se ouvem nos mais variados teatros de operações, são uma mais-valia para as nossas aspirações se, pelo contrário, também elas são campainhas de alarme que prenunciam o fim do espectáculo que, de novo, tem apenas o facto de os novos actores serem obrigados a obedecer ao mesmo ponto, o antigo.

Colossalmente falando, o espectáculo é para bem do povo, como tenho ouvido dizer repetidas vezes. Pena é que não seja o povo a determinar o espectáculo que lhe agrada e então, sem dúvida, ele, o povo, diria que era colossal. Assim, tem de contentar-se com os foguetes que outros lançam ao ar e, uma ou outra vez, ir apanhando as canas que caem lá do alto.

Canas que, ao cair no chão, abrem um buraco colossal, susceptível de provocar um desvio colossal na vereda de quem passa por ali, obrigando a um esforço colossal para retomar a vereda que dá ao povo a segurança de uma viagem através dos campos onde o cheiro a flores e a mato, grosso, como convém, produzem uma embriaguez que só pode ser colossal.

O povo não, mas eu sinto-me completamente frustrado por termos tido o azar de as nossas melhores vozes terem passado tanto tempo a falar baixinho, tão baixo que, infelizmente para nós, ninguém as ouviu lá fora. Teria sido colossal se a Europa tivesse acordado mais cedo, ao som das campainhas de alerta que foram, só agora, de cá para lá.

Olhando para o histórico, colossal, deste espectáculo que vem de lá para cá, verificamos que desde há muito tempo se vinha aplaudindo o que se fazia por cá, através de manifestações de confiança nas receitas de bilheteira, má, mas em vias de melhorar. Agora, também está tudo bem, só que as receitas continuam mal.

Parece que nos garantem que o esforço colossal do homem do ponto vai resultar num êxito rotundo. Só que o público, todos os dias vai ter de pagar mais pelo bilhete, para que o ponto não dê origem a um nó cego colossal. Por enquanto ainda se vai pagando sem bufar. Porque é preciso, porque se não for o público a pagar, adeus espectáculo.

Quem não paga nada são os borlistas que todos os dias estão na primeira fila a bater palmas. Os espectadores da geral, por enquanto, vão na onda e também batem umas palminhas de compreensão, de uma colossal compaixão. Lá fora, para lá da porta, já há quem bata com os pés no chão, talvez porque se esqueça que as palmas não se batem com os pés.

Mas, o que realmente interessa realçar, é que o espectáculo colossal está vivo, actuante e virado para o bem do povo, que terá a sua recompensa. Porque, mesmo que o sacrifício seja colossal, mais colossal será a sua satisfação de ter contribuído para uma causa super colossal. A salvação dos colossos que sempre sustentaram.

E essa causa promete ser assim por muitos e bons anos. Colossalmente, o povo lá vai indo, pagando e não bufando, com os outros sempre rindo. Há que seguir as mentes colossais, porque é preciso acreditar que nem sempre a mente colossal mente.

 

 

16 Jul, 2011

O país em cuecas

Aqui há uns anos atrás estávamos de tanga e agora estamos em cuecas. À primeira vista parece que há uma evolução positiva no que toca ao combate à obscenidade que muita gente verá nesta situação, embora dependendo do modelo de cuequinha que for usado e apreciado nesta espécie de teste de stress à nossa poupança.

Em princípio a tanga é ainda mais fresca que a cueca, permitindo uma ventilação mais eficaz das zonas mais susceptíveis de serem atacadas pela transpiração. Nestes dias de calor, é um verdadeiro suplício colocar qualquer outro vestuário por cima daquelas pecinhas tão agradáveis nestes tórridos tempos de Verão.

Muito bem andou a ministra da agricultura ao suprimir algumas gravatas no seu ministério. No entanto, eu teria ido muito mais longe e determinaria que, no campo, ou na cidade, na rua ou em casa, toda a gente aliviasse a roupa até ao limite da decência, isto é, sem transformar o país num campo de nudistas.

Pois não é à fresquinha que se anda nas praias sem que ninguém se escandalize? Não é com todo o alívio que se dispensam os incómodos calções e camisas nas piscinas públicas ou privadas? Então, está na hora de aliviar o país destes preconceitos que, ainda por cima, significariam um grande corte nas facturas de toda a gente e do próprio estado.

