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afonsonunes

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Anda tudo à brocha com medo de perder a freguesia que, em muitos casos, é já uma triste realidade. Ao que nos dizem, porque os fregueses mudaram de hábitos. É o caso daqueles que passaram a ir comer a sopa fora, deixando de comprar as couves e as batatas na mercearia do pé de casa. É uma maneira, através da poupança, de continuar a fumar o cigarrito e de tomar a biquita da ordem.

Isto põe em cheque a obra assistencial da respectiva freguesia que, por via dos cortes na massaroca, deixam de poder distribuir aquela sopa, sem que haja alguém que distribua os cigarritos e os cafezitos, à borla, para manter o respectivo nível de vida. Convém dizer que é desumano levar as pessoas ao extremo de terem de passar cumulativamente sem sopa, sem tabaco e sem café.   

Muitas dessas pessoas até estão a entrar em pânico, admitindo mesmo que se vêem na contingência de terem de aceitar um emprego para suprir essa calamidade da falta de meios da sua freguesia. Por outro lado, a freguesia corre o risco de ser riscada do mapa, se não conseguir que os seus fregueses ameacem não votar nos culpados destas malandrices que parecem estar eminentes.

Há aqui uma espécie de mobilidade, ou melhor, de fluxo de fregueses em busca das suas necessidades básicas junto da freguesia, enquanto as lojas e os supermercados se esfalfam a arranjar campanhas que lhes tragam de volta os fregueses que se piraram para outra freguesia, onde o mais barato seja mesmo a borla. De positivo, regista-se que os cafés, pastelarias e tabacarias ainda não começaram a fechar. Porque fregueses não faltam.

O problema é que as lojas já fecharam quase todas e os seus fregueses correram para as freguesias. Agora são as freguesias que estão com o cutelo sobre as cabeças. Assim sendo, lá vão ficar todos os fregueses com a corda na garganta e a colher da sopa sem qualquer utilidade. Se pensarmos que o garfo e a faca já foram dispensados há muito tempo, temos um cenário tão problemático, como o de ter de ir trabalhar.

Há quem esteja muito preocupado com o critério que vai presidir ao desaparecimento de algumas freguesias. Tudo porque o trabalho da troika ficou incompleto. Determinou o fim de algumas, muitas, freguesias e muitos concelhos, mas esqueceu-se de indicar, concretamente, quais é que devem ir à vida. Ora isto é motivo mais que suficiente para que fique bem definido o critério. Tal e qual. Fecham as tuas grandes, mas não fecham as minhas pequenas.

Aliás, o critério até se compreende perfeitamente. Não podem fechar freguesias onde não há cafés de jeito nem pastelarias onde os fregueses possam passar os dias a dar ao badalo, fumando o cigarrito de vez em quando, com mais ou menos bicas como complemento. É por isso que tem de haver muita sensibilidade social, muito mais que sensibilidade política pois agora nem se pode pensar sequer em novas eleições.

Tal como nunca se pensou e continua a não se pensar no problema velho, com crise ou sem crise, de uma certa mendicidade nas ruas, que é preterida pelos responsáveis em benefício dos novos pobres. Tenho a impressão que os velhos pobres sentados no chão à porta de estabelecimentos, de mão estendida, não dão votos, ao contrário dos novos pobres, que tapam a cara para comer, mas não escondem a freguesia a que pertencem.

Com problemas destes, não havia sequer argumentação que sustentasse uma campanha eleitoral. É caso para perguntar aos diversos partidos, o que é que eles inventariam agora para ganhar a confiança dos eleitores. A única confiança que estaria garantida era, sem dúvida, a confiança presidencial, e essa, muito dependente do aparecimento, ou não, de factos previsíveis que, de repente, podiam tornar-se imprevisíveis.

São coisas que acontecem aos mais precavidos. Portanto, todos os fregueses prevenidos ou desprevenidos devem estar preparados para mudar de freguesia. Perdoem-me a dureza e as inconveniências. Mas, talvez não seja má ideia, ir pensando que podem levar sopa em muita coisa. Ou seja, lá se vão as sopas e as freguesias.