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afonsonunes

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29 Jun, 2012

O orgulho e o asco

 

O meu orgulho não saltita como se fosse uma bola de futebol, num doentio encontro entre os heróis de uma vitória, ou o seu brio e profissionalismo numa derrota, tal como o asco não me assalta furiosamente quando me enojo com o que os meus olhos veem e com o que os meus ouvidos ouvem, no fim de um jogo ganho, ou depois de um jogo bem ou mal perdido.

 

Também não sinto nada que se pareça com orgulho, por ver tanto aproveitamento oportunista, de um fenómeno com alguma importância para o país, mas que não resolve os problemas de fundo de que o mesmo padece, contrariamente ao que dizem os que veem nisso, um sintoma ou uma consequência do seu contributo para os êxitos tão orgulhosamente enaltecidos.

 

Muito menos querer envolver no seu orgulho interesseiro, todos os portugueses, como que querendo envolvê-los no seu imaginado prestígio. O orgulho e o asco são sentimentos que não se medem assim, do pé para a mão, atribuindo-os a todos ou a ninguém. Até porque sabemos por experiência largamente comprovada que, seja lá no que for, a unanimidade é um orgulho muito difícil de alcançar.

 

Muito mais ainda, quando quem tenta arregimentar-nos para as suas teorias, não tem nada de recomendável que leve a deixar-nos embalar nos seus arremedos de líderes de opiniões alheias. Daí que o meu orgulho fique reservado para aqueles ou aquilo que mo merecem e o meu asco para aqueles ou aquilo que eu entendo que não prestam. E o que me comanda é o meu simples critério de merecimento.        

 

Aproveitando a maré em que muita gente está com o orgulho em alta por causa da derrota honrosa frente a uma equipa que está dececionada porque não esperava ter de correr ­­­ tanto para ganhar, sugiro que é a altura ideal para dar mais um pontapé na crise e uma cabeçada na testa dos recalcitrantes, lembrando-lhes que está escrito no seu memorando que quem não pode pagar é caloteiro.

 

Neste desafio entre o governo e o povo todos estamos de acordo em que o povo é que tem de pagar. Porque o governo está a dar tudo por tudo para que o povo pague depressa, mesmo que não tenha por onde. Mas, assim é que tem de ser. O povo, por seu lado, diz que lhe está a ser tirado tudo para nada. No fim, seja qual for o resultado deste desafio, o governo vai ficar orgulhoso do povo que tem.

 

Porque, fazer sacrifícios é um dom do povo, tanto mais enaltecedor, quanto maiores forem os sacrifícios. Agradecer penhoradamente e elogiar o comportamento do povo, é um privilégio do governo. O povo está habituado a perder, sempre a perder, mas a fornecer o orgulho mais que suficiente para que o governo possa fazer as festas que julgue necessárias à manutenção da sua elevada auto estima.

 

Neste desafio cruel entre o governo e o povo, nunca é o povo que beneficia da sorte do jogo, porque os seus remates esbarram sempre nas traves dos ministros ou na pérfida lei do fora de jogo, que os árbitros inteligentemente interpretam, seguindo o lema de que lá fora são todos bons, mas cá dentro, também eles ficam fora de jogo, se não aplicarem a lei vigente, especial e interna.

 

Reconhecidamente, especial, é o comportamento de Portugal no euro. Estamos a toda a hora a dar lições aos maiorais lá do sítio. Mas perdemos sempre. Somos bons, somos um exemplo, mas temos sempre azar. É uma triste sina que, valha-nos ao menos isso, os ferros das balizas dos nossos adversários ficam marcados como responsáveis pelo nosso consolo, pelos nossos festejos e pelo nosso orgulho.

 

No outro euro, o comportamento de Portugal é muito mais simpático. Não fazemos festas, mas ajudamos às festas dos comparsas mais abastados. Resta-nos a consolação de que somos os que mais desportivamente aceitam os resultados negativos. Pobretes mas alegretes. Perder e ganhar tudo é desporto. Estamos felizes porque competimos, embora estejamos sempre fora de jogo.  

 

 

 

Diz a cantiga que o laço bem apertado fica bem ao José. No entanto, a minha análise persistente e com os pés bem assentes na terra, leva-me a concluir que essa história do laço é muito mais complicada do que se pensa. Complicada para quem não pode pensar em laços sem os imaginar no pescoço de alguém. E se for um laço de corda bem grossa a coisa fica muito mais excitante.

 

Porém, quando o alçapão que se situa abaixo dos pés do enlaçado, não tem pressa em se abrir, começa um compasso de espera que dá tempo mais que suficiente para que o laço mude de pescoço. E então já não faz qualquer sentido que se meta o Zé nestas andanças. Porque, se o alçapão fez birra e não abriu, o laço mudou imediatamente para o pescoço do senhor que se segue.

