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afonsonunes

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31 Jul, 2012

O meu veterinário?

 

Constou-me que os veterinários passaram a controlar os alimentos que eu como. Não posso acreditar, pois isso deve ser mais uma daquelas gracinhas que alguns brincalhões não se cansam de inventar todos os dias para denegrir os avanços que, atrás ou em frente, inegavelmente, se verificam no país.

E não posso acreditar nessa balela, porque eu não como alfarroba, nem aveia, nem molhos de erva seca ou erva verde. Como é natural, como comida de gente, e não de animais ainda mais irracionais que eu. Mas, lá que também tenho um bocadinho de irracional, é verdade que tenho.

Daí que até admito que haja um nadinha de verdade no que me constou. Como nunca tive a sorte de dizer que o meu médico me disse isto ou aquilo, pode ser que neste momento esteja prestes a poder dizer que o meu veterinário me receitou esta ou aquela variedade de palha.

Até aqui, sempre fui tratado por médicos do SNS, felizmente bem tratado, e não por um médico só meu. Espero que o veterinário que me couber em sorte, também seja do SNV, porque a veterinária privada deve ser um problema que nem qualquer ministra privada conseguirá controlar, aliás, como é lógico.

Mas, é verdade que nos primeiros tempos me vai custar dizer, ‘o meu veterinário’, até porque haverá logo quem pense que é a minha gatinha que está para ir à consulta. Como lado positivo, estou em crer que ninguém vai ter a lata de me cobrar taxa moderadora, nem mesmo com o nome de taxa veterinária.

Ao que parece, a ministra da veterinária privada já terá perguntado, ‘onde é que está o problema?’ Ora esta pergunta deixa-me absolutamente tranquilo. Ainda pensei que ela quisesse fazer uma inovação, para dizer que acabou com uma inutilidade, a ASAE, para criar uma aberração, o SNV.

Para mim, dada a minha veia com tendência para o irracional, o problema está só na cabeça, pois também não há problema nenhum em que os agentes da ASAE que recolhiam as amostras do bife e do ovo, para não caírem no desemprego, vão agora para a fiscalização por amostragem dos veterinários.          

Bem sei que há muita gente que não gosta da ASAE. Só por isso, a veterinária saiu do âmbito do tratamento de bestas e afins, para ganhar a supervisão das elites humanas. Perdão, estou desconfiado que estou para aqui a armar uma grande confusão. Afinal, deve tratar-se apenas de recolher umas amostras de forragens.

É o que eu já disse: é a minha irracionalidade, logo, o meu veterinário vai ter muito que fazer. E o pior é que, como eu, há muita gente a precisar que lhe colham amostras, para depois serem sujeitas a demoradas e muito especializadas análises. Por uma questão de economia, entreguem as análises à ASAE.

Agora, se a ministra privada e seus pares quiserem mesmo ganhar eleições e a simpatia de muita gente que nunca gostou de ser fiscalizada, então, não há que pensar duas vezes: toca a acabar de vez com a ASAE. Porque eles foram sempre uns malandros que deram cabo da economia nacional.

Não lembrava ao diabo que andassem a roubar as colheres de pau dos restaurantes, ou que obrigassem a encher bidões de óleos e azeites ainda com pouco uso, só para produzir o tal de bio diesel. Claro que tinham de ter percentagem nessa coisa toda. E essa percentagem tinha de ir para melhores mãos.

No fim de contas, só ainda não percebi o interesse da ministra privada nesta história toda. Não gosta da ASAE, pronto, tudo bem. Mas, porque será que gosta tanto da veterinária? É evidente que não estou à espera que me responda, até porque sei que tem muito mais que fazer.

E hoje, a simples vontade de ir consultar um médico, tornou-se muito complicado por causa da difícil marcação de consultas. Cá por mim, fico à espera que o meu veterinário me facilite a vida.

 

 

 

30 Jul, 2012

O exigente

 

Se não temos um verdadeiro valente no governo, temos um autêntico exigente na oposição. Isto significa apenas que não adianta andar a fazer exigências a quem não tem, nem quer ter, a mínima vontade de as satisfazer. Mas, se acaso a tivesse, a tibieza das suas convicções, também o não deixariam.

O nosso persistente e diligente exigente, deve ter o bom hábito de, logo pela manhãzinha, ler todos os jornais. Desconfio ainda que ele passa a noite a ouvir as notícias vindas do ar. Desse louvável esforço para se manter bem informado, resulta um poder de exigência fora do comum.

Ele acredita que todas as notícias que ouve, são uma fonte de exigências por excelência. Só não acredita nas notícias de fonte governamental ou de origem troikiana. Como é evidente, estas fontes são aquelas que, para ele, já secaram há muito tempo, daí que não queira engolir em seco.