Para começar - lá vai entrar a minha imaginação - parece-me que seria extremamente pedagógico realizar-se um conselho de ministros no centro do Terreiro do Paço, com todos os participantes em traje de ir ao banho. Seria até um bom exemplo daquela inovação que toda a gente espera deste governo.

Corria-se o risco de se juntarem alguns manifestantes reclamando um banhinho no Tejo, ali em frente, recordando os bons velhos tempos da audácia nadadora marcelina. Mas, nada que obrigasse alguém a constipar-se por causa da brisa. Largamente compensadora de todos os riscos, seria a vantagem de ideias arejadas e decisões fresquinhas tomadas sobre o joelho nu.

Depois de tal reunião magna do executivo, nada voltaria a ser como antes. O país jamais voltaria a lamentar as lojas de vestuário que todos os dias fecham. Os lojistas desistiriam de vez do coro de lamentações de que não há dinheiro para compras. Podiam ir para as fábricas exportadoras, onde veriam como se faz o que se vende bem lá fora.

Teria de haver uma reorientação total de todos os ministérios no sentido de se criarem novos hábitos de consumo, obrigando toda a gente, de todo o país, a regular a entrada do sol nos edifícios públicos e privados, de forma a não exagerar no esforço pedido ao astro-rei. É que nem toda a gente se lembra que o sol também desgasta a nossa energia.

Basta recordar que, quando brilha demais, ou por muito tempo, lá vêm dias nublados, ou até de chuva, para corrigir os excessos de consumo. Portanto, é fundamental a regulação das persianas, dos cortinados, dos envidraçados nos tectos, etc. Principalmente, muita atenção àquelas pessoas que abusam dos óculos escuros.

Nem quero imaginar como poderia ser este país, se toda a gente andasse em cuecas durante um verão inteiro. Os corpos bronzeados não seriam exclusivos de uma classe privilegiada que pode ir a banhos e mostrar as cuecas. Que, só por si, representam um motivo de especial interesse, com os olhos sempre a pesquisar o que anda por perto.

E aquele colorido que transformaria as nossas tão tristes ruas e avenidas, ao que dizem da cor da crise, em agradáveis paisagens onde a vista se passeasse sem pensar nesse maldito dinheiro que tudo nos tira, em lugar de tudo nos dar. Por favor, deixem-nos ver cuequinhas rosa, laranja ou amarelas, que a nossa vida muda de imediato.

Imagine-se o que se pouparia em água, sabão, detergentes, máquinas de lavar, de secar e de passar, mão-de-obra e muito mais, se não fosse preciso usar tanta roupa diariamente. As cuecas poderiam ser a salvação do país. Mais, as próprias pessoas não necessitariam de banhos tão demorados devido à menor transpiração. Até no gás…

Não me venham cá dizer que se sujavam mais cuecas, por andarem mais expostas. Admito que sim. Mas isso era mais cueca menos cueca. É preciso ter em conta que também se transpirava menos das mãos.

Senhoras ministras e senhores ministros, mãos à obra depressa, e à cueca, senão acaba-se o Verão. E no Inverno é preciso pensar no sobretudo e na gabardine.

 

 

 

O nosso já não o tem, embora continue a ser ele a dominar as atenções e a deixar secar os louros dos seus feitos, por causa dos defeitos que espalhou generosamente por quase todo o mundo. Porque, bem vistas as coisas, houve um copianço generalizado do seu tipo de governação que, por acaso, dizem que deu para o torto.

Sinceramente, vendo as coisas pelo lado do mediatismo que lhe atribuíram, não consigo descortinar se foi ele que enganou toda a gente, ou se foi toda a gente que se enganou em relação ao que ele fez. Isto no pressuposto de que ele fez realmente alguma coisa, porque se não fez nada, então não entendo porque não gostaram dele.

A verdade é que hoje cada país tem o seu Sócrates, desde os mais pequenos e falidos até aos mais poderosos e em vias de falirem também. Até parece que foi feitiço que o homem espalhou e pegou, tanto aos seus melhores amigos, como aos seus piores amigos. Sim, porque só não conseguiu pegar essa peste aos seus inimigos.

