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afonsonunes

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30 Dez, 2011

A última do ano

Sinceramente, depois de dizer tantas coisas sérias neste ano que vai terminar em folia, como todos, aliás, sinto-me exactamente como se já estivesse a terminar o ano de 2012. Não consigo descortinar porquê. Talvez no meu subconsciente exista a convicção de que devia ter aproveitado para brincar com essas coisas sérias que fui dizendo.

Se não fui capaz de brincar neste mau ano de 2011, gostava de prever o que será de mim no fatídico 2012 que aí vem. Certamente que não encontrarei ponta de assunto por onde pegar, pois estou completamente desorientado com a ideia do que mais tenho ouvido aos sábios, de que as coisas não vão estar para brincadeiras.

Agora estou a imaginar a minha figura ao tentar continuar a dizer coisas sérias, como o fiz neste ano que vai acabar. Seria fazer de conta que nada tinha mudado no país, pois ninguém me perdoaria um disparate desses. Mas, estou mesmo a ver que, se por acaso me desse para brincar, estava bem encomendado, estava, com o país inteiro a chorar.

É evidente que, se o país inteiro está a chorar, é porque eu também estou a chorar. Mas, se eu estou a chorar, como poderia estar, ao mesmo tempo, a brincar? Já sei que estão a pensar que isto é uma brincadeira de mau gosto. Pois eu digo que não. Como sempre, estou a falar muito a sério, ainda que ninguém acredite.

Não posso garantir nada, mas estou convencido de que esta é a última seriedade que tenho neste ano. Porque, cá para mim, amanhã, dia 31 de Dezembro de 2011, é dia de me desforrar e ir para a pândega pois, segundo dizem os entendidos, no dia a seguir acaba o mundo. Não acredito que uma coisa tão grande acabe assim de repente para todos.

Desconfio que esses entendidos querem dizer lá na deles, que acaba o mundo para muita gente, mas não estão a pensar que acaba o mundo deles. Sim, porque o mundo deles não é o do comum dos cidadãos. Estes, na verdade, vão ver acabar o mundo em que têm vivido. Os entendidos não, vão continuar a encher-se no nosso mundo de misérias.

Como ninguém me garante que o mundo não acaba também para mim, nesse dia, tenho de rezar bastante pela minha alma, pois amanhã não vou ter vagar com certeza. É que eu sou muito previdente, penso nas coisas a tempo e horas. Não sou como esses irresponsáveis que só pensam no dia de ontem, e só vão pensar na morte, depois de terem morrido mesmo.

Pronto, já sei que coisas destas não eram para aqui chamadas mas, como de costume, de vez em quando, isto descarrila. Estou perdoado, não estou? É preciso não esquecer que esta é a última do ano. Portanto, ao fazer desta, tinha de me dar um ataque de seriedade, daqueles que me põem a enxugar os olhos e o nariz.

É preciso despejar isto tudo no dia de hoje, não vá o diabo estragar-me o dia de amanhã. Depois de amanhã, começa a tal seca do ano de todas as pragas, em que ninguém pode fazer nada, em que ninguém pode dizer nada, em que ninguém pode olhar para nada, por causa das tentações maquiavélicas que o destino lançou sobre as nossas desregradas vidas.   

E por aqui me fico. Não vale a pena desejar um bom ano, excepto àqueles que se sentem felizes por ter saúde. Que a tenham.

 

 

O PS está murcho e limita-se a proferir umas frases feitas de carinho fraternal, enquanto o PSD não se cala com o feito de realizar algumas das coisas que lhe mandaram fazer, ao mesmo tempo que manda as costumeiras bicadas aos seus antecessores no poder.

Os mimos do PSD ao PS são a conversa do costume, agressiva e nem sempre justa nem leal, enquanto lá vai dizendo o que sabe que convém a Belém, no intento deste de parecer agora o que não foi no passado, não muito distante. Tudo para o povo ver e ouvir.

Seguro está mais calmo que seguro. Sabe que Passos está na corda bamba, tal como Passos sabia que Sócrates estava. O poder tanto pode estar longe, como pode estar ao virar da esquina. Seguro não quer suceder a Passos, do mesmo modo que este sucedeu a Sócrates.

Passos arriscou tudo, mesmo correndo o risco de se queimar no braseiro que criou. Chamuscado, e bem chamuscado, já está neste momento. Seguro não sopra o lume, mas espera que os ventos de mudança o aticem e resolvam isto de vez a seu favor. Mas, calma a mais nem sempre resulta.

Esta trilogia – Sócrates, Passos, Seguro – muito dificilmente conseguirá o mesmo destino. Todos são mais ou menos da mesma idade, todos vieram das mesmas origens e todos parecem pensar pela mesma cabeça nas questões mais relevantes para o país. Só a conversa muda.

