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afonsonunes

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31 Ago, 2012

Mas que coisa

 

Estamos no final do mês de Agosto e parece que estamos no primeiro de Janeiro. Quiçá talvez até pareça que estamos no Verão do ano passado. É verdade que nem tudo está igual. Em Agosto está muito mais calor que em Janeiro e no Verão deste ano a seca está muito mais dolorosa que a do Verão passado.

No entanto, pelas contas do pessoal que anda na rua, de Janeiro para Agosto, só os termómetros notam diferenças, pois a temperatura da vida real já não conhece qualquer subida desde há muito tempo. E se a medirmos de Agosto a Agosto, temos boas razões para começar a ficar gelados em pleno Verão.  

Apesar disso, conforta-nos ouvir o doutor Borges contrariar todas as evidências de desconforto geral, transmitindo-nos todo o seu otimismo baseado, não na sua ignorância, mas na sua convicção de que todos os portugueses são iguais a ele, tanto no seu modo de vida, como no seu modo de pensar.

Certamente que seria um erro colossal da minha parte atribuir-lhe os mais leves sinais de ignorância, apesar de ele me rotular de ignorante primário, bem como a outros como eu, através da contundente ofensa que nos faz, ao classificar a nossa indignação e a nossa estranheza de maneira muito semelhante a ignorância.

Se ele diz que as nossas vozes são uma gritaria, então eu fico automaticamente autorizado a responder na mesma moeda, dizendo-lhe que as suas opiniões não passam de ‘borgisses’ de um ‘borgesso’ qualquer, só comparáveis aos sons que certos animais emitem quando estão com muita fome.

Claro que, de certa maneira, à maneira dele, obviamente, também ele está cheio de fome, não de pão, mas de interesses que roçam a vileza, numa sociedade que tem vergonha de se comparar a ele, sociedade essa que é capaz de ter opiniões muito menos bestiais, que aquelas a que o borgesso nos vem habituando.

Apesar de, em nada me surpreenderem os seus achaques, também gostaria de manifestar a minha vontade e o meu ardente desejo de que seja ele, e não os portugueses como eu, a abater, sem violência, mesmo verbal, a sua inaudita resistência à mudança, que tão mal está a manter o país no charco.

Primeiro, os silêncios que os seus ‘cobertores’ mantiveram, certamente a ver no que isso dava. Depois, as vagas e comprometidas palavras de, nem sim, nem sopas, como que a acalmar as tais vozes, que não a minha, claro, altamente incomodativas e às quais não se pode classificar de gritaria, nem de resistentes à mudança.

A trilogia Borges, Relvas, Passos está a mostrar ao país uma coerência e um certo modo de estar no poder, de que só eles se podem orgulhar. Andam tão unidos que, volta não volta, lá vão tropeçando uns nos outros. Depois, é bem evidente a dificuldade que eles demonstram em voltar a acertar o passo.                                        

Trilogia que vai ter muitas dificuldades em ouvir ‘a gritaria e as resistências à mudança’ que já se ouvem no quintal do poder. E essas, mesmo que sejam apenas para sair momentaneamente da sombra, têm muito mais relevância do que a vozearia que vem da rua, ou o silêncio tático que vem de cima.

Mas que coisa esta. Um palácio cheio de silêncio é muito silêncio junto, numa altura em que as vozes da rua já não são só as dos habituais ditos arruaceiros. Numa altura em que a dor de barriga aperta, até já se reconhece a utilidade de falar com o dito irresponsável opositor e bombo da festa, em qualquer hora e em qualquer dia.

A trilogia reinante tem demonstrado que á sua volta tem andado muita coisa com um certo ensombramento que faz pensar em algo semelhante a diabólico. Vamos lá ver se, mais uma vez, essa mesma trilogia, não está à espera que venha de lá o anjinho a emprestar-lhe a aspirina para a crónica tosse. Mas que coisa!...    

 

 

30 Ago, 2012

Infanticidas

 

Já se sabe quantas foram as crianças abatidas à socapa dos papéis onde haviam sido metidas a martelo. Só não sei ainda quantos foram os infanticidas que cometeram essas barbaridades através de uma simples esferográfica ou de uns duros batimentos nas teclas dos seus computadores.

É de crer que haverá quem tenha cometido infanticídio duplo, ou ainda mais alargado, visto que há coragem e lata para isso e muito mais. Portanto, não devem estranhar que quem de direito lhes mande a sentença através de papéis ainda mais cruéis que aqueles que causaram todos estes crimes de lesa família.

Se estes infanticidas estavam tão necessitados de ter crianças, que tivessem a coragem e a energia suficientes para as fazer, dotando o país de sangue novo, mas real. Nada justifica esta danosa e ilegal fábrica que pretendeu produzir sem funcionar, enganando e burlando todos os cidadãos deste país.