 

E o senhor que segue só pode ser o Pedro. Foi ele que alargou o laço e o colocou no pescoço do Zé. Foi ele que apertou o laço, muito bem apertado, e disse ironicamente: ai ó José fica-te bem. Mas, nestas coisas, como em muitas outras, é preciso ser prudente e não cometer aqueles erros a que vulgarmente chamam de grosseiros. E grosseiro ou grosso, é aquele que não é fino.

 

Se há coisa em os portugueses são unânimes, é em considerar que o Zé sempre foi um tipo fino. Daí que, apertar-lhe o laço ao pescoço, não significa o mesmo que dizer que já estava a descer o alçapão que tinha debaixo dos pés. Porque, se o Zé não pode controlar o laço que lhe puseram ao pescoço, teve o cuidado de controlar o alçapão e fazer com que o Pedro ficasse à sua frente. Foi assim que o Pedro caiu no laço.

 

A partir daqui, apenas se sabe que o Zé não caiu no alçapão e que o Pedro lá continua em cima dele, clamando para que o Zé mantenha o laço bem apertado, apesar de ter saído dali com um sorriso de orelha a orelha. Há muito quem se interrogue sobre qual deles devia cair primeiro no buraco. Mas também há quem advogue que, se houvesse justiça, deviam cair ambos ao mesmo tempo.

 

Até porque, bem vistas as coisas, o alçapão é suficientemente largo para que ambos desçam em simultâneo. O problema é que o Zé já se libertou do laço e, agora, já nem gravata usa. Quanto ao Pedro, ainda ninguém lhe apertou o laço ao pescoço, porque dizem que a gravata lhe fica muito bem. E, claro está, laço com gravata é coisa que não combina mesmo nada.

 

Agora, também somos obrigados a ter em consideração que quase toda a vestimenta muda depressa de moda, e a cor da gravata está a ficar um pouco incomodativa para quem gosta de ver a toilete mudada diariamente. Bem sei que era um exagero mudar de gravata todos os dias, mas isso não quer dizer que tenha de se repetir diariamente a mesma ladainha por causa da gravata.

 

A solução mais plausível seria tirar a gravata, por exemplo, aos fins-de-semana, pois isso seria muito mais fácil que ter de mudar de conversa, numa altura em que volta a falar-se muito na possibilidade de o Zé apertar o laço, mas bem apertado, só porque lhe ficaria muito bem. Mas, se a gravata passar de moda, como parece, os laços serão os substitutos naturais para os pescoços mais badalados.

 

Ainda estamos na fase de dizer, ai ó Pedro, a gravata fica-te bem. O problema é que o povinho começa a desconfiar das muitas referências elogiosas à gravata, vindas sempre dos mesmos. E os mesmos usam todos a mesma cor de gravata, sendo evidente que nem podem ouvir falar em discutir a possibilidade de, em determinadas cerimónias mais sensíveis, se usar gravatas de cores mais básicas.

 

É por essas e por outras que, sem me passar pela cabeça que todos os laços são discutíveis, e que todos os pescoços estão em condições de receber um laço qualquer, não me surpreenderia muito que, qualquer adorno para o pescoço fosse substituído por duas mãos estranhas, apertando com muito mais força que qualquer lacinho, ou qualquer gravatinha, no pescoço de certa gente.     

 

 

26 Jun, 2012

Comadre Mariana

 

Alguém me garantiu que já desde os tempos do fado a sério, a comadre Mariana é que sabia, sem margem para dúvidas, quem é que estava melhor e quem é que estava pior. Até me garantiram que o mesmo acontecia quanto à gravidade dos males dos nossos compadres que, segundo o diagnóstico da comadre, não eram tão graves que os fizessem estar pior.

 

Sinceramente, digo eu, que isto de estar melhor ou pior tem dado muito que pensar. Ainda agora não sei se, por pura coincidência, os dois mais na berra de entre os nossos compadres muito conceituados em pensamentos positivos, se aventuraram a fazer, cada um, o seu diagnóstico sobre isto, e cada um também, com a jeitosa duração televisiva de vinte minutos.

 

Foram portanto quarenta minutos de diagnósticos que pareceram tirados a papel químico. Coisa que já nem se usa nos tempos que correm. Mas, para além da sintonia pessoal, há que reforçar a confiança que nos merece dois trabalhos de análise que sempre valem mais que um só. Quarenta minutos de tempos de antenas é obra que muito valoriza quem os aproveitou para se instruir.

 

No meu modesto entender, só foi pena não ter havido um intervalo entre os dois diagnósticos. Até porque assim, os diagnosticadores tiverem de esperar pelo fim dos quarenta minutos para se felicitarem mutuamente pelo sucesso, e os telespetadores não tiveram oportunidade para, com aplausos separados, elegerem o diagnóstico com mais e melhor entoação de voz.

 

Com todas estas dúvidas, diga-me lá, comadre Mariana, se realmente isto está melhor ou pior. Pode mesmo dizer se o mal era, ou é mais forte agora, e se o doente está melhor ou pior. É que não consigo entender as vozes contraditórias, todas elas abalizadas, certamente, mas eu só consigo entender que há mal por todo o lado e espalhado ao longo de longo e longo tempo.