Passos talvez não resista ao PSD, tal como Seguro dificilmente resistirá ao PS. Aquele, porque está obrigado a deitar fogo à própria casa. Seguro, porque a sua casa, o PS, começará a arder antes de ele ter os meios suficientes para prevenir o fogo.

Entretanto, o país, no meio da fumarada, ou da fumaça, talvez tenha de pegar na máscara e fazer um rescaldo de emergência, quem sabe no meio das cinzas e nomear bombeiros com capacidades extra, neste tipo de situação, em que a luta tem de ser rija, mas eficaz.

Antes disso, é essencial que o PSD e o PS se preparem convenientemente, para que a guerra do futuro tenha dignidade e resultados que levem o país para onde o povo quer. Esta coisa do PSD ter um Relvas que fala, fala, enquanto o PS tem um Seguro que não diz nada, não pode continuar.

É urgente que alguém convença estas duas prendas a pensar no bem-estar do povo português. Alguém que os convença a trocar de posições. Seguro para adjunto de Passos e Relvas para comandar o Rato. Pode parecer um disparate, mas bem pior é deixar tudo como está.

Seguro iria travar Passos a ter aquelas tiradas de retórica que tão mal têm caído nos seus seguidores. Acalmava ‘o Senhor Primeiro-Ministro’ com a sua calma e a sua delicadeza, ao mesmo tempo que lhe dava todo o tempo do mundo para se redimir dos pecados passados e presentes.

Relvas levaria ao PS aquela chama linguística que tanto animaria as hostes desalentadas, subiria o tom de voz, lançaria projécteis incendiários contra o inimigo, reanimaria a esperança numa vitória que não deixaria de estar ali à mão de semear.

Depois, não seria necessário muito tempo, para que Relvas e Seguro assinassem um armistício e trocassem prendas de bons amigos, dando a Passos e ao país, a segurança e a tranquilidade que todos desejam. 

Claro que não seria para já. Nem no novo ano que já está morto antes de nascer. O futuro não passa por Seguro, nem a Passos pertence. Mas o PS precisa de um Relvas.

 

 

28 Dez, 2011

Está na hora

 

No dealbar deste ano de triste memória é chegada a hora de deitar contas à vida e decidir se queremos continuar neste gigantesco jardim-de-infância em auto gestão, onde os adultos, mesmo que entram e saiam, não têm voz activa quando as crianças se divertem a tomar decisões.

E o mais curioso é que nem sequer são as crianças mais crescidas a fazer valer a sua experiência. As mais novas, muito mais irrequietas, não param para pensar, nem para ouvir os avisos seja lá de quem for. A vontade delas é lei e as suas leis não são para discutir, mas sim para cumprir.

Apesar de se dizer à boca cheia que somos um país de velhos, olhamos para quem tem voz activa nas discussões e decisões políticas e vemos quase exclusivamente gente nova que, tanto pela conversa, como pelas decisões, mais parece que estão agora a iniciar os seus estudos.

Olho para o governo e vejo uma ou outra cara mais madura, mas a grande maioria, não sei porquê, parece-me vê-los com os seus bibes da pré-primária, em fila indiana, pegando na ponta do bibe do que vai à sua frente, para se não tresmalharem desordenadamente.

Olho para o maior partido da oposição e vejo um líder que me parece o antídoto do chefe do governo, quando estava na oposição. Este desancava a torto e a direito, por vezes sem maneiras, em todas as circunstâncias, enquanto aquele, agora é todo delico-doce e cheio de mesuras.

Um menino bem comportado, que quer chegar lá, mas apenas quando a fruta cair de podre. Não quer bater na fruta provocando o seu apodrecimento. Não, porque quer ser bonzinho, não quer errar, mas corre o risco de ser riscado antes do tempo que ele julga que tem.

À volta de um e de outro, andam aqueles fedelhos que se maneiam muito e falam exuberantemente, mas lá no fundo, nem umas gotas de sumo se aproveitam. Gente que me faz pensar que o futuro do país nunca mais poderá contar, senão com irreverência e precipitação.

Mas, quando olho para os restantes partidos, o panorama não é melhor. Muita garganta, mas muito pouca sensatez. A incoerência das ideias e os pontapés na gramática são o forte deles. O país não pode deixar de ser pobre no meio de toda esta pobreza de gente a nadar em dinheiro.

Se me ponho a olhar para aqueles entes senhoriais engravatados, que tomam conta de qualquer coisa pública, onde dizem que são eles que mandam, é confrangedor ver os seus tiques de importância, misturados com profunda ignorância, perante o elementar que se lhe exige.

Em qualquer lado, o que vejo é uma geração de novatos que gostam de se pôr em bicos dos pés, para que se olhe para eles como génios do seu partido em busca da oportunidade de serem puxados para cima por alguém que eles adulam perdidamente.

