Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

afonsonunes

afonsonunes

Refiro-me ao grande embate entre dois colossos do futebol mundial agendado para dentro de alguns minutos no estádio do Mónaco, país de tamanho incomparável com a grandeza dos seus visitantes, Porto e Barcelona que, tudo o indica, vão proporcionar um autêntico concerto de bola, próprio de quem põe no jogo a magia da pura arte do pontapé no couro.

Enquanto o jogo for decorrendo estarei a divagar sobre outras coisas, pois já sei que os espanhóis vão ao Mónaco exclusivamente para ver o Porto jogar e, no fim, comprarem meia equipa, depois de regatearem um bocado as suas cláusulas de rescisão e oferecerem o Messi e o Guardiola para baixar um pouco mais os preços das estrelas portistas.

Como se trata de equipas muito iguais, como disse o mister Guardiola, ele próprio está disponível para trocar de clube com o mister Vitor e, se as coisas mesmo assim ainda estiverem complicadas, a troca de presidentes é também uma possibilidade a ter em conta, com o ‘nosso’ a desequilibrar ainda mais as contas.  

Barcelona está para Madrid, como o Porto está para Lisboa. Pelo que tem acontecido ao nosso famoso Mou, os árbitros espanhóis parece terem a mesma fama dos portugueses, que é como quem diz, nem uns nem outros gostam nada das respectivas capitais. Parece que se dão melhor com os ares menos cosmopolitas.

Bom, o jogo já decorre com certeza e acredito mesmo que o Barcelona e o seu treinador estão maravilhados com o espectáculo que lhes está a ser proporcionado pelo Porto, aliás, dentro das suas próprias expectativas. Daí que o resultado seja o que menos interessa, porque os catalães não querem perder esta oportunidade única de aprender com quem sabe.

Há uma coisa que me veio agora à lembrança. Ontem ouvi aquela locutora da RTP1 que é em exclusividade todinha do Porto, dizer esta coisa que não transcrevo na íntegra, ‘o nosso presidente Pinto da Costa…’. Sim, porque desde logo fiquei a cismar, se ele é o nosso Presidente da RTP, ou o nosso Presidente da República.

Mas, pelo nome, não me cheira que seja, nem uma coisa nem outra. Portanto, a locutora de serviço tripeiro, não deve conhecer o correcto emprego do pronome pessoal ‘nosso’. Que seja o dela, tudo bem, e então diria ‘o meu’. Mesmo assim, duvido que fosse capaz de usar o nome de Filipe Vieira, da mesma maneira, se estivesse a falar do rival de Lisboa.

Nesse caso, se ela o mencionasse como ‘o nosso’, ou ‘o meu’, na RTP, teria o emprego imediatamente deslocado para a mobilidade, se é que não lhe aconteceria coisa muito pior, provocadora de grande insónia. Parece-me que ouvi barulho lá fora. Deve ter sido mais um golo que, logicamente, já se sabe que foi do ‘nosso’ clube e do ‘nosso presidente’.

Se eu não estivesse ocupado a fazer isto, até era capaz de me sentar em frente da televisão, exclusivamente a ver como o Hulk está a deliciar o Messi, sobretudo, com aquelas bombas do meio da rua, que este vê como elas rasgam as malhas, deixando os árbitros de olhos em bico, ao ver a bola fora da gaiola. Mas é golo, sim senhor.

Palavrinha que neste momento ouvi um gritinho lá fora, vindo da RTP, claro, da casa do vizinho do lado, que eu ia jurar que era da Sónia. Eu não acredito… Mas a verdade é que tenho de me habituar a acreditar em tudo, mesmo no que não vejo. É ela, é… a reclamar uma falta sobre o ‘nosso presidente’ que está no banco.

Bom, a minha imaginação está a exagerar, se é que não está com alucinações. Então os bancos não estão fechados a esta hora? Só se ‘o nosso presidente’ já estiver a levantar os cheques da venda de jogadores. As vultosas verbas envolvidas até justificam que essas transacções se façam fora de horas, por causa dos assaltos.

Mas que chatice! ... Acabam de me telefonar reclamando a minha ida imediata não sei onde. E, como o jogo ainda não terminou, nem sequer sei quantos estão, nem quantos irão ser. Mas que são ‘todos nossos’, isso é canja.

 

 

Três línguas distintíssimas da nossa praça política que, por mais que alguém queira dizer que o Sócrates tinha um grande nariz, apalpe os destes três e veja se consegue meter cada um deles numa só mão, sem ficar nada de fora. Refiro-me a mãos de gente normal e não a mãos de gente habituada a metê-las onde não deve.

Três línguas, três narizes, com uma dimensão muito acima da média, ou não fosse mais que natural, que o crescimento de umas é sempre equivalente ao crescimento dos outros. Facilmente se pode comprovar que os três lá de cima constituem o fenómeno da multiplicação dos pinóquios nacionais.

