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afonsonunes

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29 Fev, 2012

Cágados

 

Começa a ser muito difícil falar de gente neste país, na medida em que já nem os alinhados conseguem manter a linha que devia fazer deles uma espécie de clonados no que toca a inteligência e à sua verdadeira aplicação no campo das suas ideias. No entanto, enquanto eles se vão desalinhando, a gente vai observando e comentando.

 

Para isso, é necessário que se fale, alinhada ou desalinhadamente, consoante as vistas e os estômagos de cada um. Porque há quem, sem fazer nenhum, consiga ver ao longe, mesmo muito ao longe, o tacho que lhe vai permitir encher o estômago. Depois, é só caminhar sempre em frente, sem nunca o perder de vista.

 

Em regra, só os alinhados têm esse privilégio. Eles vão conseguir que todos tenham o seu tachinho ou a sua tachada e, ao ritmo a que a corrida decorre, não levará muito tempo a chegar lá. Porque eles, a correr nessa pista, não são cágados pachorrentos, pois estão bem conscientes de que a carapaça os protege de acidentes contra os não-alinhados.

 

Já a construir aquelas coisas a que chamam reformas, os alinhados são mesmo autênticos cágados, sem pressa, dando mesmo a ideia de que tudo o que vinha de trás e precisava de ir abaixo, afinal não era assim tão mau como o pintavam. Assim sendo, como se lhes faltasse aquela pontinha de engenho e arte para fazer melhor, toca a marcar passo a ver no que dá.

 

Além disso, tem-se verificado com frequência que alguns recuos já assentes e outros que estão em banho-maria, servem às mil-maravilhas para alinhados, tal como serviam para desalinhados logo, é um desperdício não aproveitar aquilo que tanto jeito deu aos outros. E, obviamente, alinhados à espera de novas oportunidades não faltam.

 

Mas, mesmo dentro dos alinhados, verifica-se que há cágados e cágados, pois dentro da lentidão do percurso, há aqueles que preferem ir por ali e os que lhes dava mais jeito que se fosse por acolá. E o problema é que essa marcha em que se faz que anda mas não anda, tem cágados de muita envergadura. Que é como quem diz, cágados com carapaças muito rijas.

 

Há quem pense que os cágados não têm ideias. Uma ova, é que não têm. Mas também há quem julgue que as ideias dos cágados, são ideias fixas, muito escondidas debaixo das carapaças, que só de lá saem, em momentos bem escolhidos, nos quais o ar anda cheio de neblina intensa, ou em dias de nevoeiro cerrado. Por vezes, até de noite.

 

Isto para que os desalinhados não se apercebam de imediato do alcance que tal vai ter na cepa torta. Porque depois de feita a marosca, à maneira, só quando o sol romper a neblina ou o nevoeiro, é que os distraídos desalinhados verão que os cágados também têm mais que uma velocidade, engatando com destreza a que mais convier no momento.

 

Porém, o maior problema mecânico que tem causado alguma apreensão entre os alinhados, é o facto de haver dois cágados de relevo na respetiva comunidade, que se esforçam por engatar cada um a sua velocidade. O cágado-mor exige que o ponto morto seja considerado uma velocidade. Morta, pois claro. O cágado executivo não prescinde da quinta e sempre a acelerar.

 

Em certas capelinhas mais incomodadas, até já se blasfema com este sacrilégio. Então o cágado-mor, não se aperceberá de que pode estar a dar a ideia de que passou a ser o mais ativo dos desalinhados? A interrogação é interessante para os menos atentos, ou que não conheçam minimamente as complicadas táticas dos cágados ultra experientes.

 

Agora, não se pode abandonar a tese de que aquele paraíso de comunhão de ideias e de sintonia perfeita entre os alinhados que, pela primeira vez, se veem naquilo que parecia vir a ser uma era de rolha a fundo no gargalo, foi chão que deu uvas. Porque os alinhamentos nem sempre se fazem conforme as aparências ou as teorias dos ideólogos.      

 

Acima de todas elas, nem sempre bem visíveis, mas lá estão os cágados, nem sempre a passo de caracol, mas sempre à velocidade dos interesses, usando cada um, com aparente mestria, a carapaça que os protege.