 

Mas o que falta é a medida. E medidas deste teor, confesso, já só acredito na que me for fornecida pela comadre Mariana. Porque ninguém como ela conhece os seus e os nossos compadres. Se eles ainda conseguem abrir os olhos, ou se somos nós que andamos com eles fechados e não conseguimos ver tudo aquilo que eles, os dois, nos dizem que já fizeram.

 

Minha rica comadre Mariana, já agora, debruce-se lá sobre dois diagnósticos distintos. O diagnóstico sobre o passado e o diagnóstico sobre o futuro. Mas, por favor, não faça como os nossos compadres. Não meta os pés pelas mãos, confundindo o que lá vai, com o que lá vem. É muito importante, comadre Mariana, que eu fique a saber se devo chorar sobre o primeiro, ou rir sobre o segundo.

 

Pois, eu sei que pode acontecer que tenha de fazer a mesma coisa sobre os dois. Nesse caso, já ficaria satisfeito, relativamente, claro, sobre qual deles o faria com mais vontade, ou com mais relutância. Do que é que eu pergunto? Tanto faz. Do passado e do futuro, ou dos dois prognosticadores. Eu não sou muito esquisito. O que eu quero mesmo, é saber da comadre Mariana o que é que devo pensar.

 

Se estes dois valem agora, mais ou menos do que valia um só, há um ano atrás. Claro, é óbvio que, normalmente, dois sempre valeram mais que um. Em termos de disparates, como a comadre sabe, dois valem apenas metade de um só. Porém, em termos de passado e futuro, a gente ainda podia desopilar o fígado à vontade, enquanto agora, não podemos sequer pensar em fazer guerra uns aos outros.

 

Pois é comadre Mariana, eu sei que vai ter de pensar um bocadinho, apesar da sua argúcia e rapidez de raciocínio. Mas também sei que não cometerá a deslealdade de, não guerreando ninguém, abra uma guerra com a sua consciência livre e independente. É que, não há nada mais saudável, que dar luta a quem não deixa de nos guerrear permanentemente. Obrigado comadre Mariana.

 

 

 

É natural que com um aninho de idade se fale pouco e se acerte ainda menos, mas isso não quer dizer que tenha de ser sempre assim. Há aqueles casos de superdotados que se revelam logo à nascença, e há outros casos de precocidade que nos deixam boquiabertos com as suas demonstrações de inteligência e de habilidades muito para lá do que é comum.

 

Também há casos de sucesso nessa tenra idade em que se manifesta desde logo um sentido surpreendente de tendência para a maldadezinha escondida sob a capa de um angélico sorriso e de um ar de quem acaba de concluir uma obra-prima de bem-fazer, para todos aqueles que os apaparicam a todo o momento, fazendo jus a que as maldadezinhas, cada vez maiores, sejam também cada vez mais escondidas.

 

Mas, também cada vez ficam mais enganosas pois, de dia para dia, aumenta o engenho de as pensar e aguça a arte de as executar. Sempre sem perder o instinto de delas beneficiar. Decorrido um aninho de vida, a matreirice é já um forte sintoma de que alguém cresce com os olhos postos no seu futuro, sempre construído com referências ao passado, à medida que ele vai sendo desennterrado.

 

A verdade é que, para a idade que tem, já fala de mais. Talvez por isso, se torne necessário mudar-lhe constantemente a fraldinha, pois quem muito fala, dizem, muito de incómodo acabará por deitar fora, correndo o risco de ser atingido por alguma desidratação, se não meter água com a frequência devida. Mas isto acaba por ser um ciclo vicioso. Quanto mais água meter, mais diarreia terá de deitar fora.

 

É natural que quem tem apenas um aninho de vida ainda não tenha bem a noção da diferença entre a verdade e a mentira, e entre por aquele labirinto que se situa na fronteira entre as duas. Assim, lá vai metendo uma palavrinha de verdade por entre duas palavrinhas de mentira. Para quem é tão novinho, custa a acreditar que faça isso conscientemente, mas a verdade é que o faz.

 

A menos que estejamos perante o tal caso de precocidade intelectual, em que uma criancinha tão nova, já consegue ver para além do que veem muitos adultos, chegando mesmo a dizer deles, o que um mestre não diria aos seus aprendizes. Mais, consegue, com toda a facilidade, convencer um país inteiro de que todos estão com ele, apesar dos seus olhinhos, ainda em estado de semicerrados, verem muitas sombras.  

 

Mas, custa a acreditar que se comece tão precocemente a divisar por entre as brumas da memória, as virtudes de poder vir a viver calmamente num futuro em que as sombras predominam sobre a claridade. Principalmente, fazendo crer que as sombras são imaginárias, substituindo-as por uns raios de sol pretensamente quentes, que não aquecem sequer os pés dos mais intranquilos.