Tínhamos forçosamente de ter alguma coisa a crescer neste momento de decadência. Em menos de três meses perdemos um pinóquio mas ganhamos três de uma assentada. Haverá quem se questione se o nariz que se perdeu não seria maior que os três que se ganharam. Bem observado mas, também há quem diga que qualquer dos três é muito maior que o outro.

Além disso, para ser suficientemente meticuloso, há a referir que o tempo de crescimento dos narizes é muito importante. O que se foi teve cerca de seis anos para atingir o tamanho que se lhe conhece, ao passo que o tamanho dos destes três pinóquios recentes foi conseguido em apenas dois meses e tal.

Claro que é obra. E é uma obra que vai dar água pela barba ao respectivo chefe comum, ou seja, o responsável pelo crescimento de tão respeitáveis narizes que podem influenciar, e muito, o crescimento do nariz do Coelho, dada a coabitação dos quatro na toca comum de governos do país.

Tal incidência poderá muito bem determinar que tenhamos de acrescentar mais um pinóquio aos três que já estão devidamente identificados, se o Coelho não impuser em tempo útil a tão prometida disciplina organizacional da sua toca. Senão, será mais um avanço do seu próprio nariz em direcção ao espaço sideral.

Não adianta fazer uma medida por dia, mesmo que essa medida represente uns reles milímetros de crescimento do nariz pois, com o tempo sempre a correr, não tardará que se chegue a valores considerados socráticos. Parece pois aconselhável e urgente que o Coelho consiga trocar medidas por obras palpáveis que se vejam por cima do nariz.

E a primeira obra que se destaca de imediato é controlar adequadamente o crescimento dos narizes dos três supra referidos pinóquios, pois a não concretizar essa obra, é o seu próprio futuro de Coelho que está em causa, pois toda a toca será, num curto espaço de tempo, insuficiente para albergar tantos narizes de tamanhos incontroláveis.

Se, por um lado, estes obreiros estão a fazer perigar a toca com o seu alarido, outros estão demasiado calados e, na ausência dos barulhentos, a toca fica uma tumba, onde o silêncio obstipa de tal modo os ouvidos exteriores que, já há quem pense em renúncia colectiva às juras de salvação do país.

Depois, como os quatro nunca poderiam formar um quinteto de pinóquios, eis que saem umas Moedas a tilintar dos cofres vazios de notas, dando ao oco espaço onde se ouviram, um tom de falsete em tudo condizente com as línguas e narizes que bem caracterizam a cena política de que o país vai descrendo de deixar para trás.

Espero ansiosamente para ver o que acontece ao trio e, sobretudo, se não acaba por se transformar em quinteto. Também depende muito do maestro e da sua batuta mágica.

 

 

Esta história do árbitro de futebol que não quis ir a Aveiro tem muito que se lhe diga e aqui estou eu para dizer umas coisitas sobre tão estranho caso. Em primeiro lugar, assinalo precisamente o facto disto se passar na cidade da ria, talvez porque não tenha um rio no lugar da dita. Mas tem árbitros que são juízes, com maior prestígio que a ria.

Há largos dias que não se falava senão na falta de um juiz para a importante jornada entre a equipa dominguista e a quarta melhor formação luso/árabe do futuro. (Esta, que só será superada pelas três equipas mistas de sul-americanos e de euro indiferenciados, sempre arduamente disputados e concentrados em Lisboa e Porto).   

Mas, nunca houve falta de juízes, ou árbitros, em Aveiro. E tanto assim é que apareceu logo um, que acabou com essa falsa polémica. Aliás, muitos outros juízes haveria, prontos a entrar na liça, dispostos a mostrar que ainda há gente séria no desporto e no negócio sujo das bolas quadradas e dos apitos dourados por fora, mas cheios de tarro e de ferrugem por dentro.

Entendo que esta incidência de recusa de um árbitro, logo secundado pelos outros da mesma estirpe, veio mesmo em tempo oportuno. Mérito do presidente leonino que teve a coragem de colocar o problema em termos de aviso, de alerta e do caminho a ser trilhado no futuro próximo. Claro, quem está bem sentado, não quer olhar para quem está de pé.

Já é velha a alusão ao “sistema”, tal como velha é a realidade que os beneficiados e alimentadores do dito, não querem sequer discutir, quanto mais admitir que ele existe. Mas, em algum dia terá de se encarar o problema de frente e pegá-lo pelas pontas como se faz aos bichos nas touradas, que já vão tendo muita concorrência nas touradas do futebol.

Ao ponto a que isto chegou, não é com estes árbitros, que se consideram juízes incontestados, nem com esta classe dirigente, eivada de radicalismos e de clubite aguda, além de, em muitos casos, ter ali uma fonte inexpugnável de negócios escuros, que se consegue limpar as ervas daninhas que devoram os relvados.

 Há quem pense que a profissionalização desta vasta e enraizada cambada resolve o problema de vez. Pura ilusão. As ervas daninhas não se eliminam dando-lhes mais adubo e regando-as todos os dias. Só há uma maneira de as eliminar. É arrancá-las pela raiz e pô-las ao sol a secar. Depois, nova vida, com a terra limpa de vez e novas culturas.