Certamente que não foi por infertilidade ou por impotência que recorreram a esse método fraudulento, nem tão pouco por uma qualquer ocorrência imprevista. Foi por um ato deliberado de malandrice que extravasou a proveta ou desperdiçou a recolha que foi parar a lugar errado. E nem sequer se aproveitou o prazer.

Ao que parece, os infanticidas já foram notificados. Suponho que será para lhes retirar do bolso o dinheiro suficiente para que lhes saia da consciência o peso do crime que ousaram praticar. Sabendo-se que, consciência é coisa que não devem ter, que lhes mostrem também, que jamais terão vontade de repetir a triste proeza.

Por exemplo, fazendo-lhes ver a quantidade de crianças que estão a passar muito mal, porque lhes foi retirado o apoio que lhes garantia uma vida decente. Ou foram retirados aos pais, os rendimentos que vinham do trabalho que deixaram de ter ou dos subsídios a que tinham direito e lhes foram retirados.

Tudo porque o dinheiro que os infanticidas roubaram ao estado, obrigou o estado a retirá-lo a quem sempre cumpriu com os seus deveres. Porque o estado também nunca foi capaz de controlar devidamente estes e outros criminosos que tudo levaram e nada devolveram, nem o estado fez o que devia para que tal acontecesse.

Tudo porque o estado sempre foi buscar o dinheiro em falta ao bolso dos cidadãos que mais trabalham e menos ganham, deixando roda livre à malandragem e à agiotagem que continuam a engordar cada vez mais. Com esse estado injusto e cruel a impingir-nos estúpidos argumentos para justificar a estupidez.

É uma estupidez intolerável, que tivesse sido possível que os pais de cento e trinta e cinco mil crianças fictícias tenham tirado o pão da boca de milhares de crianças reais, de carne e osso, cujos pais todos dias se sacrificam para que elas não sejam riscadas à força dos papéis do fisco. Se é que algumas delas o não foram já.

Mas, não é difícil adivinhar que, a continuar este estado de coisas e este estado que só cuida de si próprio e das suas clientelas, o futuro vai trazer cada vez mais desilusões, mais injustiças e mais crimes e criminosos. Por mais que nos garantam contas certinhas e direitinhas. Nem precisamos de lhes tirar a prova dos nove.

Se há coisa em que é preciso mudar de agulha, é no que diz respeito à verdade e ao combate a todas as espécies de fraude. Do estado, em primeiro lugar, para que depois o estado tenha a força e a coragem para acabar com todas as fraudes. As dos seus clientes mais próximos, mais afastados e as dos seus detratores.

Depois, sim, os governantes e os políticos em geral, podem falar com todos os portugueses de olhos nos olhos, pedir-lhes que ajudem o país, desde que o povo saiba que está a ajudar-se a si próprio. Mas, para que tal aconteça, ainda há um longo caminho a percorrer.     

 

 

 

29 Ago, 2012

Três dias no céu

 

Há cada vez mais descrentes a dizer que o país está a viver no inferno e cada vez menos crentes que, persistindo na sua fé, lá se vão benzendo com mais frequência do que habitualmente o faziam. A verdade é que os crentes e os descrentes andam atormentados com a ideia de que há qualquer coisa de errado neste paraíso.  

Realmente, os santos parecem estar de tal maneira dependentes de poderes estranhos que nem a esperança de um ou outro milagre lhes restitui a confiança que sempre depositaram nas seu poder celestial e nas orações dos seus fiéis devotos. Uns e outros começam a recear os sinais de um qualquer poder satânico.

Subitamente, parece que tudo voltou à graça dos deuses no dia de ontem. Tudo porque um profeta desconhecido anunciou a partida de um temido satanás a bordo de um avião que foi a caminho de Timor Leste, rotulado de representante de Portugal. Só pode ser o representante do temível inferno que temos.

Imagino a estado de espírito dos timorenses, que acreditam no céu e no inferno, ao aperceberem-se de que os despachantes portugueses lhe enviaram, em classe turística, o representante do inferno luso. Que reganha, assim, o privilégio de reconquistar o céu, enquanto esse satanás estiver em terras timorenses.

Já se sabe que serão apenas três breves dias para nós, portugueses, mas que serão três longos dias para os temorosos timorenses que, se não tiverem tampões para os ouvidos, muito vão ter que arreganhar os narizes com a doutrina que lhes é levada, precisamente, de onde mais esperavam um pedacinho de céu, como dantes.

Com muita pena deles, timorenses, resta-nos aproveitar esta aberta do céu, esperando que esse satanás deixe por lá, bem escondidos, algures nas montanhas de Gusmão, alguns dos seus mais diabólicos planos de subversão da sociedade portuguesa, à beira da sua condenação às profundezas dos infernos.     

