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afonsonunes

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Esta frase leva-me aos já distantes tempos da escola onde comecei a abrir os olhos para o mundo, através dos ensinamentos de um professor muito próximo da idade de reforma, o que lhe dava aquele ar de quem sabia tudo. E ele sabia que a ignorância devia ser discreta, contida e não atirada ao ar a ver se alguém lhe pega.

Quando algum aluno lhe dava uma resposta a demonstrar que não percebia patavina do assunto em questão, o meu professor, com a sua voz meio turva, meio severa, lá desatava a sentença da ordem: a ignorância é sempre atrevida. Atrevida, penso eu ainda hoje, porque ficava muito melhor ao atrevido, ter ficado calado.

Vem isto a propósito de ter ouvido, via TV, a um professor que está muito na berra, ter classificado de ‘completamente ignorantes’, os empresários que se pronunciaram contra a aplicação da polémica proposta governamental da TSU. O ignorante professor foi, ele próprio, completamente ignorante e atrevido ao mesmo tempo.

Portanto, no caso, este professor abusa do alto do seu poleiro para demonstrar como um professor pode ser sempre atrevido. Aliás, quando se diz, sempre, é exatamente porque, volta não volta, lá vem mais um atrevimento ignorante, que deixa o pessoal de boca aberta. Não porque eu seja sabão ao ponto de o corrigir. Nada disso.

Para mim, o problema está na reduzida visão do professor, ao ver apenas a ignorância completa dos empresários, e não ter visto a discreta clarividência de tantos outros protagonistas que se pronunciaram no mesmo sentido dos empresários. Talvez porque considerasse que estes eram ignorantes, mas não completamente.

O próprio chefe do governo, ao recuar como o fez, provou que deixou cair um pouco daquela inteligência tão incensada pelo ignorante professor. Agora, o que ficou evidente mais uma vez, foi o facto de o chefe do governo, com toda a sua inteligência, não ter acertado na escolha de um professor consultor mais instruído e mais modesto.

Consultor incontido que meteu no rol dos ignorantes o próprio Presidente da República que se mostrou frontalmente do lado dos empresários, tendo sido decisiva a sua intervenção, no meu modesto entender, na decisão da medida ter ficado pelo caminho. Portanto, esta notória falta de visão do alcance das palavras de um ignorante, diz tudo.

É por demais evidente que a demonstração da atitude de – a ignorância é sempre atrevida – revela bem como certos ignorantes se arrogam a esperteza de se julgar acima de tudo e de todos, como se a mãe natureza os tivesse feito um prodígio no meio de tamanha mole de ignorantes. Até para atrevimento, isto é demais.

Governo que tem mentores destes, ainda que com o nome de consultores, que se permitem contrariar, ao brindar com o título de ignorantes, as mais gradas figuras do estado e da sociedade, não pode deixar-se afundar por torpedos destes, para lá de outros que já bem lhes chegam para ir pensando na sua vida futura.

Quem tanto tem demonstrado impreparação e falta de modéstia, não precisava de ter ainda um representante da maior ignorância e do maior atrevimento, que tão caros estão a ficar ao país e, sobretudo, aos portugueses. Ter inteligência e boa visão, não chega ter apenas as doses suficientes para alcançar o próprio umbigo.

O Algarve não merecia isto. Outro ignorante afirmou ali que era perigoso não confiar nos políticos. Esqueceu-se de acrescentar, nos políticos como ele, Miguel Relvas. O sabido Pereira disse que o país tinha dois anos de avanço no programa da troika. Porventura, haverá quem pense que a culpa é do sol do Algarve. Ou da gastronomia?

Já que tanto se está a falar em remodelações, um dos temas de topo da atualidade, seria bom que se começasse, antes de mais, pelas modelações de tantas cabeças desmioladas que nos estão a lixar a vida. Depois desta cuidadosa e rigorosa operação, que venham as remodelações, muitas e boas, sem ignorantes e sem atrevidos.

Já me esquecia. Que se lembrem, como eu o faço tantas vezes, daqueles políticos, professores ou não, que tenham idade suficiente para terem a experiência de vida que baste, para nos ensinar qualquer coisa de útil e de diferente da asneira continuada. Porque essa asneira permanente, só me lembra que a ignorância é sempre atrevida.

 

 

 

29 Set, 2012

A palavra do poder

 

 

A palavra tem realmente muito poder, daí que ela incomode os detentores do poder, como incomoda aqueles que nada mais veem na vida, que a maneira como entendem que ela deve ser utilizada. Para eles, não deve haver outra forma de a palavra servir os interesses dos cidadãos e dos países, que não seja através da palavra do poder.

A palavra do poder, dizem, é a única que une os povos, enquanto o poder da palavra dos cidadãos livres, como forma de expressar diferentes visões das sociedades, só contribui para que se crie uma perniciosa luta de ideologias e de interesses que tudo destrói à sua volta. Porque os assusta o medo de serem eles os destruídos.