Infelizmente o país está dominado por gente que se julga insubstituível, só porque se considera um elo de uma corrente indestrutível. E esta corrente nacional com muitas ramificações, para muitas actividades, negócios, corporações e instituições, tem sido capaz de resistir aos mais evidentes sinais de que ela é perniciosa, destruidora e bem alimentada.

Como se trata de elos de uma forte corrente, seria mais correcto dizer que ela está bem oleada por zelosos conservadores e bem protegida por altos poderes de que se vai falando baixinho. Mas os que assim falam não recebem a bênção de quem lhes interessa mais ocupar-se de outros interesses e poderes.

Voltando aos juízes de apitos perfumados fora dos relvados, foi bom verificar que um desqualificado das estruturas de Aveiro, abriu o livro no estádio e mostrou como se ensinam os altamente qualificados em esquemas e manhas, embora se saiba que nada disso vai modificar seja o que for. Por enquanto.

Mas, o tempo não pára nem perdoa. Exemplos? Cada vez mais por esse mundo fora, alguns deles já relativamente perto de nós, portugueses. No desporto, na política, na sociedade. Vão caindo os ditadores que ainda resistem. Vão sendo denunciados e perseguidos os corruptos e os egoístas que não respeitam nada nem ninguém.    

A impunidade não pode ser tolerada seja a quem for, por mais independência que reclamem os impunes, ou por mais independência que os beneficiados lhes queiram atribuir. A independência só se conquista com a consciência e nunca com poderes que só servem para dar cobertura aos actos mais atrabiliários.

Mal de quem convive bem com árbitros que apitam de olhos fechados, ou com juízes que decidem consoante o preço que cobram por cada decisão. Mais tarde ou mais cedo esse tipo de arbitragens ou de julgamentos vai caber-lhes em sorte. Porque há sempre um árbitro mais acima que pode despertar a qualquer momento.

Entretanto, má sorte a minha se algum dos aqui referidos ler esta coisa. Eles ofendem-se muito e são capazes de ver nestas palavras uma indignidade no que toca os seus actos. Como são árbitros e juízes de uma justiça muito própria, estou feito ó bife. E, quem sabe, mais uns jogos sem eles.

 

 

 

Duas da manhã, ei, aí vou eu de avião em classe micro turística, para dar uma forcinha especial, neste momento de especial fraqueza para os portugueses, mas que eu, com esta viagem super económica e com todo o meu esforço, saberei transformá-la no estímulo que o país precisa para que os meus amigos recuperem tudo o que bem merecem. Bonito!...

Sim, eu disse os meus amigos, leram muito bem, pois se eu quisesse tinha dito os portugueses. Porém, isso não corresponderia à verdade e, como muito bem sabem, faltar à verdade não é comigo, nem com os meus amigos, mas com os outros, que ainda estão bem frescos nas vossas memórias e nas nossas, claro.

Esta viagem de ida e volta à Colômbia não é uma pêra doce, até porque ela pretende fazer esquecer as poucas-vergonhas que se estão a passar em torno do futebol, por causa das desconfianças injustificadas de quem só pretende criar confusões para ver se começam a ganhar os que normalmente perdem e se começam a perder os que normalmente ganham. 

Que ninguém tenha ilusões de que eu vou dar a volta a isto. Todos os portugueses podem estar certos de que, comigo, quem tem ganho vai continuar a ganhar e quem até aqui tem perdido, vai continuar a perder. Isto não é uma promessa para não cumprir. Isto é uma garantia de quem tem a certeza de que novidades, novidades, só a minha palavra.

Foi precisamente por isso que eu fiz o grande sacrifício de vir à Colômbia. Foi para garantir que os jovens portugueses vão continuar a não sofrer golos, mas passem também a cortar a direito por entre os defensores brasileiros que até têm fama de coxos. Mas, sobretudo, para que os jovens portugueses saibam que comigo presente, vão ganhar tudo, sempre.

Claro está que a partir das duas da manhã de sábado, dia em que em Portugal se vai deixar de influenciar os resultados, toda a gente só vai pensar que eu estou na Colômbia para salvar Portugal e os portugueses de uma onda de injustificadas ofensas à honra de quem ajuda a ganhar jogos que têm obrigatoriamente de ser ganhos.

Comigo é assim. Que ninguém me venha cá dizer quem é que deve ganhar e quem é que deve perder. Isso são ossos do meu ofício, ou não estivesse eu habituado a lidar com touros de duzentos quilos, em touradas reais, transmitidas em directo pela televisão que, finalmente, vou leiloar dentro de pouco tempo.

Bastaria o facto de eu ter vindo à Colômbia elevar a moral desta rapaziada que se habituou a não marcar, mas também a não sofrer, para que sinta a felicidade de me considerar o maior conquistador de prestígio para o nosso país, tão caluniado até há dois meses atrás, mas no auge do prestígio desde há um mês, e nos píncaros do futebol desde as duas da madrugada.