Entretanto, pensemos no céu destes três dias. Três dias de troika sem a interferência da maldição satânica. Três dias de uma universidade de verão com cem doutorados garantidos. Três dias de muitos catedráticos de sete dias em cada ano. Três dias sem a eloquência do mais rápido e famoso doutor do país.

Mas, sobretudo, três dias de uma televisão limpa, sem granulados perniciosos, sem o sobressalto do destino de milhões, sem o susto dos muitos trabalhadores que não sabem se vão à vida, sem o frete das notícias que o satanás impinge, ou manda impingir, aos telespetadores, sem os chatos telefonemas para os jornais.

E também um descanso, muito repousante para a administração da RTP, que pode estar tranquila de que nestes três dias ninguém lhe vai dar ordem de despejo, nem vai anunciar quem serão os compadres que lhe vão suceder. Não é que tenham receio do desemprego, mas ficariam com saudades dos grandes planos.

Aposto que muitos timorenses, na próxima quinta-feira, ficarão a pensar para si próprios, afinal o que veio este cá fazer. Ainda não sabemos muito mas, com ele, também não aprendemos nada. Nem convém. Fica-nos a dúvida, se acaso não foi ele que veio à procura de qualquer coisa em que é especialista.

Ora aí está a chave do problema. Ele está interessado em mais um curso do qual agora não me ocorre o nome. Mas, faltam-lhe duas cadeiras. Como vai ter uma aula com o Gusmão e outra com o Matan, aí estão as duas equivalências que lhe garantem o curso. Ah, o nome do curso: ‘ Relvados de Timor Leste’.

 

 

 

 

28 Ago, 2012

Ora então é hoje

 

Esta ansiedade está a dar cabo do meu já desequilibrado sistema nervoso. Está a ser muito pior que todo o fim-de-semana em que não me saiu da cabeça a ideia de que o clube da minha simpatia ia ficar em primeiro na tabela classificativa, ou em primeiro depois do outro que, sinceramente, até me tira o sono.

Ansiedade que não fica nada atrás daquela que senti ainda ontem à noite ao ver que aquele desafio nunca mais acabava, nem me tirava aquela vontade de meter a cabeça entre as mãos, tal como me apetece hoje, até começarem a sair as notícias do dia, por troca com as repetições dos dias anteriores que já não suporto. 

Eu detesto ser assim, sem calma para encarar a realidade dos imprevistos, ainda que eles sejam tão previstos como as mais palpáveis evidências. Mas sou como sou e não sou mesmo capaz de me controlar pensando por exemplo, eles que se lixem, porque lixado já eu estou, e não é hoje que vou deixar de o estar.

No entanto, hoje continua a ser o dia do meu desespero, aquele dia em que pergunto a mim próprio por que razão, esta terça-feira, não aconteceu já no sábado ou no domingo, dias em que estava alvoroçado pelos já referidos motivos. Estar desequilibrado por um motivo ou por três motivos é igual.

Depois, também há aquela coisa que me irrita à farta. É o motivo por que vejo que ninguém se preocupa como eu. Parece que esta coisa só me preocupa a mim quando, na verdade, até há muito mais gente que tem muitos mais motivos de preocupação e não deixa de rir e de cantar como se fosse um dia normal de festa.

Tem de haver em mim uma anormalidade qualquer. Então eu vejo-os chegar, sei que se vão meter na minha vida a partir desta terça-feira e não sou capaz de estar calmo e sereno, pelo menos até haver um manguela qualquer que dê uma machadada definitiva nas minhas espectativas? 

Olha, estou a ver, lá vão eles. Levam umas pastas que, não sei a que propósito, me fazem lembrar as maletas dos tosquiadores de carneiros quando se dirigem para a sua faina diária. E, estranhamente, sinto-me mesmo um dos carneiros que vão ser tosquiados com as máquinas que vão dentro das maletas.

É estranho que outros carneiros como eu, não sintam que também vão ser tosquiados. Sim, porque eles não vieram de tão longe para tosquiar apenas um carneiro, pois isso não dava sequer para o petróleo. Até admito que haja carneiros que gostem de ser tosquiados, mas tantos, é coisa que me impressiona.

Já agora, convém não esquecer que os tosquiadores também tosquiam ovelhinhas mansas ou rebeldes, porque todas elas têm lã, de melhor ou pior qualidade. Para eles, ovelhas ou carneiros, vai tudo dar ao mesmo, porque a única coisa que ouvem é um ou outro, mé, mé, quando a máquina roça na pele.

Mas, também me preocupa bastante o facto de não saber por andam os pastores de todos estes rebanhos que vão à tosquia. A não ser que estejam com os tosquiadores, ajudando na recolha da lã que vai caindo no chão, pensando nos milhares de novelos que dali vão sair, sem pensar na maquia que lhes vão cobrar.    

