Estranhas coisas da vida
Contrariamente ao que sugere o título prometo que não vou falar do fado. Simplesmente, porque o nosso fado está traçado e, segundo a nobre tradição, ele não prescinde de nos deixar tristezas, nostalgias e lágrimas, apesar do fausto e a abastança de muitos dos seus locais, onde o povo que o viu nascer não tem entrada.
Certamente que não é por causa dos vinte e três por cento do IVA na factura, pois até gostava de saber quantos por cento dos estabelecimentos de fado, de restauração, de comércio e de tantos outros, não entregam um chavo daquilo que cobram. Cá para mim, o aumento é mais uma estupidez, pois devia era ver-se quem não cumpre a lei e zás.
O zás quer apenas dizer que a porta devia ficar mesmo fechada em caso de fraude, porque a concorrência devia ser limpa, leal e séria. Mas, por outro lado, não compreendo lá muito bem a indignação, o susto, dos que sabem que não cumprem, e são muitos, quando quem paga é o cliente. Essas histórias dos despedimentos, do fecho, e outras, são outra história.
A TAP vai ser privatizada e os pilotos vão ter de mão beijada uma participação na venda e na administração. Coisa linda de se ver. Eu também quero, pois tenho sido eu a ajudar a pagar os balúrdios dos prejuízos que ela tem dado ao longo dos anos. E ainda por cima nunca tive ordenado de piloto, nem pilotei nenhum dos balúrdios de interesses voadores.
Temos assistido a um braço de cera entre um chico esperto de nome Coelho e um anjinho chamado Seguro. Tudo por causa de umas folgas que não existiam mas que, afinal, sempre foram detectadas e aparafusadas, segundo o chico, e mal eliminadas segundo o seguro. Resultado, parafuso a menos por parte do esperto e um seguro com a folga estragada.
Parece que tudo se resumiu ao facto de ter havido a perspectiva de se terem juntado em parte incerta para um cafezinho. É que esta coisa de conversar sem molhar a garganta não dá. Mas o grande problema foi o facto de S. Bento ser relativamente distante do Rato. E, viaturas, é coisa que não há. Viaturas condignas, claro, porque chaços há por lá muitos.
Já me constou que o BPN e o BIC vão mesmo juntar os trapinhos e formar um potentado da banca mundial. Eu, entendido na matéria, não acredito. Então, se o BPN que ficou sem milhares de milhões que voaram para bolsos conhecidos, se recebeu milhares de milhões que foram para desconhecidos e se o BIC se desfalca em quarenta milhões, pode lá ser?
O INE agora também lhe deu para lançar a confusão no país. Então não anda a espalhar por aí que a confiança das pessoas e das empresas nunca esteve tão baixa como agora? Mas isso pode lá ser? Então essa confiança não tinha já batido no fundo há muito tempo? Querem agora fazer-me crer que ainda se pode descer abaixo do fundo?
Esta do fundo faz-me lembrar aquela dos recordes do desemprego que foram sendo batidos quase de mês para mês, como um feito só possível num contexto político muito pessoal, muito cor-de-rosa, que era preciso mudar. E mudou mesmo para um contexto laranja, sabe-se agora, muito ácida, com os recordes a serem batidos de semana para semana.
Assim sendo, cheguei àquele ponto em que estou como o povo que diz que já nem S. Pedro nos vale nesta afronta. Só que eu ainda vou recorrer a uma devoção muito especial que tenho por um santinho oculto. Não, não é nenhum santinho de pau carunchoso, não senhor. É o S. Pedro de Massamá, a quem o povo já começa a fazer promessas.
Já tivemos uma mulher que se transformou em símbolo da Pátria numa televisão. Já tivemos quem, por ela, se tivesse transformado em traidor à pátria. Já tivemos banqueiros a fazer um assalto de cara destapada ao seu próprio banco. Já temos um herói na cadeia. Ainda temos um herói que nunca mais sai da câmara para a cadeia. Não merecíamos tanto.
Certamente que não é por isso que anda tudo desmotivado. Mas também não é por causa dos que trabalham de menos e recebem de mais. Nem dos que vão apaziguar lutas e levam na cabeça. Nem dos que nos deviam governar e nos entregam a quem nos esfola. Nem dos que deviam prender malandros, mas não têm tempo.
O país está transformado num leilão gigantesco. Tenta-se vender casas, carros, propriedades, enfim, tudo o que agora não me lembra. Parece que penhoram as coisas às pessoas para que elas as comprem a seguir. É uma injustiça, como tantas outras. Esquecem que essas pessoas foram proibidas de ir buscar mais dinheiro ao banco. Não é justo.
Portugueses, juntai a vossa, à minha voz. Águias, leões, dragões, nos vossos actos solenes, mostrem o que valem. Gritem em uníssono: Não querem mais nada? Não façam cerimónia. Não se envergonhem. A gente dá, de boa vontade, tudo o que vós quiserdes. É só pedir.