À hora a que escrevo estas linhas ainda não sei se a minha viagem de regresso se fará com a comitiva, como porta-bandeira nacional, ou se me esconderei no porão de um avião de carga, para não onerar demasiado a deslocação. Não admito a segunda hipótese, porque sou e serei sempre um vencedor logo, não admito que o futebol tenha contingências estranhas.

Pois é!… Desta vez é melhor meter a língua no saco e vir mesmo no porão do avião de carga para fugir aos jornalistas que irão com certeza perguntar-me o que vim eu aqui fazer. Estava tudo a correr tão bem. Fico a pensar se não teria sido eu a dar aquela dose de azar, através da minha exibição oral após a chegada à Colômbia, de que a selecção não precisava nada.

Já tenho a experiência de acontecimentos anteriores em que a euforia de antes é proporcional à decepção de depois. Mas insisto em cometer a mesma burrice, como se não fosse preferível fazer a festa depois de os êxitos estarem confirmados. Sei que não sou só eu a dar estes tristes espectáculos, mas eu devia preocupar-me apenas comigo.   

Do mal, o menos. A selecção portou-se bem, apesar de levar três de uma só vez. Mas também marcou dois, o que não era muito normal. Quanto a mim, gastei pouco nas viagens, falei de mais à chegada, mas não falei à partida. Achei que, nestas circunstâncias, o protagonismo devia ser dado aos intervenientes no acontecimento.

Só tive pena de não ter ficado em Lisboa e ir depois à chegada ao aeroporto dar a todos esses protagonistas um abraço de consolação. Mas, a viagem à Colômbia, que eu não conhecia, foi uma tentação irresistível. Que fique claro, que a viagem de regresso, no porão, foi de borla.     

 

 

Há muito tempo que oiço dizer que ele é mesmo teso. Teso no sentido de nunca torcer, nem tão pouco cair no ridículo de ter que quebrar. Lá diz o ditado que antes quebrar que torcer, mas ele é muito mais que sujeito a um qualquer ditado, mesmo mais popular que ele, ou não houvesse quem lhe atribua o cognome de ditador.

Ditador e popular, mas teso, tríplice que não quadra lá muito bem com o resultado final de cada uma das três componentes da sua génese. Mas, sobretudo, não quadra mesmo nada com aquilo que cada um dos seus seguidores espera no âmbito dos interesses específicos de cada um deles e próprios de sítio onde ainda se dita qualquer coisa.

A classe reinante e dominadora é a única que beneficia inteiramente desse tríplice, na medida em que assim, está protegida de todos os perigos que a pudessem ameaçar. Um protector que dita, teso e seguido sem qualquer contestação, é tudo o que uma classe exploradora pode desejar para se sentir segura nos seus abusos.

E a maralha pobre, ou mesmo remediada, no meio da lonjura em relação a outras vivências, não lhe resta mais que conformar-se com o pouco que a sua vista alcança, com o receio latente de que até pode perder esse pouco que ainda lhe deixam ter, certa de que mais vale uma banana na mão que duas a voar.

O Alberto é teso como se fosse de madeira feito. De madeira de pau-ferro, o que lhe tem permitido bater e abater outros paus de outras madeiras que noutras bandas do país se curvam perante a sua dureza, que é mesmo tesura de se lhe tirar o chapéu. Porque a sua língua não enrola dentro da boca, mas enrola quem ouse desafiá-lo.

Agora, com a tesura habitual, afirma que não tem liquidez embora tenha muito e valioso vasilhame. Mas, vasilhame sem líquido é zero, porque ninguém se consola a chupar por uma garrafa vazia, nem que ela seja de oiro. E o Alberto não bebe oiro, mesmo que o derreta até ter a liquidez do vinho da madeira mais qualificado.

É que a liquidez de que ele gosta tem de fazer estalos com a língua, sempre sem a dobrar, para não ganhar o hábito de sujeitar-se à disciplina de outras línguas que espreitam a maneira de lhe esconder o precioso líquido que ele reclama, a fim de que a sua liquidez fique sempre garantida e a coberto de qualquer rotura nos fornecimentos.

Porém, chegou o momento de se fazer uma avaliação muito séria sobre a tesura do Alberto e a tesura do Pedro. Mas, principalmente, de o Pedro mostrar qual a sua sensibilidade em relação à necessidade de liquidez da garganta do Alberto e à secura das gargantas que o Pedro se comprometeu a manter no limiar de sobrevivência.

Dirá o Alberto que também tem lá muitas gargantas em risco de começarem a ficar com pouca liquidez. Que ele fará tudo, mas mesmo tudo, para que nada lhes falte, nem a ele, nem aos seus melhores consumidores e fornecedores dos preciosos líquidos, o dele em garrafas finas e douradas, o dos outros em garrafões de OH2.

Quando a liquidez lhe escasseia, ao Alberto, claro, nota-se que começa a acusar um grau excessivo de acidez, fruto de que já não há sais de fruto que lhe acalmem o estômago e, por consequência, a língua. Tudo fruto de uma longa e excessiva abundância de liquidez, mesmo quando ela faltava nos domínios de quem o satisfazia.