Hoje, há quem tenha esquecido já, que a democracia é o melhor dos males. Certamente que, como o melhor dos males, se aceita que ela também é um mal. Mas o melhor de todos os outros. A história confirma-o. As ditaduras vão acabando mal, tanto para os ditadores, como para os milhões de mortes que eles provocam.

Só em democracia os cidadãos podem usufruir do poder da palavra para expressar o que pensam, para rebater o que outros pensam, ou para se defender daqueles que se julgam no direito de pensar pelos outros. Sobretudo, para se defender do excessivo peso das palavras do poder.

Não vai longe o tempo em que se falava muito de medos de falar, de claustrofobias, de dificuldades em exprimir críticas ao poder e outras que tais. Ora a verdade é que aqueles que mais se queixavam dessas tropelias são hoje os que mais as defendem ou as praticam. Para eles, a sua palavra, o poder da sua palavra, passou a ser voz do poder.

Quando a palavra do poder tem a nítida sensação de que está a ser ultrapassada pelo poder da palavra das multidões, tem a tentação de usar meios violentos para a abafar, em lugar de escutar, analisar e conversar para que lhe seja possível demonstrar que a razão está do seu lado. Para que a palavra da razão se junte à razão da palavra.

Não é isso que está a acontecer e o país está a entrar em convulsão perigosa, na medida em que o poder não convence, mas tenta por todos meios, mesmo por alguns ilegais, impor a sua vontade que, nitidamente, em alguns casos, ultrapassa todos os limites dos seus compromissos e dos compromissos que o país tem para com o exterior.

Depois, o país passou de esperançado a desesperado, quando deixou de acreditar na palavra, no conhecimento, na competência e no comportamento de alguns, vários, dos detentores do poder que, nitidamente, além de não o merecerem, constituíram-se declaradamente inimigos da grande maioria daqueles que deviam confiar neles.

Entretanto, já se houve dizer que o país definha, que o país não tem rumo nem estratégia, que o governo está morto. E um país sem governo, nem soluções de governo, é um país à espera do dia do seu funeral. E, pasme-se, a própria família do moribundo não faz nada para dar uma saída à situação.

Até parece que quem representa o país, apenas pensa, sem o dizer abertamente que, nem o pai morre, nem a gente almoça. É uma crueldade, mas também é uma daquelas verdades que não há nenhum poder de palavras, nem palavras do poder, que consigam ressuscitar o moribundo país.  

 

 

 

28 Set, 2012

Vítor vezes três

 

 

Há muitos homens a quem os seus padrinhos puseram o nome de Vítor e certamente nunca tiveram motivos para pensar que podiam ter outro nome qualquer. Sucede exatamente o mesmo com os homens a quem coube a sina de lhes chamarem Pedro. Portanto, o problema não está no primeiro nome, mas sim no segundo.  

Imagine-se que numa altura em que o país não tem dinheiro para pagar bem aos seus ministros, há um homem que se chama Vítor Gastar. Pergunto a mim mesmo como é possível haver alguém que tenha de viver permanentemente a gastar aquilo que tem tirando, obrigatoriamente, dinheiro aos outros, para justificar o seu nome.

Sim, porque Gastar, só pode ser dinheiro, pois as solas dos sapatos rompem-se, não se gastam. E a seguir, lá tem de se chamar o Vítor Gastar para abonar a verba para cobrir a respetiva despesa. Isso acontece com o Pedro Passos que gasta bastante as solas dos sapatos, por causa da mania que ganhou de dar muitos passos em falso.

Lembrei-me agora mesmo do Vítor Caspar que dedica o seu tempo a coçar a cabeça dos contribuintes à procura de umas coisinhas brancas por entre os cabelos, pois convenceu-se de que aquilo é puro algodão branco e, a conselho do Pedro Passos, anda numa correria a enganar toda a gente. Já são dois a gastar as solas dos sapatos.

Tive ainda o prazer de conhecer o Vítor Raspar, o homem que consegue resistir a raspanetes sucessivos ao longo de todo o dia, uns vindos de fora, de três chatos amigos da raspa, outros, vindos aos milhares de todo o país, por causa das míseras raspas de côdeas de pão que o Pedro Passos lhes distribui para matar a fome.

Temos assim que o país vive na dependência de três Vítores e de um Pedro Passos. É a isto que pode chamar-se com toda a propriedade, três em um. Pois, são três por um e um por três. Todos passaram no teste do algodão com distinção máxima e se alguém acabou por ser enganado não foram eles nem os seus amigos do corta e raspa.