 

 

28 Fev, 2012

Prioridades

Sinceramente, ando baralhado com o facto de não ser capaz de estabelecer prioridades para os
meus afazeres mais importantes. Que são muitos e difíceis, tanto que, cada vez
mais, sou vencido por uma espécie de preguiça mental que vem de algum vírus
desconhecido.

Não tenho dúvidas de que coisas dessas se apanham em qualquer lugar que a gente frequenta
e, então nisto de computadores, até parece que entramos num hospital cheio de
invisíveis perdigotos que nos entram pelas narinas dentro sem qualquer
cerimónia. 

 

Depois, se a gente não tem uma estrutura anti tudo, lá tem de ficar de quarentena, logo numa
altura em que ainda não tivemos tempo ou disposição, para tentar obter a
isenção das taxas moderadoras, porque a pagar, então ficamos com vírus e sem
cheta.

 

Mas a minha estrutura ainda vai aguentando, embora seja visível que já não tem a capacidade
de resposta de que muitas vezes abusava. Agora ainda vai, mas vai muito mais
devagarinho. E, como agora se diz, é tudo uma questão de prioridades.

 

Já aprendi que não vale a pena querer resolver um caso muito importante, mas que à partida
sei que o meu esforço resulta em zero, no que toca à sua solução. Então, é mais
eficaz pegar num caso que até um invisual agarraria com ambas as mãos sem
qualquer dificuldade.

 

Portanto, não adianta andar anos e anos a desperdiçar tempo, dinheiro e o precioso
esforço físico, anímico e mental, para dar satisfação a uma vontade férrea de
chegar aos calcanhares de alguém, sabendo que não se conseguirá dar mais que
umas ferroadas à distância.

 

Estou mesmo convencido de que há quem passe uma boa parte da sua vida, em busca de um ideal
que sabe que não existe, mas que não desiste de o manter, à custa de todas as
superficialidades, arriscando-se a morrer depois de esse vírus ter corroído
lentamente todo o seu corpo.

 

Por mim, não alinho nessa. Se eu fosse polícia e visse um ladrão a roubar um carro e, a
alguma distância dali, um indivíduo a fugir, não hesitaria um momento sequer em
tentar prender o ladrão. Porque este era mesmo ladrão, enquanto o outro seria
ou não.   

 

Sem dúvida que a minha prioridade ia todinha para as evidências, desprezando as
aparências, por mais que me gritassem que o fugitivo devia ter prioridade na
perseguição. Mas, era real a impossibilidade de poder mandar as pernas para um
lado e os braços para o outro.

 

É evidente que não sou polícia, mas se o fosse, arriscava-me a sofrer uma grande deceção.
Se levasse o ladrão a julgamento e ele alegasse que eu o tinha prendido,
deixando de perseguir um fugitivo, teria de explicar, talvez em vão, porque
optei por essa prioridade.

 

E, se viesse depois a constar que o fugitivo parecia ser o inimigo público número um, então
eu, polícia, estaria condenado irremediavelmente a passar o resto dos meus dias
na cadeia, porque teria cometido o crime de ter uma noção de prioridades,
diferente da do juiz.  

 

É caso para perguntar qual de nós, eu, polícia, ou o juiz que me condenou, teria apanhado
mais vírus na cabeça. E ainda, qual dos locais está mais contaminado, a rua, ou
o tribunal, onde as prioridades não se submetem aos anti vírus tradicionais. 

 

25 Fev, 2012

Reformas

Falar de reformas é o mesmo que falar de buracos. Ambos os assuntos são tão vastos que assustaria mais que a conversa dum chefe de governo, e um pouco menos que a sabedoria de sindicalistas à beira de serem promovidos a decisores, em definitivo, de tudo o que interessa ao país.

Não pretendo trazer para aqui as reformas dos reformados, porque isso é dinheiro. E dinheiro é coisa que só existe para aqueles que já têm demais. Logo, do que não existe, não adianta falar. Do que existe em excesso, e é muito, mais vale estar calado, senão ainda me calam à força.

Estive quase tentado a perguntar a quem soubesse, quanto caberia de reforma a uma funcionária que desempenhou determinado cargo, sob proteção ministerial da mana, durante o longo período de vinte e três dias. Desisti, porque essas, são coisas banais, mesmo normalíssimas.

