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afonsonunes

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Foi com esta tirada que Miguel Relvas, o novo criador de bons hábitos e o novo ideólogo do regime laranja, lembrou a Gabriela Canavilhas que os estudos de qualquer coisa sobre a RTP custaram ‘0’, feito com dois dedos, ‘0’, repetiu uma vez, duas vezes, na AR, com aquele sorriso que não engana mesmo ninguém.

Não engana os seus seguidores que vêem nele o símbolo do brincalhão que não sabe o que são coisas sérias com as quais se não deve brincar. Que não engana quem não acredita numa sílaba do que lhe ouve, porque vai sempre ao encontro da formação de palavras que, analisadas à luz da vela, dão sempre em parvoíce.

Estes novos hábitos, destes novos tempos, destes novos governantes, trazem-nos a cadeia de verdades que entroncam no princípio de que o custo zero vai ser a grande novidade da ‘saizon’ que está mesmo, mesmo a começar agora. É bom que se comece com todos os estudos a custar zero, incluindo a velhinha primeira classe e a universidade de verão.

Estes novos hábitos já nos garantiram à evidência que, afinal, a experiência de ter-mos um Pinóquio num governo que já se foi, deixou tão boa memória que, sem grande surpresa, aliás, temos agora um governo com vários Pinóquios, qual deles o mais pencudo e qual deles o mais optimista em relação ao crescimento desse apêndice nasal.

Novos hábitos na filosofia da cantiga dos coitadinhos, caso das preocupações ainda na minha memória no início da crise, substituindo a teoria de que nada poderia faltar aos idosos e às criancinhas, pela nova teoria de que o país não suporta tantas ajudas, tantos subsídios a tanta gente, mesmo que não tenha meios de subsistência.

São também novos hábitos, aqueles que o PM nos lembra que temos de gastar menos, como se nos fosse permitido continuar a gastar o que não temos, depois de nos taparem todas as portas de acesso a qualquer tipo de trabalho ou actividade, bem como às saudosas facilidades de compre agora e pague depois, que estes e outros sempre estimularam.

Novos hábitos serão também os recursos à tão condenada desculpa da conjuntura internacional do ex PM para justificar as medidas de austeridade, agora, sim, com toda a pertinência por parte do actual PM, ainda com a estafada desculpa de que todos temos de ajudar a fazer aquilo que eles sempre se negaram a fazer.

Claro que novos hábitos são também estas maneiras de andar num esconde, esconde das trafulhices dos amigos e companheiros, como se esta verdade e transparência, bem como alguns indícios de claustrofobia democrática que eles próprios inventaram, fossem mais umas cópias ou fotocópias que resolveram tomar como manuais de procedimentos.

Como já era de esperar, novos hábitos são aqueles que permitiram transformar os acordos com a troika, numa bíblia da sua fé ideológica, tentando a toda a hora acusar de desrespeitar esses acordos quem tenha uma visão mais realista desses verdadeiros textos sabido que é, que eles têm várias leituras possíveis e várias formas de os cumprir.

São ainda novos hábitos, querer ressuscitar a agricultura, as pescas, a pequena indústria, tudo abatido há longos anos, em troca de dinheiro que serviu para comprar carros topo de gama e apartamentos de luxo, quando devia ter sido utilizado na modernização de infra-estruturas que nos permitissem evitar o descalabro das importações de bens que podíamos produzir.

Realmente, além dos citados, são muitos os novos hábitos, está a ver, Miguel Relvas? Se isto era um país de velhos hábitos, bem me parece que continua a ter cada vez piores hábitos, por mais que a sua ironia de mau gosto, me queira impingir tretas que eu já conheço de ginjeira. O mesmo me apetece dizer da filosofia do seu chefe, que já ouvi em qualquer lado.

Seria interessante que todos vós se désseis ao trabalho de ver o filme da vossa ascensão ao poder, ou seja, tudo o que dissestes antes de lá chegar, as vossas sábias promessas, a vossa invejável sabedoria das necessidades que iam levar à salvação do país e, já no poder, as vossas cambalhotas acrobáticas para disfarçar indisfarçáveis realidades.

Daí que me pareça que os velhos hábitos, ou os novos hábitos, podem ser correctamente aplicados, se os seus possuidores tiverem o bom senso de só falarem do que sabem e só fazerem o que aprenderam a fazer bem. Está a ver, Miguel Relvas?