Já começaram a ouvir-se vozes que reclamam que ambos, o Vítor Raspar e o Pedro Passos se raspem daqui para fora. Quanto ao Vítor Gastar e o Vítor Caspar, ainda podem ficar por mais algum tempo, para que o país não caia no abismo dos precipícios do Pedro Passos, que não tem travão que chegue para as necessidades.

Se o travão é fraco, muito fraco, aliás, o recurso à travagem através do motor está totalmente fora de questão. Simplesmente, porque o motor está gripado. Meter a primeira ou a quinta é, precisamente, a mesma coisa. Resta a força das línguas de alguns dos seus amigos e amigas. Em boa verdade, elas cada vez aceleram mais.

Tudo indica que já não há Passos para trás, nem Passos para a frente, que evitem os desmandos da Cruz da Paula, a justa, as parvoíces dos chistes do Montenegrino, a fazer coro com os do A guiar sem carta militar, do Luís Filipe que vale mais que’ a Gaia toda, do cigarra Macedo papa-formigas, ou o silêncio estratégico das Relvas secas.

É contra estes e mais alguns com língua de papa-formigas, que o Vítor Gastar e os outros Vítores, juntamente com o Pedro Passos, têm de conciliar o irreconciliável. Tão depressa são víboras insaciáveis, a picar nos portugueses, como, logo a seguir, vão passar-lhes a mão no pelo, como se os tivessem como peluches ao seu dispor.

Quando há alguém de quem eu preciso para sobreviver, não posso estar permanentemente a infernizar-lhe a vida. Quando peço ajuda a alguém, não posso dizer a esse alguém que ele é o culpado de eu ter a minha vida em perigo, sob pena de que nem sequer tenham pena de mim.

O prazer de achincalhar, mesmo um adversário, nunca será uma boa maneira de pedir, seja o que for. E quem está em perigo de vida, não pode ofender os seus potenciais salvadores, ainda que inimigos. A menos que se prefira morrer feliz, com os dentes cerrados de raiva, contra quem poderia ajudar a salvar a sua vida.

 

 

 

 

 

Já só nos faltava que alguém nos metesse à deriva no mar tormentoso que tanto fustigou as velas das naus de Portugal e que Camões tão valorosamente soube cantar. Sim, Camões cantou ‘por mares nunca d’antes navegados’. E ainda hoje ouvimos o seu canto quando pegamos na sua obra imortal: Os Lusíadas.

Também agora temos um poeta que nos mostra a sua canção, mais declamada que cantada, de qualquer forma através de notas nunca dantes ouvidas. Talvez por isso, são muito poucos os que se dispõem a afinar o ouvido, nestas terras lusitanas, ou nos mares onde já nem as velas, agora de cera, conseguem resistir às ventanias.

Os ouvidos vão ficando cada vez mais duros e as velas cada vez mais reduzidas a uns míseros cotos que dentro de momentos não serão mais que as cinzas de um pavio. Nunca mais pensaremos sequer em chegar perto da Taprobana, por mais que haja a ambição de criar um ‘novo reino, que tanto sublimaram’ os atuais descobridores.  

Tudo por culpa dos ventos desfavoráveis que outros nos mandaram e dos ventos favoráveis que foram e estão sendo agora desperdiçados. De nada nos valeram os perigos e guerras fratricidas de ontem e de hoje entre os esforçados portugueses, mais do que permitia a força humana, para alimentar os barões assinalados.

Bem se esforça o poeta que nos encanta agora com as suas tiradas que logo, não se sabe quando, nos irão da lei da morte libertando. Mas, valha-nos a sua fé persistente e o seu inabalável convencimento de que, ‘cantando espalharei por toda a parte’, ‘ se a tanto me ajudar o engenho e arte’. Refere-se ao seu sucesso, obviamente.

Este sucesso assenta nos fortes pilares das suas ‘obras valerosas’, que nada têm a ver com ‘a fama das vitórias que tiveram’ os seus inúteis e irresponsáveis antecessores, a quem se deve a catástrofe da herança que nos deixaram. Por isso, ‘cesse tudo o que a musa antiga canta’, ‘que outro valor mais alto se alevanta’.

Já com o peito cheio de ar vindo do lado do mar da palha, declama com aquela força dos audazes e dos invencíveis, ‘dai-me uma fúria grande e sonorosa’, que alimente a minha fome de régia glória, ‘não de agreste avena ou frauta ruda’, instrumentos que são para os outros que me não gramam, ‘mas de tuba canora e belicosa’.    

Ao Luís de Camões, que lá do alto deve estar a ver as atrocidades aos Lusíadas que meti nestas linhas, peço-lhe que feche o olho e faça de conta que não viu nada de mal neste disparate. Sim, porque eu não fiz nada de mal, penso eu. Mas, se a ministra da justiça o entender, rogo humildemente que não mande proceder a buscas na minha casa.  