Mas, curiosamente, até esses, os seus piores inimigos, que estão cá dentro do país, correm sérios riscos de estarem a caminho da socratização mais pura e dura, que alguma vez se viu no verdadeiro Sócrates. Só falta que decorram mais uns tempinhos e aí os teremos a desenvolver as técnicas e tácticas que tanto seduziram os socráticos lá de fora.

Para aqueles que estão a pensar que Sócrates só houve um, o de cá e mais nenhum, eu pergunto porque razão a doce Itália tem um, tão eficaz como o de cá. Porque razão a grande Espanha, à qual muitos portugueses queriam juntar-se ainda há bem pouco tempo, também vai na onda socrática geral.

Nem vale a pena referir os gregos e os irlandeses, os mais rápidos socráticos europeus a demonstrar as virtudes do nosso herói. Mas sabemos perfeitamente que há belgas, ingleses e franceses na calha para demonstrarem os seus méritos no copianço dos métodos que fizeram de nós pioneiros das novas ideias e técnicas de gestão nacionais.

Mas, seria injusto deixar de fora dois colossos que dominam o mundo. Alemães e norte americanos, já vieram beber a muito nossa sabedoria socrática, uma teoria que fez do seu autor, talvez, o mais notável influenciador dos grandes governantes mundiais, unindo todos na prosperidade e na eficácia da luta contra todas as crises.

Portanto, se há um herói anti-crise, ele chama-se Sócrates, porque soube criar esse extraordinário movimento designado por socratismo, que colocou o mundo a seus pés, através dos seus maiores e melhores representantes. Nunca, jamais, em tempo algum, alguém conseguiu tamanho feito em prol da humanidade.

Eventualmente, haverá quem não concorde com esta análise. Pessoalmente, até acho que isso é porreiro, porque Sócrates também acharia a mesma coisa. Tanto ele como eu, até achamos que aqueles que muito discordaram dele, e os que ainda discordam, vão ser os últimos a seguir-lhe o exemplo, só que com muito mais vigor.

O melhor exemplo para ilustrar esta imagem, na minha fundamentada análise, é representado pelo actual responsável por este cantinho à beira mar plantado. Aliás, ninguém acredita que ele, sério e inteligente como é, queira ficar isolado do mundo, permanecendo fora da área de influência do dominante dogma que é o socratismo.

E, se acaso ainda houver quem questione a razoabilidade deste conceito, alegando que o mundo vai muito mal, precisamente por causa desse socratismo todo, é caso para contrapor, como estaria o mundo sem Sócrates. Ora, sem Sócrates está ele agora. Sinceramente, nem me apetece fazer mais nenhuma pergunta.

Mas, apetece-me fazer uma afirmação. Sócrates levou o nosso país ao mundo inteiro e Passos vai tirá-lo de lá em pouco tempo. Para o bem ou para o mal, Sócrates foi o responsável por tudo o que aconteceu no mundo. Passos, será o responsável por tudo o que não vai acontecer nesse mesmo mundo.

 

       

Quando não queremos ou não podemos dizer certas coisas, não há nada mais prático que arranjarmos um papagaio que se encarregue de propalar alto e bom som aquilo que não era para sair do segredo que devia ficar bem guardado dentro das quatro paredes onde temos os nossos desabafos mais íntimos.

Aquela sala do conselho tem sabido guardar bons e maus segredos com uma discrição invejável, atendendo a que certos meios de comunicação não conhecem obstáculos quando se trata de descobrir, por vezes nem eles sabem onde, os mais insólitos casos que só o chegam a ser para eles próprios.

Porém, essa sala do conselho não podia continuar invulnerável a tudo e a todos para lá de uns dias de expectativas emocionais vindas do além, ou não fossem elas uma espécie de sonho dourado de muitos anos, qual cadeira de sonho de uns, ou o fim da miragem que, finalmente, chegou como a boa nova da tão desejada nova oportunidade.

A sala do conselho não podia, nem devia, assim de repente, perder a inviolabilidade das suas decisões e das suas discussões, saudáveis como não podia deixar de ser. Daí que, atendendo à conveniência extrema de passar a palavra proibida, se tenha optado pelo método do papagaio amigo que diz tudo o que eu lhe digo.

Assim, não se quebrou a promessa do exterior e, lá dentro, só o papagaio não calou aquilo que não era para se dizer cá fora. Até porque só um papagaio não sabe que há segredos muito embaraçosos para quem os segreda na presença de um papagaio que não controla o bico, por mais amigo que ele seja do seu amo e senhor.