Onde estão os homens experientes e sensatos, mesmo os poucos que mantiveram as mãos limpas apesar do muito que trabalharam. É verdade que andam por aí muitos desse tempo, do tempo daqueles, mas esses nunca deviam ter nascido. O país seria outro.

Os homens feitos e sérios desapareceram não se sabe para onde. Provavelmente, envergonhados com as garotices que gravitavam à volta deles. Provavelmente, enojados com os vexames que a canalha não se cansava de lhes pregar a toda a hora.

Está na hora de reflectir. Está na hora de se ver como é. Como foi e como está a ser, é que não pode ser.

 

 

O meu subconsciente tem coisas do arco-da-velha quando descamba para o lado de uma certa tendência para a parvoíce, se é que não posso mesmo dizer para a insolência, embora um bocadinho inclinado, só um bocadinho, para a indecência. Como eu sei o que sou e o que quero, estou sempre a recomendar a mim próprio uma grande dose de paciência.

Mas há uma coisa que não admito sequer. É que eu pense minimamente em meia dose de inocência, porque isso me parece exclusivo de outras pessoas de que oiço falar constantemente. Porque a inocência não se infiltra em pessoas normais como eu, mas sim em personalidades que têm tudo, até a mente, de mentir, fora do lugar.  

Mas vamos lá ao que interessa que se faz tarde, e o título destas linhas já está a recalcitrar porque diz que não tem nada a ver com estas considerações de ordem desalinhada. Título que me foi sugerido por uma deambulação imprevisível e despropositada ao mundo da ópera, onde penso que já se cantou qualquer coisa semelhante ao vígaro.

Posso estar a confundir com o Fígaro, pois as minhas confusões não param de me trair a toda a hora, até porque os cantos que me enchem a mente são de natureza muito diferente. Muito contra a minha vontade, confesso, porque eu gostava mesmo era de ser uma pessoa toda voltada para a nobreza e para os grandes salões onde se fala dessas coisas.

Realmente tudo isto vem a propósito de, no dia de hoje, ter ouvido falar com muita insistência no Fígaro da Madeira e no Fígaro do Continente, dois grandes protagonistas de uma opereta que já está a dar volta ao mundo lusitano. Eu digo opereta, mas não sei bem se não devia dizer ópera, tal como tenho dúvidas se não devia dizer vígaros em lugar de fígaros.

Eu sei que este não é propriamente o palco ideal para dizer estas coisas, mas também sei que toda a gente não ignora que, para palavras loucas, orelhas moucas. Aliás, é precisamente isso que eu faço muitas vezes, com muito sucesso pessoal. Vígaro cá, Vígaro lá, é, nos dias de hoje, o grito de guerra de muita gente que já sentiu uns arrepios danados.

Gente que, certamente, com mais ou menos razão, vai ser ferida nos ouvidos e nos bolsos, pelo forte vendaval das orquestras, insular e continental, ao atacarem forte e feio, conjuntamente, os espectadores que, sem gostarem de óperas ou operetas, vão pagar um elevadíssimo preço pelos bilhetes que lhes vão impingir.      

Contudo, perdão, sem nada, o próximo ano será o ano da felicidade de podermos pensar num bom futuro, precisamente, enquanto estrebuchamos com a corda na garganta a levar-nos ao limite do sofrimento presente. Presente e futuro, duas certezas que, de certeza, já estão garantidas por quem de direito.

Para quem, como eu, não pode deixar de pensar na ópera do Vígaro cá, vigaro lá, é um grande consolo saber que, não comendo hoje, podemos encher a malvada daqui a não sei quantos anos. Mas tudo vale a pena, mesmo que a fome não seja pequena. Temos de ter esperança nos vígaros que vão aparecer, pois não há dois vígaros iguais.

Entretanto, alguém está a pensar em fazer um grande encontro de vígaros em pleno Atlântico, a meio caminho entre a Madeira e o Continente. As inscrições estão reservadas aos apoiantes e beneficiários dos dois grandes líderes, prevendo-se que seja necessário fretar muitos paquetes iguais aos que passam o fim de ano com o Funchal na frente.

Por enquanto desconhece-se o programa desse encontro, tipo concentração de cruzeiros, onde, vígaros para cá, vígaros para lá, de certeza que ninguém vai cair ao mar, apesar dos brindes infindáveis e das promessas de que os vígaros unidos nunca mais serão vencidos. E eles sabem bem do que falam, porque o passado não tem memória curta.

Mas já está decidido que o lançamento do gigantesco fogo-de-artifício do encerramento da concentração, será feito ao som da fenomenal orquestra da ópera vígaro cá, vígaro lá, com os dois super tenores, o de cá e o de lá, a estoirarem os ouvidos dos seus convidados. Tudo no gigantesco palco do meio do Atlântico, onde não haverá ninguém à volta a manifestar-se.  