Quanto a si, senhor poeta da atualidade, não volte a ‘chatear o Camões’. Não é que ele se importe, mas convém perguntar previamente à ministra se os seus devaneios poéticos não estão abrangidos pelas impunidades que ela baniu. Não falo daquelas que ela protege, obviamente, que essas também são bem conhecidas.  

E pronto. Toca a desfraldar as velas desta nau que está parada há demasiado tempo. Embora não saiba qual o destino que o poeta lhe vai dar agora, eu prefiro ir a nado. Porque anda por aí toda a gente, quase toda, a dizer que já está com o fundo à vista. E no fundo, a verdade é que eu nem sequer sei nadar.

 

 

 

26 Set, 2012

Polícias e gatunos

 

As polícias servem para proteger os cidadãos de todos aqueles que se dedicam a retirar-lhes os seus haveres e, ou, atentarem contra as suas vidas, ou a sua integridade física, bem como os seus legítimos interesses e atividades. Por outras palavras, as autoridades policiais servem para proteger o povo dos seus inimigos.

Depois das polícias identificarem esses inimigos e de os apresentarem à justiça, compete a esta dar-lhes o tratamento que for entendido como conveniente para que não reincidam na sua atuação. Isto era a cartilha maternal da sociedade até ao tempo em que as coisas começaram a dar sinais de que não era bem assim.

Hoje, polícias e gatunos parecem ter-se misturado de tal maneira que a gente já não sabe quem nos deve defender e quem nos pode roubar. Agora, segundo notícias de última hora, há uma quantidade indefinida de polícias que dedicam a sua atividade a defender os governantes dos ataques dos populares indignados.

Sendo os governantes eleitos pelos populares, vulgo povo, e tendo também como incumbência a nomeação de quem comanda as polícias, estamos perante uma inversão difícil de entender. O governo nomeia quem utilize as polícias para o defender dos cidadãos que se sintam roubados e maltratados pelo governo.

Aos governantes não é permitido tudo só porque o são. Os governantes ganham legitimidade ao serem eleitos pelo povo. Mas perdem-na quando, à revelia de todo o povo, tomam medidas e atitudes que são claramente contra tudo o que o dever de representantes do povo lhes nega. Não lhes basta dizer que pensam o que não fazem.

É muito difícil ter razão, contra a opinião generalizada de que a não têm. Já não são suficientes as vozes dos ‘ámen’ do poder que ainda se levantam a defender o indefensável. Já não colhem as velhas desculpas de que há apenas o céu dos que falam verdade e o inferno dos que se querem queimar a si próprios pela mentira.

Sabemos que até há pouco tempo a opinião publicada nos meios de comunicação do regime económico, quase todos, era suficiente para manter o seu domínio de pé. Hoje, tudo mudou. Há uma reviravolta, uma onda de compensação desse domínio, através, principalmente, das redes sociais, onde o controle é muito mais difícil.

Mas não só. Os blogues de expressão livre nos jornais onde a opinião tinha apenas o sentido único dos seus donos, trouxeram uma dimensão diferente à formação da opinião pública e à sua livre manifestação. Que, apesar de não desejada, tiveram que a tolerar para que não ficassem sozinhos a pregar no deserto.

Não adianta aos muito ou pouco eruditos, ou à queles que, não sendo uma coisa nem outra, julgam estar acima de todas as culturas e de todas as formações, pensarem que o resto, os outros, são ignorantes que não leem, não ouvem, não pensam, ou não têm meios de raciocínio, logo, não merecem mais que a sargeta dos obstinados.

Muito mal vão os governos quando já não lhes resta mais que a força das polícias para se defenderem daqueles que os elegeram. E é triste ver como, depois das polícias, há uma justiça que, por ser escolhida a dedo pelos que protege, acaba por permitir que os injustiçados, os do povo, caiam na tentação de fugir dessa lei da selva.

Vem aí mais um teste de rua para este governo. A Grécia e a Espanha já mostraram muito daquilo que não quereríamos ver em Portugal. Mas também não quereríamos ver um governo obstinado em dividir, em lugar de tentar unir os portugueses. Um governo que culpa todos de tudo, mas não vê, nem admite, as suas próprias culpas.  

Não é com ódios recalcados que o governo e os seus intolerantes defensores serão capazes de manter, mesmo lá fora, a tão apregoada credibilidade. Que, tal como acontece cá dentro, essa credibilidade começa a esboroar-se. Já vi outros bons alunos serem chumbados pelos professores que tanto os elogiaram.

Bem podem mobilizar todas as polícias, juntar-lhes todas as tropas e todos os fanáticos defensores da razão sem discussão, que não é por aí que ganham mais segurança.     

 

 

 

25 Set, 2012

Assim não pode ser

 

 

Como vivemos num país dito democrático (ainda), tem de haver um governo, tem de haver um ou mais partidos que o apoiem e, evidentemente, tem de haver partidos da oposição. Depois, fora daí, cada qual é do que quiser, quer individualmente, quer integrado em organizações ou corporações, sempre à vontade do freguês.