Nos últimos dias tenho ouvido grandes achegas para a reforma da justiça. Aquela justiça que ainda há quem elogie, bem como a alguns dos seus mais eminentes incendiários. Sobretudo, aqueles que terão lá muito no fundo do seu subconsciente algum problema de areia no sapato.

É verdade que há quem esteja cheio de coragem na justiça. Coragem para defender o seu. Coragem para atacar a pachorra de quem tem de os aturar o dia e a noite inteiras, sabendo que os interesses estão tão entranhados que, no que lhes toca, nem as leis se podem cumprir.

Estão prometidas reformas de fundo mas, lá no fundo, tudo indica que não será possível tocar no núcleo central do cancro que, reconhecidamente, teria de ser expurgado por inteiro. Não tocando nas raízes, elas tomarão conta do que restar de saudável.

Por mim, que tenho uma experiência acumulada de ciências ocultas, diria que estes e outros problemas que mantêm o país em coma profundo, só têm uma solução. O reconhecimento de que, para curar um mal, nada melhor que serem os agentes causadores a promover a cura.

Isto equivale a dizer que, se as hierarquias não conseguem pôr ordem nas coisas, então submetam-se às estruturas sindicais que as contestam. Para grandes males, grandes remédios. Com a vantagem de seguirem as boas práticas governamentais de acabar com as chefias.

Com a garantia de que as estruturas sindicais não venham a reivindicar os vencimentos daqueles que vão substituir. Assim é que é: poupança e eficácia. De caminho, também se podia acabar com os sindicatos que veem os seus dirigentes promovidos a chefias.   

É que não faz sentido nenhum, haver estruturas paralelas. Senão, às tantas, o chefe e o sindicalista, a mesma pessoa, entravam em conflito um com o outro. E, não fazia sentido nenhum, que o chefe dissesse uma coisa no emprego e outra no sindicato.

Mas, tal como as coisas estão, é que não tem piada nenhuma. Admitindo que o chefe é sério mas não consegue sobrepor-se ao sindicalista interesseiro, então é preferível passar a ter um interesseiro que consiga fazer o que o chefe não deixa.      

E não me venham dizer que isto não é sério. Porque ser sério, e não poder agir como tal, mais vale dar o lugar a quem nunca soube ser sério, mas é capaz de agir, fazendo de conta que o é. Vá lá, venham de lá as reformas.

 

 

  

23 Fev, 2012

Não me digas!

É exatamente isso. Prefiro não saber, a ter de suportar os desgostos que o decorrer dos tempos parece querer meter-me na frente dos olhos. Dizem que o tempo não volta para trás, mas começo a estar obcecado com a ideia de que isso possa mesmo vir a acontecer.

Gostava de ver esclarecido tudo o que se passa no país até à última vírgula, ainda que tivesse de ser eu a colocar o último ponto final, porque nisto de conclusões, já todos sabemos que há gente obcecada em todas as direções, mesmo naquela que obriga a meter a marcha atrás. 

O que mais me intriga é ver que há uma vontade enorme de esconder fatos e acontecimentos que, no meu modesto entender, todos teríamos grande interesse em conhecer, principalmente, para não andarmos permanentemente a discutir o sexo dos anjos.

Na nossa chamada casa da democracia é frequente assistirmos à negação do que ela devia ter de mais nobre e de mais puro: o apuramento de todas as verdades, que todos os partidos ali representados tanto gostam de apregoar quando sentem que algum, ou alguns deles rejeitam.

O que acontece é que todas as maiorias, quando certa verdade não convém, apressam-se a impedir a sua discussão, ou a impedir o conhecimento exato das conclusões, quando a discussão exista. Isto, para não falar do rol de aldrabices à volta da sua divulgação.

Parece que o BPN vai, ou alguém pretende que se vá discutir a sua gestão e a sua venda, assunto que anda e sempre andou, envolto em mil e um segredos, que deviam envergonhar quem se esconde por detrás de uma maioria para que tudo permaneça oculto.

É evidente que só não quer discutir qualquer assunto, quem tem nele enterrada a sua vergonha. Ou quem tem nele mergulhada a sua honorabilidade muito apregoada, mas tantas vezes traída por estas negas de demonstração das suas responsabilidades ditas cristalinas.

