O meu veterinário?
Constou-me que os veterinários passaram a controlar os alimentos que eu como. Não posso acreditar, pois isso deve ser mais uma daquelas gracinhas que alguns brincalhões não se cansam de inventar todos os dias para denegrir os avanços que, atrás ou em frente, inegavelmente, se verificam no país.
E não posso acreditar nessa balela, porque eu não como alfarroba, nem aveia, nem molhos de erva seca ou erva verde. Como é natural, como comida de gente, e não de animais ainda mais irracionais que eu. Mas, lá que também tenho um bocadinho de irracional, é verdade que tenho.
Daí que até admito que haja um nadinha de verdade no que me constou. Como nunca tive a sorte de dizer que o meu médico me disse isto ou aquilo, pode ser que neste momento esteja prestes a poder dizer que o meu veterinário me receitou esta ou aquela variedade de palha.
Até aqui, sempre fui tratado por médicos do SNS, felizmente bem tratado, e não por um médico só meu. Espero que o veterinário que me couber em sorte, também seja do SNV, porque a veterinária privada deve ser um problema que nem qualquer ministra privada conseguirá controlar, aliás, como é lógico.
Mas, é verdade que nos primeiros tempos me vai custar dizer, ‘o meu veterinário’, até porque haverá logo quem pense que é a minha gatinha que está para ir à consulta. Como lado positivo, estou em crer que ninguém vai ter a lata de me cobrar taxa moderadora, nem mesmo com o nome de taxa veterinária.
Ao que parece, a ministra da veterinária privada já terá perguntado, ‘onde é que está o problema?’ Ora esta pergunta deixa-me absolutamente tranquilo. Ainda pensei que ela quisesse fazer uma inovação, para dizer que acabou com uma inutilidade, a ASAE, para criar uma aberração, o SNV.
Para mim, dada a minha veia com tendência para o irracional, o problema está só na cabeça, pois também não há problema nenhum em que os agentes da ASAE que recolhiam as amostras do bife e do ovo, para não caírem no desemprego, vão agora para a fiscalização por amostragem dos veterinários.
Bem sei que há muita gente que não gosta da ASAE. Só por isso, a veterinária saiu do âmbito do tratamento de bestas e afins, para ganhar a supervisão das elites humanas. Perdão, estou desconfiado que estou para aqui a armar uma grande confusão. Afinal, deve tratar-se apenas de recolher umas amostras de forragens.
É o que eu já disse: é a minha irracionalidade, logo, o meu veterinário vai ter muito que fazer. E o pior é que, como eu, há muita gente a precisar que lhe colham amostras, para depois serem sujeitas a demoradas e muito especializadas análises. Por uma questão de economia, entreguem as análises à ASAE.
Agora, se a ministra privada e seus pares quiserem mesmo ganhar eleições e a simpatia de muita gente que nunca gostou de ser fiscalizada, então, não há que pensar duas vezes: toca a acabar de vez com a ASAE. Porque eles foram sempre uns malandros que deram cabo da economia nacional.
Não lembrava ao diabo que andassem a roubar as colheres de pau dos restaurantes, ou que obrigassem a encher bidões de óleos e azeites ainda com pouco uso, só para produzir o tal de bio diesel. Claro que tinham de ter percentagem nessa coisa toda. E essa percentagem tinha de ir para melhores mãos.
No fim de contas, só ainda não percebi o interesse da ministra privada nesta história toda. Não gosta da ASAE, pronto, tudo bem. Mas, porque será que gosta tanto da veterinária? É evidente que não estou à espera que me responda, até porque sei que tem muito mais que fazer.
E hoje, a simples vontade de ir consultar um médico, tornou-se muito complicado por causa da difícil marcação de consultas. Cá por mim, fico à espera que o meu veterinário me facilite a vida.