 

 

Há que tempos que ando a ouvir falar de um estado gordo e vejo quase diariamente um ataque sistemático à suposta gordura dos cidadãos que trabalham, situados nas tão faladas classes médias, umas mais altas outras mais baixas mas, todas elas, muito abaixo das gorduras que nunca mais alguém vê atacar.

Temos realmente um estado gordo, mas não cabe na cabeça de ninguém com a massa cinzenta na sua coloração normal, pensar que a gordura do estado se reduz, deixando os cidadãos que trabalham para o estado com o seu físico reduzido a pele e osso, simplesmente porque são mandados para casa sem qualquer meio de se alimentar.

Em boa verdade, assim, é fácil e cómodo o estado vangloriar-se de que está a fazer o maior corte da despesa histórica dos últimos cinquenta anos, ou, numa segunda versão, o maior corte histórico da sua despesa. E, tudo isto é dito como se fosse o estado que estivesse a fazer um esforço colossal para conseguir emagrecer, e não os cidadãos cada vez mais magros.

Já não consigo perceber se o ministro quis realçar a despesa histórica, o corte histórico ou uma disfunção gramatical, mas percebo perfeitamente que as verdadeiras obesidades neste estado a arrastar-se em completa organização disfuncional, continuam a ser alimentadas com a tradicional e velhinha extravagância.

Portanto, o estado, como sempre o tem feito ao longo de décadas, continua a assobiar para o lado, quando não para trás, como se tudo tivesse sido culpa de outros, limitando-se a prometer o que esses outros já nos haviam prometido, quantas vezes promessas falhadas por culpa dos que agora prometem acabar com aquilo que criaram ou ajudaram a criar.

Na altura de começar a actividade governamental, até há coisas muito interessantes que gostamos de ouvir, caso do emagrecimento do estado, caso da criação de condições para que tenhamos um país com mais e melhor justiça, mais e melhor educação, mais e melhor estado social, com uma mais justa distribuição de riqueza.

Porém, o tempo vai-se encarregando de mostrar como tudo isso são ilusões que passam como fugazes sonhos de uma noite que se segue a um dia de intenso cansaço, em que o corpo cai na cama e fica imóvel até ao nascer do sol. Mas, com ele, nesse acordar de volta à realidade, depressa nos sentimos nos tentáculos da vida que sempre tivemos.

Lá vamos nós para os braços de quem nos retira todas as probabilidades de criar uma pequenina reserva de gordura, porque ela não é compatível com a manutenção das obesidades do estado e dos seus obesos sustentáculos. Que sempre nos dizem que vão ser reduzidas, mas que, na realidade, vemos sempre a aumentar.

Reduzem-se, sim, os que servem para ajudar os contribuintes a ter a vida facilitada, porque até parece que o estado só pode emagrecer cortando nos que fazem falta, nos que vão engrossar as listas do desemprego ou o rol de reformados com idade de ainda terem muito para dar ao serviço público. Tudo se faz para distribuir pobreza em lugar de riqueza.

As anafadas barrigas dos anafados gestores, altos dirigentes e representantes do estado não são consideradas gorduras do estado, embora se saiba que elas constituem a origem do estado de sítio a que isto chegou. Há décadas que se conhecem os monstros que existem na sociedade e as monstruosidades que ocasionam.

Quando se descobre que algum dos obesos se abotoou com uns milhões, que gastaram à margem e ao arrepio do estado, logo o estado nos vai, pressuroso, meter a mão nos bolsos para que o estado fique com as continhas em ordem. Sim, porque nós somos uma espécie de banco do estado, onde o estado vai levantar o que precisa.

Logo, as gorduras do estado são sempre repostas pelas energias, mesmo que em estado muito débil, dos esgotados cidadãos, em lugar de se procurarem fontes de armazenamento ilícito que proliferam com conhecimento de quem tem a obrigação de lhes seguir o rastro e fazê-las entrar no circuito que as leis determinam.

Parece que a euforia da mudança da incompetência para a suprema competência se vai diluindo em cada dia em que ouvimos um governante. Parece que os foguetes da festa já estoiraram todos, alguns deles nas mãos dos que mais deitaram. É sempre assim. Quem muito brinca com o fogo, acaba por se ir queimando.

Já nos tiraram todas as gorduras que deviam ter sido tiradas de outras barrigas. Agora só nos resta esperar que, como diz o povo, nos limpem o sarampo.

 

 

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