Porém, acontece esta coisa estranha que deve ser inédita em todo o mundo. Em Portugal, já está tudo na oposição. E, estranhamente, ninguém reclama que isto assim não pode ser. Oposição sim, mas nada de abusos. Então é lá admissível que dentro do governo também haja quem esteja contra o próprio governo? Isto é ser oposição, claro!

Logicamente, um governo não é uma fundição, nem pode, nem deve ser, uma fundação, senão mal estaria o governo se ela se auto extinguisse, como está a acontecer àquelas que não estão fundidas, ou confundidas, com o governo e seus amigos e inimigos. Nada disso. Este é um governo de gente bem-intencionada que tem os seus vivos bate papos.

Temos o caso curioso do Conselho de Estado e do presidente. Então pode lá ser que estes, e ex-presidentes, ex-ministros, alguns dos atuais e ex-líderes de partidos, e todos os restantes conselheiros, estejam todos na oposição ao governo? É estranho este procedimento, pois já bem bastam as divergências que este tem lá dentro.

O mesmo se passa com os sindicatos, habitualmente tão agarrados aos governos, sempre na procura de os ensinar a gerir os negócios que também lhes interessam. E aí estão eles, desta vez, todos a fazer oposição cerrada, deixando implícito que, se o país está mal, é por causa de estar a prescindir dos seus preciosos ensinamentos.

Os patrões nunca se tinham visto assim. Tão amigos dos empregados, prometendo pagar-lhes o que o governo lhes quer tirar. Todos, mas todos mesmo, se tornaram oposição firme e determinada contra este governo. Não se percebe. Tantas amizades de séculos desprezadas pelo governo que criou a melhor e a maior das oposições.

O mesmo se passa com os professores e alunos de todos os níveis de ensino, das escolas às universidades, catedráticos de barbas brancas ou doutores de algumas semanas, todos aderentes a uma oposição estratégica de denúncia de um governo que não estuda, que tem ódio a quem estuda e a quem desafiam a ir estudar.

Mas, cuidado, que os militares e os polícias parece que estão com muito mais vontade de estar de olho no governo, que guardá-lo das investidas da oposição. Parece até estarem prontos para ir à frente dela quando se manifestar. No entanto, também sabem que têm de andar a puxar pelo governo quando ele descarrila.   

Já para não falar nos partidos da oposição, que já conseguiram convencer os partidos do poder, a fazerem uma oposição construtiva ao governo. Enfim, podia enumerar os casos mais estranhos que temos vindo a observar. É uma oposição muito mais alargada e muito mais coesa que aquela que qualquer governo sempre quis ter.

Diria mesmo que nos dias que correm o país tem dois terços do governo que constituem a situação, e um terço do governo que se juntou a toda a sociedade na oposição. É, realmente, muita oposição. Se não temos um governo forte, temos uma oposição que nunca foi tão forte ao longo de toda a sua existência na democracia.

Mas, que ninguém confunda oposição com legitimidade do governo. O governo é legítimo porque manda mais que ninguém. E quem manda, manda. E quem não manda obedece. E quem não quiser obedecer leva nas orelhas. Portanto, logicamente, o país tem gente de mais que já devia estar a levar forte e feio nas orelhas.

Bom, que não se pense que sou eu que defendo este procedimento. Nada disso. Lembrei-me dele agora porque tenho um amigo que diz que o governo, mais tarde ou mais cedo, vai ter de prender todos os oposicionistas para poder exercer o seu direito de mandar, perdão, o meu amigo disse governar.

Mas, o meu amigo esqueceu-se de me dizer quem é que prendia a oposição toda, já que ela tem o tamanho do país. Também esqueceu de me dizer se ele faz parte do governo ou se também faz parte desta oposição que ele quer prender. Suponho que ele ainda não pensou bem nisso.

 Estou convencido que o meu amigo também pensa que só ele é que é formiga governamental no meio de tantas cigarras da oposição. Tenho de lhe dizer que assim, como ele quer, não pode ser.  

 

 

 

24 Set, 2012

O próximo assalto

 

 

Sinceramente, gostava que o próximo assalto tivesse como vítimas os bolsos de todos aqueles que os encheram ao esvaziar os cofres do BPN. Que mais não fosse, porque estou convencido, pelo que tenho lido e ouvido, que esse ato de justiça evitaria os chamados roubos coletivos a trabalhadores e, principalmente, aos reformados.

Nem precisaria de pôr mais na carta, pois tudo isto é sobejamente conhecido. Mas, ao que parece, o que não é muito conhecido, porque é mais ou menos escondido, são os milhares de milhões que o estado lá pôs e está agora a ir buscá-los aos bolsos dos eternos sacrificados, sem pedir um chavo a quem se amanhou. E foram muitos.