 

Com um aninho apenas, são muitas as lições que nos são dadas por quem ainda nem sequer tem idade para ir à escola. Mas pretende convencer os professores de que está já em condições de lhes ensinar como devem mostrar as suas capacidades e exercer a sua pedagogia. Sobretudo, para que não vivam permanentemente angustiados, quando a vida, agora, só lhes dá motivos para sorrir.

 

Talvez até, em muitos casos, motivos para rir abertamente, não com aquele encanto do riso de quem tem apenas um aninho de idade, mas com aquelas gargalhadas que fazem vir as lágrimas aos olhos. Os alunos não são todos tão bons como as criancinhas que olham enlevadas para os pequenos e grandes gestos dos seus educadores ou professores de outras origens mais convincentes que as nossas.

 

É evidente que a nós, medíocres mas muito elogiados sofredores, só nos resta aprender o que eles nos ensinam e, acima de tudo, não armarmos em espertos, demonstrando que a nossa esperteza é, apenas e só, uma das muitas espécies de esperteza saloia que não tem cabimento neste nosso mundo tão sabido. Por isso, resta-nos desejar-lhe um, entre muitos outros, aniversário feliz.

 

 

  

23 Jun, 2012

A Bem da Nação

 

Quando as coisas não se resolvem por si próprias, o que normalmente é muito difícil, é preciso um empurrãozinho, para a primeira coisa começar a mexer-se. Depois, as outras, é uma questão de tempo. Elas lá se vão empurrando mutuamente, nem que seja a pontapé. Como o fez o nosso primeiro que, mesmo lá fora, não se fartou de dar pontapés na atmosfera enquanto via a bola.

 

E esses pontapés acabaram por criar a inércia suficiente para que a bola entrasse mesmo, apesar dos milhares de quilómetros que separavam o autor dos pontapés, no Brasil, e a distante baliza checa no europeu. Mas, se não fosse a pontapé, teria de ser à chapada ou à lambada, porque através de ameaças e de boicotes estava escrito que isso já não resulta, por causa de um desregulado presente no estádio.

 

E assim lá vamos ganhando para os gastos, apesar do número de acompanhantes que por lá abundavam. A mim surge-me a dúvida se todos eles foram convidados a custo zero, ou se o custo zero foi, precisamente, para os convidados. Se é que todos foram convidados, pois também não faço a menor ideia se muitos deles não se auto convidaram. Ou, simplesmente, se não apareceram a preencher os lugares vagos no avião.

 

Também não excluo a hipótese de alguns desses convidados o terem sido, devido à sua especialização em marketing. A oportunidade era extremamente favorável a contactos com altas personalidades estrangeiras, interessadas em comprar uns monos que temos cá e que dava um jeitão serem vendidos. Por exemplo, estádios que já foram do euro e agora não servem senão para agravar o défice.

 

Estes prováveis técnicos de marketing, mesmo sendo viajantes amadores, sempre podiam dar uma ajudinha aos profissionalíssimos e competentíssimos ministros e outros, que estão a percorrer países de todo o mundo, em busca de compradores de tudo o que cá temos e não nos serve para nada. Como não nos serve para nada, também não podemos exigir que nos paguem grande coisa.

 

Mas também não se gasta muito com estas viagens intercontinentais que, imagino eu, devem ser pagas através de vouchers que as empresas públicas eventualmente tenham em stocks ilimitados. Eventualmente, também os comes e bebes, podem ser suportados pelos empresários de carteira bem recheada, penso eu ainda, pois já devem ter sido convidados para ajudar a suportar essas despesas.

 

É evidente que, viagens deste gabarito, suportadas exclusivamente pelo estado, eram impensáveis. E, sobretudo, impagáveis. Porque um estado que quer sair da banca rota que herdou, não podia gastar em marketing de vendas, o que não consegue obter com o produto dessas vendas. Ou seja, é gastar balúrdios com marketing de altíssimo nível, para vender coisas de baixíssimo valor.

 

Parece-me a mim, que nunca estudei marketing a esse nível, que era muito mais rentável fazer cá, internamente, uns cursos nas novas oportunidades, onde todos os viajantes, públicos e privados, em perfeitas e baratinhas parcerias, discutissem essas vendas a preços de saldo e fizessem um rateio entre eles próprios, combinando pagamentos em suaves prestações, ainda que até ao fim das suas vidas.

 

Tudo isto foi feito com contas de cabeça, porque não tenho calculadora nem saberia trabalhar com ela. Mas, pelo que tenho ouvido falar, ainda há quem saiba menos que eu. E então de contas de sumir, onde é mais que evidente a diferença entre o que se recebe e o que se gasta. Assim, a olhómetro, o país sairia a ganhar os muitos milhões que anda a perder todos os dias.

 

Como comecei isto a pontapé entre o Brasil e o Euro, onde os convidados, as viagens e os viajantes, fizeram os já conhecidos sucessos, não posso deixar de salientar outra despesa que não é, de modo nenhum, desprezível. As muitíssimas mensagens, longas, fortes e emotivas mensagens, destinadas aos nossos heróis do pontapé na bola. Espero que os mais sensíveis, não se ofendam comigo. É tudo a bem da nação.