Quem não estava para aí voltado ainda está a tempo de se inscrever. Basta decidir-se a mudar de ideias. É uma demonstração de patriotismo, com a certeza de que alguém pagará todas estas e outras demonstrações de vigarice.

 

 

26 Dez, 2011

De baixo para cima

 

Antes de mais, convém esclarecer quem anda em baixo e quem anda em cima, nas andanças da vida. Os primeiros são cada vez mais, enquanto os segundos são cada vez menos. No entanto, estes ficam cada vez mais gordos, como se as gorduras da grande maioria dos que se vão transferindo para baixo, se fossem incorporando nos que se aguentam em cima.

Temos assim uma sociedade de magros e de gordos, tendo em conta o volume das respectivas barrigas, em que os gordos avolumam cada vez mais à custa do definhamento progressivo dos que caminham para aquele estado em que, a breve trecho, não lhes restará mais que a pele e o osso entre a cabeça guedelhuda e os pés descalços.

Ouvi dizer que, para acabar, ou tentar equilibrar um pouco mais o tamanho destas barrigas, é preciso fazer reformas de baixo para cima. Que é preciso fazer reformas, lá isso é. Mas de baixo para cima é que me está cá a dar um zunido nos ouvidos que até parece que já deixaram de ligar a tudo o resto que se passa ali ao lado.

E, ali ao lado, vejo os magrinhos a implorar que os reformadores olhem para cima para que as gorduras que aí estão a mais comecem a descer. Mas, em vão. Insistem em que tem de se começar por baixo e ir subindo, como se não se soubesse que essas prometidas reformas nunca chegarão lá acima, porque subir custa demasiado.

Porque as subidas dos benefícios dos de baixo, custam muito a trepar a quem tem a barriga grande, que é quem os devia dar. Subir as reformas, ainda por cima estruturais, de baixo para cima, é uma canseira dos diabos. Daí que elas vão ficar sempre a meio caminho, não passando da velha canção do bandido.

Daí que era muito mais fácil começar essas reformas de cima para baixo, que mais não fosse para que os reformadores barrigudos andassem mais depressa, pois sempre ouvi dizer que, a descer, todos os santos ajudam. E, já uma antiga celebridade dava a entender, as gorduras correriam melhor de cima para baixo, que de baixo para cima.

Os vasos comunicantes têm de ter uma força que os obrigue a comunicar, senão acabam por ficar bloqueados, com o líquido circulante entupindo os respectivos vasos. A força tem de vir da natureza. E a natureza não pode, de forma alguma, entupir direitos básicos dos povos e dos mais elementares princípios de equidade e justiça social.

Obviamente que não resulta querer que as gorduras comuniquem com as magrezas em contramão. Que o mesmo é querer cortar gorduras nas magrezas que já estão em baixo, para as acrescentar às gorduras que sempre estiveram lá em cima. Se bem entendo, isso não são reformas estruturais mas sim, velhas estruturas reforçadas.    

Só pode reforçar-se o que já existe. Ora, o que já existe não presta logo, é preciso deitá-lo fora, reformá-lo, sim, mas não para agravar o mal que já existe. Mas, por uma questão moral, por força de uma necessidade vital, é necessário começar a cortar por cima, para que não se corte tanto cá em baixo.

Caso contrário, as estruturas não aguentam, principalmente se, em lugar de reformas estruturais, cá em baixo se virem contra reformas cada vez mais anormais, por nunca passarem do rés-do-chão deste edifício que é sociedade. Vamos todos meter mãos à obra para que se cumpra o calendário das imposições. Mas com verdade.

Quando se falar de necessidades para o país, é essencial que nunca colidam com o princípio fundamental dos vasos comunicantes. Que nunca se pretenda resolver as necessidades dos de cima com as carências dos de baixo. É preciso que os exemplos venham de cima para baixo e nunca de baixo para cima.  

 

 

 

23 Dez, 2011

Alloz com faltula

Já estamos habituados a ver muita gente que anda a pão e água, mas isso vai acabar dentro de pouco tempo. Vem aí o ciclo do arroz comido com os dedos, depois de cozinhado num fogão eléctrico que funciona exclusivamente com energia produzida na maior barragem do mundo. Portanto, a partir de agora, é bom que se fale de alloz.

Mas, que ninguém esqueça que o fogão também tem de vir da China, porque os de cá ficam para a sucata. Provavelmente, também haverá outras coisas e outras pessoas que levam o mesmo caminho, ou não fossem os chineses muito ciosos dos seus métodos e das suas tecnologias, tudo de ponta, como não podia deixar de ser.