É por isso que neste momento de sede generalizada, o país está suspenso do resultado de mais esta investida do Alberto. Porque é muito importante o veredicto do Pedro, quando não tem feito outra coisa que secar as gargantas que já nem as chuvas de todo o ano conseguem humedecer. É um teste muito forte à tesura de dois tesos em confronto amigável.

Não me surpreenderia mesmo nada, se este confronto viesse a ter o palco que merecem os grandes desafios nacionais. Uma justificação especial no Facebook que sirva para acalmar as gargantas sedentas que reclamam um copo de água. Mesmo sabendo que os donos delas nunca a verão. Mas podem vir a ver muitos copos do melhor whisky nas mãos do Alberto.    

Estas coisas da liquidez têm muito que se lhe diga. Realmente, o país está cada vez mais seco e cada vez mais teso. Mas, ao que vejo e sinto à minha volta, a única maneira de esquecer a liquidez é engolir em seco a toda a hora.

 

  

17 Ago, 2011

Enfim, salvos!

Já vejo uma luzinha ao fundo do túnel que me garante que a escuridão impenetrável da nossa situação já está ultrapassada. Porque basta uma ténue réstia de claridade para que possamos perder o mau rumo que nos estava a guiar para o abismo. O sentido está invertido e corre agora para o determinante rumo novo de que ainda só vemos a sombra.

Essa luzinha fugidia não nos foi dada pelo homem com ares de rabejador amador das relvas da lezíria, que descobriu agora que a nossa salvação está na poupança, talvez na esperança de que reste mais nos cofres, para ele e os seus compadres poderem gastar a mais. E assim, de repente, temos mais um inesperado messias a conduzir-nos.

Tão pouco essa luzinha foi acesa pelo homem que vestiu agora o uniforme militar de cerimónia para anunciar ao país quem deve pedir desculpas a quem, sabendo de antemão que ele próprio ficou com tais culpas que não há desculpas que as apaguem. Não terá sido por causa disso que lhe bateram a pala tantas vezes seguidas.

Mas a luzinha ao fundo do túnel também não nos foi trazida do calçadão da Quarteira onde voltou a ouvir-se falar de colossal, mais uma vez, já não sei a propósito de quê. Pelos vistos há colossalidades que vestem bem com a pele de quem gosta de servir-se delas para encobrir a roupa interior um tanto fora de moda.

É com alguma surpresa que verifico que a tal luzinha também não vem do Face Book, esse maravilhoso mundo que o povo não conhece nem vê, mas onde habita quem nos amola com textos que não são para o povo ler, com certeza. Talvez pretendam dar sinais de uma modernidade que tem o bafio de uma era que já não vivemos.

Eventualmente, essa luzinha podia vir de gente muito competente mas que não quis ainda mostrar que o é na verdade. De gente com muitas ideias mas que ainda não conseguiu exprimi-las. De gente que já pensou em muitas coisas, mas que ainda não tentou sequer pô-las em prática. De gente que já falou muito lá fora mas que, cá dentro, ainda não disse nada.

Só tenho fundados receios de que, repentinamente, surja no nosso espaço um relâmpago que nos tire a visão momentaneamente, o tempo suficiente para que eles, os infalíveis, fujam para o mundo que têm em mente. E também o tempo necessário de perdermos de vista a luzinha do fundo do túnel, ficando em perigo a sua recuperação.    

Essa luzinha veio do Eliseu, onde a bundesmerkel e o francosarkozy descobriram em conjunto, que ambos querem um governo económico europeu, chefiado por alguém que eles também já descobriram e anunciaram. Ou não fossem eles os reformadores de todas as instâncias que os estão a chatear permanentemente.

O surgimento dessa luzinha, prenuncia que o homem da poupança bem pode ir pregar para a lezíria, entre duas pegas de caras, enquanto o militar fardado a rigor, poderá ter de vestir a fatiota de campanha e falar mais baixo por causa da espionagem. A propósito, ambos devem ter na devida conta o que se passa nas secretas, depois de deixarem de o ser.

Quanto aos textos no Face Book, lidos por um ou dois milhares (ah, ah, ah,) seria uma boa política mudarem-se para a Benfica TV. Sempre serão vistos por seis milhões, no mínimo (eh, eh, eh). Mas, se mesmo assim entenderem que são poucos, façam a repetição no Porto Canal pois, com sorte, podem ter mais umas centenas (ih, ih, ih).

A nossa luzinha ao fundo túnel, provavelmente vai livrar-nos do FMI que, por sua vez, já nos tinha livrado do Passos que, por sua vez, já nos tinha livrado do Sócrates. Com o governo europeu, também se acaba esta eterna bagunça de todos os barões mandarem no governo de cá. É que para mandarem no governo de lá, tinham de gastar muita massa.

