Enquanto o Porto joga
Refiro-me ao grande embate entre dois colossos do futebol mundial agendado para dentro de alguns minutos no estádio do Mónaco, país de tamanho incomparável com a grandeza dos seus visitantes, Porto e Barcelona que, tudo o indica, vão proporcionar um autêntico concerto de bola, próprio de quem põe no jogo a magia da pura arte do pontapé no couro.
Enquanto o jogo for decorrendo estarei a divagar sobre outras coisas, pois já sei que os espanhóis vão ao Mónaco exclusivamente para ver o Porto jogar e, no fim, comprarem meia equipa, depois de regatearem um bocado as suas cláusulas de rescisão e oferecerem o Messi e o Guardiola para baixar um pouco mais os preços das estrelas portistas.
Como se trata de equipas muito iguais, como disse o mister Guardiola, ele próprio está disponível para trocar de clube com o mister Vitor e, se as coisas mesmo assim ainda estiverem complicadas, a troca de presidentes é também uma possibilidade a ter em conta, com o ‘nosso’ a desequilibrar ainda mais as contas.
Barcelona está para Madrid, como o Porto está para Lisboa. Pelo que tem acontecido ao nosso famoso Mou, os árbitros espanhóis parece terem a mesma fama dos portugueses, que é como quem diz, nem uns nem outros gostam nada das respectivas capitais. Parece que se dão melhor com os ares menos cosmopolitas.
Bom, o jogo já decorre com certeza e acredito mesmo que o Barcelona e o seu treinador estão maravilhados com o espectáculo que lhes está a ser proporcionado pelo Porto, aliás, dentro das suas próprias expectativas. Daí que o resultado seja o que menos interessa, porque os catalães não querem perder esta oportunidade única de aprender com quem sabe.
Há uma coisa que me veio agora à lembrança. Ontem ouvi aquela locutora da RTP1 que é em exclusividade todinha do Porto, dizer esta coisa que não transcrevo na íntegra, ‘o nosso presidente Pinto da Costa…’. Sim, porque desde logo fiquei a cismar, se ele é o nosso Presidente da RTP, ou o nosso Presidente da República.
Mas, pelo nome, não me cheira que seja, nem uma coisa nem outra. Portanto, a locutora de serviço tripeiro, não deve conhecer o correcto emprego do pronome pessoal ‘nosso’. Que seja o dela, tudo bem, e então diria ‘o meu’. Mesmo assim, duvido que fosse capaz de usar o nome de Filipe Vieira, da mesma maneira, se estivesse a falar do rival de Lisboa.
Nesse caso, se ela o mencionasse como ‘o nosso’, ou ‘o meu’, na RTP, teria o emprego imediatamente deslocado para a mobilidade, se é que não lhe aconteceria coisa muito pior, provocadora de grande insónia. Parece-me que ouvi barulho lá fora. Deve ter sido mais um golo que, logicamente, já se sabe que foi do ‘nosso’ clube e do ‘nosso presidente’.
Se eu não estivesse ocupado a fazer isto, até era capaz de me sentar em frente da televisão, exclusivamente a ver como o Hulk está a deliciar o Messi, sobretudo, com aquelas bombas do meio da rua, que este vê como elas rasgam as malhas, deixando os árbitros de olhos em bico, ao ver a bola fora da gaiola. Mas é golo, sim senhor.
Palavrinha que neste momento ouvi um gritinho lá fora, vindo da RTP, claro, da casa do vizinho do lado, que eu ia jurar que era da Sónia. Eu não acredito… Mas a verdade é que tenho de me habituar a acreditar em tudo, mesmo no que não vejo. É ela, é… a reclamar uma falta sobre o ‘nosso presidente’ que está no banco.
Bom, a minha imaginação está a exagerar, se é que não está com alucinações. Então os bancos não estão fechados a esta hora? Só se ‘o nosso presidente’ já estiver a levantar os cheques da venda de jogadores. As vultosas verbas envolvidas até justificam que essas transacções se façam fora de horas, por causa dos assaltos.
Mas que chatice! ... Acabam de me telefonar reclamando a minha ida imediata não sei onde. E, como o jogo ainda não terminou, nem sequer sei quantos estão, nem quantos irão ser. Mas que são ‘todos nossos’, isso é canja.