Não será surpresa para ninguém se, de um dia para o outro, deixarmos mesmo o euro, agora sem aqueles muitos inconvenientes apontados a essa eventualidade. Com as lojas chinesas a comandar as operações, a nova moeda não terá qualquer dificuldade em se impor no país, tal como os investidores em comprar o que ainda resta de lojas de cá.

Já me constou que eles têm reuniões marcadas com a super ministra da agricultura e mais não sei do quê, para tratar de a mandar para o mesmo destino daquele que Mexia, mas vai deixar de mexer. Porque quem vai mexer naquilo tudo são todos os familiares dos chineses que ainda continuam à espera de ser chamados para cá.

Para não terem que trazer o arroz que comem e que nós vamos comer, vão atirar-se para esses campos abandonados, com as mangas arregaçadas de dia e de noite. Do Minho ao Algarve, não ficará campo que não produza arroz, incluindo as serranias de todas as beiras e a imensa Serra do Caldeirão. Sim, eles não metem água em coisa nenhuma.   

Será assim que eles vão encher as lojas chinesas de tudo o que nós estávamos a mandar vir fiado do estrangeiro. Até há quem diga que eles vão entregar direitinho ao estado, o IVA cobrado e ensinar a todos os contribuintes portugueses que não devem utilizar a tabuada de sumir nas suas contas, nem seguir os maus exemplos dos que mandam.

Que ninguém pense que vamos ser uma colónia chinesa. Pelo contrário, já recebi garantias de que, em Portugal haverá, a muito curto prazo, uma colónia chinesa muito maior que toda a população nacional. Com a garantia de que todos terão emprego pleno, não precisando de subsídios de qualquer espécie. Mesmo do abono de família.

O mais sensacional de tudo isto, é que os chineses de Portugal, comprometem-se a reduzir o desemprego a zero, flagelo que tanta gente de cá tem lamentado. Eles, além de trabalhar no duro, ainda vão dar trabalho a toda a gente. Imagine-se, toda essa massa trabalhadora a descontar para a segurança social.  

Mais! Eles não querem receber reformas, porque argumentam que estão mentalizados para trabalhar até morrer. Uma maravilha para a segurança social. Vai poder dar mais reformas milionárias aos trabalhadores de cá e ainda sobrará muito dinheiro para mandar para a China, todos os portugueses que não queiram trabalhar cá.

O país ficará outro em poucos dias. As reformas serão muito rápidas, porque nada dependerá dos ministros que passam a vida a dizer o que vão fazer no futuro. Como a energia passa a ser chinesa, quem quiser passear anda a pé. Quem quiser descansar não fala demais. Quem quiser trabalhar a sério, anda de bicicleta a pedal.

Portanto, fome é coisa de que, em breve, vamos deixar de ouvir falar, graças aos campos inundados de arroz, mesmo os plantados de laranjeiras porque, dizem eles, é um desperdício cultivar árvores que só nos dão frutos que conduzem o povo à ilusão e à miragem de que os campos são bons só porque têm muito colorido.

Depois, as laranjeiras desviam a direcção do vento, esse fenómeno que alimenta as energias eólicas e que esteve na origem da importância atribuída pelos chineses à nossa EDP, a maior do mundo e arredores nessa matéria. E eles ambicionam ter um lugar no mundo global. Nós, pelo contrário, fugimos do que é bom para eles, porque para nós não presta.      

Estamos pois no bom caminho para atingir aquele país cheio de energia, ainda que de origem chinesa, mas energia que vai dar trabalho, acabar com a fome e fazer feliz um governo que só quer o nosso bem-estar. Obrigado, meus salvadores. 

 

                                                                                                  

A democracia deu-nos a liberdade de perguntar o que nos apetece, a quem nos dá na real gana, mesmo que saibamos que nunca vamos obter uma resposta de muitos daqueles que interrogamos. Do mesmo modo que a democracia deu a liberdade a alguns de nos massacrarem quase diariamente com as suas perrices de sabedoria exclusiva.

Quem pergunta quer sempre saber alguma coisa, que mais não seja o que pensa o interrogado sobre determinado assunto, apesar de o perguntador ter as suas ideias bem assentes. O nosso conhecimento não invalida a curiosidade de o podermos confrontar com outros, mesmo não querendo abdicar do nosso.

Mas há quem se ofenda ou se indigne por alguém perguntar o que não lhe agrada. Por julgar que alguém, sabendo a resposta de antemão, faz perguntas desnecessárias, com o objectivo de evidenciar o contrário do óbvio. Porque o óbvio é o seu interesse, o seu pensamento, a sua teimosia em querer que se acredite cegamente no seu raciocínio.

Depois, o mundo pode dar uma volta completa sobre o seu eixo, que esses pensadores de ideias fixas jamais perderão o seu tempo a ver o que mudou sob os seus pés. O que esses nunca verão, é evolução de quem, à sua volta, soube analisar novas realidades, ou outras maneiras de avaliar as coisas e as pessoas que os rodeiam.   