Portanto, neste país é extraordinariamente compensador ser assaltante de bancos, desde que não se tape a cara, não se usem luvas, nem pistolas a sério ou a fingir. Até podem levar o nome bem visível na lapela, ou um emblema qualquer no seu lugar. Aliás, não precisam levar nada. Levem apenas a cara, que a gente sabe logo quem é.

Iniciou-se hoje, 24/9/12, logo pela manhã, a discussão e tentativa de aprovação de mais um assalto ao contribuinte, na chamada reunião da concertação social. O governo tem todas as razões para sentir que vai para ela com as calças na mão. Aposto que vão ser aprovadas todas as propostas dos parceiros. No final, o governo sairá em ombros.

Há pelo menos a indicação de que o chefe do governo se encheu de coragem e, antecipando-se aos seus malévolos críticos, demonstrou que é capaz de entrar por esses estranhos campos da equidade na aplicação da austeridade. Será só mais um bocadinho daquela que não aplicara. No entanto, ainda anda muita iniquidade na conversa.

Agora, o próximo assalto, que já está bem planeado e em fase experimental de execução, visa a cadeira do PGR. Bem tentaram, mas não conseguiram fazer sentar nela quem lhes interessava, por ocupação antes de tempo, porque o seu titular não se deixou amedrontar por vagas sucessivas de ataques à vista desarmada.

Vou arriscar um daqueles prognósticos que pouca gente se atreveria a fazer, dada a complexidade do momento que se atravessa, e as motivações que determinam as movimentações em curso. Seja quem for o, ou a, substituta do Doutor Pinto Monteiro, não será mais sério, ou séria, que ele. Até poderia ser igual, mas não o creio. 

É evidente que falo em seriedade política que é como quem diz, ser capaz de resistir às pressões que este suportou, principalmente, e como é recorrente no país, as pressões de cariz partidário para que a justiça ande, como muitas vezes andou, comandada de fora. E é isso que neste momento se pressente nos corredores do poder.

Pelos nomes que já andam de boca em boca, e pelas evidentes campanhas de charme que se detetaram, o caminho parece estar aberto, paradoxalmente, a quem menos charme teria para lá chegar. Mas, quer o destino que o charme que conta, não é o que se tem, mas aquele que melhor retorno de simpatia garante.

Depois, é essencial que se garanta que nada de importante vai mudar. O círculo esteve, e é necessário que continue a estar bem fechado, graças aos influentes e poderosos pilares que sustentam o tal corredor do poder. E isso, neste momento, penso eu, deve estar já suficientemente garantido. Faltam apenas as pomposas declarações da posse.   

É uma pena que as pessoas sérias deste país, mesmo em lugares de extrema responsabilidade e investidos de poderes que, à primeira vista pareciam caminhar para decisões importantes, tenham de sair pela porta dos fundos. Porque o corredor do poder, se não está, parece estar bem minado. Para quem sai, como para quem entra.   

Seja como for, talvez até haja quem diga hipocritamente que o PGR prestou um bom serviço ao país. Só se for no sentido de que convinha não falar muito, ouvir e não responder e, óbvio, fazer o menos possível. Mas, certamente que se dirá que quem venha a substituí-lo vai, agora sim, fazer tudo o que até agora não foi feito.  

 

 

 

23 Set, 2012

Não aprendem nada

 

 

Sempre ouvi dizer que os melhores alunos não são os que decoram as lições de fio a pavio, com vírgulas e tudo, para depois as recitarem na aula com grande sentido do dever cumprido, perante professores que, em muitos casos, se sentem orgulhosos por terem alunos tão aplicados.

A esses alunos chamavam, e penso que ainda chamam, os ‘marrões’ lá do sítio. Esses professores deixam indícios de que terão seguido o mesmo método de estudo para chegar a essa profissão. Aliás, não sei porquê, vejo que muita gente importante se comporta como se não tivesse compreendido nada do que ‘encornou’ dos livros.

É realmente espantoso que, passados poucos dias da lição que veio da rua, já haja ‘professores’ a pretender transformar derrotas em vitórias, tirando ilações que nem ao mais duro dos marrões se aceitariam. Pelos vistos, o forte deles não é ouvir e compreender o que ouvem mas, tão-somente recitar a cartilha, lida de baixo para cima.   

Por exemplo, seriam capazes de passar uma manhã inteira de estudo, a repetir a frase ‘os dentes estão na boca’, para que ficasse bem claro que essa, já não esqueceria. É anedótico, mas esta também já tem dentes. Agora, não é difícil lembrar coisas destas, quando se ouvem altos dirigentes e ex-dirigentes partidários, seguir o mesmo método.