 

 

22 Jun, 2012

Haja saúde

 

Costuma dizer o nosso entendido povo que, no meio de tanta desgraça apregoada por esse mundo fora, ao menos que haja saúde, para que se possa também dizer que quem canta seus males espanta. E, já agora, que o forno não deixe de coser o pão que nos mantém vivos e a mexer todos os dedinhos quando saímos da cama todas as manhãs.

 

Quem tiver a felicidade de acumular tudo isto, bem pode dizer que a vida está má mas, pode ter a certeza, ela estará muito pior para muita outra gente. Eu imagino o sofrimento de um ministro que até tem estado muito quieto e calado nos últimos tempos mas agora, por dever de ofício, teve de fazer o sacrifício de fazer uma longa viagem para obrigar a ganhar um jogo de futebol.

 

Foi o que nos valeu para que o pessimismo não matasse muitas e fundadas esperanças de sobrevivência, quando tantos portugueses já se viam a cair para o lado, em frente do televisor, atingidos por um daqueles xeliques, que não perdoam. Em vez disso, e graças às veementes ordens do nosso ministro, houve festa de arromba em toda a extensão deste nosso relvado nacional.

 

Também não seria de esperar outra coisa de um ministro que sempre soube fazer uma eficaz gestão do seu tempo e do seu trabalho. Mas, à cautela, lá convenceu o papa do país a acompanhá-lo, não fosse o ministro confundido, lá fora, como um representante de satanás. Assim, o poder da obra, junto com o poder da palavra, traduzida em fervorosas orações, era simplesmente infalível.

 

E foi assim que aconteceu a verdade do saudável, haja saúde, que até nos prolongou a vida numa competição que alguns já consideravam uma morte certa. Já tenho ouvido dizer que não há nada mais eficaz para que uma pessoa viva até mais não, que haver alguém que lhe deseje a morte. Claro que, quem tem desejos desses, mais vale ir pensando em morrer primeiro.

 

Também me apetece dizer, haja saúde, para ver o que aí vem em termos de justiça, a tal que as bocas do mundo não deixam de proclamar que não existe. Cá para mim, deu agora uns leves, levíssimos, bafos de vida, ao serem anunciadas algumas medidas que, boas para uns, más para outros, como de costume, são indícios de que, afinal, já há mesmo medidas, em lugar de apenas palavras.

 

Gostava de ir tendo saúde para ver quando é que as medidas são mesmo tiradas a todos por igual, isto é, quando é que os julgados e condenados vão mesmo para o lugar que merecem, com o fatinho às riscas de circunstância, ao mesmo tempo que os julgados pelos pela populaça, com a ajuda populista de quem tem alguma influência para ditar sentenças, armados em juízos de guerra, sejam absolvidos de vez.

 

Para isso, haja saúde para ver que, todos aqueles que contribuírem para estas guerras, sejam chamados a provar o que dizem ou escrevem, para que a justiça possa atuar, caso ainda o não tenha feito. Neste caso, seriam bem-vindos como juízos de paz, pois todos seremos poucos para a promover. Caso contrário, os juízos de guerra deviam ser devidamente julgados como criminosos na medida do crime cometido.

 

Em matéria de crimes agora muito em voga, gostava de ver esclarecida esta situação bizarra de quem está sempre a considerar-se isento, responsável e de consciência tranquila mas, perante acusações concretas de, no mínimo, falta de lisura política, se recusa terminantemente a prestar esclarecimentos nos locais onde tem a obrigação, que mais não seja moral, de o fazer.

 

Por outro lado, peço muita saúde para ver bem esclarecida a diferença entre o dever de informar e o perigo de se meter o nariz onde se não é chamado, com a agravante de ir assoar-se onde a falta de higiene põe em risco a saúde de terceiros. É que, com a saúde alheia não se deve brincar. Caso contrário, é natural que os atingidos também reclamem o direito de contaminar os contagiosos. Para que haja saúde.    

 

 

20 Jun, 2012

Mais um?

 

Quem diria que em tão pouco tempo, um a um, grandes senhores do poder africano viriam a ter o fim que uns já tiveram e outros estão irremediavelmente na lista de espera para lhes seguir o exemplo. Os tempos não estão nada fáceis para quem abusou do poder de destroçar a vida de muitos milhões de seres humanos, só porque julgavam que tudo lhes pertencia.

 

Na verdade, tudo lhes pertenceu até ao momento em que a consciência dos candidatos a vítimas concluiu que, morrer por morrer, mais valia morrer com dignidade, tentando ao menos que os sobreviventes desse morticínio, viessem a usufruir de um futuro construído para si próprios e nunca mais para os ditadores que de tudo privavam quem apenas podia viver para lhes satisfazer luxúrias e vícios de deuses terrenos.

 

Parece que ainda há quem julgue que, assim é que estava bem, e resista à obrigação de dar o direito de libertação aos povos condenados à miséria, defendendo os usurpadores do poder. E não são apenas os que faziam parte dessa corte de privilegiados que viviam à sombra das ditaduras. São também aqueles que entendem que as turbulências nunca favorecem ninguém.

