Bastonadas
Todos nós temos um bastão pronto a entrar em ação, dependendo de cada um, o momento da sua utilização e o vigor com que ela será feita. Tudo devia ser feito com conta, peso e medida, mas nem sempre assim é.
Podia, assim, dizer-se que a ocasião faz brandir o bastão. Ontem foi mais um daqueles dias em que houve bastonadas para todos os gostos, num salão que se enche anualmente para celebrar a abertura do ano judicial.
Não será exagero afirmar que, como em anos anteriores, se destacou o bastão do bastonário. Efetivamente, a bastonada foi de tal ordem que se pode dizer que, para despedida daquele areópago, o bastonário arrasou.
De tal maneira que houve quem, vergado à dor que lhe ficou no costado, apenas ouviu quatro dos cinco discursos proferidos. Para não falar de outros que, com grande resistência à dor, ficaram a sofrer em silêncio.
Mas, em boa verdade, cada um dos intervenientes, à sua maneira, mais discreta ou mais evidente, lá foi exibindo o seu bastão, cuja direção das bastonadas não foi difícil localizar. Esta guerra não é de um único bastão.
Obviamente, que também não é apenas de um bastonário que muitos consideram só um provocador ou um visionário. O bastonário será aquilo que cada um quiser ver nele. Mas, quem não suportar bastonadas, não as peça.
Também aqui, e em muitos outros locais, o que não faltam são bastonadas que agradam a uns e são repudiadas por outros. E não é preciso que sejam bastonários de coisa nenhuma. Têm um bastão e usam-no de pleno direito.
Mas, é um facto que nem toda a gente tem a força e a autoridade moral para dar umas bastonadas valentes em quem não tinha as costas preparadas para as aparar. Tal como também há quem não tenha bastão à altura de as poder dar.