Detestam a palavra recuo, coisa que a mim também me não entusiasma, mas o que não posso aceitar é que eles, para fugir do termo, pretendam que vejamos nesse recuo a que foram obrigados, um avanço digno de todos os elogios, incluindo o da humildade e o da ida ao encontro do interesse nacional, que juram nunca ter esquecido.

Ainda não compreenderam que hoje, essa permanente atitude de mentira, já não cola, sendo uma das principais razões porque a rua se enche contra eles. Contra todos eles, porque têm sido quase todos a cometer o erro fatal de querer enganar quem lhes mete o prato cheio na mão. Quantas vezes, para depois cuspirem nele.

Mas, que não haja a tentação de empurrar para trás o que é de hoje. Porque a história nunca mentiu, nem vai mentir desta vez. Porque o muito que aconteceu agora, não tem precedentes no que aconteceu no passado, por ação de qualquer governo. Nem no tempo da velha ditadura. Mesmo relevando a evolução das consciências.

O acordar de agora, é fruto de muitas turbulências do passado, mas é, sobretudo, fruto da consciência de que foi agora que alguém tentou pôr o pé em cima do pescoço de quem já estava com dificuldade em respirar. Isso não pode ser escamoteado pelos marrões que só veem o que lhes diz o seu manual de interesses erráticos.

Quem não quer, não pode, ou não é capaz de aprender, compreendendo as lições que o tempo nos vai dando, melhor seria que mudasse de vida, para não complicar a vida de ninguém mas, que tenha a consciência de que também pode estar a complicar a sua própria vida. Os sinais são tão evidentes que só eles os não querem ver.

E quem não quer ver, também não pode ter a pretensão de ensinar. Porque a ignorância que esses mestres-escola encontravam nos seus alunos ouvintes, essa, já não existe. Até porque as novas oportunidades serviram para mais do que eles pensam e apregoam. Sempre houve alguém que aprendeu alguma coisa. Só eles não aprendem nada.

Há uma cigarra que diz que Portugal é um país de muitas cigarras e poucas formigas. É verdade, quando isso se aplica a quem nos dirige. Com a curiosidade de que essas cigarras usam asas de grilo para nos confundir. Cigarra que se revela ao enaltecer o esforço do povo para debelar a crise. Realmente, estas cigarras não aprendem nada.

 

 

 

22 Set, 2012

OUTONO DA VIDA

 

 

Hoje é o dia em que o Verão vai e o Outono vem, numa transição que não dá lugar a festejos nem a manifestações de pesar. Porque sempre foi assim ao longo da existência dos mortais que assistem ao fenómeno, como que passivamente, muitos deles sem se aperceberem sequer do acontecimento, apesar de recordado nos media.

Porque isso é apenas um acontecimento de calendário, embora com influências decisivas nas vidas das pessoas, ou não fossem os equinócios e os solstícios tempos de definição da duração do dia e da noite, ou seja, importantes reguladores de muitas das atividades naturais que, por sua vez, regulam atividades humanas.

Se não for bem assim, que me corrijam os entendidos que eu não me importo. Não tenho nada a ver com os ignorantes que julgam que sabem tudo e têm um medo enorme que se vejam obrigados a recuar quando são apanhados com o pé metido na argola. Sei perfeitamente que todos somos ignorantes, mas nem todos o reconhecem.

Entramos hoje no Outono, o qual determina que o calor se vá e comecemos a sentir um pouco de alívio com algumas brisas frescas a beijar-nos os rostos. E, esperemos que sim, venham uns pingos de chuva reconfortante depois de tantos dias com o sol escaldante a fustigar as gentes sequiosas e os campos ultra ressequidos.

Muita gente também, e simultaneamente, entrou no outono da vida, tempo em que o corpo sente aquela nostalgia do cair das folhas das árvores, ou não fossem as árvores o grande barómetro da vida das pessoas. É o Outono que as despe, ao mesmo tempo que vai desnudando, lentamente, ou de um só golpe, as vidas mais secas pelo tempo.

São muitas as razões que levam cidadãos incontáveis a temer o Outono que hoje começa. As suas vidas estão a passar por um arrefecimento brusco, mesmo brutal em muitos casos, em que o risco de congelação pode significar um adeus à sobrevivência. A congelação ainda não permite o regresso à vida.   

Quem ainda conseguir ultrapassar de pé estes três meses de difícil Outono, entrará naquele que se prevê seja o mais contundente de todos os Invernos. As manifestações gigantescas e as vigílias ao ar livre estão seriamente comprometidas porque as gripes mal curadas e as dificuldades de adquirir vacinas e antibióticos serão fatais.

Quando ouvia falar do fim do SNS e do fim das reformas para os idosos, nunca quis acreditar, até porque logo ouvia alguém dizer que isso eram disparates sem qualificação. Hoje, o convencimento geral é exatamente o contrário. Os disparates, afinal, estão todos a transformar os sonhos em pesadelos e não há já como negá-los. 