A Universidade Católica divulgou uma sondagem com inúmeros dados sobre a situação política atual, muito ligada a dados anteriores a este governo e a outros responsáveis políticos de outros governos. Não vou atrás desses resultados pois isso não me motiva mesmo nada.

Aquilo que verdadeiramente me motiva é ver que a nossa televisão pública arranja maneira de divulgar umas tantas coisas desse estudo, deixando de lado tudo o que, provavelmente, não lhe agrada. Bem me parece que se preocupa apenas com os obcecados por meias verdades.

E o que mais interessaria aos apreciadores dessa matéria seria, naturalmente, qual o partido que aparece à frente das opiniões recolhidas. Simplesmente, omitido. Como omitidas foram também muitas comparações ali desenvolvidas que mostram evoluções interessantes.

Interessante também que, ao contrário de outras, esta sondagem foi praticamente ignorada. E isto é que é preocupante. Isto revela uma obsessão. Isto é uma espécie de não me digas, que eu tenho medo de ouvir. Até parece que já andam votos na mente de muita gente.

Continuamos a ser o país das meias verdades, quando não das mentiras inteiras. É por essas e por outras que, ao ouvir certas coisas, costumo dizer com ar de quem não quer a coisa: não me digas!...

 

17 Fev, 2012

Folia já começou

Desde há algum tempo que os mais inveterados foliões se manifestam nas suas atividades preferidas. Não será surpresa para ninguém se eu afirmar que muitos deles vivem permanentemente na folia o ano inteiro e, com tal intensidade, que não há palhaçadas que os cansem.

Com o que eles, os foliões, não contavam, era com um desfile logo na passada quinta-feira, a abrir as festas carnavalescas que vão prosseguir até terça-feira, prevendo-se que, neste dia, a palhaçada vai ser o máximo dentro dos serviços públicos, onde todos se vão mascarar de chefes.

Voltando ao desfile de quinta-feira junto a uma escola, pode dizer-se que foi um pontapé no respeito, tal como ele era bem pouco tempo antes, pontapé que tem tanto mais significado e faz doer mais a cabeça, por ter sido dado por duas centenas de miúdos e adolescentes.

Tudo não passaria de uma manifestação irreverente se não tivesse havido um erro de cálculo do rei. Ao fazer a desfeita de não aparecer como se havia comprometido, julgou que os súbditos participantes no desfile desatariam a chorar pela sua ausência.

Imperdoável, este erro de avaliação. Aquilo era tudo gente que já não usa chupeta. Era tudo gente que já sabe como se faz barulho sem chorar, como se pode utilizar o que vê no You Tube e no Face Book. Muitos deles, até já terão visto no Face a fotografia do rei faltoso.  

E foi assim que o desfile teve um interesse que, nem de longe nem de perto deveria ter tornando-se, sem dúvida, num grande lançamento para o Carnaval deste ano. Carnaval que já estava a ficar morno, por causa da falta de assuntos interessantes. Quem se deita com meninos…

Logo na manhã seguinte o rei andou à volta do tema dos meninos que nascem, e dos que não nascem e deviam ter nascido. Ainda não percebi bem qual é razão desta infertilidade mas, espero bem, que ela não esteja relacionada com o aborto político que está a ser este Carnaval.

O rei e a rainha deste mesmo Carnaval bem podiam dar um jeito nisso, ainda que tenham de transformar roteiros e atoleiros numa folia mais criativa e mais produtiva, em prol de um país mais jovem, embora correndo o risco de haver mais folia junto às escolas, se a prole aumentar.

A propósito, está aí a gravidez que o povo vive há oito meses. São oito meses de apertar de barriga que vai crescendo, mesmo com o violento apertar do cinto. E eu sem saber bem quem tem a paternidade do rebento, ou da rebenta, que dentro de um mês sairá dum parto anormal.

Ao que tudo indica, estaremos perante a boa anormalidade de uma gravidez múltipla, obviamente provocada por uma paternidade múltipla. Atendendo aos roteiros e atoleiros, o rei e a rainha vão sorrir. Toda a corte estará feliz, porque o Carnaval acordou a malta.

Daí que a perspetiva para os restantes dias carnavalescos, baseada nos corsos de quinta e sexta, é de enormes folias de norte a sul. Palhaços e foliões é coisa que não falta por aí para animar a malta.