Isto porque cá, tinham, e ainda têm, tudo de borla. As estórias, as polémicas, os protagonistas, os fornecedores, as isenções, enfim, um sem número de regalias que uma simples luzinha ao fundo do túnel, pode tornar de muito difícil continuidade. A senhora bundes e o senhor franco têm a palavra, como sempre.

Ah, já me esquecia. Essa luzinha milagreira bem pode juntar os bons portugueses Durão e Sócrates, em qualquer sítio dessa Europa, onde poderíamos ouvir frequentemente – Isto aqui é que é porreirinho… Estamos salvos!

 

 

16 Ago, 2011

Misericórdia! ...

Ainda não será este o grito do momento, mas há indícios de que não faltarão já, pedidos de compaixão feitos em surdina, não propriamente por quem vive mesmo miseravelmente, como sempre viveu, mas por gente que já viveu bem, ou muito bem, e agora se vê numa situação mais ou menos aflitiva.

Entre estes, e aqueles que ainda pedem esmola na rua, mais ou menos ruidosamente, sentados junto a portas muito movimentadas, há uma diferença assistencial que choca. Os pedintes de rua, por mais que tentem obter a comiseração de quem passa, não são ouvidos, nem sequer vistos, por quem tanto diz estar atento à pobreza.

Os que constituem a chamada pobreza envergonhada obtêm com alguma facilidade o apoio assistencial de entidades como as câmaras municipais e as misericórdias. Os que pedem na rua são ignorados, sem que ninguém, polícia incluída, se dê ao trabalho de verificar se são, ou não, casos de urgente atenção e auxílio.

Se isto não é um caso de comiseração pela desgraça alheia, não compreendo o estado que tanto diz voltar-se cada vez mais para as instituições de solidariedade social, nomeadamente, as misericórdias, todas elas recebendo recursos significativos para exercer essa função assistencial, com a responsabilidade moral de a executarem bem.

Do vocabulário corrente dessas instituições constam palavras como compaixão, piedade ou caridade, mas também, não raras vezes, se verificam termos como negócios ou discriminação na admissão dos seus assistidos, principalmente, no tratamento e alimentação de idosos, relativamente ao que podem pagar para estar ali.

Associa-se muito as misericórdias a instituições de caridade e esta, a uma acção religiosa onde predomina o tratamento com base no amor e na fraternidade. Talvez porque a igreja e as religiosas foram o seu suporte durante muitos anos. Hoje, na sua grande maioria, encontramos ali, gente assalariada, por curtos períodos, sem qualquer formação específica.

Com as coisas a rumarem neste sentido, eu e muitos cidadãos, a maioria dos cidadãos, teremos à nossa espera, num futuro próximo, uma santa casa da misericórdia que nos acolherá quando precisarmos daqueles cuidados que até agora nos eram prestados nos hospitais da rede pública a que tínhamos direito, sem discriminações.

Misericórdia! … Este é também o meu grito quando vejo o espectáculo da Quarteira, a que outros se seguirão, em que tanto se fala de contenção e de sacrifícios e depois o que se vê ali em frente dos olhos, é esbanjamento, ostentação e uma ofensa sem nome à pobreza e à substituição dos meios dignos de vida, por meios de institucionalização da pobreza.

Dirão que tudo isto faz falta à democracia. Pois eu diria que a democracia não é nada disto. A democracia aproxima, não separa. Se é preciso cortar, tem de se começar por cortar os excessos destes democratas que têm origem no assalto aos bolsos dos contribuintes obrigados a contribuir mesmo para sustentar indignidades alheias.

Indignidades que continuam a servir de desculpas indignas de quem as oculta e omite, para seu benefício. Indignidade de quem tolera e protege o que se faz na Madeira. Indignidade de quem não quer falar dos indignos que roubaram o BPN. Indignidade quando nos pedem coisas brutais ou colossais que nunca foram capazes de dar a ninguém.

Misericórdia! … Volto a levantar a minha indignação pelo que se passa no submundo do futebol, devidamente evidenciado logo na primeira jornada da liga. Ninguém põe cobro aos desmandos de uma trupe de ‘apitadores’ e seus maestros que tudo subvertem aos olhos de toda a gente que não tem óculos demasiado coloridos.

Misericórdia! … É o suspiro que este povo resignado espera de muitos dos seus algozes, ao longo de muitos anos. Mas agora, com redobrada esperança de que haja mesmo misericórdia muito especial para a sua sobrevivência. Senão, só lhes resta solicitar, de joelhos e com toda a humildade, que lhes seja concedido o golpe de misericórdia.

 

 

Ainda tenho o mau hábito de fazer uma incursão ao mundo dos jornais diários e dos periódicos, passando mesmo os olhos pelos que dizem sempre, mais ou menos, a mesma coisa. De qualquer forma, não deixo de me sentir satisfeito no final de cada ronda, pois não há nada melhor que umas torceduras de nariz ou uns sorrisos de graça para começar bem o dia.