Já exigiu explicações sobre quase tudo o que não tem explicação. Mas ele considera isso muito positivo, dado que, cada explicação exigida e não satisfeita, é um parágrafo para o seu futuro programa de governo. Porque ele, apesar de não querer o governo, quer ter um programa de governo.

E eu acho muito bem, porque mostra ser um político, não só muito exigente, mas muito metódico, muito trabalhador e muito previdente quanto ao futuro. Como não quer ir já para o governo, quer deixar trabalho feito, que sirva para demonstrar que deixa uma notável herança ao seu sucessor.

Como seguro que é, quer demonstrar ao eleitorado que também é um segurado exemplar. Ainda há dias contestou a decisão de que quem não tem seguro de colheitas fica a ver as tempestades passar. Tem toda a razão, porque segurados exemplares todos são. Trouxas são os segurados que pagam o seguro.

Ele é efetivamente muito seguro nas suas exigências. Só exige aquilo que alguém já exigiu. Há muito que anda a exigir mais tempo e mais dinheiro. Ora a maravilha. A ministra já fez mais, e há muito mais tempo. Já exigiu a Deus que mande chuva depressa, e já exigiu aos seus mandachuvas que mandem dinheiro já.        

Mas, para não ficar para atrás nas suas exigências, parece que mandou agora três cartas muito bem escritas à mão, por uma questão de autenticidade da sua autoria, para que os nossos indefetíveis protetores lhe concedam a graça de mais tempo para o seu mandato e mais dinheiro para percorrer o país.

Esta ideia das cartas é fenomenal. Ela revela que ele não tem jeito para arranjar dinheiro fácil como os amigos dos seus competidores do governo e que não tem a garantia de manutenção em funções, como os insubstituíveis ministros que muita gente anda para aí a barafustar para que saiam.

Ele é tão seguro que não arrisca falar de uma coisa, nem de outra. Sim, porque sobre isso, ele não se atreve a exigir nada, simplesmente, porque sabe muito bem que levava uma nega de todo o tamanho. E, para negas, já bem bastam todas as que lhe têm dado, sem a mínima explicação.

Claro que isso não se faz. O rapaz é bem-educado, é seguro nos seus deveres, é inseguro nos seus atrevimentos, logo, merecia umas palavrinhas de compreensão, para não dizer de justificação. Mas, a estes deuses nada se pode exigir. Quando muito pode, respeitosamente, solicitar-se compaixão.

Do que ele não está seguro, é de quantas marteladas semanais vai levar daqui até às eleições. Se elas já estivessem marcadas era fácil fazer as contas. Assim, aguenta seguro, que ele é mesmo martelo de repetição semanal. Já será mesmo medo?

 

 

29 Jul, 2012

Vamos lá supor

 

Este exercício do ‘suponhamos’ é muito encorajador quando nos apetece suplantar a realidade e entrar no mundo da fantasia. Supor que temos o que nunca poderemos ter, ou supor que vamos, onde sabemos que os nossos pés nunca terão a felicidade de passar por ali, é o máximo.

Pois, podemos supor que sim, que podemos. Por exemplo, como eu gostava de ter estado em Londres, naquele fenomenal evento que nos chegou via televisão. Daí que não me contivesse no meu lugar de telespectador e fizesse tudo como se lá estivesse. Ou, pelo menos, pensei que fiz.

A primeira coisa foi pôr-me ao lado da minha Maria que, por acaso, estava entusiasmadíssima, coisa que até nem é costume. A meu pedido, ela tinha no colo um alguidar de pipocas, porque aquilo era como se tivéssemos ido ao cinema. Coisa que já nem me lembro de ter acontecido.

Depois, com o meu entusiasmo ao rubro, o que também nem sempre acontece, lá fui misturando pipocas na boca com imagens nos olhos, num vai vem da mão entre o colo dela e a minha boca, a ponto de já não poder dizer nada de jeito, pois a língua estava completamente empastada.

Com a mão ocupada, nem podia bater palmas como a minha Maria, mas lá ia levantando os braços, enquanto a assistência gritava o nome de Portugal. Bem tentei gritar também. Mas a papa de pipocas não deixou. No entanto, eu não tirava os olhos daquela bandeira nacional e o meu entusiasmo crescia, crescia.

Cheguei a supor que estava ali ao lado da rainha a falar da situação político-económica do Reino Unido. Até porque a minha Maria estava sempre a meter o bedelho na nossa real conversa. Às tantas a rainha também estava entusiasmadíssima com a conversa que eu lhe estava a proporcionar.