Manda o bom senso que nunca tenhamos a pretensão de que só nós é que o temos, principalmente, se olharmos à nossa volta e virmos muitos a pensar em sentido contrário. É que podemos estar a comportarmo-nos exactamente da maneira que tão teimosamente criticamos ou nos insurgimos com eles.

Agora, principalmente agora, neste dealbar de um mundo de princípios, mesmo há muito em decadência, para um mundo em que tudo é posto em causa, com o uso dos mais insólitos argumentos, é de uma ousadia injustificada, ter a pretensão de que todos os princípios são imutáveis para a eternidade.

Porque aquilo que ontem era, hoje já não é. Quem ontem não tinha razão, pode passar a estar carregado dela no dia de hoje. Muitos dos erros que se apontam hoje aos homens e mulheres de ontem, foram cometidos dentro de procedimentos que, então, ninguém ousou contestar, ou apontar dúvidas sobre eles.

Sábios são aqueles que sabem analisar os factos tendo em consideração as circunstâncias em que eles ocorreram. Pelo contrário, quem se esquece do passado para apenas analisar os factos à luz das suas consequências no presente, ou está a iludir-se a si próprio, ou está a tentar iludir alguém, sobre a sua capacidade analítica.

A omissão é irmã gémea da mentira. Quando se abraça a primeira já se está em cima da segunda. Portanto, melhor será que se não criem grandes intimidades com qualquer delas. Ou, pelo menos, em caso de dúvida, perguntar quem são elas. Perguntar não ofende.

 

 

18 Dez, 2011

A invasão da Barra

Confesso que não sei bem onde fica a Barra mas não devo enganar-me muito se disser que é nos domínios de S. Julião, o santinho que sempre teve uma predilecção por fortes destinados a fortes personalidades que, por serem tão fortes, nunca mereceram qualquer castigo que levasse à sua retenção naquelas fortíssimas instalações.

Isso não significa que gente de altíssima categoria, não gostasse de permanecer ali umas tantas horas por dia, ou por noite, quer em puro e descontraído repouso, quer a pretexto de desenvolver ali um trabalho de alta produtividade, no isolamento da sua segurança, garantia de que nem a melhor contra informação ali entraria.

Neste domingo, logo pela manhãzinha, dia em que o país tinha de pensar muito, através dos seus melhores pensadores, estes começaram a chegar e a bater à porta, ou ao portão, sendo de imediato observados pelo santinho que estava a pau, lá dentro. É que, nestes tempos em que andam desconfianças de todo o tipo no ar, nem o santinho dorme.

Ao ver tantos desfardados e, ainda por cima, não engravatados, de colarinhos desapertados, quase de peito ao léu, apesar do ventinho cortante, S. Julião torceu o nariz, mas veio ao de cima o seu sentido humanitário. Não podia deixar de ser uma tentativa de um grupo de vítimas da crise que, por enquanto, só reclamava.

Claro que o grupo reclamava a abertura do portão, ou da porta, sei lá, mas o santinho entendeu que era mais seguro levar alguns mantimentos disponíveis na cozinha, preparando-se para dar a suas ordens internas, no sentido de o pessoal pegar numas sandes e água com fartura para entregar lá fora.

Sim, porque nunca se sabe quando as acções bem-intencionadas acabam em desordem e, quantas vezes, em coisas bem piores. Portanto, nada de abrir, pois é sabido que o seguro morreu de velho. Porém, eis que chega alguém que, com uma voz forte e determinada, que o santinho logo reconheceu, gritou: Portas, abram…

Aí tudo mudou. S. Julião ficou encavacado, pois o tom de voz já de si era uma censura, se não uma ameaça, como tantas vezes ouvira nos tempos deste antigo inquilino. Apesar de não compreender a extensão da comitiva, apressou-se a dar a ordem requerida. Reparou melhor e, afinal, eles não vinham assim tão mal vestidos.

Já lá dentro, o antigo inquilino apressou-se a esclarecer o anfitrião do motivo da estadia que, apesar de santo, não deixou de praguejar por entre dentes, enquanto se benzia, ao ser-lhe entregue o menu para o dia inteiro, muito mais extenso e suculento do que as sandes e a água que estava prestes a sair.

Não havia que discutir pois os milagres dos santos não valem nada contra os homens milagrosos. E o que ali ia acontecer, não havia a menor dúvida, era o milagre de obrigar a inverter a função dos bancos. Estes não têm dinheiro para emprestar aos clientes, então os clientes terão de entregar o seu dinheiro aos bancos.

Nesta Barra de S. Julião, onde as ondas rebeldes se atiram contra ela com violência, vai falar-se muito porque, enfim, é difícil e é muito chato, estar ali onze horas a comer calado. Não acredito que haja quem coma e cale durante tanto tempo, ouvindo apenas o roncar do mar que não se cala, por mais que digam que ele está calminho.