 

Vamos assistindo a tantas cambalhotas de quem detém o poder, que já nada nos surpreende. Mesmo quando o poder muda de rostos. Porque há países onde, como diz o povo, nem sequer mudam as moscas. E, à falta de melhores alternativas, até o povo que escolhe, se vê obrigado a aceitar sempre a mesma coisa, quer participe nessa aceitação, quer voltando-lhe as costas cada vez mais.

 

De vez em quando, lá vai mais um, aqui, não desta para melhor, como em África, por enquanto, mas para um dos muitos paraísos dourados que não faltam por aí. Tem sido assim por obra e graça de uma solidariedade fraternal que os une, para lá das guerras verbais a que assistimos diariamente nos meios de comunicação social, para português ver e ouvir.

 

No entanto, no que toca ao cerne do poder, nenhum dos habituais detentores abdica de o exercer em exclusivo, quando toca a sua vez. Porque essa coisa de partilhas sempre deu em grandes guerras familiares. E eles, os da área do poder, apenas querem ser primos em momentos de pequenos festins, pois nos grandes banquetes, tudo é pouco para os grandes comilões.

 

Aqui, o problema não se resolve com o lema de, lá vai mais um. Porque, um a um, sempre nos vão dizendo que, os que entram vão resolver tudo, bem e depressa, daquilo que os que saem deixaram mal alinhavado. Portanto, sair mais um ou menos um, nem adianta nem atrasa. Tinham mesmo de sair todos, um a um, até que tudo ficasse novo, sem ferrugens nem retoques de pinturas.

 

Como vamos copiando muito do que vemos lá fora, há indícios de que uma ou outra visão partilhada venha a quebrar a tradicional casmurrice do, ou governas tu, ou governo eu. Sim, porque ainda não há muito tempo, se ouvia, cá dentro e lá fora, juntos, nós, nunca, pois não havia nada, mas absolutamente nada, a partilhar. Nem a mais estreita visão, nem a mais larga indecisão.

 

Porém, a nossa fantasmagórica alma gémea dos Balcãs, já nos fez sinais de luzes para a seguirmos dentro do bom caminho que estamos a trilhar, ainda que venha a ficar pejado de cadáveres. Diferente, mas seguindo o conselho amigo do uso de visões partilhadas com os figadais inimigos internos. Afinal, lá terá de ir mais um a caminho da tão endeusada harmonia que as nossas amizades externas tanto valorizam.  

 

Será, com certeza, um doloroso engolir de sapo vivo. Mas quem manda, manda. Porque isto de parar com o, lá vai mais um, tem que se lhe diga. Mais vale continuar vivo e remar a dois, que ver o barco ir ao fundo com mais um. É que assim, haverá sempre a consolação de que lá vão mais dois. E a mim, resta-me a esperança de que, um a um, ou um de cada vez, se acabe com esta rotina do, enquanto tu vais, fico eu.     

 

 

 

A teoria é simples e facilmente demonstrada. Quem não tem dinheiro não pode expressar o seu descontentamento, muito menos a sua revolta, porque quem tem o dinheiro não admite contestações e, portanto, reclamar seja o que for, só vai provocar a ira de quem o tem e a sua indisponibilidade para o emprestar a quem não mantenha o biquinho calado.

 

Isto, transportado para a prática, quer dizer que os países em dificuldades não podem expressar nas urnas, através do voto, a sua vontade de mudança, perante as muitas dificuldades que os seus cidadãos vão encontrando para sobreviver a essa ditadura imposta por quem tem o dinheiro. Dinheiro que é mostrado antes do voto e que é imediatamente escondido após o fecho das urnas.

 

Esta teoria tem os seus defensores com o argumento de que se não pode sobreviver após a bancarrota que se seguirá a resultados inconvenientes nas votações em partidos que não estão dispostos a deixar que essa progressiva degradação da pobreza, vá fazendo com que cada vez mais pessoas da classe média, vão caindo na pobreza, à medida que lhes retiram salários e reformas.

 

É a isso que estamos assistindo. Porque, a bancarrota e as consequentes e nefastas misérias daí resultantes, não são tão assustadoras para quem já está na miséria, como para quem ainda tem dinheiro para o sustento da casa e da família. Quem já não tem nada, não vai perder nada. Mas quem ainda tem alguma coisa, entra em pânico com a possibilidade de perder tudo. Daí, a defesa da tese do dinheiro.

 

Porque a bancarrota levada ao extremo, vai privar os endinheirados de muita coisa, ainda que o dinheiro lhes sirva para ir comprando a servidão de muita gente que é obrigada a servir a qualquer preço. Mas, é evidente que essa situação não é eterna. Porque a servidão cria anticorpos e a fome cria revoltas que, por sua vez, vão inevitavelmente bater à porta do dinheiro. Nem sempre com delicadeza.