Chegou mesmo a desinteressar-se completamente do desfile de regresso ao passado, quando eu lhe lembrei os maiores sucessos que tiraram o meu país desta embrulhada em que o Reino Unido está metido. E também o mundo, tudo porque não quis ouvir os meus avisos, tanto escritos como verbais.

Tive de mandar calar a minha Maria, porque queria à viva força dizer à rainha, que tinha sido ela a chamar a atenção para a necessidade da minha intervenção neste contexto tão complicado, dado que eu era a única pessoa com conhecimentos e capacidades para acabar com tantas más decisões e tantas indecisões.

A rainha felicitou-me por ter uma Maria tão interventiva e tão exuberante, coisa que nos dias que correm não é muito vulgar. Citou até o seu caso, dizendo que lhe cortaram o ordenado sem a terem consultado antecipadamente. A minha Maria não se ficou: se me fizessem isso a mim…        

Escusado será dizer que a minha Maria aproveitou logo para dizer à rainha que, se fosse ela, nunca permitiria gastar-se tantas libras em jogos tão luxuosos e faraónicos. A rainha, por seu turno, logo lhe lembrou que, se chegou a pensar assim, escusava de ter lá ido aumentar a despesa.

Enfim, a conversa entre elas nunca mais acabava, motivo por que os meus avisos político-económicos à rainha ficaram aquém do que podiam ter sido em termos de utilidade para a coroa. Mas, tenho a certeza de que não faltarão outras ocasiões para aprofundar os meus reais conselhos.

Não há nada mais fascinante que supor-me acima do real. Ao lado da minha Maria, posso supor-me acima do próprio mundo. Ela diz e eu faço. Como o mundo seria bem melhor e mais feliz, se seguisse as minhas oportunas doutrinas, escritas ao longo de uma vida a escutar a minha Maria.      

Já agora, aproveito para dizer que o nosso país, meu e dela, se não está nada mau, ainda podia estar um bocadinho melhor. Bastava só que não pensassem que eu sou como a rainha de Inglaterra.

 

 

 

28 Jul, 2012

A coisa e as moscas

 

Tempo de verão é tempo de moscas, esses incómodos insetos que nos obrigam, em determinados locais, a estar constantemente a enxotá-las, chegando a esgotar a nossa paciência pela teimosia em não nos deixarem em paz, mudando constantemente de local de poiso.

No entanto, esquecendo o incómodo, há quem diga, ‘quem me dera ser mosca’, para poder pousar onde lhe apetecesse, pensando na vantagem de poder estar nos locais mais apetecíveis sem a devida autorização ou consentimento. E com risco mínimo de ser enxotado de vez.

Quando penso na atividade política, lembro-me muitas vezes das moscas. Porque os políticos são como elas, chatos, teimosos e sempre ávidos de sugar a pele das suas vítimas. Só que não os podemos enxotar como fazemos com as moscas. São muito maiores que elas.

E, como também são muito maiores que nós, também eles nos enxotam, quando lhes convém. Para eles, as moscas somos nós, tentando por todos os meios que não os incomodemos, quer com as nossas picadas, quer com o nosso zumbido à volta deles.

Por vezes, para se libertarem de nós, tentam entreter-nos com pingos de mel, pois sabem que nós, moscas gulosas, nos perdemos com o ferrão enterrado em tudo quanto é doce. O pior é quando eles, armados em caçadores, nos pregam com o mata-moscas em cima.

Mas, mel é coisa muito rara na maneira dos políticos tratarem as moscas que sentem necessidade de controlar. E então, tentam fazê-lo com vinagre, que é um subproduto do seu feitio altivo, arrogante e convencido. De tal maneira que ainda não descobriram que não é com vinagre que se caçam moscas.

Andam muito nervosos os políticos da área do poder, o que os leva a comportarem-se como moscas fugidias que pousam, picam e fogem, com a agravante de trazerem o ferrão envinagrado, para todos aqueles que não aceitam de bom grado as suas picadas.

Pensam esses políticos que podem e devem transformar este país numa democracia de partido único, em que possam dar ordens a todos no sentido de lhes orientarem o pensamento e de lhes imporem a cartilha por onde devem ler as suas orações, para que o país seja salvo dos perigosos moscardos.

Tudo indica que os perigosos moscardos são os próprios políticos que já voam exatamente como eles, picam violentamente como eles e provocam febres para as quais não encontram remédios. O país está doente e tudo o que têm para nos dizer é que temos de continuar a deixar que nos piquem cada vez mais.

Não se apanham moscas com vinagre. O mesmo é dizer, não é com lixadelas que nos convencem de que são os salvadores do país e os heróis de todos os cidadãos. Porque os heróis não são os que se intitulam, mas aqueles que os cidadãos reconhecem como tal. Ao contrário do que pensam, há sempre alternativas.