A paciência de santo de S. Julião vai fazer com que tudo acabe em bem, pois não há ali o perigo de alguém se insubordinar acossado pela fome ou por falta dinheiro. Comida com fartura ainda ele tinha na despensa, apesar dos cortes. Quanto a dinheiro, ele não ouviu falar disso. Sinal de que o assunto que ali os trouxera não era o deles.

Mas era o dinheiro dos outros com certeza. Segundo os cálculos de S. Julião, baseados numas dicas que foi ouvindo atrás da porta, as conversas andaram muito à volta do corta ali, mas não cortes aqui, que isso é meu. Alguns deles até falavam muito baixinho, de tal forma que o santinho acabou por ficar na dúvida se ele próprio não seria cortado também.

Mas, no final da sessão ‘palrativa’, já noite dentro, o santinho ficou a saber que no início do próximo ano, eles iam falar do mesmo assunto. E chegar às mesmas conclusões desta. Só que nessa, noutro local, nem a Barra, nem S. Julião, estarão presentes, com certeza.       

 

 

16 Dez, 2011

Tendencialmente

 

Esta palavra, tendencialmente, é uma das tais que podia surgir todos os dias nas teclas dos computadores, como geradora de polémicas bem mais suculentas do que aquelas que nos saem na rifa das notícias. Isto, devido á incoerência com que ela, a palavra, chega até nós com aquela aparência de uma coisa bestial mas, vendo bem, não é nada.

Sabemos perfeitamente quanto nos vai custar aquilo que é tendencialmente gratuito, mas não sabemos o que vai ser de nós quando já não soubermos o que vai ser tendencialmente constitucional, ou constitucionalmente tendencioso. Tudo porque a tendência anda muito indefinida, em resultado de antigos palavrões que já se democratizaram.

Apesar disso, as palavras em geral não estão democratizadas pois provocam reacções completamente diferentes consoante quem as emprega. Ora isso leva-nos à conclusão de que também a sociedade não está democratizada pois, tendencialmente, uma parte dela pode dizer aquilo que está proibido à outra parte.

Podia citar o exemplo do emprego da palavra ‘asneirar’. Alguém dirá que ela não existe. Eu afirmo que existe, tanto assim é que a escrevi. Agora, tendencialmente, ninguém devia asneirar mas, a começar por mim, há sempre quem entenda que tem o direito de aliviar a pressão que tem dentro de si e … lá vai disto.

Mas o pior é que nem todos podem asneirar da mesma maneira. Por exemplo, os estudantes andam há anos a clamar – não pagamos! Mas, todos sabemos que eles pagam sempre, depois de muita ou pouca conversa, de muitos ou poucos desabafos, mais ou menos inofensivos, mais ou menos irreverentes.

Porém, aparece muita gente a dizer que não quer pagar esta crise, que não tem que pagar o que não pediu emprestado e não acontece nada, porque todos pagam e não bufam. Também ninguém ligou nenhuma a essa treta, como é normal. Mas, aparece um deputado socialista a dizer uma treta qualquer, sobre pagar ou não pagar, e temos aí a desgraça do país.

Será que nunca ninguém reparou nas tendências asneirais de outros deputados de todas as outras bancadas? Ah, então anda muita gente distraída neste país, pois muito raramente lhes dão importância. Não vou citar nenhum nem nenhuma, mas podia. Não me cabe acusar nem defender nenhum, mas gosto de reparar nas distracções tendencialmente suspeitas.

Sobre o dito caloteiro, interrogo-me se o homem não terá o direito de asneirar como qualquer outro, como tantos de todos os partidos, que dizem coisas bem piores e ninguém liga nenhuma. Já para não meter ao barulho membros do governo que nos fazem corar de vergonha com algumas afirmações, e até determinações, que passam despercebidas.

E isso vê-se em tantas outras situações a todos os níveis, sem criar polémicas, sem desonrar ninguém, nem o país. Suponho que quem tem esta apetência pelo partido socialista, demonstra uma espécie de temor de que o que sai dessas bandas lhes esmaga o poder, como se não se habituassem à ideia de que, neste momento, o poder é deles e não do PS.

Sosseguem pois os medrosos que o reinado não está em perigo. Aquele que mais medo meteu, e a alguns ainda mete, está longe e, tendencialmente, desactivado. O sucessor ainda está em maré de assentar as ideias, para lá das amizades. Se houver por lá quem tenha ideias ou seja mais reguila, não há problema. Ele, seguramente, sossega-vos.

Portanto, já que, tendencialmente, o poder actual caminha para a democratização de tudo, com princípios indiscutíveis, nada há a recear. Quem mandar bocas foleiras, mesmo que seja do PS, do maior ao mais pequeno, não merece atenção, ou não merece mais atenção que todos os governantes, deputados e outros, afectos à maioria.