Pode mesmo considerar-se um desvio colossal da língua do amo e um desvio abismal do bico do papagaio, considerando que o segredo, afinal, era conhecido e reconhecido, com assinatura e tudo, por uma série de subscritores que haviam lido e relido, mesmo as letrinhas mais pequenas daquele dito segredo.

Depois, como é costume, ao sair da boca do papagaio, o segredo foi bem espremido, de modo a que, numa corrida contra a verdade secreta, se cortasse a meta e se entrasse logo de seguida num evidente acerto de contas. Do papagaio não se sabe o nome. O amo e senhor, entendeu que não devia falar mais nisso.

Aliás, vai mesmo ter de falar mais, e muito mais, porque está em causa a assinatura de gente que, em termos de contas, de desvios e de metas, nada tem a temer da confrontação dos segredos revelados por um papagaio que fala mais do que pensa, se é que alguma vez soube pensar, para lá de ter o pensamento estagnado no passado.

O pior mesmo é que isto prova que é muito grande a tentação de cuspir para o lado, quando as coisas começam a cheirar a esturro. Nunca tive ilusões de que desta vez não seria assim, tal como tem sido largamente repisado, aliás, como tantas outras banalidades que até parecem grandes descobertas como as dos anos mil e quinhentos.

É o caso da independência do conselho do papagaio e da independência do conselho dos segredos. Um não tem nada a ver com o outro, ouvi dizer. Mas, na realidade, por mais que me digam que não, o papagaio vai estar muitas vezes ao serviço estratégico do conselho dos segredos.

 

 

Embora considere que este título é cruel, não tenho dúvidas em afirmar que muito mais cruel seria matar o país, através da morte política de todos os corruptos. Seria o mesmo que querer fazer agricultura num terreno sem vermes ou querer viver numa casa totalmente imunizada a todas as espécies de micróbios.

Estou convencido que todos os governos, mas este em especial, iniciaram os seus mandatos com o propósito expresso de um combate sem tréguas à corrupção e, consequentemente, a todos os corruptos. Bonito tema para enfeitar um programa e uma campanha eleitoral. Bonito, sim, mas de uma beleza que não convence ninguém.

Governo que tentasse levar por diante, a sério, tal iniciativa, estaria imediatamente condenado à sua desarticulação, tal a possibilidade de ter de começar por eliminar, um após outro, a quase totalidade dos seus membros, quer por envolvimento directo, quer por ligações a quem nunca se conseguiu libertar desse veneno.

É por isso que tem de haver muito cuidado quando se fala, ou se pretende actuar, neste campo completamente minado. Nunca digam que querem acabar com a corrupção. Isso equivaleria a dizer que a querem matar definitivamente, o que seria um desastre nacional, devido aos danos colaterais que daí adviriam.

Já seria bem bom se alguém, ou algum governo, conseguisse que os corruptos se contivessem dentro de níveis pouco visíveis, isto é, que fizessem os seus arranjinhos sem que nós, os que já fazemos isso, não déssemos por nada, tal como eles não dão por aquilo que o Zé Povinho tão bem sabe fazer com o tratamento das suas obrigações.

É evidente que todos, apesar de cometerem os seus pecados como se ninguém os conhecesse, sabem perfeitamente que eles não são segredo para ninguém. Efectivamente, todos sabem na perfeição que a única maneira de continuarem impunes é deixarem-se em paz uns aos outros, senão a vida seria uma complicação para todos.

Nos níveis mais elevados da política ninguém assume que há individualidades que são corruptas. Mas não se cansam de fazer acusações não concretas, muitas vezes deixando subentender a quem se referem, através de referências que induzam, principalmente os menos informados, a formar juízos precipitados.

Ao nível do cidadão comum toda a gente se sente habilitada para chamar corruptos a todos aqueles que não constam das suas listas de interesses ou de simples simpatias. É frequente ouvir dizer-se que vivemos num país de corruptos. Pessoalmente, concordo com esta visão quase catastrófica, embora me sinta, tal como a totalidade, incluído no meio.