Enquanto desabafei, até parece que esqueci a ansiedade que esta terça-feira me vai continuar a atormentar. Afinal, é hoje que a troika e o governo vão começar, já não apenas a levar nossa lã, mas a esfolar-nos sem dó nem piedade. E depois de nos tirarem a pele, nunca mais nos podem tosquiar.

Para evitar tal calamidade lembro umas coisas que ainda não lembraram a ninguém. Estes tosquiadores gastam um dinheirão em viagens e estadias de tantos em tantos dias. Além disso é uma estafa esta vida de andar para cá e para lá. E levam também uma vida familiar instável que não convém prolongar muito.

Mas, principalmente, provocam em mim esta ansiedade insuportável de os ver chegar e partir sem me dizerem nada. Portanto, sugiro que fiquem por cá, para sempre. Seriam assessores decisores controladores, dos restantes assessores decisores que já temos. Eram só mais três. E muito úteis ao país.

 

 

 

Podia não ser, mas é precisamente a lembrança de gente mais madura ou mais verde que me veio à raiz dos cabelos. Podia ter-me lembrado de abordar os novos e os velhos métodos de ensinar ou de governar a vida dos partidos e do país, tal como podia amassar mais uma data de palavras sobre novas e velhas oportunidades.

Hoje, porém, o meu pensamento deslizou para Castelo de Vide, onde me constou que vai funcionar uma universidade que, curiosamente, terá a sua atividade restringida aos últimos cinco dias de Agosto, mais os dois primeiros dias de Setembro. É este o verão que ela dura e lhe dá o nome.

Sete dias de duração de uma universidade que, nestes moldes, já funciona há dez anos. Para mim, uma iniciativa que junta os velhos e os novos de um partido que, não sendo único, nos tem dado grandes e velhos nomes de muito prestígio, de muitos vultos da nossa governação e muitas glórias dos sucessos do país.

Tudo isto, equacionado com os tais sete dias. É evidente que cursos de sete dias sempre são melhores que cursos por equivalência, outra modalidade que, ao que suponho, ainda não foi introduzida nesta profícua universidade, nem neste quente verão, nem nesta bonita localidade alentejana.

Mas, equivalência que já o foi na nossa governação, desde que os velhos governantes, em universidades de verão ou de inverno, com sede em Castelo de Vide ou em qualquer outra bonita localidade portuguesa, transmitiram os seus saberes aos novos governantes saídos destas novas universidades.

Saberes que, pelos resultados obtidos ao longo de muitos, mesmo bastantes anos, nos deixaram o lindo, melhor, bonito país que temos. E, como a universidade de verão continua a laborar eficientemente, assim teremos o país por bastantes anos mais. Mas, é sempre bom lembrar, são muitas as vantagens de cursos de sete dias.

Sete dias que correspondem a seis jantares com seis gradas personalidades garantidas e seis discursos da mais elevada qualidade que, tudo somado, resultará em, no mínimo, seis futuros ministros garantidos. Não se pode dizer que Castelo de Vide seja uma fábrica de ministros, mas uma boa turma, talvez.

Falta referir o sétimo dia. Suponho que não haverá jantar, porque alunos e professores precisam de ir dormir a casa, cheios de saudades das famílias, depois de um período letivo esgotante, onde se encheram sebentas e mais sebentas de apontamentos e onde os exames, exigentíssimos, aprovaram só os melhores.

No sétimo dia não haverá jantar. Mas haverá o almoço e os respetivos discursos. O discursador principal terá de ser o maior e o melhor lente da universidade. Realçará o êxito do curso, sem chumbos, e agradecerá a todos os sapientíssimos professores o grau de qualidade dos doutores que acabaram de dar ao país e ao partido.

Entretanto, Castelo de Vide teve a sua semana sem crise. Só lamentará, sim, porque neste país de lamúrias, haverá sempre quem se lamente, lamentará que a universidade não esteja aberta todo o ano. Ou, ao menos que estivesse aberta quando está fechada, e estivesse fechada, apenas quando realmente está aberta.

Talvez o ministro do ensino superior apareça por lá e faça uma forcinha para que o próximo ano letivo seja ainda melhor. E, já agora, que distribua umas tantas equivalências de cursos de extrema exigência para as qualificações que mais notoriedade têm dado ao partido e ao país. Como temos visto agora.

E é assim que se faz a renovação da nossa qualificada classe política. Universidades de verão ou de inverno, cursos de sete dias com mais ou menos jantares e almoços, com mais ou menos bónus de equivalências e discursos, muitos discursos. Ressalta à vista desarmada que estes doutores são os melhores do mundo a discursar.   