Que se convençam os unanimistas que os cidadãos são livres de ter opiniões e de ter os seus heróis que, felizmente, nunca são os mesmos para todos. Alguns dos candidatos a heróis bem tentam, ainda hoje, acreditar que vão conseguir impor-se a todos. Mas isso, nem com o mata-moscas em punho.       

Vai-se ouvindo que os políticos, as nossas moscas, por mais que tenham mudado ao longo dos anos, nada conseguiram mudar, porque está bem à vista tudo aquilo que nos deixaram. E o que nos deixaram foi sempre a mesma… coisa, que continua a cheirar mal que se farta.

Haja, pois, alguém que enterre essa coisa que cheira mal e já dura há demasiado tempo. Para que as moscas não poisem nela. Depois, se for preciso, use-se o mata-moscas.

 

 

 

27 Jul, 2012

Poupa, poupa!...

 

Todos os dias sou surpreendido com notícias que me dão conta de milhões e mais milhões poupados aqui e ali. Acho ótimo que tenhamos um governo poupado, pois bem precisamos de meter alguma coisa nos bolsos vazios. Por momentos penso que vou livrar-me deste desaforo.

Logo a seguir ouço nas notícias que as dificuldades são cada vez maiores para satisfazer os compromissos do país. O governo poupador, afinal, logo me dá a sensação de que cada vez gasta mais do que tem, apesar de estar muito preocupado, mas também muito confiante no seu sucesso. Coisa engraçada.

Para alcançar esse sucesso, precisa das nossas poupanças, mas prescinde da necessidade de ir buscar dinheiro onde ele mais abunda, que são os bolsos dos seus membros, dos amigos dos seus membros e dos parceiros nos negócios dos seus membros, além de uns tantos que permanecem sempre intocáveis.

Daí que quanto mais nós pouparmos, mais nos vêm sacar, porque há aqueles que já lhes sacaram tudo, logo, ficam isentos. Depois, há aqueles a quem não se pode sacar nada porque é ilegal. Resto eu e aquela mole de gente indefesa que ainda tem alguma coisa para pagar as favas.

Portanto, toca a poupar para que nos venham sacar. Só que eu estou com um pequeno problema. Como me vão levando o que poupei ao longo da vida, já não posso continuar a poupar, pois o que ganhava, também já me foi largamente sacado, como a tantos, em descontos e cortes legais ou ilegais.

Eu e muitos portugueses comprámos a nossa casa como medida de um futuro mais tranquilo, apesar de essa compra ter representado, em muitos casos, um sacrifício razoável, ou mesmo muito grande. Agora, como já não há outra forma de sacarem a mais gente, lembraram-se de nós.

E nós, os proprietários das suas próprias casas, vamos passar a ser arrendatários do estado que, através do imposto sobre imóveis, vamos passar a pagar rendas mais elevadas, ou quase, do que se estivéssemos em casas alugadas a um qualquer outro senhorio.

Porque temos um senhorio cego, surdo e mudo, o estado, que só pensa na renda que nos pode sacar e, com todo o descaramento, ainda nos exige que sejamos poupados, para sair de um buraco que outros criaram. Outros, a quem não se exige o que roubaram, ou o que lhes meteram nos bolsos à socapa.

Por princípio, o estado devem ser todos os seus cidadãos. Por princípio, todos os cidadãos devem assumir os compromissos do estado como seus. Pergunto aos representantes dos cidadãos na administração do estado, se é isso que está a acontecer. Se é isso que lhes compete fazer, como administradores do estado.

É um lugar-comum dizer-se que os sacrifícios têm de ser equitativamente distribuídos por todos. Mas há administradores do estado que dividem os cidadãos no grupo dos que os fizeram administradores, e no grupo dos que não lhes lambem as botas. São, evidentemente, administradores da miséria nacional.

Porque, dinheiro para passeatas, almoçaradas e jantaradas, sempre com muito boa disposição, e até, com muito ar de cinismo, é coisa que não deixamos de ver. Aí, nesses orçamentos escandalosamente mantidos, não há cortes nem descontos que suavizem um pouco a miséria do povo.

Por tudo isso, há um grito que apetece soltar espontaneamente, sem que ele seja movido por qualquer espécie de ódio contra ninguém, muito menos contra o país de que nos orgulhamos: Poupa, poupa!... Quanto mais poupares…    

 

 

 

 

Com a saúde não se brinca mas não é isso que vamos vendo no dia-a-dia. Diz-nos o chefe do governo que não nos está a dar demasiado remédio para a febre. Se ele nos falasse de dinheiro talvez eu o entendesse, ainda que não tenha dúvidas de que nada de bom esperava ouvir.