Porém, também não dispenso ler aqui e ali alguns comentários sobre os artigos que espreito, porque acho isso o máximo. Têm imensa piada e um extraordinário bom gosto todos aqueles que metem constantemente a sua cultura e a sua gramática na classificação de gente que não conhecem de lado nenhum, mas que a classificam genialmente.    

É o caso do uso do termo xuxas para saudar os socialistas, com aquele carinho de quem sabe que não há nada melhor para ninguém que viver xuxando a vida inteira como se a maminha fosse um dom exclusivo daquela família política. A graça está precisamente no facto de nem sempre mamar menos, quem mais chora.

É obvio que, no caso concreto, o choro é a algazarra que se utiliza para tentar impor essa ideia de que só os xuxas é que mamam. Isto porque se vê o país como se fosse um par de tetas, só abocanhadas pelos beiços de quem tem o poder, ou anda à volta dele. A mama, porém, nem sempre é poder. Quantas vezes, ela é o anti-poder.

Como o poder mudou recentemente entre nós, faz algum sentido libertar os xuxas desse estigma de mamões. Mas, não faz sentido pensar que deixou de haver mamões. Então, temos de ver por onde é que eles andam e como devemos falar deles, dentro da mesma lógica de poder e dentro do mesmo conceito de mama.

Já me constou que foram os xuxais a herdar a mama, como consequência de terem afastado os xuxas dos peitos do poder. A coisa, em termos de nomenclatura, até nem ficou muito diferente. Há ali apenas uma vogal a mais, precisamente um ‘i’, que até pode querer dizer que, mais coisa menos coisa, vai ficar tudo ‘igual’.

Sem querer fazer comparações técnico-científicas, assim, a ‘olhómetro’, os xuxais apresentam uma significativa vantagem que vai muito para lá do ‘i’, mas deixo isso ao critério dos próprios que, melhor que ninguém, lá sabem as linhas com que se cosem. E, de cosidos, está o país cheio, com suspeitas de que vai mesmo transbordar.

De qualquer forma, o que há de mais engraçado nesta xuxadeira toda, é que se mete toda a gente no mesmo saco. Ora, não é possível, é mesmo completamente impossível haver tantas tetas para tanta gente xuxar, ainda que o façam em tempos alternados. Para lá da graça que estas coisas sempre têm, vamos lá evitar as touradas verbais.

A hora é dos xuxais, muito ou pouco democratas. Eles dirão que já não é sem tempo. Contudo, muitos deles, ou apenas alguns deles, começam a ver o tempo passar e a perder a esperança de serem contemplados à maneira dos tempos que já lá vão. São maneiras de encarar as dificuldades da vida, sempre madrasta para quem não tem sorte nenhuma.

Mas, há sempre uma solução alternativa para quem não conseguiu ser um dos xuxais de primeira. É considerar-se ao nível de todos os xuxas que ficaram a xuxar no dedo. Para quem tem o vício, sempre é melhor que nada.  

 

 

Estou plenamente convencido de que vão ser criadas duas grandes, diria mesmo que duas super divisões do fisco, localizadas em zonas que já deram provas noutras áreas da administração pública. Falo das divisões Debaixo Vouga e Douro Subterrâneo, onde a eficácia e a imparcialidade já criaram raízes profundas no combate ao crime.

É evidente que o fisco carece de justiça e, como tal, tem de ser averiguado e tratado como crime. As duas grandes super divisões citadas já podem fornecer experiências muito construtivas, sobretudo pelo grande impacto que já conquistaram na opinião pública com a gestão extraordinária de casos não ordinários bem conhecidos.

O fisco tem absoluta necessidade de se afirmar como uma área justa, eficaz e independente, daí que se tenha optado por reforçar os seus efectivos com mais umas centenas ou milhares de fiscos, de modo a atacar os criminosos em todas as frentes, tal como tem acontecido na área da justiça, nas zonas referidas.

As super divisões fiscais Debaixo Vouga e Douro Subterrâneo com os seus novos efectivos têm tudo para dar certo até porque, não tenho dúvidas, os seus mentores já terão visto, tal como eu que, não só são precisos mais agentes mas, sobretudo, mais fiscos que fiscalizem os fiscos já existentes.

Essa situação nunca se colocou na justiça, porque essas zonas já sabem perfeitamente quem são os malfeitores que vale a pena investigar. São todos aqueles que os obrigam a andar anos à procura da rolha e depois chegam à conclusão de que não vale a pena perder tempo com julgamentos de trazer por casa.

Ah, mas o fisco é outra loiça. É que estes de agora, não fazem a menor ideia de quem fez ricos muitos dos fiscos antigos, tal como não sabem quais são os novos fiscos que querem imitar os seus antecedentes. Logo, isto de meter muitos tem sempre o inconveniente da obrigação de meter os suficientes, para além daqueles, capazes de se investigarem uns aos outros.

Suponho mesmo que não haverá ninguém que não acredite na fuga e evasão fiscal por parte de muitos dos fiscos. Mas, muito pior que isso, é a fuga e evasão que eles podem deixar fazer, se em Debaixo Vouga e Douro Subterrâneo não houver aquela colaboração necessária entre o fisco e a justiça de investigação.