Depois, com uma classe docente daquelas, em que há uma simbiose perfeita entre gente de ontem e gente de hoje, só pode resultar numa geração em que os velhos transmitem novas experiências e os novos aprendem velhas teorias. Com isto, longe de mim a ideia de estar a chamar velho ou novo a alguém.

 

 

 

 

O nosso país tem uma fauna invejável a todos os títulos, facto que desperta os mais variados apetites, dos mais avariados gostos por todas as oportunidades que se integrem nos desejos do que é dado, emprestado ou concessionado, ainda que se diga que é comprado, desde que o custo seja igual ou inferior a zero.

Tem-se falado muito em tubarões na costa portuguesa e em alforrecas nos areais das nossas praias, tudo espécies que alguns consideram novidades que podem surpreender os mais incautos. No entanto, os mais atiradiços para os negócios, que os temos, não perdem a oportunidade de dar asas à sua criatividade.

Com ela em mente vamos à importante questão do preço. Já me constou que há propostas de concessão das praias de todo o país, para salvar os banhistas do perigo que representam aquelas espécies. A mais interessante dessas propostas consiste em entregar essas praias a um único concessionário, por um prazo de vinte anos.

Ah, pois o preço. O concessionário tem obrigatoriamente de ser um tubarão nacional, desses que sabem que o estado paga bem a quem lhe retire o trabalho de ganhar dinheiro. Além disso, um grande tubarão da nossa praça tem muito mais probabilidades de lidar bem com os pequenos tubarões que andam na água.

Já lá vamos à questão do preço, porque isso é muito importante. Mas, importante é também a questão das alforrecas que andam por todo o lado e que, por acaso, até se dão otimamente com os tubarões. Enquanto as alforrecas infetam os banhistas, os tubarões limpam-lhes o sarampo quando estão a coçar a comichão.

É evidente que esta combinação de esforços tem o seu preço. Preço que o estado não pode deixar de ter em atenção, quando concretizar o negócio da concessão das praias. No entanto, e como vem sendo habitual, primeiro tem de contratar um tubarão, única e exclusivamente para anunciar uma solução.

Pois, pois, a questão do preço está relacionada com a solução avançada pelo tubarão em jeito de sondagem. Haverá alforrecas que ficam como sacos de plástico, haverá sacos de plástico que passam por alforrecas e até estou em crer que haverá verdadeiras alforrecas que se metem dentro de sacos de plástico.

É por isso que a concessão dos vinte anos está tão complicada no que respeita ao preço. Que não pode ser muito barato, senão dizem que houve cambalacho de tubarões. Mas que também não pode ser muito caro senão dizem que não foram salvaguardados os direitos das descapitalizadas alforrecas.

Por mais que queira não consigo, por enquanto, encontrar um preço digno para todas as partes. Para a parte do governo, não haverá problema, porque dignidade nunca lhe faltou, nem vai faltar. Para os tubarões só haverá dignidade se receber a concessão e mais um balúrdio anual para a manter. As alforrecas?

Boa pergunta, mas essa não tem preço. Nesta matéria tão simples e linear, como são os tubarões e o governo, não tem qualquer cabimento estar a perder tempo com alforrecas. Até porque tempo é dinheiro e quanto mais se gastar a discutir preços, mais as vítimas dos tubarões, do governo e das alforrecas terão de pagar.

Mas, já agora, sempre direi que o governo me pediu para informar o pessoal, que se vai submeter à vontade dos tubarões, no sentido de lhes conceder gratuitamente uma concessão para que sejam eles a governar o país durante vinte anos. Fica assim resolvido, e bem, o problema do preço da concessão de todas as praias.      

 

 

 

De há longos anos a esta parte a televisão dita pública e mal dita portuguesa, não tem passado de um canal sectário, sob todos os aspetos com que nos disponhamos a analisá-la. E, além de sectária, um sorvedouro de dinheiros públicos, pagos por quem nunca esteve disposto a pagar propaganda que só agrada a alguns.

Prestes a dizer adeus a esta singularidade de serviço público, há quem esteja muito indignado por ver neste adeus, o fim de um serviço público que nunca existiu. Porque aquilo que temos tido ao longo de muitos anos é um serviço que se tem pautado por uma bipolarização de notícias que acaba por servir um só destinatário.

Trocado isto por miúdos, o canal dito público, serve a direita de duas maneiras distintas. Por um lado salientando tudo pela positiva, quando se trata de evidenciar a atuação da direita. Por outro lado, dando especial realce a tudo o que diz a esquerda pouco credível, para fazer crer que toda a esquerda é irrealista.