Mas, o chefe do governo a pretender tratar-me da saúde, é coisa que não entra cá na minha. Tal como, falar-me de febre e de remédio em demasia, ou em dose insuficiente, é coisa que me assusta, pois nem sequer me auscultou, nem eu o consultei, tão pouco me passou qualquer receita médica.

Depois, que ele me perdoe, mas pergunto se ele também tem o curso de medicina, ou tem apenas umas cadeiras de boa madeira no consultório onde falta o estetoscópio e o termómetro, instrumentos essenciais para diagnosticar doenças e receitar medicamentos para a febre.

Mas, o que mais me assusta, é o facto de o chefe do governo ter falhado diagnósticos sucessivos, desde os tempos em que ainda só prognosticava doenças nos comícios de ensaio para a tomada da pastilha, perdão, para a tomada da sua governadora missão. Já então, dizia ter o exame clínico perfeito do país.

É pois de susto o meu estado de saúde, embora seja obrigado a seguir o tratamento que me é prescrito. Acontece que o médico de bata branca, também não se tem entendido lá muito bem com o chefe da nossa saúde, ministro, como vimos nos dois dias em que todos estiveram de candeias às avessas.

No entanto, na minha ótica, o país ficou a ganhar. Desentenderam-se os compadres e, como sempre, vieram ao de cima algumas verdades escondidas. Os médicos ganharam os concursos e o chefe da saúde descobriu-lhes a careca no que toca às verbazitas que entravam, e ainda entram, por baixo da mesa.

Agora, vai começar o negócio. Resta saber se em bases mais sérias e reais argumentos, que ambas as partes andavam a esconder aquilo que toda a gente sabia. Foi um jogo em que o resultado foi um empate, ou melhor, um jogo em que houve dois vencedores e dois derrotados. Coisa estranha, mas real.

Tudo indica que houve estados febris em ambas as partes, antes do estado gripal de dois dias em que todos foram à cama. E foi assim que os remédios começaram a ser administrados e só esperamos que venham a ter os resultados que os doentes merecem. A sua cura, sem recaídas sempre perniciosas.

Porém, se o chefe do governo entra nesta enfermaria, onde a saúde e o médico se têm confrontado, as coisas podem realmente entrar por um caminho que pode degenerar em epidemia. Os espirros constantes que ele solta sem pôr a mão na frente da boca, são uma evidente fonte de contágio.  

O país só terá a ganhar se o chefe do governo se mantiver à distância, deixando os remédios e as febres nas mãos dos médicos que, esses sim, não nos darão sobre doses nem mini doses. E o chefe da saúde deve, até porque sabe muito bem, de onde pode tirar dinheiro, para pôr no devido lugar.

O chefe do governo, se tiver de dar uma ou outra injeção de emergência, fará bem em chamar uma enfermeira diplomada. Mas pague-lhe o justo valor do seu trabalho. À cautela, para não haver equívocos, certifique-se de que o diploma não foi obtido através de bónus, mas sim de aulas a sério.  

Tenho constatado que o chefe do governo tem onze braços direitos. Até aqui tudo normal. Mas farto-me de pensar o que terão feito aos onze braços esquerdos que eu não consigo ver. Não quero sequer admitir que houve amputações indiscriminadas. E agora? Quer braços esquerdos alheios?

O chefe do governo tem de governar e governar-se com os braços que tem. E com os médicos que saibam curar e operar, segundo as competências que têm e os remédios dados na dose exata recomendada. Com a saúde e com a carteira dos contribuintes não se brinca.  

 

 

 

                 

25 Jul, 2012

Se tiver

 

Se algum dia tiver que acabar com as jantaradas tenho que me habituar às almoçaradas. É que eu não concebo esta vida sem uma boa refeição por dia. E uma boa refeição é aquela em que se enche a malvada e não se paga nadinha. Perdão, em que eu não pago nada.

Esta confusão entre paga não paga, surge-me sempre que penso que me estou lixando para todos aqueles que têm de pagar e não bufar, aquela pançada que não dispenso uma vez por dia, também por causa da companhia que ajuda, e muito, a criar folego para o discurso da praxe feito a seguir.

Se algum dia tiver de acabar com estes discursos depois de bem comido e bem bebido, é sinal de que o país já mudou muito e para muito melhor. Mas, evidentemente, isso é se eu tiver de acabar o que, certamente, ninguém está à espera que tal aconteça. E muito menos eu próprio.

Pensando bem, não sei por que carga de água me ocorrem estes pensamentos macabros, quando há tanta gente que acredita em mim. Tanta gente que me incentiva a que me esteja lixando para quem se queixa. Tanta gente a sofrer, só porque eu não proíbo de vez os ruídos que abafam os aplausos.