Torna-se absolutamente necessário que os critérios de detecção e detenção de criminosos sejam exactamente os mesmos que têm vigorado com o êxito que de há muito tempo se conhece. Investigar todos os que se julga que o são, precisamente para desfazer dúvidas, deixando em paz aqueles que já se sabe há muito que o são.

Portanto, venham fiscos com fartura, mesmo que a troika refile com os gastos que isso provoca, no entender deles. Mas, cá no meu, ganhava-se muito mais com a fusão de toda a investigação em Debaixo Vouga e Douro Subterrâneo. São opções, mas confesso que a maior dúvida é já não saber qual das troikas manda mais. Se a nossa, se a deles.

Contudo, haja alguma coisa boa, pois são mais uns postos de trabalho que se criam, ou menos uns postos de trabalho que não vão ao ar. Mas, espero que não se esqueçam de dizer a esses fiscos e fiscas que ficarem, que não fujam dos prevaricadores muito conhecidos e se atirem apenas aos que ninguém conhece.

Atirem-se a todos com igual genica, mas não deixem que vos atirem nada para as mãos, para que fechem os olhos.

 

 

A política tem ideias extraordinárias que se destinam a serenar os espíritos mais reactivos após as mudanças de governos. Como se do governo que lá vai, estivesse tudo dito, e do próximo, só se pudesse falar, quando já não valesse a pena dizer nada. Na verdade, sempre se sobrepõe a paixão à racionalidade.

O estado de graça é parente do benefício da dúvida, pois ambos os estados de alma dos eleitores se verificam no início de cada mandato. Os que ganham o poder aproveitam para dar largas ao seu contentamento nesse período, enquanto os que o perderam aproveitam para se refazer do choque sempre difícil, ao passar para a mó de baixo.

O primeiro governo de Sócrates deve ter batido todos os recordes de estado de graça, enquanto o segundo não resistiu a mais de cerca de metade da sua duração normal. Este governo de Passos, agora com cerca de um mês, parece já estar a perder a graça e a ouvir a consolação possível do benefício da dúvida.

Estas diferenças visíveis talvez queiram dizer alguma coisa a quem for capaz de fazer uma retrospectiva isenta de paixões exacerbadas, que não vale a pena fazer neste momento. Precisamente, porque muita poeira ainda não assentou, mas vai assentar, pois nem todas as paixões conseguem sobreviver às leis do tempo.

A verdade é que nós, portugueses, andamos há demasiado tempo a dar o benefício da dúvida a governantes e políticos que, de ciclo em ciclo, nada mais nos deixam que uma desilusão profunda de que as dúvidas nunca se esclarecem e os benefícios sempre se esfumam, deixando no seu lugar os habituais prejuízos que não param de se amontoar.

Já nem vale a pena culpar este ou aquele, melhor, estes, aqueles ou os outros, por tudo o que temos de pagar daqui em diante, porque também não podíamos excluir as culpas de todos, aquelas que cabem ao povo em geral e, particularmente, aos muitos mentores abalizados que têm a pretensão e o proveito de orientar a opinião que faz lei nesta balbúrdia.

Seria um erro que pagaríamos muito caro, se os actuais governantes e os seus mais acérrimos seguidores e defensores pensassem que não lhes cabe responsabilidade nenhuma pelo passado do país e pelo estado em que o encontraram agora. Basta que olhem à sua volta, que meditem no que fizeram e disseram ao longo dos anos e terão aí a resposta.   

Não basta dizer que acabaram de ganhar eleições e que, por isso, têm a confiança do povo, para todas as medidas que vão tomando. Convém não esquecer que substituíram um governo que também havia ganho eleições, mas que não o deixaram completar o mandato que esse mesmo povo lhe tinha dado.

Não basta dizer que o povo é bestial quando elege uns e é uma besta irracional quando depois os deita abaixo. O povo nem sempre é sábio, mas também não é tão estúpido como por vezes o querem fazer. O povo tem culpas porque tem os seus interesses, composto como é por cidadãos que, normalmente, põem os seus interesses individuais, acima dos colectivos.   

O povo tem dentro de si muitos cidadãos egoístas que impedem, em muitas circunstâncias, a existência de uma sociedade mais justa e livre. Mas, que ninguém se esqueça de que é o povo que manda, sempre que é chamado a decidir. E ninguém está livre de ser apanhado e multado numa curva perigosa da estrada, quando mais tranquilo se julga.

À cautela, nunca será demais pensar na hipótese de um percalço de percurso, que mais não seja aquele contratempo que advém do facto de, como diz o povo, não faças aos outros o que não queres que te façam a ti. No caso presente, não estás livre de que te façam a ti, aquilo que fizeste aos outros.

É evidente que isto não é uma profecia, nem sequer um desejo. Mas, é uma hipótese, que não quebra, por si só, o estado de graça, nem retira o benefício da dúvida.

 

 

Pág. 1/2