Esta é a televisão estatal que temos, cujas fontes informativas são o PSD e o CDS de um lado, e o PCP e o Bloco de Esquerda do outo lado. O resto não presta. Grosso modo, a informação reparte-se entre o ótimo da direita e o detestável, mesmo que dito em tom suave, de uma esquerda em que poucos acreditam.

Dito de outra maneira, essa informação pretensamente pública e independente, pretende fazer-nos crer que temos duas alternativas. A ótima e a péssima. Dedutivamente, não há termo intermédio, não há boa nem há razoável, que possa contrapor-se aos dois extremos que nos querem meter pelos olhos dentro.

Esta teoria pode aplicar-se à política como pode aplicar-se ao desporto. Quem quiser e puder ver as coisas sem aquelas lentes grossas, fortes e demasiado coloridas, facilmente se aperceberá que o país está sob uma forte pressão de cores que não podem ter contraditório, nesta televisão que todos nós pagamos.

Mas que, no entanto, muitos de nós já não suportam por ser muito mais sectária que aqueles canais que são mesmo privados, mas que são capazes de ter um bocadinho de decência e de respeito por todos aqueles que já se cansaram de ver abandalhar o conceito de público, muito pior que o privado.

Ao que parece, este serviço público vai mesmo à vida. E esta espécie de serviço público, muito pior que qualquer serviço privado, é uma aberração para os portugueses e para Portugal. Daí que, pelo que me toca, que vá em boa hora, porque não há nada mais indesejável, que aquilo que só mete nojo.

E que, além de meter nojo, ainda nos suga o dinheiro que nos faz falta para tantas outras coisas. No entanto, se o estado continua a dar esse dinheiro a mais uns tantos amigos, em lugar de o guardar bem e distribuir melhor, não sei por que carga de água terá que o dar a quem o esbanja, em lugar de o dar a quem precisa.

Mais que provado está agora que realmente o estado só quer reter para si, aquilo que ninguém mais quer. Mas há muito quem queira uma televisão que faz muita falta ao povo português. Contudo, se o povo não tem, nem vai ter, o que precisa, então que os nossos usurários nos aliviem dos muitos encargos que ela nos custa.

Que a vendam, que a deem ou que a emprestem, mas que nos não façam pagar o que não vamos ter. Já estamos fartos de ter o que não queremos. Já chega, basta, pois só nos resta esperar pelo dia em que alguém nos devolva tudo o que é nosso. Até lá, que Deus nos dê paciência para esperar.

(Entretanto, calma! Muita calminha, pois parece que não é bem assim. O borgesso, afinal, só mandou umas bocas a ver se pegava o barro na parede. Mas, ao que tudo indica, e como é costume, vai pegar, de uma maneira ou de outra).                                                                                                                                                                                                                                                                                                

 

 

24 Ago, 2012

Os três mosquitos

 

Os Três Mosqueteiros fizeram milagres para salvar a Coroa Francesa e a própria Europa, logo depois de encontrarem o jovem D’Artagnan que passou a ser o quarto mosqueteiro e principal herói do quarteto guerreiro ao serviço do rei de França. Isso já lá vai longe, mas a história, por vezes, trá-los à nossa memória.

Agora, também nós podemos orgulhar-nos de ter os nossos três mosquitos, os nossos Porthos, Athos e Aramis, não com estes nomes, obviamente, mas já sobejamente, e justamente, claro, conhecidos pelos seus apelidos bem portugueses. Tal como bem portugueses são os seus feitos pela salvação do seu e nosso país.

Podemos começar por referir o nosso mosquito Pereira, o homem que oportunamente desembainhou a espada, desceu do cavalo importado do Canadá e atirou-se com um furor inaudito contra os ditos males crónicos da nossa economia. Não regateou esforços, principalmente, no levantamento da situação existente.

Depois de abandonar o cavalo, também deixou cair a espada e resolveu começar a simular umas pegas de cernelha aos empresários que o ameaçaram de que investiriam contra ele, se ele não investisse por eles. Havia, e parece que ainda há, uma certa diferença entre investir marrando e investir mamando.

Em boa verdade, a tourada entre todos eles não está a ter o sucesso da tourada das Festas da Agonia em Viana. O barulho é muito semelhante, mas Lisboa não é Viana. Nem os empresários são da estirpe de se deixar pegar, nem o nosso Aramis tem pendor para pegas de caras. Só de cernelha e sem palmas nem olés.   

Segue-se o nosso herói Athos, de seu nome Gaspar, o mosquito que pôs o país quase inteiro a fazer contas de sumir. Os poucos que escaparam a essa estranha contabilidade viram os seus saldos bancários mensais a crescer ainda mais que os erros continuados das previsões do nosso mosquito Gaspar.