Se algum dia tiver de me acontecer o que está a acontecer com o meu braço direito, juro que não me fico como ele. Juro que me vou a eles e terei todo o gosto em mostrar-lhes que ninguém me fez favor nenhum. Pelo contrário, eu fui sempre a todos os jantares e nunca me deixaram pagar nada.

Porque eles sabem que eu e o meu braço direito, sempre cumprimos escrupulosamente todos os deveres que nos ensinaram na escola. E o primeiro desses deveres é o de, um pelos dois e os dois por um. E quem pensar o contrário que se lixe, tal como nós nos estamos lixando para todos.

Se acaso um dia me der na real gana de disputar eleições e se algum dia tiver de as perder, tudo bem, porque eu sei que nunca vou perder nadinha. O pior que me pode acontecer na vida, é suportar esta triste e ingrata tarefa de ouvir tanta compreensão e tanta admiração por nós os dois.

Porque, durante uns tempos, do tipo de um ano e meio dois anos, ainda vá lá, a gente aguenta. Aliás, como eu e o meu braço direito estamos a aguentar. Agora, por mais tempo, tantos elogios, tantos aplausos, tantos estímulos, nunca por nunca ser. Que se lixem os que perdem tanto tempo a elogiar-nos.

Se acaso tiver que aguentar isto mais meio ano, por exemplo, já me considero um verdadeiro herói nacional. E isso só será viável se o meu braço direito me aguentar aqui, com todo o estoicismo que o caracteriza. Então, eu não terei dúvidas em dizer-lhe que ele foi o heroico salvador do país.

Senão, o país que se lixe, porque lixado já eu fui por ter tido a coragem de aguentar isto tanto tempo, depois de ter cometido o erro de pensar que vinha comer jantaradas de borla, sem perder o subsídio de almoço, porque eu não almoço, senão o jantar tinha de ser aligeirado.

Portanto, se eu tiver que perder eleições, que seja quanto antes. Porque eu e o meu braço direito estamos fartos disto. Apesar dos elogios e da competência que toda a gente nos reconhece, nós já decidimos que não há vida como a de estudante. Logo, seguindo a tradição, vamos estudar.

Há por aí muita gente a comer bem, graças a nós. À grande e à portuguesa. Portanto, eu e o meu braço direito, já cá não fazemos falta nenhuma. Pode ser que um dia voltemos com os nossos novos cursos au point. Até lá, vão-se todos lixar. Au revoir.  

 

 

24 Jul, 2012

Altas decisões

O senhor PGR afirmou há dias que só mandaria investigar a licenciatura do Doutor Relvas se houvesse ilícitos criminais, tais como falsificação de assinaturas, etc. Fiquei a pensar quem seria a pessoa ou entidade que deveria informar o senhor PGR da existência ou não, desses ilícitos criminais.
Julgava eu que competia à justiça investigar todas as situações em que essas dúvidas se colocavam, independentemente de quem estivesse em causa. Afinal, depreendo que isso depende exatamente de quem está em causa. Para não pensar nada de pior.
Inevitavelmente, tenho de voltar uns anos atrás e referir o caso do engenheiro Sócrates. Foi exatamente à procura de ilícitos criminais que o senhor PGR mandou investigar a obtenção dessa licenciatura porque, como revelaram as investigações, nada se provou de ilícito e o processo foi arquivado.
Ora aqui é que está a diferença. Não se investiga o caso Relvas porque não há ilícitos criminais e investigou-se o caso Sócrates, embora não houvesse ilícitos criminais. Poderá dizer-se que neste último caso havia indícios. Mas no primeiro caso não se fala em indícios, mas sim em ilícitos.
Ao que me parece, e a muito mais gente, o que não faltam no caso Relvas são indícios que bem mereciam ser averiguados, que mais não seja por uma questão de higienização de um partido e, sobretudo, de um governo já que, quanto a um país, a higienização teria de ser muito mais profunda.
Mudando de assunto. Aquele doutor ligeiramente fanhoso, que não tem culpa de o ser, lançou há dias a teoria da utilidade da competição política, saudável, digo eu, entre os principais dois protagonistas da política portuguesa. É uma ideia muito interessante que, certamente, nem ao diabo lembraria.
Digo eu também, se assim é, por que razão se escandalizam tanto com o facto de o PS divergir de ambos em muitas, ou algumas matérias. É que o PS está na oposição, por deliberação do voto popular. Mas acresce ainda que, por um lado é insultado com frequência, por outro lado é chamado a colaborar.
É evidente que ser colaborador, é uma coisa muito diferente de ser guarda-costas ou escudo de proteção, quer quanto à imagem que querem dar lá para fora, imprescindível para a imagem deles próprios, quer como mera desculpa para não assumirem sozinhos as borradas que fazem.
Mudando novamente de assunto. Diz-se por aí que a Espanha nos está a estragar a vida com a sua desgraça. Tenho a impressão que o senhor Rajoy está agora naquela fase do nosso PEC IV. Cá foi rejeitado e lá seguiu em frente. Que trouxe a troika para cá e que a Espanha recusou receber.
Parece que vai tudo dar ao mesmo. Ele vai ser obrigado a troikar-se, como cá, o governo de então, foi forçado a troikar-se. O que tem de ser, tem muita força. O que não tem força nenhuma são os constantes atropelos à verdade, pois querem fazer crer que o poder do dinheiro que arruína, é a nossa salvação.
O senhor Rajoy bem se tem esforçado por não se vender sem luta e não é o primeiro a fazê-lo. Apesar de haver já mais vozes do seu lado, pode não resistir. Mas há uma coisa que o levou já a abrir os olhos. É ter-se apercebido que os espanhóis têm andado a dormir demais.
Daí que vá pô-los a trabalhar, mesmo quando estavam tradicionalmente habituados à fresca siesta com a barriguinha cheia. Pelo contrário, nós, de barriguinha vazia e sem trabalho, podemos começar a disfrutar todos os dias de uma boa e regeneradora sesta.
Volto a mudar de assunto. Pareceu-me que o ideólogo da TVI para os assuntos politiqueiros, falou em vitimização de alguém. Não me parece que seja ele próprio a fazer-se vítima de quem pensa que aquilo que ele diz, não se escreve. Depois, logicamente, as vítimas não se vitimizam, né sô proféssô.
23 Jul, 2012