 

É, pois, natural que em alturas de eleições se erga o papão da bancarrota e da defesa de todos os interesses conotados com quem tem o dinheiro. Ora, isto pressupõe que quem tem o dinheiro, tenha mesmo de comandar o mundo para sempre. Sabemos que assim tem sido de há muitos anos a esta parte, mas convém não esquecer as consequências que estão à vista.

 

É verdade que muita gente tem feito a sua vidinha regalada com este sistema e tem medo de a perder. Mas tudo indica que essa gente vai sendo cada vez menos e corre cada vez mais riscos, pois o dinheiro pode vir a ter os dias contados em termos de garantia de segurança e de continuação de domínios em tudo o que lhe tem permitido controlar pessoas e recursos em todo mundo.

 

Dir-se-á que até lá a vida continua e continuará. É verdade. Mas são muitos os locais em todo o mundo em que muita gente já tem muitos receios, precisamente, gente que estava habituada a passear a sua vida e os seus haveres com toda a naturalidade, em qualquer sítio da sua preferência. É bem sabido, que hoje já não é assim. E isso tanto acontece nos meios mais policiados como nos meios rurais.

 

Porque as polícias, por mais que sejam bem reforçadas e bem armadas e equipadas, cada vez vão tendo mais dificuldades em se defender a si próprias, quanto mais acudirem a todas as portas onde haja qualquer coisa para roubar. Já não basta que os ricos tenham os seus bunkers invioláveis, porque também eles, não podem permanecer ali a vida inteira sem ver a luz do dia.     

 

Bem podem iludir-se os que julgam ter o seu futuro a salvo só porque têm dinheiro, ou têm onde ir buscá-lo, com maior ou menor dificuldade. Bem podem aconselhar os outros usando o fantasma da bancarrota. Bem podem pensar que a sua bancarrota não existe, se não cuidarem de pensar nas origens da bancarrota dos outros. O dinheiro sempre foi, e sempre será, o pior móbil de entre todos os crimes.

 

 

 

18 Jun, 2012

À esquerda rodar!

 

Isto até parece uma voz de comando numa marcha militar. Mas, em boa verdade, para muitos e bons democratas, será a voz de um qualquer imbecil de esquerda que manifesta as suas aberrantes ideias, ofendendo assim a ética e os bons costumes, aos quais só a direita pode ter acesso. Porque os esquerdóides, parasitas da sociedade, dela deviam ser banidos para sempre.

 

A esquerdalha, ou a escumalha, tolerada na sociedade onde lhe é permitido viver por especial concessão da direita, magnânima e bondosa, é a causa de todos os males de que ela enferma, nomeadamente, o despesismo e o roubo sistemático do estado, que assim se vê privado dos meios que essa direita queria e podia distribuir pelos mais necessitados.

 

Acontece que a direita virtuosa e salvadora nada pode fazer, porque os inúteis e preguiçosos esquerdistas, tudo devoram sem nada produzir, levando o estado à bancarrota e empurrando os pobres para a porta das misericórdias, das autarquias e de outras instituições assistenciais. Porque é a única maneira de minorar o resultado da governação ruinosa de um estado que deu tudo o que não tinha.

    

Daí que o estado, para sobreviver, tenha de se libertar de todos os subsídios dados à vadiagem que não quer trabalhar, que anda atrás dos sindicatos comunas ou xuxas, para xular o estado e os cidadãos que cumprem as suas obrigações e trabalham para que o país ressuscite de misérias passadas, todas elas com o rótulo bem visível da sua origem esquerdóide.

 

Resumindo: uma sociedade onde a esquerda é para abater. Para erradicar. Definitivamente. É assim que pensa uma determinada, ou indeterminada, quantidade de gente que se pronuncia através de escritos ou comentários que todos nós podemos ler por aí e até ouvir de viva voz em qualquer sítio, onde a liberdade que eles não consentem aos outros, lhes permite tamanho desplante.

 

Acontece que, ciclicamente, os ventos mudam e as coisas acabam por lhes demonstrar que ninguém é para ser abatido. Nem erradicado. Muito menos definitivamente. Porque se alguém está dentro de parâmetros relacionados com a imbecilidade, não é a esquerda que o é por convicção, mas sim a direita, melhor, essa gente que, sendo mesmo imbecil por natureza, não se cansa de generalizar com toda a esquerda.        

 

Obviamente que, ser de esquerda ou de direita, é ser gente. Gente que vota e determina quem ganha e quem perde. Quem governa, afinal. Foi isso que aconteceu agora na Grécia. Onde a direita já consentiu que a esquerda quase lhe abafasse a voz. Não interessa discutir agora se é bom ou se é mau para a Grécia. Interessa dizer que não há aqui imbecis, nem de um lado nem de outro. E, se houver, então, são todos.

 

Foi o que aconteceu agora em França. Onde a esquerda superou a direita inexoravelmente, como já o havia feito nas presidenciais. Essa esmagadora maioria de esquerda, não é escumalha da sociedade francesa que luta apenas por viver de subsídios. Não são bandos de esquerdistas, ou esquerdóides, que deviam ser obrigados a emigrar para deixar em paz a pacífica e virtuosa direita.