 

 

16 Fev, 2012

Ouvi dizer

Se eu fosse tentar dizer aqui, tudo o que tenho ouvido só na última semana, não havia tempo nem pachorra para o fazer. Diz-se tanta coisa, sobre tantos assuntos, de tantas origens, que o mais atento dos observadores e ouvintes não tem capacidade para reter tudo.

Portanto, ao acaso, vou seguindo uma linha que, não sendo reta nem curva, irá ondulando consoante os desígnios da minha cabecinha pensadora. Obedecendo sempre às minhas fontes que, sem dúvida, são muito mais cristalinas que muitas das que brotam veneno puro.

Ouvi dizer que há um jornal diário cá no burgo que tem um quadradinho reservado na primeira página onde aparece diariamente o mesmo nome, fazendo uma espécie de rodízio com os assuntos que já vêm de dias, meses e anos atrás. Não, o jornal não é chato. Chato é quem o lê.

Ouvi dizer que temos um PGR que anda a cometer crimes na parte da justiça de que é responsável, só porque não manda prender quem esses acusadores teimam em condenar por via direta. A sentença varia consoante o génio de cada um.

Agora, imagino eu, se o PGR pudesse condenar, prender ou exilar quem ele pensa que fez das boas, quantos não estariam já, a esta hora, fora de lugares que envergonham o país, pelo que não fazem e já deviam ter feito, pelo que recebem e não ganham e pelo que dizem e não deviam dizer.    

Também já ouvi dizer que o PGR é o elo mais forte de uma justiça que está pela hora da morte, onde esse elo resiste à pressão de não se deixar apodrecer no meio de interesses que vão da mais que evidente partidocracia, até ao corporativismo mais radical.

Ele há coisas que até tenho um bocadinho de vergonha de dizer que ouvi. Mas lá que já ouvi, já ouvi, sim senhor. E aquilo que se ouve não é proibido dizer, por mais que isso vá incomodar aqueles que já de si, andam sempre incomodados com o mesmo assunto.

Pois já ouvi dizer que temos um primeiro-ministro muito pior do que o anterior. Ainda se tivesse ouvido que era, simplesmente, pior, vá lá, vá lá. Mas eu ouvi muito bem: muito pior! Claro que estas coisas não vêm no tal jornal que tem lá um quadradinho reservado.

Diz-se por aqui que o governo está a tentar fazer aquilo que o governo anterior negociou, aproveitando os méritos do que lhe interessa como coragem sua e recusando responsabilidade nos aspetos mais impopulares. Daí que haja reformas negociadas que custam a sair.

Tal como se vai dizendo que a justiça anda a dar a volta à cabeça dos governantes e dos anti PGR, porque não há meio de o verem catequisado, nem há maneira de o verem pelas costas. Coisas difíceis, dizem as más-línguas, e que eu vou ouvindo sem saber se engulo ou se vomito.   

Até já ouvi dizer que temos um PR assim-assim. Aqui, tenho as minhas dúvidas se realmente terei ouvido bem. Havia vozes simultâneas à minha volta. Umas, indignadas, falavam no bodo aos pobres do BPN, outras, sorridentes, lembravam a sábia ajuda na salvação económica do país.

Agora, há uma coisa que não ouvi. Não ouvi, mas já vi que os falantes não andam todos satisfeitos. Talvez eles estejam como eu. Não sabem se devem acreditar no que ouvem, ou se devem acreditar no que veem.   

 Os que dizem, andam baralhados, os que ouvem, podem estar a ser enganados e os que veem, começam a estar assustados.   

 

 

14 Fev, 2012

Gente esperta

Tenho cá uns ligeiros palpites que me levam a pensar que toda a gente tem uma espécie de tendência para a esperteza. Longe de mim a ideia de que isso é qualquer coisa de mau. Como é evidente, a finalidade da esperteza de cada um é que lhe dá classificação.

O mesmo é dizer que às pessoas espertas, tanto lhes pode dar a esperteza para o mal como para o bem, embora possa admitir que haverá quem vá alternando uma coisa com a outra. Tudo depende das oportunidades e, muitas vezes, das necessidades e dos interesses.

Mas, em geral, gente esperta é aquela que tem os olhos bem abertos, que sabe aproveitar oportunidades em momentos decisivos, que joga com os riscos que bem conhece, que explora os receios e as hesitações provocadas pela boa-fé ou a ignorância dos outros.