Exportas

 

Dizem os entendidos que o nosso futuro está nas exportações. Pois bem, cabe a todos nós assumirmo-nos como vendedores daquilo que ainda temos, ou daquilo que ainda produzimos. Não podemos nem devemos deixar que tal responsabilidade caia exclusivamente em cima dos nossos bons ou maus governantes.

Porque, bem vistas as coisas, internamente, já não há ninguém que compre nada. Nem é preciso dizer porquê. Nem tão pouco é preciso chamar o Álvaro para nos explicar lucidamente o motivo de tal deficiência da economia dele. Da economia importada do Canadá.

Pronto, dispensam-se apartes pouco ou nada a propósito, pois estava a falar de exportações logo, não tinha que meter aqui as importações. Queria eu dizer que temos mesmo de emigrar todos, que mais não seja para promover a venda daquilo que não temos condições para vender cá dentro.

E não seremos os primeiros pois, se olharmos para a quantidade de vendedores de alto gabarito que andam espalhados pelos quatro cantos do mundo, compreenderemos que também nos compete a nós dar-lhes uma ajudinha nessa tão ingente tarefa de vender o país lá fora.

E a tarefa é tanto mais ingente, se atendermos a que nos pode caber em sorte ter de acompanhar os gregos na recuperação da sua independência. Portanto, é vender agora, pois em cada dia que passa a nossa cotação vai baixando, por ordem de quem nos quer comprar, quanto mais barato melhor.

Porém, que não se iludam os que quiserem colaborar nesta tarefa de emigrar para vender, julgando que vamos levar a vidinha que os de alto gabarito estão a levar. Eles vão para os melhores hotéis, nós teremos que ir para debaixo de uma árvore do jardim público.

Além disso, não podemos contar com o avião, nem com ajudas de custo, nem com comitivas que nos ajudem a passar os tempos mortos. Com alguma sorte poderemos encontrar uma ou outra misericórdia que nos ajude a mantermo-nos de pé e deixar-nos lavar os pés com borregas em todos os dedos.    

Se eu mandasse alguma coisa, atirava-me ao futebol para evitar estes difíceis problemas. Já que não temos jogadores portugueses para vender, nacionalizava todos os treinadores nacionais e punha-os no mercado de transferências. Os clubes estrangeiros iam comprar como quem compra ouro.

Era a melhor das exportações a que podíamos deitar mão. Mas podíamos complementá-la com a cedência de presidentes de clubes. Alguns deles, com valor acrescentado em atividades muito interessantes, que os estrangeiros desconhecem. Uma valorização extra que podia trazer mais uns milhões para o país.

Além disso, seria uma maneira de evitar as importações milionárias de jogadores que custam os olhos da cara aos nossos clubes em vias de falência. Mais uns milhões que se poupavam ao país. E muito mais se pouparia, se trocássemos uns gestores públicos com o estrangeiro. Um intercâmbio muito interessante.