É dentro deste panorama que estranho muito as intenções da nova responsável por este combate inglório, sobretudo pela certeza e pelas palavras que emprega para traduzir a sua vontade. Receio bem que, como tantas vezes acontece, o feitiço se volte contra o feiticeiro, no caso, contra a feiticeira.

Sempre ouvi dizer que quem tem telhados de vidro não deve atirar pedras para o ar. Até porque os telhados dos vizinhos também podem sofrer danos com as pedras atiradas, ainda que o sejam por gente bem-intencionada. Mas, nestas coisas de vizinhança, ninguém se arrisca a criar inimizades.

Pedras e corrupção são coisas muito perigosas. Com as pedras não se brinca e com a corrupção não se pode fazer vista grossa ou selectiva. Tem de se ver tudo até onde a vista alcança, mesmo que não seja até muito longe. Não se pode falar do que não vemos e, muito menos, daquilo que a família e os amigos não vão deixar que vejamos.  

Estamos no tempo e numa conjuntura em que é recorrente dizer-se que não há condições para fazer ou deixar de fazer muitas coisas. Pois bem, não há condições para matar a corrupção. Se o fizessem, se fossem capazes de o fazer, tenho muitas dúvidas se ficaria gente suficiente para aguentar o país de pé.

Portanto, minha senhora, determinação, sim, folclore, não.

 

 

Anda tudo à brocha com medo de perder a freguesia que, em muitos casos, é já uma triste realidade. Ao que nos dizem, porque os fregueses mudaram de hábitos. É o caso daqueles que passaram a ir comer a sopa fora, deixando de comprar as couves e as batatas na mercearia do pé de casa. É uma maneira, através da poupança, de continuar a fumar o cigarrito e de tomar a biquita da ordem.

Isto põe em cheque a obra assistencial da respectiva freguesia que, por via dos cortes na massaroca, deixam de poder distribuir aquela sopa, sem que haja alguém que distribua os cigarritos e os cafezitos, à borla, para manter o respectivo nível de vida. Convém dizer que é desumano levar as pessoas ao extremo de terem de passar cumulativamente sem sopa, sem tabaco e sem café.   

Muitas dessas pessoas até estão a entrar em pânico, admitindo mesmo que se vêem na contingência de terem de aceitar um emprego para suprir essa calamidade da falta de meios da sua freguesia. Por outro lado, a freguesia corre o risco de ser riscada do mapa, se não conseguir que os seus fregueses ameacem não votar nos culpados destas malandrices que parecem estar eminentes.

Há aqui uma espécie de mobilidade, ou melhor, de fluxo de fregueses em busca das suas necessidades básicas junto da freguesia, enquanto as lojas e os supermercados se esfalfam a arranjar campanhas que lhes tragam de volta os fregueses que se piraram para outra freguesia, onde o mais barato seja mesmo a borla. De positivo, regista-se que os cafés, pastelarias e tabacarias ainda não começaram a fechar. Porque fregueses não faltam.

O problema é que as lojas já fecharam quase todas e os seus fregueses correram para as freguesias. Agora são as freguesias que estão com o cutelo sobre as cabeças. Assim sendo, lá vão ficar todos os fregueses com a corda na garganta e a colher da sopa sem qualquer utilidade. Se pensarmos que o garfo e a faca já foram dispensados há muito tempo, temos um cenário tão problemático, como o de ter de ir trabalhar.

Há quem esteja muito preocupado com o critério que vai presidir ao desaparecimento de algumas freguesias. Tudo porque o trabalho da troika ficou incompleto. Determinou o fim de algumas, muitas, freguesias e muitos concelhos, mas esqueceu-se de indicar, concretamente, quais é que devem ir à vida. Ora isto é motivo mais que suficiente para que fique bem definido o critério. Tal e qual. Fecham as tuas grandes, mas não fecham as minhas pequenas.

Aliás, o critério até se compreende perfeitamente. Não podem fechar freguesias onde não há cafés de jeito nem pastelarias onde os fregueses possam passar os dias a dar ao badalo, fumando o cigarrito de vez em quando, com mais ou menos bicas como complemento. É por isso que tem de haver muita sensibilidade social, muito mais que sensibilidade política pois agora nem se pode pensar sequer em novas eleições.