Dizem que ele é muito mais rápido a picar do que a falar. E a verdade é que ele pica mesmo a sério nos funcionários públicos e nos reformados. Ia dizer que é assim do tipo melga, mas na verdade são picadelas muito mais dolorosas e venenosas que deixam na pele o estigma da discriminação do público perante o privado.

Este nosso mosquito picante vai certamente dentro de dias ensaiar novas técnicas de picanço perante o júri viperino internacional. Claro que quem dita as instruções são as víboras, mas a rapidez de raciocínio do mosquito vai ser determinante. Espera-se que fale com eles um bocadinho mais depressa do que fala connosco.

E agora entra em cena o mosquito mais ágil e mais rápido dos três. Porthos, mosqueteiro, é uma cópia em miniatura do nosso mosquito Relvas. Se aquele era mestre na espadeirada que distribuía sem ser necessário pensar, este, o mosquito, cada vez que pensa, consegue um curso que eleva a média da cultura nacional.

Cada vez que levanta um braço, é o sinal de partida para todos os portugueses que diariamente têm de fazer corridas loucas para que no fim do dia tenham um bocado de pão em cima mesa. Em contrapartida, o nosso mosquito Relvas anda de mesa em mesa, estabelecendo as regras da dieta de todos os exaustos atletas.

O seu zunir normal baixou um pouco o tom nos últimos tempos. Mas tal pode dever-se simplesmente ao facto de estar muito ocupado a fazer o papel de mosca da televisão. O seu estatuto de mosquito dentro do grupo guerreiro vai muito para além do uso do seu ferrão. Dos três mosquitos ele é o mais mosquiteiro de todos.   

Tal como os três mosqueteiros eram quatro, os nossos três mosquitos também têm o seu D’Artagnan. É o quarto mosquito, de nome Coelho. Sem ter a presunção de fazer comparações de liderança entre o quarto mosqueteiro e o quarto mosquito, diria que Coelho não tem espada nem cavalo. Mas é um bom quarto mosquito.       

 

 

23 Ago, 2012

Seguro e calado

 

Não restam dúvidas de qualquer espécie, de que o melhor é ele estar mesmo calado, se acaso se quer manter seguro. Já lá dizia o outro, não sei bem qual, que o calado era o melhor. Seguro deve estar de férias, e que bem as merece, motivo porque não tem gasto montes de energias a dizer sempre o mesmo.

No entanto, tinha boas razões para mudar de conversa, não porque lhe falte toda a razão mas, principalmente, porque o tempo joga a seu favor. Todos os indicadores vão correndo no sentido de que o governo atual, não só tem falhado tudo o que previu, mas está a deixar que tudo piore, quando tudo tinha que melhorar.

Depois de tantos elogios troikianos e de tantos sucessos anunciados pela seita que anda ao seu redor, as desilusões estatísticas sucedem-se em contradição com a onda de otimismo que tudo tem feito para nos fazer sentir felizes já ali ao voltar da esquina, com o futuro que nos espera.

No entanto, suponho que para estar mais seguro, o Tó Zé tem estado em silêncio, algures no gozo das suas férias, bem longe da mais que guardada Manta Rota ou da sossegada e tranquila estância turística do Parque Aquático da Quarteira, de onde vieram novas e fresquinhas notícias para o país que ainda não é de Seguro.

Segundo vozes que vão sendo cada vez mais correntes, os cidadãos poupam e o governo gasta. Acrescento que os cidadãos fazem o esforço de poupar cada vez mais, apesar de terem cada vez menos rendimentos, enquanto o estado gasta cada vez mais, quando as receitas fiscais caem de dia para dia.

Não há volta a dar a esta situação. Tudo o que era suposto melhorar com a tomada de posse do atual governo, está a piorar de hora a hora, ensombrando declarações quase radiosas, que quase nos fazem crescer água na boca. Portanto, temos de confortar-nos com estes, quase, que de mel, vão sabendo cada vez mais a fel.

É evidente que o Tó Zé não tem nada a ver com isto, daí que se mantenha quieto e calado. Ele sabe que a tática do seu amigo de outrora e inimigo de agora, salvo seja, não dá sempre bons resultados. Falar de mais é tudo o que Seguro não precisa neste momento. Falar de menos, quanto menos melhor e o melhor é estar calado.

Também quase vou ficando cada vez mais em pulgas, para saber o que mais merecerá os tradicionais elogios da troika quando, dentro de dias aterrar na Portela. A propósito, parece-me que ela devia agora aterrar em Sá Carneiro, ou em Faro, a melhor maneira de diversificar os carinhos com que ela é recebida no país.   

Sim, porque Portugal não é só Lisboa, apesar deste governo já nem sequer representar Lisboa. Daí que, com um pouquinho de simpatia, pudesse ser que a troika conseguisse conquistar o Porto, capital do norte sem governo, e Faro, capital do Algarve, com os hotéis vazios à espera que eles venham fazer turismo.