Este negócio de importas/exportas, ou seja, Portas dentro, Portas fora, tem o grande mérito de colocar a economia a falar línguas estrangeiras, principalmente, línguas exóticas. Isto do francês, do inglês e do espanhol mas, sobretudo do alemão, já deram o que tinha a dar.

Entretanto, convém não minimizar a exportação da língua portuguesa. É evidente que convém que os vendedores de alto gabarito não redijam os contratos de vendas segundo o novo acordo ortográfico. Seria uma confusão extra para quem quer comprar apenas produtos portugueses legítimos.

Finalmente, temos de reter a ideia de que os nossos benfeitores não querem roubar-nos nada. Eles só querem o nosso bem e, sobretudo, o bem de quem anda a fazer os bons negócios que salvam o país. Mesmo tendo em conta, o que andam a gastar das nossas contas.               

 

 

 

22 Jul, 2012

As novas

 

Começo pela nova maneira de governar um país que está teso que nem um carapau frito, um pouco a tender para o estornicado que, ao que parece, é como ele agrada a muita gente. Talvez porque fique mais seco, liberto das gorduras próprias e das da fritura.

E então, a nova maneira de governar está tal qual a velha, pois não consegue diminuir as gorduras do estado, daí que se tenha voltado para a necessidade de preservar e ir aumentando as magrezas dos cidadãos que não tiveram a sorte de chegar à obesidade. É a lei das compensações.

Estado gordo, dirigido por obesos, a não deixar que o pessoal do trabalho fique de tal forma pesado e preso de movimentos, que não dê o rendimento que o país lhe exige. E vai daí que tem de se manter fininho, liso e a dar aos braços e às pernas cada vez mais freneticamente.

Esse princípio não se aplica a todo o corpo. Por exemplo, não se pode dar ao dente como apetecia, visto que esse movimento é um contributo decisivo para criar as tais gorduras que são propriedade exclusiva do estado obeso. Portanto, por aqui, a nova não leva vantagem nenhuma sobre a velha.

A nova maneira de elogiar é realmente um avanço muito significativo nas novas técnicas de levar a água ao moinho de quem se constituiu em moleiro dos que têm grão para moer. O elogio é o seu método de convencer os que, não tendo grão, têm de comprar farinha do grão dos gordos.

Sua excelência o moleiro mor elogia o seu adjunto, o excelentíssimo moleiro, pela forma exemplar como corta na farinha que vende e como não corta no grão que lhe trazem os gordos para moer. O adjunto elogia a forma como os compradores da farinha aceitam pagar uma saca e levar para casa apenas uma sacola.

Qualquer nova tem sempre todas as probabilidades de ser preferida em comparação com uma velha. Diria mesmo que todas as possibilidades de escolha estão do lado da nova. Mas, para surpresa de última hora, quem comparar a beleza exterior da nova, com o íntimo da velha, fica banzada.

O contrário se pode dizer da nova bandalheira que agora se tornou particularmente competitiva com a velha. Se bem me lembro, no tempo em que o novo campeão do turismo governamental, ainda não tinha cheques viagem, havia a ideia de que o crime andava em roda livre por culpa dessa velha bandalheira.

Aqui, a vantagem vai toda para a nova, pois a velha já foi batida em toda a linha. Cá para mim, o candidato a turista, que batia na velha todos os dias, deve ter-se tornado amante da nova. Mas, deve ter-se esquecido de a levar nas suas longas e permanentes viagens, deixando-a aqui com total liberdade de ação.

A velha, coitada, que tão enxovalhada foi no tempo dele, cobre agora a cara de vergonha ao olhar para os vícios da nova. Tudo o que possuía já lhe foi surripiado e, sem nada, foi atirada para as ruas da amargura. O turista vai dando voltas ao mundo, até que o mundo tome conte dele e da nova que muito ama.     

Sua excelência e o excelentíssimo, de mãos dadas, fazem da caça às novas o seu modo de vida, afastando as velhas com aquele desdém de quem está bem servido. Mas, começa a ser evidente que as novas são muito mais traiçoeiras que as velhas, mesmo descontando as más matreirices das velhas.

Depois, as novas exigem uma pedalada que nem toda a gente tem. Precisam de muita cabeça e de muito músculo, para se sentirem satisfeitas e realizadas. As velhas eram um descanso. Esta coisa devia ter um ponto de equilíbrio que o novo e o velho, de mãos dadas, têm que procurar e saber encontrar depressa.      

Contudo, já há quem veja entre o velho e novo, novas modalidades de alta competição. É que, nos tempos da velha, havia convergência. Agora, com o novo, vai surgindo divergência. Talvez, por falta de oposição a sério, tenham decidido fazer oposição um ao outro.                                      

 

 

 

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