Tal como nunca se pensou e continua a não se pensar no problema velho, com crise ou sem crise, de uma certa mendicidade nas ruas, que é preterida pelos responsáveis em benefício dos novos pobres. Tenho a impressão que os velhos pobres sentados no chão à porta de estabelecimentos, de mão estendida, não dão votos, ao contrário dos novos pobres, que tapam a cara para comer, mas não escondem a freguesia a que pertencem.

Com problemas destes, não havia sequer argumentação que sustentasse uma campanha eleitoral. É caso para perguntar aos diversos partidos, o que é que eles inventariam agora para ganhar a confiança dos eleitores. A única confiança que estaria garantida era, sem dúvida, a confiança presidencial, e essa, muito dependente do aparecimento, ou não, de factos previsíveis que, de repente, podiam tornar-se imprevisíveis.

São coisas que acontecem aos mais precavidos. Portanto, todos os fregueses prevenidos ou desprevenidos devem estar preparados para mudar de freguesia. Perdoem-me a dureza e as inconveniências. Mas, talvez não seja má ideia, ir pensando que podem levar sopa em muita coisa. Ou seja, lá se vão as sopas e as freguesias.

 

 

Ainda continua a haver quem não dispense umas bicadinhas no ex PM e ainda há quem não se contenha com aquela verborreia que lhe faz falta para se auto avaliar. Mas há uma coisa que o ex sabe fazer na perfeição, que é ser bem-educado e, acima de tudo, muito bem-mandado.

Precisamente no dia em que o presidente aconselha determinados ignorantes a estudar, o ex, ao que parece ainda suficientemente atento à voz que o perseguiu durante anos, resolveu pedir uma licença sem vencimento no seu antigo emprego, com a justificação de que ia estudar para o estrangeiro.

O presidente aconselha e ele marcha. Mas, não precisava, isto é, não havia necessidade, pois o conselho não era para ele, mas sim para certos analistas que têm o defeito de ter o ouvido apurado demais pois, deduzo eu, não deviam fazer análises tão detalhadas daquilo que ouvem.

Assim, penso eu, deviam levar em linha de conta que aquilo que se diz hoje pode não ser verdade amanhã, sem que nisso haja qualquer contradição. É evidente que isso só vale para o que diz o presidente pois nunca, mas por nunca ser, isso podia valer para o que disse o ex, ao longo do seu consulado.

Até porque está bem de ver que durante todo esse consulado nunca se verificaram mudanças de circunstâncias, ao contrário do que aconteceu agora, precisamente, nestes últimos dias, em que foi uma escandaleira que deixou toda a gente de boca aberta. Toda a gente, refiro eu, com toda a convicção.

Portanto, estou a provar que não preciso de ir estudar, pois estou perfeitamente integrado na correcta interpretação do que são, ou não são, contradições fictícias e contradições verdadeiras. Se não preciso de ir estudar, logicamente que também não sou um desses incorrigíveis cábulas que abundam por aí.

Logo, estou de acordo que os cábulas ignorantes vão estudar para aprender a colocar as vírgulas e os pontos e vírgulas nos espaços certos. Do mesmo modo que estou de acordo que o ex vá estudar para aprender a distinguir os recados que são para ele, dos que não lhe dizem o menor respeito.

 Esta coisa das circunstâncias que mudam ou não mudam faz-me cá uma confusão dos diabos. Por exemplo, quando o ex saiu e entrou o in, fiquei sem saber se as circunstâncias mudaram ou não. Digo isto porque não vi mudar nada, mas fiquei na dúvida se o presidente mudou alguma coisa ou não.

Provavelmente sou eu que não vejo nem enxergo as circunstâncias que estão aí, agora, à minha frente. Mas não tenho o direito de pensar que as circunstâncias são como o vento suão que só me põe os cabelos em pé, a mim e a ninguém mais. Com franqueza, começo a pensar que também estou a precisar de ir estudar circunstâncias.

Não duvido de que encontrarei cá dentro do país, um catedrático especialista nessa área. Essa circunstância já me deixa bastante reconfortado. Não gostaria mesmo nada de ter de ir para o estrangeiro estudar uma matéria que, circunstancialmente, teria de a estudar em algum banco do jardim, por falta de docentes mais qualificados do que eu.

Mas, sobretudo, daqueles que me chamassem cábula e me mandassem de regresso a casa, onde seria sempre bem recebido, em todas as circunstâncias.

 

 

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