Neste jogo do cada um bota palavra onde quer e como lhe apetece, releva à evidência que cada esperto puxa a brasa à sua sardinha. Cada um fala daqueles que detesta como meio de se satisfazer com as suas preferências ou de tentar minimizar, ridicularizar até, as preferências dos outros.

Cada esperto, quando não tem muitos motivos para falar daqueles que admira, recusa pronunciar-se sobre eles e sobre os seus pontos fracos, quantas vezes bem mais fracos que os daqueles que detesta com tanta veemência, chegando ao exagero de perder a razão.

A dicotomia esquerda/direita é o sinal mais evidente de como os exageros se jogam na política. É ver como os opinantes de esquerda se atiram aos de direita, rebuscando casos do mais detestável que julgam conhecer, ou que lhe chegam pela comunicação social.

De igual modo os opinantes de direita não deixam os seus créditos por mãos alheias. Tudo o que sirva para enxovalhar quem é de esquerda, até pelo simples motivo de o ser, sai em catadupas de adjetivos rebuscados, por vezes na mais detestável das linguagens.

De um modo geral, andam nas bocas dos beligerantes verbais de ambos os lados, figuras públicas mais ou menos proeminentes, acusadas de causadoras de todos os descalabros do país. É verdade que temos bons exemplares a contas com a justiça e outros à espera de chegar a sua vez.

Evidentemente que estes são alguns dos espertos na crista da onda do mar alteroso dos exageros mas, felizmente, na esquerda como na direita, a maior parte dos seus integrantes têm a digna esperteza de se respeitarem o suficiente para que possam conviver civilizadamente.

Esta esperteza, ou falta dela, por parte de certos arautos de um poder que não tolera contestação, nunca pode conduzir o país àquela santa união que lhes baila permanentemente no pensamento, tudo fazendo para convencer os outros de que não há alternativas às suas não raras idiotices.

Pensam os espertos mais convencidos que um dia vão conseguir eliminar todos os que não pensam como eles e ponto final. Para eles é simples, é lógico e é indiscutível. Pois que metam as duas mãos na consciência e meditem nas hipótese que têm de obter o que tanto desejam.

A verdade é que a minha esperteza também não dá para dizer coisas mais interessantes.

 

Os portugueses sabem muito mais que alguns indígenas que pensam que eles não sabem nada. Depois, julgam que podem impingir-lhes a sua ignorância e, sobretudo, a sua má-fé, em matérias tão sensíveis como a aceitação ou a recusa de tudo o que tem a ver com a sua vida.

A sua vida real, claro, não a vida de sonho ou de ilusões que os portugueses bem sabem do dia-a-dia quanto é diferente da dos indígenas, que até são portugueses também, mas comandados à distância, não para servir os seus concidadãos, mas para hipotecá-los aos seus interesses.

Os portugueses sabem, lembram esses indígenas a todo o momento, que só lhes dizem coisas do seu interesse, mesmo quando lhes estão a mentir com quantos dentes têm na boca. Dentes que só não caem de podres com as mentiras que suportam, devido ao forte poder dos dentífricos.

Os portugueses sabem perfeitamente quem são os indígenas que lhes vendem banha da cobra através de promessas de bem-estar, sabendo que este será sempre para os próprios vendedores, que de há muito se venderam a quem quer compradores pobres e, acima de tudo, submissos.

Pobres e submissos, mas também muito unidos entre si e, como não podia deixar de ser, muito unidos aos indígenas que querem a exclusividade da sua condução, através de um caminho que os conduzirá à pretensa conquista de um paraíso que nunca será o seu, mas o deles.

Os portugueses sabem que a união pretendida, e tão apregoada, parte invariavelmente daqueles que sempre praticaram a desunião, quando se tratasse de serem eles a unir-se a alguém. Esses gostam e apreciam muito a união que traga todos os outros para a defesa da sua causa.

Os portugueses sabem que não está apenas uma causa em questão. As causas são várias mas, principalmente, em questão, estão apenas duas: a pobreza e a riqueza. Ambas indissoluvelmente ligadas, mas nunca numa relação leal e muito menos justa.