Assim, espera-se que Seguro comece e acabe a fazer turismo com eles, algures onde a troika também vá parar, para tentar captar para si e para as suas tão boas e apregoadas pretensões, os fartos e feios elogios anteriores ao governo. Que eles acabem por sair na rifa a Seguro, deixando o governo cheio de ciúmes.

Depois, tudo se transformará neste país. Passaremos a ter um governo ainda mais inseguro do que já temos, e um Seguro cada vez mais seguro de que, qualquer dia, seguramente, acabará por ter a compensação de ter conseguido estar calado, até que o seu amigo e companheiro se canse de tanto falar para o boneco.

Peço as maiores desculpas por esta infeliz tirada com um boneco metido a martelo nesta cena. Se ele fala para o boneco, os bonecos somos nós, todos aqueles que o ouvimos. Porque ele quando fala, supostamente que fala para nós. Mas, honra lhe seja feita, seguramente que Seguro, quando falar, vai dizer o mesmo.

 

 

 

21 Ago, 2012

Os novos camaradas

 

A palavra camarada é das tais que causa engulhos a muita gente e ninguém estranhará se eu disser que muitos dos políticos atualmente no poder fizeram grande parafernália quando, especialmente em comícios, atacaram a esquerda que, segundo eles, vai do PS ao Bloco. Todos viciados, claro, no odiado socialismo.

Não é minha intenção fazer aqui juízos de valor entre esquerda e direita, ou entre camaradas e companheiros porque, no meu modesto entender, gostos cada um tem os seus e ponto final. O que me leva hoje a abordar esta matéria, não é o gosto de ninguém, mas a aparente mudança de algumas mentalidades e seus discursos.

Realmente custa a entender como se ataca o socialismo em geral, de maneira tão feroz e, particularmente o Partido Socialista, sabendo-se que, em boa verdade, de socialista só tem o nome, pois está muito mais próximo, e integrado, da família social -democrata europeia. Mas, só o nome, já causa náuseas a muita gente.

Mas, muito mais custa a entender, que aqueles que mais náuseas têm demonstrado ao longo do tempo, são agora os mais fervorosos defensores das melhores e mais íntimas relações com a China, sabendo-se que espécie de regime lá vigora e com que objetivos se estão a dedicar a esta tão florescente amizade.      

Causa-me alguma perplexidade o entusiasmo com que oiço os novos camaradas que os chineses já conquistaram aqui, apesar de descontar a circunstância de serem os seus patrões, pois ficaria muito mal que os empregados tratassem com menos cortesia, os donos do capital que os mantêm nos seus riquíssimos lugares.

Sim, porque os chineses são comunistas, socialistas a sério, que os seus novos camaradas, em princípio, ideologicamente, deviam detestar. Mas eles também são capitalistas, e isso obriga a que parem todas as outras diferenças. Porque, está provado que, onde reina o capital, não há ideias que se discutam.

Gostava de saber como se diz, camarada Mexia, em chinês. Isto porque não acredito que os chineses, nas muitas e longas reuniões de trabalho, ou nas lautas e frequentes refeições que devem saborear em comum, consigam tratá-lo correntemente através do nosso idioma e com o nosso companheirismo.

Igualmente gostava de saber como se diz, camarada Portas, em mandarim. Isto porque não acredito que os altos representantes da R. Popular da China, sejam capazes de vergar a língua até dominar a língua de Camões que o nosso ilustre, competente e económico ministro dos negócios chineses, domina na perfeição.    

Embora haja um ponto de inegável concordância entre os partidos em questão, ambos são mesmo populares no nome, não acredito que sejam capazes de discutir as bases do capitalismo de lá e de cá, as teorias do comunismo e do socialismo que lá há em abundância, enquanto por cá vai escasseando de dia para dia.

É preciso dizer que há uma diferença crucial entre o capitalismo de ambos os estados. O deles é o capitalismo de um estado podre de dinheiro, enquanto o nosso é o capitalismo de um estado podre e teso como um carapau. É essa diferença que faz com que tenhamos, com muita honra e orgulho, muitos novos camaradas.

Ora, tendo em consideração todos estes pressupostos do que há lá e cá não há, está justificado o muito tempo que levam todas as discussões, perdão, todas as transmissões de instruções que o estado de lá, tem a passar para o estado de cá. Os camaradas dos dois lados ainda estão na fase do entendimento por gestos.

Mesmo assim, esse entendimento corre às mil e muitas maravilhas. Haja milhões e toda a gente se entende, sejam eles companheiros ou camaradas. E então, quando o dinheiro corre do camarada para o companheiro, está tudo dito. Agora o que não dá mesmo, é o entendimento entre os companheiros e os camaradas de cá.

 

 

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