Daí que muitos portugueses se vejam no Outono da vida, mal acreditando que consigam chegar ao Inverno onde, muito dificilmente, ainda possam ter esperanças de ver o início da próxima Primavera. Que, como o andar dos tempos nos vai mostrando, estará garantida a muito poucos.

Nestes últimos dias de Verão o país esquentou, ferveu e sonhou, como se tivesse recuperado alguma coisa que julgava ter perdido. O direito à indignação e à esperança. Mas, com este início de Outono o país, prometendo que não volta a adormecer profundamente, volta a sentir que o frio que aí vem, vai trazer muito sofrimento.

 

 

 

21 Set, 2012

Que tudo corra bem

Quando a gente ouve um desejo com a carga emocional que ressalta da expressão deste desabafo da segunda figura do estado português, podemos e devemos ficar descansados. Tudo a correr bem, é mesmo tudo o que a grande maioria dos portugueses deseja. Por mais que se limite o âmbito da afirmação.

No caso presente o que está em causa é a realização do Conselho de Estado no dia de hoje onde, toda a gente sabe, se vai falar muito, presumo eu, mas é duvidoso que se resolva aquilo que todos nós gostaríamos que era, de uma vez por todas, ver que alguém está a fazer força para que o país entre nos eixos.

Que tudo corra bem, disse ela, mas fica por esclarecer para quem é que aquilo a que ela se refere deve correr bem. Para ela, em primeiro lugar, obviamente, porque nada lhe seria mais gratificante que ver reconhecido que o Conselho de Estado corre sempre tão bem como os trabalhos da Assembleia da República.

Ora, se tudo corresse bem num lado e no outro, seria sinal de que são normais e frequentes, os consensos à volta dos assuntos mais sensíveis para a governação e para o desenvolvimento do país. Mas, a verdade é que o normal tem sido e, tudo indica, continuará a ser, tudo, ou quase tudo correr mal, ou mesmo muito mal.

Só nos faltava ver esta obscenidade de as coisas correrem mal dentro do próprio governo. E, concretamente, entre os seus responsáveis principais, que nos dão a sensação de dois meninos que arranjam uma birra de criar bicho e deixam de se falar, precisando de andar a marcar encontros através da comunicação social.

Graças a Deus, que parece que já falaram um com o outro. Portanto, graças a Deus, que já está tudo a correr bem para o país. E, graças a Deus, que para eles também. Isto, graças a Deus, é o melhor sinal que pode ser dado aos portugueses de que tudo vai correr bem no Conselho de Estado que nos vai salvar a pele.

Para mim, só mesmo as graças de Deus me dão a certeza de que assim vai ser, como tão sabiamente desejou, e quase garantiu, a nossa vice do Estado. Porque tal não está apenas na vontade de homens e mulheres tão ardentemente defensores dos seus rincões partidários. O Estado e seu Conselho, só preocupam quem está de fora. Nós.  

Contudo, quando meto o pensamento lá mais para o fundo da minha cabeça, descubro que há lá sinais evidentes de que alguma coisa vai correr bem. Pois vai, mas apenas para aqueles que nunca viram nada correr-lhes mal. São aqueles que nunca correram pelo país, mas correram sempre contra ele. A favor deles.

Farto-me de dar voltas ao miolo no sentido de descobrir um desvio, mesmo que seja muito estreito, por onde possa passar uma solução estável para nós, ainda que o não seja para muitos dos que vão aconselhar o que já não queremos. Rejeite-se, tanto a solução do rompimento dos compromissos, como a obsessão cega de os exceder.

Estou mesmo a ver que se irá falar muito de estabilidade. Como se nós ainda tivéssemos alguma estabilidade. Seria bom que os conselheiros encontrassem uma solução que nos desse a estabilidade que já não temos, sem os custos de mais uma das velhas tentativas que nos levam sempre às mesmas teimosias.

Isso, sim, seria podermos dizer finalmente que já temos um rumo para o futuro, pois o Conselho de Estado teria encontrado a sua agulha no meio da palha do seu palheiro. Se assim for, o Conselho de Estado terá corrido mesmo muito bem e estará de parabéns a nossa vice presidenta pelo seu dedo no acerto de boas previsões. 

No entanto, como de costume, nesta mesma manhã de hoje, mais uma vez se assistiu a um debate que deixa antever um desfecho pouco ao jeito dos desejos expressos, de que tudo vai correr bem no Conselho de Estado desta tarde. Aliás, ao jeito de que tudo correu bem noutro conselho de ontem à noite, num hotel de Lisboa.

 

Última hora: Fiquei agora mesmo com a sensação de que o Conselho de Estado já não faz falta nenhuma, pois, o aconselhado declarou há pouco, que a crise já está ultrapassada. O Conselho também ficou ultrapassado, digo eu.

 

 

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