Os portugueses sabem que os pobres criam riqueza e sabem também que muitos ricos criam pobreza. Mas também sabem que há pobres que são, ainda hoje, escravos de ricos por motivos vários. E sabem que há ricos que não imaginam o mundo sem milhões de pobres para os servir.  

Os portugueses sabem que é nesta sociedade que vivem e sabem que se pode estar dignamente integrado nela, tanto na pobreza como na riqueza. Assim, não houvesse vendedores de ilusões, criadores de divisões sociais insanáveis, mesmo em nome de uniões hipócritas e de má-fé.

Os portugueses sabem o que é fazer sacrifícios. Conhecem perfeitamente quem os faz e quem os manda fazer. Mas também sabem que quem os manda fazer, não os faz, ou se os faz, é no sentido de obrigar os outros a fazê-los, ou tentar convencê-los de que têm de os fazer.

Os portugueses sabem que a união faz a força, tanto no sentido da construção, como no sentido da destruição. Os portugueses sabem que é mais fácil destruir que construir. Daí que os vendedores de ilusões não devam iludir-se a si próprios.

Quando se pede união a quem constantemente se massacra, pode bem acontecer que a união se crie onde menos a desejam aqueles que mais apregoam que os portugueses sabem.

 

11 Fev, 2012

Invejosos

Está visto que não se pode estar bem na vida, que não venham logo uns atrasos da dita a querer ser como nós, tentando copiar tudo o que dizemos e fazemos, convencidos de que não tarda, estão ao nosso nível. E, se não conseguirem, logo virão dizer que somos isto e mais aquilo, ou seja, o que eles dizem que não são.

Nós, portugueses, estamos bem, graças aos deuses. Deuses que os outros não têm e por isso estão cheios de inveja de nós. Porque nós somos capazes de fazer o que eles não conseguem fazer, por muito que se estiquem, ou por muito que se encolham. Alguns deles até se espalham ao comprido e, nada.

A inveja é uma coisa terrível. Imagine-se que eles têm inveja daquilo que nós trabalhamos e daquilo que nós ganhamos a trabalhar. Porque eles dizem que trabalham muito, mas ganham muito pouco. E a gente bem vê como eles vivem mal, se vestem mal e de divertimentos, nem nada que se pareça connosco.

Nós temos fama de trabalhar pouco mas ganhamos de mais. Ora isto lá fora provoca uma inveja danada. Assim como o facto de sermos tão inteligentes, que nem precisamos de explicador para seguir à risca, como excelentes alunos, tudo aquilo que nos digam nas aulas, por mais complicado que isso seja.

Não admira pois que os maus alunos do exterior tenham inveja de nós. Eles não percebem nada do que os professores lhes dizem, chumbam naturalmente nos exames, até porque nem copiar sabem. Sim, bastava-lhes uma simples olhada para as orações rezadas pelos nossos deuses, para se safarem como nós.

A agravar a situação está o facto de os de fora ganharem tão pouco que já nem dá para lhes cortarem umas gorduras dos ordenados e dos subsídios. Assim, ficam pesados e molengões, incapazes de dar o litro como nós, que estamos estimulados pelos músculos limpos dos nossos corpos, mal alimentados mas bem treinados para suportar tudo.

De entre as muitas coisas que os da estranja não toleram, vamos encontrar os rendimentos dos políticos e dos cidadãos. Por cá, nesta quinta bem gerida por deuses mal pagos, todos os políticos têm ordenados muito próximos do rendimento social de inserção, isto é, ganham muito mal.

Ao contrário, os cidadãos de cá, ganham muito bem, tão bem que é consensual que se deixem de pieguices de meninos ricos. Se acham que passam fome, podem entreter-se a morder a língua, em lugar de passarem o tempo a mascar a indispensável pastilha elástica que, além de cara, estimula o vício de comer.

Ora, lá fora, os políticos invejosos ganham muito bem, enquanto os cidadãos invejosos ganham muito mal. Parece estranho que tenham inveja de nós. A verdade é que isso vem demonstrar que nós não podemos passar sem políticos mal pagos, enquanto eles não podem passar sem cidadãos mal pagos.

Agora, inveja, inveja, a maior de todas as invejas, reside no facto de nós, os portugueses, estarmos duzentos por cento confiantes de que nos vamos safar, enquanto eles, os estrangeiros, estão permanentemente a dizer que quem não se safa são eles. Neste momento, isto é crucial. É aquilo que eles não nos perdoam.