Vão por mim, que sou tendencialmente contra a maioria, mas não sou tendencialmente a favor da minoria socialista. As minhas tendências estão mais viradas para aquilo que me convém. E isso, estou farto de o verificar ao longo dos anos, nenhum deles ainda foi capaz de trazer à luz do dia. Uma governação séria, justa e imparcial.

Que esteja tendencialmente virada para o povo, que é de onde o poder deve emanar. Enquanto assim não for, também a mim me apetecia gritar que não paguemos a essa tropa fandanga que nos esfola. Mas para quê gritar? Já me conforta que ninguém se indigne com o que eu faço ou digo. Ou ainda com as minhas tendências.

 

 

Não me parece mal que comece por referir a desordem que encontramos por todo o lado, sem que quem de direito consiga retirar-lhe as três primeiras letras, restituindo ao país o direito a levar uma vida tranquila, dentro das limitações que não podemos atirar para o lado, nem escolher quem as mande para o lixo, deixando assim de nos lixar.

Temos um ministério que nos devia garantir justiça e temos uma ordem de uns senhores que deviam livrar-nos de todas as injustiças. Esse ministério chama-se da justiça e a ordem congrega os advogados que são pagos pelos infractores, pelos injustiçados e também pelo estado, quando estes o não possam fazer.

Mas, parece que anda tudo ao contrário. No ministério, até parece que o guião que lá tem pendurado na parede para cumprir à risca é, exactamente, para não fazer nada de novo, excepto no paleio. Na ordem, o paleio da moralidade parece contradizer o hábito da defesa habitual das causas perdidas ou encaminhadas para a prescrição.

Assim, temos uma ordem a defender advogados que até parece que se defendem demais, copiando métodos que parecem tirados dos réus que eles querem inocentar nos tribunais. E temos um ministério que ainda parece em campanha eleitoral, seguindo a táctica habitual do diz que faz, aquilo que não é capaz.

Resulta que não é desta cumplicidade contributiva que nasce um estado justo na defesa de todos os cidadãos. O Ministério da Justiça devia cumprir a obrigação de ter do seu lado, uma Ordem dos Advogados sempre disponível para colaborar nessa missão e, ao mesmo tempo, com a obrigação de não deixar que ninguém pudesse lixar ninguém.

Falar e agir com verdade, seriedade e isenção, devia ser uma obrigação indiscutível de toda a gente, tanto no ministério como na ordem. Isto, abstraindo do facto de qualquer cidadão, ter as mesmas obrigações mas, como é notório, quando quem devia dar o exemplo nos mostra o que se tem visto, nada se pode esperar dali.

Porém, quando falta a ordem e se instala a confusão, quando em lugar de serenidade se promovem autênticas ‘peixeiradas’ na comunicação social, onde se juntam os maiorais dos vários sectores que andam à volta do tema, alguém lá de cima devia concluir que assim não se vai a lado nenhum, porque em lugar de medidas, temos a sensação de ver bebidas.

Quando ninguém se entende, dá a sensação de que está tudo grosso, porque há tanto tempo que isto não funciona, que não tardará que a própria sociedade fique embriagada com tanta etilização a contaminar o ar que respira. Se ninguém lá de cima tem nada a ver com isto, então temos de nos voltar para o divino.

Já se fizeram procissões com sacerdotes, juntamente com os seus fiéis, a implorar ao reino dos altos céus, que deixem cair dos seus altos domínios, uns bons pingos de chuva. Pois eu, para maior possibilidade de êxito, sugiro que as superiores instâncias das igrejas, inclusive o papa, nos ajude pela oração, para que o ministério e a ordem imitem a justiça divina.

Verdade seja dita que também esta nos dá muitas vezes a sensação de frustração, que atribuímos a castigo pela nossa falta de fé. Pois eu já me recriminei repetidas vezes pela minha falta de fé em quem podia e devia pôr cobro a esta maldição, pensando que, também eu, estou a merecer e a sofrer o castigo de não acreditar em quem devia.

E o meu pensamento já subiu às alturas, já nem anda pela ordem, nem pelos advogados, nem pelo ministério, nem pelos investigadores, nem pelos criminologistas, nem pelos procuradores, nem pelos juízes, nem tão pouco por todos aqueles que estão confortavelmente instalados neste podre e mal cheiroso, mesmo nauseabundo, sistema.

O meu pensamento não pára de rodar à volta de quem pode e deve controlar o sistema, quando ele avaria. E, desde há muito tempo, que a avaria o paralisou irremediavelmente. Só não compreendo porque se mantém o mistério da falta de ordem de reparação. Logo, no lugar do ministério, há mistério e no lugar da ordem reina a contra ordem.      

 

 

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