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afonsonunes

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Com que então ainda há alguém que pensa que é possível cortar nas muitas mordomias que ainda existem. Há, sim senhor, e eu sou uma dessas pessoas, embora não seja o primeiro a falar nisso, até porque ninguém me perguntou nada sobre o assunto.

E penso assim, com toda a convicção, porque não sou mordomo. Mas também não tenho mordomo para me vingar e, em nome da crise, cortar-lhe algumas parcelas dos seus ganhos. Mas, é curioso, há quem não seja mordomo e tenha muitas mordomias.

Porque os mordomos de hoje já não são como aqueles homens que tratavam de tudo nas casas senhoriais, com farda de Napoleão, onde sobressaía aquela casaca orlada de dourados e as meias brancas até ao joelho, por onde se ficavam as pernas das calças.

Os mordomos de hoje são todos aqueles e aquelas que constam das mordomias dos seus amos e senhores. Digamos que a sua designação mais correta seria mulheres-a-dias, ainda que sejam do género masculino. Sem contrato por causa dos descontos.

O mais curioso é que, encontramos mordomos, mulheres-a-dias, em todos os níveis da sociedade e em exclusividade de funções, até às mais altas instituições nacionais. Nas empresas, como no estado, há mordomos até ao topo da hierarquia.

É bem compreensível que, por exemplo, se diga que aquela senhora alemã tem, pelo menos, um dedicadíssimo mordomo em Portugal. Diz-se até que ela tentou contratar mais um ou outro mordomo na Europa mas, disponível, só conseguiu encontrar este.

O contratado sente-se, naturalmente, muito orgulhoso de ser o único mordomo ao serviço de tão ilustre personalidade, embora com a dificuldade de ter de estar permanentemente em contacto com a senhora, a perguntar o que deve fazer primeiro.

Mesmo assim, considera que tem uma das melhores mordomias da Europa, apesar de saber que é olhado com aquela inveja miudinha de muitos amigos e inimigos que não compreendem o esforço e o sacrifício que ele faz pelo país e pelos alemães em geral.

Os portugueses já lhe enviaram mensagens claras de que ele está a confundir a sua própria nacionalidade. Já lhe disseram que ele se comporta como um patrão alemão que rouba cá, para ir distribuir lá. Daí que, a rir ou a ralhar, já o avisaram: Vai lá, vai! 

Pois, vai lá, vai, mas não leves a manta, como diz o povo. É que a manta dá sempre jeito para cobrir os que perdem todas as mordomias. E esse risco está mais que eminente. Para esse e muitos outros mordomos que dificilmente caberão todos debaixo da manta.

Não é difícil constatar que o atual mordomo da alemã, está a passar por uma situação muito mais dolorosa que o mordomo seu antecessor. Forçou a sua saída para lhe ocupar o lugar, levou então um valente puxão de orelhas da anfitriã e agora, não sei não.

É um facto que em Portugal as mordomias tarde ou nunca vão acabar. A menos que os mordomos em exercício sejam despedidos, mesmo sem justa causa formal. E isso é sempre uma possibilidade, mesmo para o melhor mordomo da Europa.