Eles bem gostariam que fosse ao contrário. Mas ainda não perceberam que é tudo uma questão de fé nos deuses de cada um. Portanto, custe o que custar, só têm que mudar de orações aos seus deuses e fazer como nós. Rezar mais para ter mais fé, lendo em voz alta a cartilha do passado para conquistar o futuro.  

E, sobretudo, não pensar que o céu está mais próximo de nós do que deles. Porque o futuro aos deuses pertence e nunca aos invejosos que, em lugar de nos quererem tirar os nossos méritos, deviam antes seguir os nossos passos. Passos que detestam invejosos que querem é vê-los a marcar passo para eles avançarem.

Esperemos que a inveja deles não consiga trocar as nossas vantagens pelas desvantagens deles. Esperemos, pois, que os invejosos não nos roubem o nosso bem-estar. Bem-estar que tantas orações custaram aos nossos deuses, agora com a paz de espírito da inveja de quem diz que disse o que não disse.

 

 

Está a falar-se muito de tolerância de ponto, como se no país se vislumbrasse alguma tolerância, ou se os pontos de que o país precisa estivessem ali ao virar de uma qualquer esquina, de uma qualquer rua, que não seja um beco sem saída. 

Quanto a tolerância, há muito que estamos conversados, agora com especial relevância para um ‘pontarrão’ que veio lá das neves canadianas para nos ensinar a conviver em democracia plena, que é aquela em que as asneiras que a gente diz é que são as verdades que temos de engolir.

Ainda se fossem umas pieguices vulgares de alvarinhos invulgares, a gente até comia e calava sem olhar ao mau gosto, ao mau sabor e até ao mau cheiro, que nos leva a um ou outro vómito de incontinência verbal, embora não nos falte vontade de não os incomodar.

Porém, tudo tem os seus limites e a coisa parece já ter indícios de epidemia. Sobretudo, o mau gosto alastra como rastilho lá para os lados dos palácios, que é de onde sopram os ventos de intolerância que, notoriamente, vão substituindo a tolerância que deviam difundir.

Acabar com a tolerância é já uma certeza que está a provocar muita azia que, por sua vez, cria uma onda de incentivo à intolerância em quem, por motivos inconfessáveis, anda mortinho por vazar toda uma espessa camada de ódios acumulados ao longo de anos de frustrações.

Azia provocada por anos de estômagos revoltados pela ganância de verem ali ao lado quem, febrilmente, imaginavam que se amanhava, sem que sobrasse nadinha que confortasse os seus olhos em bico e os seus buchos encolhidos pelas contracções da fome mental.

Agora, que do nada passaram a ter tudo, da tolerância viraram para a intolerância, seguiram para a ganância e não tardou que passassem à fase da arrogância. Aqui chegados, agora de barriguinhas cheias, com os olhos a lampejar fartura, voltam-nos para a miséria e sorriem com desdém.

São muitos, estes pontos que, desdenhosamente, transformam uma necessidade inegável do país, num prazer mórbido de anúncios de descalabros e de mentiras, que os levarão, a eles e a nós próprios, a um beco sem saída, onde as suas piedosas loas serão sepultadas.

Custe o que custar, vamos ter de ser mesmo muito piegas para que nos deixemos embalar neste sonho carnavalesco euro afro canadiano, com ligeiro sotaque transmontano e linguagem clara de Massamá que, ao que julgo saber, tem muitas afinidades com palhaçadas de Oeiras city.

Repito que tudo isto são alusões carnavalescas, marcadas pelas intolerâncias de um ponto, que sou eu, tão torto como os direitos humanos de que alguns desumanos não se cansam de falar. Como diz o povo, povo que já foi, no carnaval ninguém leva a mal.

Ora, assim sendo, senhores de todos os poderes, bem podeis estar orgulhosos da salvação deste país a que deitastes mãos, dando uns bons pontapés na palhaçada carnavalesca e dando ao povo, o melhor e o maior exemplo de como vai ser o vosso trabalho nesse dia.

Como não podia deixar de ser, a vossa terça-feira de carnaval, vai ser uma trabalheira danada para nos pregarem mais umas piedosas partidas a condizer com a cómica tradição do dia.

 

 

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