 

Na Grécia, tal como na França, não convém utilizar o argumento tantas vezes ouvido por cá. O povo é estúpido. O povo não sabe o que faz. O povo é que tem a culpa de tudo. Na Grécia, como na França, como em Portugal, não é o povo que se engana quando vota. O povo é enganado a toda a hora por aqueles que escolheu, com base nas mentiras que lhe impingiram. Depois, vinga-se.

 

Como não há fumo sem fogo, é natural que o fenómeno já tenha rastilhos acesos em outras partes por essa europa fora. Depois, os foguetes são, só por si, um rastilho natural que até se pode acender a si próprio. E a direita tem deitado tantos foguetes, muitos deles de lágrimas reais, sentidas e doridas. Os foguetes nunca poderão servir para agredir ninguém pois, por vezes, até rebentam nas mãos de quem os deita.

 

 

 

17 Jun, 2012

A sopeirra do hemi

 

Todos os portugueses deviam ver tudo à lupa no que respeita a toda a gente que não lhe agrade, mesmo que isso represente uma certa tendência para a bisbilhotice do sopeirame nacional. Até aqui temos assistido ao exemplar desempenho dessa tendência por parte do maior partido governamental. Andam todos de lupa em punho e, muitos deles, com um funil na outra mão.

 

Li agora que viram à lupa os juízes propostos pelos adversários para as vagas do Tribunal Constitucional. O que me espanta nesta notícia é o facto de os socialistas não terem feito o mesmo, quanto aos juízes do lado oposto. A menos que a notícia seja mais um espanto informativo, entre os muitos que nos chegam diariamente, embora acredite que todos, sem exceção, fizeram o mesmo.

 

E não andaram uma semana, mas durante os muitos meses que já dura essa novela, do gosto desse, não gosto daquele. Claro que isto só pode ser um dos muitos episódios que se assemelham em tudo às tradicionais conversas de sopeiras nas idas e vindas para os locais de trabalho. E essas conversas têm, logicamente, como protagonistas, as senhoras e os senhores seus patrões.

 

Esta sopeiral introdução vem a propósito de muito do que se passa no chamado hemiciclo onde, com os patrões presentes ou ausentes, ouvimos os discursos das, e dos serviçais, com aquela exaltação de quem serve cegamente, incondicionalmente, sempre através das mesmas palavras de repetição de ladainhas que já enjoam e que em nada limpam a imagem em que o país os tem.   

 

Mas, também vemos as caras de sopeiros que eles nos mostram, sempre que as câmaras os aproximam o suficiente para os observarmos através dessas lupas objetivas que nos colocam frente a frente com eles. De entre esses, é fácil identificarmos aqueles que mais se distinguem nesse mundo em que até podemos, sem esforço, chegar à conclusão de quem merece o título de sopeira do hemi.

 

E muito mais depressa concluímos isso, quando o patrão está ali, no preciso momento em que fala, nos momentos em que repete aquilo que o sopeiro já tinha repetido, e que é aquilo que o patrão já dissera mil vezes. Mas aquela cara de sopeiral enlevo com que escuta o que já sabe de cor, o entusiasmo com que aplaude essas palavras que, cada vez mais, lhe soam bem ao ouvido, é um momento de boca aberta.

 

Essa é a verdadeira cara do sopeiro do hemi que, em boa verdade, representa na perfeição, a expressão facial da sopeira-mor daquela casa senhorial. Porque é ela que pode olhar de cima para baixo para todas as sopeiras menores que não atinam com o melhor processo de contrariar os avanços e recuos daquela que tão depressa humilha, como logo a seguir se vê na necessidade de se amaciar.

 

O sopeirame é assim. Obviamente que me refiro a este sopeirame, pois nem por sombras poderia estar a referir-me às qualificadas empregadas técnicas de cozinha e limpezas que, de algum modo, já tiveram designação semelhante ao fenómeno sopeiral. Mas isso já foi há tanto tempo que ninguém, nem eu próprio, ousaria colocar esses quadros de apoio a um nível tão baixo.

 

De baixo, mas mesmo muito baixo, é o nível em que vejo o anafado sopeiro do hemi que, por acaso, até trata os seus adversários, mas colegas de trabalho, como o pessoal menor que ele julga comandar, naquela cozinha onde tudo se condimenta e onde tudo se prepara com belos e decorados aventais de sopeiras. Mas, antes de meter os preparados no forno, têm de passar pela lei de funil da sopeira-mor.   

 

Que tem uma postura muito peculiar no desempenho das suas destemperadas funções. Por entre as normais vociferações de ódio, de vasculho e de acusações, quando a necessidade a isso obriga, lá arranja uns incómodos apelos à união que, como orgulhosamente diz, são do interesse nacional. Cá para mim, a sopeira anda a destemperar, em lugar de temperar, o encalado ambiente do hemi e do país.     

 

 

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